Villa Bari, de Porto Alegre para Nova Iorque e Toronto
Ramão Marques
Luiz Alberto Barichello é neto de italianos oriundos da região do Vêneto. A família de imigrantes instalou-se em Garibaldi, na Serra gaúcha, onde ele passou boa parte da infância. Barichello vivia em uma pequena propriedade e tinha como principal passatempo auxiliar os avós na elaboração de vinhos. Era uma produção em pequena escala, suficiente apenas para suprir a própria demanda. Quando não estava nos vinhedos, gostava de brincar nas ruas ou de observar os pássaros que voejavam e desapareciam por trás dos morros que circundavam a cidade.
Há 30 anos, Barichello relembrou a paisagem que serviu de cenário para sua infância durante uma visita ao bairro Vila Nova, zona rural de Porto Alegre, distante cerca de 15 quilômetros do Centro. O futuro vitivinicultor ficou tão impressionado que decidiu adquirir uma gleba de terra. “A topografia deste lugar se assemelha à da Serra gaúcha”, diz o empresário. A partir do final dos anos 90, passou a produzir vinhos na Capital sob o rótulo Villa Bari.
Qualidade e estética
No começo eram uvas de mesa. Depois, a propriedade foi ampliada e os vinhedos ancorados em pedra granito rosa, característica em projetos de ajardinamento. “Cultivar uvas é uma arte semelhante a de um jardineiro. Além de ter fruto de qualidade, o parreiral precisa ser bonito”, filosofa. Para ele, a cantina tem de traduzir um conceito estético e de qualidade. “Uma cantina bonita dá idéia exata do vinho que ali se produz”. A área localizada na Avenida Belém Velho é habitada por pássaros, árvores nativas e frutíferas. O empresário estima que pelo menos 20% da produção de uvas é consumida pelas aves. “Produzimos pensando também em alimentá-las”, assegura.
São sete hectares de vinhedos próprios dentro de um vale de águas minerais. Segundo Barichello, esse é um detalhe importante: o solo arenoso, de drenagem fácil, facilita a produção de uvas com índice de resveratrol – substância que ajuda a aumentar o colesterol bom – que chega a atingir o dobro da média nacional. A produção é artesanal e limitada.
Produção
São 200 garrafas de Merlot, 200 de Cabernet Sauvignon e 400 de Gran Rosso, um corte de Merlot, Cabernet Sauvignon e Cabernet Franc, safra 2003. A produção total de 2004 está estimada em 3.000 garrafas e a de 2005, em 5.000 garrafas. Os vinhos são comercializados nos estados de Nova Iorque e do Texas, nos Estados Unidos, para onde são destinados cerca de 60% da produção total, e em Porto Alegre. A intenção é atingir a quantia de 8 mil garrafas nos próximos anos. No futuro, a Villa Bari pretende também elaborar espumantes. “A uva Chardonnay se adapta muito bem nesta região. Vamos começar os primeiros testes e investir nesse segmento”, explica Barichello.
Parte das uvas é vinificada após o processo conhecido como passificação – método tradicional de preparação do Amarone, vinho típico da região de Valpolicella, na Itália, feito com as três castas características (Corvina, Rondinella e Molinara). A uva, depois de colhida, é deixada em um ambiente refrigerado a ar para descansar e concentrar sabores. A temperatura oscila entre 22ºC e 23ºC. “Assim, adquire mais açúcar e corpo, que vai resultar num maior teor alcoólico”, explica ele. Nesse local, as frutas permanecem por cerca de 35 dias dentro de pequenas caixas de plástico.
Preferência pelo inox
Barichello diz que prefere não utilizar barricas de carvalho. O vinho passa somente por barris de inox. A primeira safra ficou 10 meses dentro da cantina. Atualmente, como regra, os vinhos Villa Bari permanecem 15 meses dentro do inox e um ano na garrafa, antes de chegar ao público consumidor.
Ele diz que, embora em escala pequena e artesanal, os vinhos da vinícola Villa Bari não perdem para os da Serra Gaúcha – região tradicional de vinhedos do Rio Grande do Sul. Lembra que, atualmente, a bebida é elaborada em várias regiões do Estado, como a fronteira (Santana do Livramento e Bagé, por exemplo). “O segredo, além do solo e o clima favoráveis, são as técnicas empregadas”. Barichello acrescenta que Porto Alegre é uma cidade quente, subtropical e boa produtora de frutas como uva, pêssego e ameixa. “Por que não faríamos bons vinhos”? indaga.
Barichello também é produtor de vinhos em Valpolicella, nos arredores de Verona, na Itália, e está implantando um novo vinhedo em Chianti, próximo a Florença. Os vinhos italianos têm a marca L’Arco e são elaborados em parceria com um jovem produtor de nome Luca Fredigo. É ele quem elabora a bebida. Barichello financia pesquisas e adquire equipamentos. Os vinhedos e a cantina estão localizados em Santa Maria de Negrar, num dos vales de Valpolicella. A produção é limitada, ao redor de 30 mil garrafas por ano, distribuídas entre Amarone, Rubeo IGT (Indicação Geográfica Típica), Pario IGT, Valpolicella Superior e Rosso Veronese IGT. As uvas processadas são Corvina, Corvinone, Rondinella e Molinara. Os vinhos são vendidos na Itália, nos Estados Unidos, no Canadá, nos países escandinavos e no Brasil.
O novo vinhedo fica em San Casciono di Val di Pisa, nas colinas do Chianti, ao redor de Florença. “No momento, já está em produção de uvas Sangiovese, numa área de 1,5 hectares, que serão vinificados este ano”, informa Barichello. O projeto prevê a implantação de mais 3,5 hectares.
Vinícola Villa Bari
Avenida Belém Velho, 3610
Porto Alegre - Fone: (51) 3248 – 2200
barichello@terra.com.br
www.villabari.com.br
Ramão Marques - Publicado em Bon Vivant