Terça-feira, 20.09.11

Doces de Pelotas têm origem certificada

Doçuras pelotenses agora são certificadas

 

Dias Lopes - O Estado de S.Paulo

 

Alguns doces de Pelotas, cidade a 250 quilômetros de Porto Alegre, no Rio Grande do Sul, não têm mais a delicadeza do passado. Hoje são grandes demais ou incorporam leite condensado, produto industrial que está padronizando o sabor da doçaria tradicional brasileira e desfigurando receitas centenárias. O pudim de leite do século 17 foi uma delas. Só um pequeno grupo de confeitarias ainda prepara os doces de Pelotas com as tipicidades do passado. Mas, pela expressão cultural ou econômica, eles acabam de receber o selo de Indicação de Procedência do Inpi - Instituto Nacional de Propriedade Intelectual. A autarquia federal avaliza com essa chancela o processo de elaboração, a identidade e a qualidade de 15 receitas que remontam ao século 19. Além de protegê-las de falsificações, o selo representa uma distinção para 16 confeitarias autorizadas e aumenta a competitividade dos seus produtos.

 

Os doces de Pelotas estão em boa companhia. Já receberam o selo de Indicação de Procedência outros 13 produtos nacionais, entre os quais o café da Serra da Mantiqueira (Minas Gerais) e a cachaça de Paraty (Rio de Janeiro).

 

O acervo pelotense tem história rica. Há quase dois séculos, dezenas de confeitarias e padarias da cidade fazem pessegadas, marmeladas, figadas, bananadas, passas de frutas, bolos, tortas, pudins e os que mereceram agora o selo do Inpi: o pastel de santa clara, quindim, papo de anjo, fatia de braga, amanteigado, olho de sogra, panelinha de coco, camafeu, queijadinha, beijinho de coco, broinha de coco, bem-casado, ninho, trouxinha de amêndoa e doces cristalizados.

 

Curiosamente, a cidade fica distante das regiões açucareiras. Mesmo assim, projetou-se pela elaboração de doces que impressionam forasteiros de bom gosto, informação e cultura. O mais lembrado é o pernambucano Gilberto Freyre. Ele escreveu assim no prefácio da terceira edição do livro Açúcar (Global Editora, São Paulo 2007): "Não nos esqueçamos (...) de outras subáreas brasileiras que têm, também, seus doces requintados: uma delas, a que tem Pelotas, no Rio Grande do Sul, por centro. Que aí a arte do doce rivaliza com a do Nordeste".

 

Por que a cidade gaúcha se voltou para a doçaria? Pelo fato de ter sido, antes de tudo, capital da indústria nacional do charque. Em 1780, o português José Pinto Martins instalou em Pelotas uma charqueada. Ele se dedicava à atividade em Aracati, no Ceará. Açoitado pela "seca dos três setes", que durou de 1777 a 1779 e dizimou o gado, mudou para o Sul. Outros empreendedores o imitaram. O botânico e naturalista francês Auguste Saint-Hilaire, no livro Viagem ao Rio Grande do Sul - 1820-1821 (Martins Livreiro, Porto Alegre, 1987), testemunhou o progresso alcançado pela cidade. Em 1873, Pelotas contabilizava 38 charqueadas, que chegaram a abater 400 mil reses por ano. Os navios transportadores do charque para o Nordeste, principal mercado pelotense, não retornavam vazios. Traziam artigos nacionais e importados: louças, pratarias, quadros, móveis, livros, figurinos, tecidos, mantimentos e, obviamente, açúcar.

 

Pelotas contrariou a geografia do doce, que privilegiava as áreas produtoras de açúcar. A prosperidade vinda do charque criou uma aristocracia de hábitos europeus, que promovia festas, saraus, banquetes, ia ao teatro e comia doces. Inicialmente, as receitas de Pelotas eram portuguesas, como atestam várias delas, algumas aculturadas. O seu pastel de santa clara, por exemplo, que se diz originário do convento das clarissas de Coimbra, tem nome equivocado.

 

O livro A Doçaria Tradicional de Pelotas, de Arthur Bosisio e outros (Editora Senac Nacional, Rio de Janeiro, 2003), manda esticar a massa e deixá-la muito fina, quase transparente como um papel de seda. O formato é de pacotinho, não de meia-lua, como o verdadeiro santa clara. Portanto, trata-se de outro pastel, ou seja, o de Tentúgal. Hoje, os doces de Pelotas, como alguns dos nomes indicam, são cosmopolitas. O selo do Inpi foi merecido? É evidente que sim.

 

 

 

Dias Lopes - Publicado em O Estado de São Paulo

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Sábado, 02.04.11

O que se escreve, onde se lê

Escrever no século XXI

 

José Mário Silva

 

 

 

 

 

Olhemos à nossa volta. Os aparelhos que permitem ler e-books multiplicam-se, sofisticam-se, democratizam-se. Cada vez mais pessoas têm uma biblioteca ambulante no Kindle, no iPad, no iPhone. A tecnologia progride todos os dias. As novidades sucedem-se. Há umas semanas, por exemplo, foi lançado o Google eBooks, que promete revolucionar os nossos hábitos de leitura.

 

Em vez de ficarem alojados num determinado hardware, os ficheiros com livros passarão a existir virtualmente numa «nuvem» online, à qual acederemos em qualquer lado e em qualquer suporte físico, através de uma simples ligação à internet. Ou seja, um romance pode ser começado no computador lá de casa, ao pequeno-almoço; prosseguindo depois a leitura num tablet, durante a viagem de comboio até ao emprego; ou na fila do Multibanco, quando se aproveita os minutos de espera para despachar mais um capítulo no smartphone.

 

Neste sistema, a desmaterialização do livro é levada ao limite: o livro passa a existir só na tal «nuvem» abstracta, algures na rede de informação, como se fosse uma entidade supraterrena, um arquétipo que desce a pedido aos nossos vários ecrãs (depois de pago com o cartão de crédito, claro). Por enquanto, esta potencial mudança dos hábitos de leitura ainda não é acompanhada por quem produz os livros, pelo menos no nosso país. Para as editoras tradicionais, o mundo digital continua a representar uma ameaça, mais do que um desafio ou uma oportunidade. Mesmo os grandes grupos, que teriam meios para investir a sério nas novas tecnologias, avançam a medo, timidamente, receando apostar em modelos de negócio que ainda não passaram o teste do tempo. É sintomático que os debates sobre o futuro do livro se resumam quase sempre ao fantasma de um medo apocalíptico: será que o livro físico, em papel, com textura e cheiro a pó, vai desaparecer de vez? Provavelmente não. Provavelmente continuará a existir, porque há uma experiência de leitura associada aos livros-livros que é inimitável e para muita gente, sobretudo as gerações que aprenderam a ler com eles, insubstituível.

 

Contudo, mesmo quem prefere o papel tenderá a ler cada vez mais em suportes digitais. Já para não falar das crianças que nascem agora, na era do multitasking, e que previsivelmente pensarão dos livros-livros o mesmo que nós pensamos das calculadoras: «Mas afinal só fazem isto?» Pela minha parte, o que me preocupa não é o meio (se vamos ler na parede da sala, no tecto da cozinha ou no tablier do carro); é o conteúdo.

 

Que literatura o século XXI tem para nos oferecer e de que forma será capaz de se sintonizar com os tempos que vivemos. Os primeiros sinais, devo dizer, são preocupantes. Ao fim de uma década, contam-se pelos dedos os romances que são especificamente deste século, com narrativas que reflictam e incorporem o zeitgeist, dos novos paradigmas sociais à interconectividade global. A maior parte das ficções que se escrevem e publicam hoje podiam ter sido criadas em qualquer das décadas do século anterior – e muitas são meras variações, serôdias e gastas, dos romances oitocentistas. Enquanto outras artes souberam integrar a pulsação da criatividade contemporânea (veja-se os graffiti expostos em museus ou o uso dos samples na música, tanto popular como erudita), a literatura parece ter dificuldade em reinventar-se, em descobrir modos narrativos que estejam à altura da complexidade do mundo actual. É deprimente entrar numa livraria e perceber que 90% dos romances disponíveis obedecem a uma lógica linear, com os mesmos esquemas, mil vezes repetidos.

 

Em 2011, exige-se que certos géneros literários (sobretudo o romance) façam o necessário upgrade. David Shields, no seu brilhante ensaio-manifesto que mistura ideias próprias e alheias em 618 fragmentos (Reality Hunger, Hamish Hamilton), mostra como é vasto o campo das possibilidades ainda por explorar. Na verdade, espero que o romance do século XXI não seja escrito só no século XXII. Porque gostava mesmo de o ler – seja em papel, a partir da «nuvem» ou noutro sistema qualquer que ainda esteja por inventar.

 

 

José Mário Silva - Publicado no blog Bibliotecário de Babel

publicado por ardotempo às 12:29 | Comentar | Adicionar
Segunda-feira, 06.12.10

Griffe de charme

Vitoria Cuervo

 

 

 

 

 

Coleção Capulana Verão 2011 - Design de alto estilo de Vitoria Cuervo (a estilista é a do centro na fotografia), realizada exclusivamente com tecidos africanos - (Brasil), 2010

publicado por ardotempo às 21:18 | Comentar | Adicionar
Terça-feira, 08.06.10

A excelência usa cortiça

 

Franceses fazem campanha em defesa das rolhas de cortiça

 

Nos últimos 15 anos o uso de rolhas de cortiça em vinhos caiu consideravelmente. De sua posição dominante no mercado com 95% ela caiu para 70%, sendo agora substituída por tampas de plástico e de alumínio.

 

Reagindo a uma tendência do mercado, a Apcor - a maior produtora de cortiça do mundo - iniciou uma campanha internacional de 20 milhões de euros.

 

Uma das principais mensagens da campanha será a de que técnicas têm sido desenvolvidas para diminuir cada vez mais as chances de um vinho se tornar "arrolhado". Isso acontece quando a cortiça, por ter características maleáveis, contém imperfeições que podem alterar o aroma e até mesmo o gosto da bebida.

 

A Federação Francesa de Cortiça também tem feito a sua parte para que a tradição de séculos não seja abandonada. O órgão fez inúmeras pesquisas sobre a preferência do consumidor e chegou à conclusões animadoras. De acordo com os estudos, nove em cada dez franceses preferem a rolha de cortiça em seus vinhos e oito em cada dez associam a cortiça a bebidas de qualidade. 

 

A questão ambiental também é um importante fator a favor da rolha de cortiça. As pesquisas da federação mostraram que o material produz dez vezes menos emissões de carbono do que as tampas de plástico e 26 vezes menos do que tampa de rosca.

 

Em 2009, 11.300 milhões de rolhas foram vendidas no mundo, uma queda de 3,5 por cento em relação ao ano anterior. 

 

 

 


 

 

Publicado no Universo Online / UOL

publicado por ardotempo às 02:16 | Comentar | Adicionar
Domingo, 06.06.10

L'amour, de Alain Badiou

Éloge de l´Amour” (Elogio do amor, Flammarion 2009, ainda não traduzido para o português), de Alain Badiou; é a transcrição de uma breve entrevista do filósofo francês. 

 

Nela, inevitavelmente, Badiou constata que, em nossa cultura, a visão dominante do amor é a de uma espécie de “heroísmo da fusão” dos amantes, que, uma vez consumidos por sua paixão, podem sair de cena (para não se tornar ridículos) ou sair do mundo e morrer (para se tornar sublimes). 

 

Contra essa visão, Badiou define o amor mais como um percurso do que como um acontecimento: segundo ele, o amor precisa durar um tempo porque é “uma construção”.

 

O que constroem os amantes?

 

Geralmente, explica Badiou, “minha experiência do mundo é organizada por minha vontade de sobreviver e por meu interesse particular: vejo o mundo só de minha janela”. 

 

Certo, ao redor de mim, há muitos outros de quem gosto e aos quais reconheço o direito de também sobreviver e promover seus interesses. 

Mas o fato de eu respeitar esses meus semelhantes não muda em nada meu ângulo de visão. É só quando amo que consigo olhar, ao mesmo tempo, por duas janelas que não se confundem, a minha e a de meu amado. A estranha experiência ótica faz com que os amantes reconstruam o mundo, enxergando coisas que ficam escondidas para quem só sabe olhar por uma janela. 

 

Entende-se que o amor assim definido exija tempo. Quanto tempo? Um mês, um ano, uma vida, tanto faz. Consumir-se na paixão pode ser rápido, mas reinventar o mundo a dois é uma tarefa de fôlego.

 

O amor segundo Badiou, em suma, é uma aventura, mas que precisa ser obstinada: “Abandonar a empreitada ao primeiro obstáculo, à primeira divergência séria ou aos primeiros problemas é uma desfiguração do amor. Um amor verdadeiro é o que triunfa duravelmente, às vezes duramente, dos obstáculos que o espaço, o mundo e o tempo lhe propõem”.

 

 

Publicado em Verdes Trigos

publicado por ardotempo às 14:20 | Comentar | Adicionar

Neotráfico

Novo tráfico de escravos?

A sede europeia por jovens jogadores africanos

 

Christoph Biermann e Maik Grossekathöfer

 


 

A Copa do Mundo de Futebol está sendo realizada na África pela primeira vez este ano, mas há muito tempo jovens jogadores africanos são uma mercadoria procurada entre os principais clubes da Europa. Enquanto alguns jovens chegam ao topo, muitos jogadores acabavam nas ruas. Os críticos falam em um novo tráfico de escravos.

 

O barraco tem 3 metros por 3, as paredes são feitas de concreto, o telhado é uma folha de metal corrugado e o mobiliário escasso inclui uma cama e uma lamparina de petróleo. Não há janelas. Também não há eletricidade, nem banheiro, nem água corrente para as cinco pessoas que vivem nesse barraco infestado de moscas em Bamako, capital de Mali.

 

Enquanto o sol se põe, o calor do dia gradualmente diminui, os cães latem e o muezim chama para as orações. Diante do barraco, a mãe cozinha mingau de milho sobre uma fogueira, enquanto as duas filhas se sentam no chão de terra descascando mangas. O pai e o filho conversam sobre o futuro. Ambos estão usando camisas do Milan.

 

O menino, cujo nome é Amadou Keita, disse que certamente pode se imaginar jogando para o Milan, mas se tivesse de escolher iria para o Barcelona jogar como meio-campo. Seu pai afaga sua cabeça e sorri. Um velho que trabalha como porteiro, ele tem dores nos joelhos, nas costas e no quadril.

 

Amadou pega uma bola de borracha e a mantém no ar, fazendo centenas de "embaixadinhas" com os pés esquerdo e direito, alternadamente, então a coloca sobre os ombros, na cabeça e de volta aos pés. A bola não toca o chão nem uma vez.

 

"Eu quero ser profissional. Quero ganhar dinheiro com o futebol para poder dar a minha família uma vida melhor", diz Amadou. "Não quero que meus pais morram neste barraco. Essa é minha missão. Não posso falhar." Ele soa estranhamente sério para um rapaz de 14 anos.

 

Fábrica de sonhos

 

É um longo caminho de Bamako até a Europa, um longo caminho da rua empoeirada no Mali até o Milan, mas Amadou já deu o primeiro passo.

 

Ele se lembra claramente quando, um ano atrás, ouviu falar de um homem branco que estava em Bamako procurando crianças que jogassem bem futebol, meninos rápidos, ágeis e capazes de controlar a bola. O homem, um francês, organizou torneios por toda a cidade, e Amadou jogou em um deles. Afinal o homem escolheu os cinco melhores - dentre 5 mil. Amadou foi um desses cinco.

 

Ele frequenta uma escolinha de futebol nos arredores de Bamako, perto das margens do rio Níger, desde o início de setembro. Treina em um campo gramado e bem cuidado, recebe três refeições por dia e dorme em sua própria cama.

 

A escola de futebol, chamada Maison Bleue (casa azul) por causa da cor de suas paredes, é uma fábrica de sonhos. Os jogadores que chegaram até aqui têm a probabilidade de se tornar profissionais na Espanha, Inglaterra, França ou Alemanha. "Meu pai chorou de alegria quando fui aceito no internato", diz Amadou.

 

Atlético e barato

 

Há muitas escolas de futebol na África. Algumas pessoas as consideram uma bênção, outras uma maldição. Escolas como a de Bamako treinam os jogadores pelos quais os clubes profissionais da Europa manifestaram interesse. Eles são jovens, tecnicamente aptos, atléticos - e baratos.

 

Os clubes europeus têm ido à África em busca de talentos desde os anos 1950, e nos últimos anos a busca se tornou um negócio altamente rentável. Cerca de um em cada quatro estrangeiros que jogam para clubes europeus da primeira divisão vêm da África.

 

É um negócio que joga com a esperança e que é dirigido por empresários sérios. Mas traficantes inescrupulosos também tiram uma parte do bolo.

 

Os africanos são atraídos para a Europa porque acreditam que lá tudo existe em abundância: trabalho, dinheiro, confiança. Alguns jogadores conseguem e tornam-se astros, como Mahamadou Diarra do Real Madrid, Samuel Eto'o da Inter de Milão e Didier Drogba do Chelsea. Mas para a maioria o sonho de conseguir uma vida melhor como jogador profissional nunca se realiza

 

Christoph Biermann / Maik Grosskathöfer (Tradução Luis Roberto Mendes Gonçalves ) - Publicado no Der Spiegel

publicado por ardotempo às 13:42 | Comentar | Adicionar
Quarta-feira, 26.05.10

O ridículo sem limites e sem recato

NÃO-FUTiBOL

 

Os Bancos do Brasil fecharão durante jogos da seleção na Copa


A paixão dos brasileiros pelo futebol levou o Banco Central do Brasil a permitir que as agências bancárias do país fechem(!) e mudem seus horários de atendimento ao público quando a seleção nacional jogar durante a Copa do Mundo.


Nestes dias não será obrigatório o funcionamento sem interrupções das agências”, anunciou o Banco Central brasileiro em nota divulgada nesta quarta-feira, autorizando assim o fechamento dos bancos nos horários das partidas.


Na última Copa, os bancos também foram liberados para fechar as portas durante os jogos do Brasil. A medida, de acordo com a entidade, busca “evitar a falta de segurança nas agências bancárias e no transporte de valores”.


Publicado no UOL

 

Dá para acreditar (?) e levar a sério um País inteiro assim, em que tudo pára, o trabalho pára, a vida perde-se...primeiro o carnaval e depois o mega negócio-futebol...

publicado por ardotempo às 23:28 | Comentar | Adicionar
Quinta-feira, 06.05.10

A cerveja do diabo

Cerveja, cerveja

 

 

 

 

"Era uma vez uma cervejaria, clandestina, um lugar singular, secreto, um porão, um lugar sublime, com cervejas fabulosas, de diversos lugares do mundo e do interior, centenas de rótulos diferentes, um clube fechado, isento de senhas, bebidas raras e artesanais, um lugar de boas histórias, tevê Predicta, fogão a lenha, elegantes copos de cristal. Venenos de Deus, remédios do diabo..." 

publicado por ardotempo às 22:45 | Comentar | Adicionar
Sábado, 01.05.10

O tempo

A valorização do tempo


A campanha NÃO-FUTIBOL é uma reflexão sobre a imensurável quantidade de tempo perdido por milhões de pessoas envolvidas passivamente - hipnotizadas abulicamente - pelo fenômeno espetacular do negócio-futebol.


Nada contra o esporte, de dinâmica física e filosófica que imita a vida no seu constante recomeçar cíclico - perde-se num dia, recupera-se no outro. No seu regramento estruturado para ser seguido ou ser burlado em sua atávica dialética apolíneo-dionisíaca. Isso é o esporte simples, singelo e barato, uma bola, dois grupos adversários, quatro pedras formando os objetivos a alcançar e transpassar na busca do ponto e da vitória. Esporte vigoroso e saudável, que as crianças, os adolescentes e os adultos (homens e mulheres), praticam de forma espontânea e amadora. Nas várzeas, nos campinhos sem as dimensões das regras oficiais, nas escolas, nas periferias das grandes cidades, nas áreas rurais. Ao apito inicial, uma nova chance, uma renascença, a metáfora fina da vida, isso é positivo para quem o pratica, para quem está dentro das linhas traçadas em tinta ou apenas as imaginárias. Para quem joga o jogo.

 

Longa vida ao esporte e aos que o praticam com denodo, suor e inteligência.


Do lado de fora das linhas de jogo, fora do esporte, corre o tempo e a concretude da vida real das pessoas. Fora do campo, a história será outra.


Quando se transforma no negócio do mega-espetáculo, as coisas começam a ter outros enfoques, muito mais complicados e oblíquos. O negócio-futebol que é boa coisa apenas numa mínima fração de sua espantosa dimensão, que é um tanto má nos seus desvirtuamentos inevitáveis à condição humana (propinas, subornos, lavagem de dinheiro, química, drogas, influências, apostas, acordos secretos, o estímulo à violência, a violência desmesurada no entrecho e no coletivo) e é assombrosamente daninha na expropriação do tempo das multidões. Esse é o pior problema, a doença oculta - o sequestro do tempo.


O tempo é o mais valioso bem não-renovável que possuímos. O tempo de vida perdido de uma pessoa, um minuto que seja de espera numa fila ou de distração num momento de fadiga, será irrecuperável. O que dizer do tempo de duas pessoas, ou de centenas ou de milhões de pessoas, vidas preciosas jogadas fora impunemente e de forma desviada, alienada. O tempo perdido, a aura fantasmal e precoce no cadáver ainda em movimento.


O tempo de não se aprender, de não se ler um livro, de não se produzir nada criativamente, de pintar, de escrever, de pensar, de gerar tecnologias ou alimentos e até conseguir aproximar-se um pouco do estado da consciência plena (o que é dificilimo, fugaz e raro - manter-se em estado de consciência).


Ter a informação não basta, é necessário saber o que fazer com ela. E fazer algo, de fato.


O tempo do negócio-futebol é ganho para uns poucos, em forma de grandes volumes de dinheiro e é perdido dramatica e silenciosamente pela imensa maioria, sem uma razão concreta e produtiva.


O que se perde não é apenas o dinheiro, que é absolutamente insignificante frente ao que se perde na realidade - o tempo de viver. E na semana seguinte perde-se novamente e na outra semana perde-se de novo. De novo. Sem novidades. No negócio-futebol tudo é velho, tudo se repete de forma programada, na redundância do vício, na repetição patológica do prazer idêntico e caduco.


Tudo é engodo no negócio-futebol. A saber: a trupe de artistas do espetáculo (são artistas, são gladiadores de tempo também efêmero e finito, são negociantes e não são esportistas) ganham muito pouco por aquilo que propiciam como atração sedutora. É uma questão aritmética - são apenas uns trinta artistas por espetáculo (os jogadores, os juízes, os treinadores, os coadjuvantes eventuais das cenas recorrentes) que se apresentam num estádio para 5.000 ou 20.000 ou 30.000 assistentes, observadores sedentos do espetáculo repetitivo.  As imagens são transmitidas à distância pela televisão para milhões ou bilhões que os assistem estáticos, estes todos perdendo inexoravelmente o seu tempo de vida, que jamais será recuperado. Aqueles protagonistas, tão poucos, que aparentemente ganham muito, na realidade ganham muito pouco, o que será insuficiente para remunerá-los pelo que acarretam, em benefícios e principalmente, em malefícios. Os atravessadores do negócio-futebol ganham fortunas (os clubes, as emissoras, os fabricantes dos produtos, os mercadores de carne humana, os publicitários, os jornalistas “especializados” em estimular o tempo sequestrado). As vítimas, os que perdem a sua vida e a sua chance de produzir arte e consciência, assistem paralisados, ao jogo errado.


Não percebem o seu tempo passando e a vida se extinguindo, segundo a segundo.


O negócio-futebol é uma auchwtiz gigantesca e sem resistência aparente, a incinerar o tempo de vida de bilhões de pessoas todos os dias, em todos os cantos do planeta. Chama-se entretenimento, aparentemente inofensivo, um mote eufemismo a disfarçar a terrível tragédia anunciada da renúncia à vida, a abdicação do tempo de criar. O tempo se esfuma ao som estridente de apitos e de uivos selvagens das torcidas enlouquecidas e distanciadas da realidade tangível . Na semana seguinte repetem-se as cenas já vistas com o mesmo ímpeto especular do videoteipe, que só não repete a data. Essa é cena de terror real: a data é outra, e depois tristemente será outra, para a mesma farsa de esforços estéreis.


Porém, todos estarão um pouco mais velhos, mais próximos da morte e nada de novo se terá produzido, sequer uma linha de texto, uma dança, um desenho, uma fotografia, um filme, uma invenção, um alimento, uma ideia, uma reflexão, um afeto, uma nova vida, uma percepção diferente do mundo e do planeta.


O tempo passa cruamente e cobra sua conta no final, adicionando o custo alto da gorgeta.

 

Neste ano teremos, infelizmente, a Copa do Mundo e tudo será tediosamente igual, o idêntico alarido publicitário, o fervor patriótico e a postura profundamente improdutiva do marasmo e da paralisia. A perda de tempo. individual e coletiva, irreparável. O sequestro do tempo das multidões inocula o veneno da impotência da criatividade. 


NÃO-FUTIBOL é um convite a pensar em nosso próprio tempo como o melhor e mais valioso bem que possuímos. Que precisa ser cuidadosamente aproveitado. Bem que é bastante limitado, que é finito e que não deveríamos entregar de forma tão ingênua e tão cordata aos que o assaltam de maneira tão espalhafatosa e sem recato. 

 

 

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Quinta-feira, 29.04.10

Mitos do século passado

O beijo

 

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Toda América

Seis balas para Andy Warhol

 

Manuel Vicent

 

 


 

 

Una botella de cocacola, un bote de sopa, un billete de dólar, un revólver, la silla eléctrica, el rostro de Marilyn...

 

Ser ante todo visible y hacer del espíritu un buen envase exterior fue lo que aportó el inventor del pop-art al mundo del arte Inventó la frivolidad como una actitud estética ante la vida y dictaminó que la esencia de las cosas sólo está en los envases. Este creador fue Andy Warhol, nacido en Pittsburgh, Pennsylvania, en 1928, hijo de un minero del carbón, emigrante eslovaco. Después de bautizarse en el rito católico bizantino el niño a los 13 años obtuvo la enfermedad del baile de san Vito, que le forzaba a mover las cuatro extremidades de forma incontrolada. Proscrito por sus compañeros de colegio debido a su rara pigmentación de la piel, postrado en cama largo tiempo y protegido en exceso por su madre, el pequeño Andy sólo halló salida alimentándose de héroes del cómic y de prospectos con los rostros de Hollywood, una mitomanía de la que ya no se recuperó.

 

No importaba lo que había pintado, su verdadera creación eran aquellos extraños seres que se parecían sólo a sí mismos como tribu Tampoco está claro que superara el síndrome del baile de san Vito, si se tiene en cuenta que, instalado en 1949 en Nueva York, no paró de moverse el resto de su vida en medio de un cotarro frenético de aristócratas excéntricos, artistas loquinarios, bohemios, drogadictos, modelos y otras aves del paraíso a los que, como gurú de la modernidad, comenzó a otorgar a cada uno los 15 minutos de fama que les correspondían y por los que algunas de estas criaturas estaban dispuestas a morir y a matar, como así sucedió.

 

Al principio Andy Warhol se dedicó a la publicidad, a ilustrar revistas y a dibujar anuncios de zapatos, pero hubo un momento en que ante una botella de cocacola, un bote de sopa, un billete de dólar y el rostro de Marilyn tuvo una primera revelación. Pensó que ciertas figuras y productos comerciales eran los verdaderos iconos de la vida americana y había que introducirlos en el territorio sagrado de la cultura y del arte. El pop-art que acababa de inventar necesitaba un fundamento filosófico y todo gran desparpajo lanzó al mundo este manifiesto: la cocacola iguala a todos los humanos. "En América los millonarios compran esencialmente las mismas cosas que los pobres. Ningún dinero del mundo puede hacer que encuentres una cocacola mejor que la que está bebiéndose el mendigo en la esquina. Todas las cocacolas son la misma y todas son buenas. Liz Taylor lo sabe, el presidente los sabe, el mendigo lo sabe y tú lo sabes".

 

 

Su filosofía de la superficie de las cosas se presentó en sociedad en 1954, en una exposición de la galería Paul Bianchinni, en el Upper East Side, titulada El Supermercado Americano, montada como una tienda de comestibles con pinturas y pósters de sopas, carnes, pescados, frutas y refrescos, mezclados con esas mismas mercancías auténticas en los estantes. La diferencia estaba en el precio. Un bote de sopa valía dos dólares en la realidad y costaba dos mil en la representación. Hoy un dólar es un dólar, pero si el billete está pintado por Warhol vale en una subasta seis millones de dólares. Andy siguió añadiendo al arte más iconos de la vida americana, la silla eléctrica, el revólver, las cargas de la policía contra los manifestantes de los derechos humanos, los coches, los botes de sopa Campbell, los rostros de las celebridades de Hollywood, mientras a su alrededor se iba condensado un grupo de seres extraños, que eran mitad cuerpo humano real y el resto ficción o decoración. Todos revoloteaban alrededor de su estudio, la famosa Factoría, en la Calle 47 y la Séptima Avenida, empapelado por entero con papel de aluminio. El salto cualitativo lo dio este artista ante el caso extraordinario de una exposición de 1964 en Filadelfia cuando por un percance del transporte no llegaron a tiempo los cuadros a la galería para la inauguración. El público llenaba la sala con las paredes desnudas y Andy desde un altillo descubrió que aquel espacio se parecía a una pecera llena de crustáceos que se movían en un baile de san Vito, excitados unos por otros, como única fuente de energía. A nadie le importaban las pinturas. La expectación sólo la proporcionaba la presencia del artista rodeado de sus criaturas, a las que todo el mundo trataba de parecerse.

 

En ese momento tuvo Warhol su segunda revelación. La única forma de existir consistía en reflejarse en el espejo del otro. Si una cocacola o un bote de sopa Campbell es un icono americano, ¿por qué no puedo serlo yo? No importaba lo que había pintado, su verdadera creación eran aquellos extraños seres que había conseguido reunir entre cuatro paredes blancas y que no se parecían en nada al resto de los habitantes de Nueva York, sino sólo a sí mismos como tribu. El rostro blanco con polvos de arroz, adornada la cresta roja con plumas de marabú y el cuerpo anoréxico alicatado con cristales de colores, de esa tribu formaban parte Valerie Solanas, feminista radical, violada por su padre, perdida desde los 15 años como una mendiga por las calles de Manhattan, que había escrito un guión titulado Up your ass (Mételo por el culo); Edie Sedgwick, hija de un millonario californiano, nacida en un rancho de 3.000 acres, que desembarcó en Nueva York como modelo con toda su belleza anfetamínica, acogida por su abuela en un apartamento de 14 habitaciones en Park Avenue; la cantautora Nico, la actriz Viva, Gerard Malanga, Ultra Violet, Freddie Herko, Frangeline, el escritor John Giorno, el cineasta Jack Smith, el grupo de música The Velvet Underground, Lou Reed, las chicas del Chelsea y un resto de jovenzuelos sin nombre pintarrajeados que entraban y salían de La Factoría, muchos de ellos dedicados sólo a mear sobre unas planchas de cobre para conseguir con la oxidación de la orina unos matices insospechados en los grabados, a los que a veces se añadía mermelada de frambuesa, chocolate fundido y semen humano.

 

Era su parte en el cuarto de hora de fama. Esta frenética cabalgada hacia el vacío impulsada con películas underground, experimentos con drogas, sexo en los ascensores, gritos en la noche, sobredosis en los retretes, que constituía la modernidad de los años sesenta en Nueva York, terminó abruptamente cuando el 3 de junio de 1968 Valerie Solanas, pasada de rosca, entró en La Factoría dispuesta a que Warhol le devolviera el guión que le había entregado. No estaba dispuesto a rodarlo, le parecía demasiado obsceno, pero lo cierto es que lo había perdido. Mételo en el culo. Fue suficiente para que Valerie sacara un revólver, el mismo que el artista había pintado como icono, y le sirviera todo el cargador, seis balazos, uno de los cuales le atravesó el cuerpo y casi lo llevó a la sepultura, de la que fue rescatado después de una operación quirúrgica de cinco horas, cuyas cicatrices se convirtieron en un póster. "Tenía demasiado control sobre mi vida" -dijo Valerie en el juicio-. Pero la fama siempre encuentra a otro más famoso. Este hecho fue oscurecido por el asesinato de Robert Kennedy unos días después. Se acabó el baile de san Vito. Desde entonces Warhol parecía un hombre de cartón piedra, decían las aves del paraíso que revoloteaban sobre su peluca plateada. Por otra parte Edie Sedgwich también se había destruido. Una mañana apareció muerta en la cama ahíta de barbitúricos.

 

Sólo Basquiat, el negrito grafitero, rescatado por Warhol salió disparado hacia la gloria. Ser ante todo visible y hacer del espíritu un buen envase exterior fue lo que aportó Andy Warhol al mundo del arte. Por eso este artista diseñó también su funeral, celebrado en la iglesia bizantina del Espíritu Santo de Pittsburgh el 22 de febrero de 1987. Su féretro era de bronce macizo con cuatro asas de plata. Warhol llevaba puesto un traje negro de cachemira, una corbata estampada, una peluca plateada, gafas de sol con montura rosa, un pequeño breviario y una flor roja en las manos. Según las crónicas, en la fosa su amiga Paige Powell dejó caer un ejemplar de la revista Interview y una botella de perfume Beautiful de Estée Lauder. Pudo haber añadido un bote de sopa Campbell, un billete de dólar, una cocacola y un revólver. Toda América.

 

Manuel Vicent - Publicado em El País

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Sexta-feira, 23.04.10

Palestra na FNAC - OS TELEVISIONÁRIOS

Palestra na FNAC Porto Alegre - Dia 26 de abril

 



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Quinta-feira, 06.08.09

No Estado de São Paulo não se fuma mais...

É proibido fumar. Agora só em casa e escondido.
 
A partir da 0h desta sexta-feira (7) começa a valer em todo o Estado de São Paulo a lei 13.541/09, que proíbe fumo em locais fechados de uso coletivo, públicos ou privados, sancionada pelo governador José Serra (PSDB). 
 
Nenhum tipo de fumódromo está permitido. A lei somente permite o fumo ao ar livre e dentro de casa.
 
O fumo está proibido em locais fechados ou até parcialmente fechados, em que haja divisória, teto ou telhado, ainda que provisórios ou com parede em um só dos lados.
 
Entre os citados na lei estão os ambientes de trabalho, de estudo, de cultura, de culto religioso, de lazer, de esporte ou de entretenimento, áreas comuns de condomínios, casas de espetáculos, teatros, museus, bibliotecas e cinemas.
 
Publicado no UOL
 
PS.: Nos estádios de futebol, nas arquibancadas abertas e ao vento, ainda pode...(AT)
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Quarta-feira, 05.08.09

Isto não é uma pintura

 

 

Retrato de Michael Jackson - Andy Warhol  = US$ 10,000,000

 

Isto é uma aposta numa Bolsa de Valores Futuros

 

Num mundo no qual o valor monetário é a medida de todas as coisas, as obras de arte que de per si  não oferecem um retorno financeiro imediato, que demandam procedimentos demorados e difíceis e que não podem ser definidas mediante etiquetas ou bytes de som, e que não geram benefícios comerciais por meio de complexos meandros estéticos, éticos ou filosóficos, devem ser descartadas ou, ao menos, receber pouquíssima consideração.

 

O fracasso é visto como uma anátema, considerando que a lei econômica exige de qualquer coisa criada trazer consigo sua própria mortalidade, sua "data de validade" que determina até quando a cadeia produtiva pode continuar vendendo seus produtos. (...)

 

Se a lucratividade é a meta, a criatividade deve sofrer. (...)

 

Em nossa época, a arte dos tolos par excellence é a arte da propaganda - comercial, política ou religiosa - a habilidade para despertar o desejo pelo que é efêmero e perecível. A publicidade começa com uma mentira, com a afirmação de que a marca X é mais importante , ou mais necessária, ou simplesmente melhor que as outras marcas, e que sua posse , como os objetos mágicos dos contos de fadas, tornará seu dono mais sábio, mais bonito, mais poderoso que seu vizinho.

 

Não é casual que as agências de publicidade controlem o mercado contemporâneo de arte, no qual a banalidade e a superficialidade voluntárias foram transformadas em qualidades que justificam o valor monetário de uma obra.

 

Alberto Manguel

(À mesa com o Chapeleiro Maluco - Companhia das Letras, 2009)

publicado por ardotempo às 17:41 | Comentar | Adicionar
Sábado, 04.07.09

(Falso) Brilhante

Michael Jackson, leitor (?)
 
E se a estrela pop esquisitinha, que mudou a cor da pele e o nariz, que usava máscaras contra os germes e se fechava numa mansão tipo Disneylandia, também fosse – esquisitice das esquisitices – um devorador de livros? Pelos vistos, além dos fãs, há vários livreiros de Los Angeles que lamentam o desaparecimento de um bom cliente, que adorava a secção de poesia e era capaz de discutir as obras de Freud e Jung. Surpresa das surpresas, além da parafernália kitsch, o rancho Neverland também tinha uma biblioteca, e não das pequenas (segundo o LA Weekly, «Jackson’s collection totaled 10,000 books»).
 
Publicado no blog Bibliotecário de Babel
publicado por ardotempo às 12:30 | Comentar | Adicionar
Domingo, 28.06.09

O futuro é um desejo

Um leitor de e-books, please
 
 
Para quem faz da leitura intensiva a sua actividade principal, há nos dias que correm uma tentação tecnológica quase óbvia: o leitor de e-books. Eu até nem sou muito de gadgets.
 
Nunca me deslumbrei com os telemóveis topo de gama, tipo BlackBerry à la Barack Obama ou iPhone com trezentas aplicações diferentes (dos programas que permitem controlar o orçamento mensal, cheios de gráficos e dicas, ao miraculoso Brushes, que nos torna Picassos instantâneos e «deu» a Jorge Colombo a sua primeira capa da New Yorker).
 
Nunca pedi ao Pai Natal o último portátil da Apple nem um GPS para me orientar nas ruas de Lisboa ou nas rotundas da província. Contento-me com o que é básico, com o que é elementar, com o que é mais simples. Tanto assim que comprei um smartphone há cerca de um mês – com ecrã táctil, mais as milhentas funções que os smartphones hoje nos oferecem (mesmo os baratuchos) – e ainda mal o utilizei. A verdade, confesso, é que não tive tempo de ler o manual de instruções. E porquê? Porque a minha profissão é ler intensivamente, sim, mas livros, não manuais de aparelhos electrónicos.
 
E isto leva-me de volta à questão dos e-books. Com a quantidade de livros que as editoras me fazem chegar todos os dias, a minha casa assemelha-se cada vez mais a um labirinto de papel. Estantes ajoujadas, pilhas periclitantes no corredor, caos bibliográfico. Por muito que goste de me sentir uma ilha rodeada de livros por todos os lados, há um limite físico para esta invasão imparável (sobretudo quando não posso dispor, como alguns felizardos, de um apartamento à parte para a biblioteca pessoal). Um dia, deixará de haver espaço. Mesmo. E antes que esse dia chegue, tenho que tomar medidas. Uma é ser mais selectivo quanto ao que entra.
 
Outra é expulsar o que nem sequer devia ter entrado. E a terceira, a mais simples, é justamente comprar um leitor de e-books. Para fazer download das obras que me interessam mas não faço questão de ter nas prateleiras, claro. Mas sobretudo para evitar um crime ecológico: a impressão, em resmas de folhas A4, dos ficheiros pdf com que as editoras revelam aos críticos literários os romances que só vão para a gráfica umas semanas depois.
 
Mais do que uma tentação, o leitor de e-books transformou-se para mim numa necessidade. Espero aliás levar um, carregadinho, já nas próximas férias (com a vantagem adicional de diminuir substancialmente o peso das bagagens).
 
Texto publicado no blog Bibliotecário de Babel, de José Mário Silva / "A minha tentação", do Semanário Económico - Lisboa Portugal 
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Quinta-feira, 04.06.09

O vinho de Porto Alegre

Villa Bari, de Porto Alegre para Nova Iorque e Toronto
 
Ramão Marques
 
Luiz Alberto Barichello é neto de italianos oriundos da região do Vêneto.  A família de imigrantes instalou-se em Garibaldi, na Serra gaúcha, onde ele passou boa parte da infância. Barichello vivia em uma pequena propriedade e tinha como principal passatempo auxiliar os avós na elaboração de vinhos. Era uma produção em pequena escala, suficiente apenas para suprir a própria demanda. Quando não estava nos vinhedos, gostava de brincar nas ruas ou de observar os pássaros que voejavam e desapareciam por trás dos morros que circundavam a cidade.
 
Há 30 anos, Barichello relembrou a paisagem que serviu de cenário para sua infância durante uma visita ao bairro Vila Nova, zona rural de Porto Alegre, distante cerca de 15 quilômetros do Centro. O futuro vitivinicultor ficou tão impressionado que decidiu adquirir uma gleba de terra. “A topografia deste lugar se assemelha à da Serra gaúcha”, diz o empresário. A partir do final dos anos 90, passou a produzir vinhos na Capital sob o rótulo Villa Bari.
 
Qualidade e estética
 
No começo eram uvas de mesa. Depois, a propriedade foi ampliada e os vinhedos ancorados em pedra granito rosa, característica em projetos de ajardinamento. “Cultivar uvas é uma arte semelhante a de um jardineiro. Além de ter fruto de qualidade, o parreiral precisa ser bonito”, filosofa.  Para ele, a cantina tem de traduzir um conceito estético e de qualidade. “Uma cantina bonita dá idéia exata do vinho que ali se produz”. A área localizada na Avenida Belém Velho é habitada por pássaros, árvores nativas e frutíferas. O empresário estima que pelo menos 20% da produção de uvas é consumida pelas aves. “Produzimos pensando também em alimentá-las”, assegura.
 
 
São sete hectares de vinhedos próprios dentro de um vale de águas minerais. Segundo Barichello, esse é um detalhe importante: o solo arenoso, de drenagem fácil, facilita a produção de uvas com índice de resveratrol – substância que ajuda a aumentar o colesterol bom – que chega a atingir o dobro da média nacional. A produção é artesanal e limitada. 
 
Produção
 
São 200 garrafas de Merlot, 200 de Cabernet Sauvignon e 400 de Gran Rosso, um corte de Merlot, Cabernet Sauvignon e Cabernet Franc, safra 2003. A produção total de 2004 está estimada em 3.000 garrafas e a de 2005, em 5.000 garrafas. Os vinhos são comercializados nos estados de Nova Iorque e do Texas, nos Estados Unidos, para onde são destinados cerca de 60% da produção total, e em Porto Alegre.  A intenção é atingir a quantia de 8 mil garrafas nos próximos anos. No futuro, a Villa Bari pretende também elaborar espumantes. “A uva Chardonnay se adapta muito bem nesta região. Vamos começar os primeiros testes e investir nesse segmento”, explica Barichello.
 
Parte das uvas é vinificada após o processo conhecido como passificação – método tradicional de preparação do Amarone, vinho típico da região de Valpolicella, na Itália, feito com as três castas características (Corvina, Rondinella e Molinara). A uva, depois de colhida, é deixada em um ambiente refrigerado a ar para descansar e concentrar sabores. A temperatura oscila entre 22ºC e 23ºC. “Assim, adquire mais açúcar e corpo, que vai resultar num maior teor alcoólico”, explica ele. Nesse local, as frutas permanecem por cerca de 35 dias dentro de pequenas caixas de plástico.
 

Preferência pelo inox
 
Barichello diz que prefere não utilizar barricas de carvalho. O vinho passa somente por barris de inox. A primeira safra ficou 10 meses dentro da cantina. Atualmente, como regra, os vinhos Villa Bari permanecem 15 meses dentro do inox e um ano na garrafa, antes de chegar ao público consumidor.
 
Ele diz que, embora em escala pequena e artesanal, os vinhos da vinícola Villa Bari não perdem para os da Serra Gaúcha – região tradicional de vinhedos do Rio Grande do Sul. Lembra que, atualmente, a bebida é elaborada em várias regiões do Estado, como a fronteira (Santana do Livramento e Bagé, por exemplo). “O segredo, além do solo e o clima favoráveis, são as técnicas empregadas”. Barichello acrescenta que Porto Alegre é uma cidade quente, subtropical e boa produtora de frutas como uva, pêssego e ameixa. “Por que não faríamos bons vinhos”? indaga.
 
Barichello também é produtor de vinhos em Valpolicella, nos arredores de Verona, na Itália, e está implantando um novo vinhedo em Chianti, próximo a Florença. Os vinhos italianos têm a marca L’Arco e são elaborados em parceria com um jovem produtor de nome Luca Fredigo. É ele quem elabora a bebida. Barichello financia pesquisas e adquire equipamentos. Os vinhedos e a cantina estão localizados em Santa Maria de Negrar, num dos vales de Valpolicella. A produção é limitada, ao redor de 30 mil garrafas por ano, distribuídas entre Amarone, Rubeo IGT (Indicação Geográfica Típica), Pario IGT, Valpolicella Superior e Rosso Veronese IGT. As uvas processadas são Corvina, Corvinone, Rondinella e Molinara. Os vinhos são vendidos na Itália, nos Estados Unidos, no Canadá, nos países escandinavos e no Brasil.
 
O novo vinhedo fica em San Casciono di Val di Pisa, nas colinas do Chianti, ao redor de Florença. “No momento, já está em produção de uvas Sangiovese, numa área de 1,5 hectares, que serão vinificados este ano”, informa Barichello. O projeto prevê a implantação de mais 3,5 hectares.
 
 
Vinícola Villa Bari
Avenida Belém Velho, 3610
Porto Alegre - Fone: (51) 3248 – 2200
barichello@terra.com.br
www.villabari.com.br
 
Ramão Marques - Publicado em Bon Vivant
publicado por ardotempo às 15:07 | Comentar | Adicionar
Segunda-feira, 01.06.09

Um curador é um curador, é um curador, é um curador...

La sombra de los artistas

   
"Un comisario nunca debe reconocer en público que no conoce a un artista, la situación se puede salvar con un 'he oído hablar de él'. Cuando se refiera a los artistas debe llamarles por su nombre de pila: 'He quedado a cenar con Mathew' o 'voy a una exposición de Richard". El consejo forma parte del Manual de estilo del arte contemporáneo, un libro del artista mexicano Pablo Helguera.
 
Tania Pardo, comisaria del Museo de Arte Contemporáneo de Castilla y León (Musac), lo trae a colación en su conferencia sobre ética del comisariado porque sabe que está dirigiéndose a colegas capaces de reconocer lo que tiene de sarcasmo y lo que tiene de realidad. El marco es el primer encuentro nacional de comisarios de arte Producir, exponer, interpretar, celebrado el pasado fin de semana en León y que continuará el 25 de septiembre en el Matadero de Madrid, bajo la dirección de Tania Pardo y Manuela Villa. Ambas, tras una serie de conversaciones, se dieron cuenta de que tenían muchas dudas sobre su propia profesión. ¿Un comisario es un gestor cultural, un filósofo, un creador?, ¿existe un código deontológico del comisariado?
 
Asistentes y ponentes al encuentro presentan un par de peculiaridades. La primera es que, ignorando la oferta gastronómica de León, se quedan pegados a sus asientos más allá de las tres de la tarde interviniendo. La segunda, que la mayoría tiene menos de 35 años. Forman parte de una generación de profesionales de la gestión cultural que han contado con posgrados específicos para formarse y que han podido teclear el nombre de un colega en Facebook para masacrar o elogiar su exposición. Son los primeros además que, en un gesto de toma de conciencia, han concretado esta red organizando un encuentro exclusivo de gestores de arte.
 
Otra cosa que les une es que la mención del sambenito comisario joven o artista joven les provoca sarpullidos. "Es una etiqueta vacía, detrás de la que no hay nada", dice Javier Marroquí, que, junto a David Arlandis, forma un equipo de gestión cultural en Valencia. Marroquí apunta que esta generalización casi siempre ha servido para dar buena imagen a las instituciones y someter a los artistas emergentes a condiciones precarias. Menciona a Amanda Cuesta, ponente en el encuentro y una de las responsables de la exposición sobre quinquis que se puede ver en Barcelona. Cuesta empezó con 21 años y habla con orgullo de su "arsenal intelectual". Muchos de los presentes son jóvenes, pero no nuevos en esto. "Parece que por ser joven tienes que guardar tu turno, en términos taurinos", dice Iván López Munuera. Pero él, a sus 29 años, se ha saltado el protocolo. Prepara la exposición Los esquizos de Madrid. Figuración madrileña de los años 70 en el Reina Sofía.
 
Las dudas no se han solventado. Un hipotético Manual de estilo del arte contemporáneo tendría infinidad de interrogantes en el capítulo dedicado a los comisarios. Pero para ellos, que construyen discursos a partir del arte, la incertidumbre no es una enemiga.
 
 

 
 
Nerea Pérez de Las Heras - Publicado em El País
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Quinta-feira, 21.05.09

Coelhos em Paris

Fotografia

 

 

 

 

Coelhos em Paris - Fotografia - Eric Tenin  (Paris - França), 2009

 

Publicado no blog Paris Daily Photo

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Quinta-feira, 02.04.09

Fazer cinema em Televisão

Produção de Especiais em Televisão 
 
Gilberto Perin
 
 
Quando tudo se tornar igual na era global, o nosso futuro e o futuro de muitos países vai depender do quanto as pessoas se sentirão em casa e se identificarão com aquele lugar. Só as produções regionais poderão dar suporte a isso. No futuro a riqueza de um país não será a riqueza econômica, mas a da identidade própria”. Com esse depoimento do diretor alemão Wim Wenders, que recentemente visitou o Brasil e esteve em Porto Alegre, inicio o nosso encontro.
 
Obrigado pela presença e pelo interesse na Produção de Especiais em Televisão. Iniciativas como essas são essenciais para aproximar a Universidade e o mercado, misturando teoria e prática; sonho e realidade; nos fazendo pensar e procurando melhorar a sociedade em que vivemos. 
 
No começo era o teleteatro, não tinha videotape, a teledramaturgia tinha a base nos textos teatrais e na experiência dos profissionais de rádio. A TV Piratini, no morro Santa Teresa, em Porto Alegre, teve seus dias de glamour e glória a partir da inauguração em 1959.  Três anos depois, em 1962, a TV Gaúcha colocou o sinal no ar com novos e sofisticados equipamentos - para aquela época. Iniciava-se um novo ciclo da dramaturgia eletrônica no Rio Grande do sul, na então TV Gaúcha que depois mudou o nome para RBS TV.
 
Como o passar dos anos, e com as emissoras regionais se filiando às redes de emissoras nacionais, novas normas de relação com os horários de programação regional foram surgindo. A RBS TV sempre fez questão de preservar os horários regionais, além da área de telejornalismo e esporte. As poucas tentativas de dramaturgia regional desapareceram no final dos anos 1970. Mas ainda foram realizados muitos documentários, com um viés mais jornalistíco, mais próximo das grandes reportagens, do que de documentários com estética e conteúdo específicos.
 
Nos anos 70, 80 e 90, as pessoas ligadas à comunidade de produção cultural não desistiram de fazer música, teatro, artes plásticas, cinema, literatura. A luta foi contra a censura, a ditadura, a falta de condições. Dito assim - resumido em três linhas de texto - temos a falsa impressão de que foi apenas uma fase. Não. Foi uma fase difícil, dura, em que perdemos pelo caminho muitos talentos que desistiram; perdemos outros que se foram; mas também foram anos criativos, onde reafirmamos o valor do trabalho em grupo, aprendemos a dar diversas voltas, criando nossas próprias opções para mostrar o trabalho, de prosseguir. 
 
Resumidamente e de uma forma simplista, esse caldo cultural nos permitiu, junto com a vontade e a intenção pessoal de algumas pessoas, permitiu que se criasse um núcleo de trabalho para mostrar um pouco da cultura regional feita no sul.
 
Permitam que abra um parênteses rápido para opiniar sobre o momento do audiovisual em que passamos. 
 
Diversão, informação, entretenimento sempre estiveram presentes na indústria cultural de todo o Mundo - inclusive antes que ela fosse chamada de indústria cultural. Mas vivemos um momento alucinado de conecções reais, virtuais, onde temos acesso a tudo e onde o níve de retenção das informações e o processo de pensar fica em segundo plano. Ainda, acredito, não sabemos lidar com o grande número de informações diárias que recebemos. O processo de informação e acesso às informações, imagens, obras, é grande e foi tudo muito rápido. Isso, ao mesmo tempo em que nos dá a possibilidade de aproximação com pensamentos, estética e conteúdo mundiais, também, paradoxalmente, cria um distanciamento e um voltatibilidade. Ou seja, o “gosto e não gosto” simples e superficial está regulando esse momento do conhecimento da humanidade - é uma generalização que estou fazendo, claro, mas não menos verdadeira.
 
Com isso, fico com a impressão de que temos que ver coisas “rápidas”, “divertidas”, “não tristes”, “não elitistas” e outros chavões semelhantes. Nada contra, a diversão, a alegria - quem não gosta e não quer momentos de relaxamento. Mas isso está se tornando uma generalização e pode, se não estivermos atentos, vulgarizar a nossa produção cultural. A televisão, como veículo que atinge a maior parte da população, corre rapidamente para isso e com isso poderemos ter consequências da infantilização da programação, bem rapidamente. Repito: diversão é bom e todos nós gostamos. Mas, vamos entendamos que tem muita coisa que vale a pena e não só o riso pelo riso. 
 
Observem que todo esse movimento que temos no mercado audiovisual com essa janela de exibição que é a televisão, existe há pouco tempo, ainda não foram completados 10 anos. E, outra observação importante, com programas de 15 minutos, uma vez por semana.
 
Conseguimos sistematizar um esquema de produção. Alice Urbim, Raul Costa Júnior e eu centralizamos o processo inicial de organização desse núcleo de trabalho, depois com o envolvimento de todas as áreas da televisão, como o marketing, departamento comercial. 
 
Agora vou dar algumas informações para que se entenda o nosso processo de trabalho. Temos, basicamente, episódios de ficção (que são aqueles que tem orçamento maior) e documentário (com orçamento menor). Temos várias temáticas, estéticas e conteúdos. Também temos vários formatos de produção. Vejam alguns exemplos de conteúdos produzidos por nós:
 
Documentário histórico: anualmente, temos uma série com temática sobre a história do Rio Grande do Sul, seja a história tradicional (os conflitos armados que envolveram o Estado: Continente de São Pedro, A Ferro e Fogo, Farrapos) ou a história mais recente, com pontos de vista mais atuais e fatos que ainda não são História mas que, provavelmente, serão parte dela: A Conquista do Oeste - os gaúchos que saíram do estado em busca de novas oportunidades - Na Trilha dos Rios - a convivência dos gaúchos com seus maiores mananciais de água. 
 
Pela formação histórica, étnica e cultural do Rio Grande do Sul, os documentários com conteúdo históricos são muito bem aceitos. Muitos colegas de televisão de outros estados, não entendem como num horário de sábado, 12h20min, é possível colocar no ar numa emissora aberta, um documentário e ter audiência.
 
Gilberto Perin
Produção de Especiais em Televisão - RBS TV
publicado por ardotempo às 13:21 | Comentar | Adicionar
Terça-feira, 10.02.09

O livro vai mudar?

Novo livro
 
Foi apresentada pela Amazon nesta segunda-feira, nos Estados Unidos, a nova versão de seu popular ebook, o Kindle 2. O novo leitor de livros eletrônicos é 25% mais fino que um iPhone e, de acordo com o fundador da Amazon.com, Jeff Bezos, entregará ao usuário qualquer livro que já foi impresso no mundo, em qualquer idioma, em menos de 60 segundos.
 
O novo modelo tem sete vezes mais área de armazenagem do que o modelo anterior, uma bateria com duração de até duas semanas e um recurso que permite ao aparelho ler texto em voz alta.
 
 
Com menos de um centímetro (0,91cm) e pesando apenas 280 gramas, o aparelho tem a espessura comparada a de um lápis. Sua bateria dura de quatro a cinco dias sem necessidade de recarga, e até duas semanas se a rede sem-fio estiver desligada. Embora só seja lançado oficialmente no próximo dia 24 de fevereiro, o Kindle 2 já está em pré-venda pelo site da Amazon. Ele será vendido por US$ 359, o mesmo preço do Kindle original. A versão apresentada nesta segunda-feira veio com direito a livro inédito de Stephen King. Ur sairá exclusivamente no Kindle e tem o aparelho como um dos personagens principais.
 
Publicado no blog Verdes Trigos
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Quarta-feira, 24.12.08

Depois da Bienal do Vazio, a glória do cavalo pintor

Cavalo faz exposição individual de pintura em Veneza 

 

O animal, cujo trabalho tem impressionado o mundo das artes plásticas e é descrito como tendo a "paixão de Pollock" e o "olhar fixo de Resnick", já teve obras vendidas por mais de R$ 4,5 mil.

 

O cavalo ganhou recentemente uma menção honrosa pela obra The Big Red Buck na terceira edição do Prêmio Internacional Arte Laguna, na Itália. Em disputa, estavam mais de 3 mil obras de mais mil artistas de todo o mundo. "Cholla é muito talentoso. Tem um desenho particular, abstrato", disse à BBC Brasil Rosalba Giorcelli, diretora da Galleria Giudecca 795, que tem a exclusividade de vender as obras de Cholla fora dos Estados Unidos.
 
"Quando vi sua obra pela primeira vez, achei que se tratava de um jovem artista. Mas, ao saber que era um cavalo, fiquei surpresa e muito curiosa", disse.
 
Giorcelli está fechando os últimos detalhes da exposição individual de Cholla, que será aberta ao público em abril do próximo ano e deverá contar com cerca de 30 trabalhos. De acordo com Giorcelli, o cavalo é de propriedade da bailarina americana Renee Chambers e sua aptidão foi descoberta por acaso em maio de 2004.
 
Enquanto Chambers pintava o curral de sua propriedade em Reno, no estado americano de Nevada, o cavalo demonstrou interesse no que ela estava fazendo e seu marido teve a idéia de entregar pincéis a Cholla. Chambers então comprou papel e tinta, pôs um pincel entre os dentes dele e, desde então, Cholla não parou mais de pintar, sem permitir que ela escolha as cores ou mexa o cavalete enquanto ele trabalha. De acordo com Chambers, que estará presente na abertura da exposição em Veneza, público, artistas e críticos têm demonstrado muito entusiasmo na obra do cavalo.
 
Na ocasião, ela deverá participar de um encontro com artistas e demais interessados para debater a obra do "cavalo-artista".
 
"É um cavalo que não foi adestrado. O que ele faz é uma coisa diversa, que exprime sua vitalidade. Não podemos dizer que é arte ou menos, ou que ele seja o maior artista do século", assinala Rosalba. "Mas, com certeza, é a expressão da natureza que fala. Uma coisa que faz a gente pensar. Será uma boa oportunidade para discutirmos arte contemporânea com muita serenidade", finalizou.
 
( ARdoTEmpo: Mesmo sendo um cavalo, essa história é, na verdade, uma avacalhação total no circuito de mercado da arte contemporânea - este cavalo poderia até ter exposto a sua série de "obras originais" no ofensivo espaço da Bienal do Vazio São Paulo - observem o cavalete barroco e branco do "cavalo-artista")
 
Publicado no blog BBC Brasil

 

 

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Terça-feira, 23.12.08

Riscos para a floresta, para os humanos e para os animais

O lado B do etanol 

 

A cada ano a safra da cana-de-açúcar bate recordes na mesma proporção em que cresce sua importância estratégica para o País. Ao mesmo tempo, o avanço da monocultura e a mecanização da lavoura ameaçam ecossistemas como o Cerrado e a Mata Atlântica, enquanto as condições de trabalho continuam duríssimas. Acompanhar os impactos sociais, ambientais e trabalhistas deste setor é um dos objetivos do Centro de Monitoramento de Agrocombustíveis, braço da ONG Repórter Brasil, que publica o relatório O Brasil dos Agrocombustíveis, Cana-de-Açúcar 2008 no dia 7 de janeiro. 

Para concluir o trabalho, ainda inédito, a equipe do CMA visitou estados como Alagoas, Pernambuco, Bahia, Maranhão, Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, São Paulo e Acre. “Estivemos tanto em áreas onde a cultura da cana está consolidada com modos de produção modernos ou arcaicos como nas áreas das novas fronteiras”, explica Marcel Gomes, coordenador da equipe. Além das visitas de campo, onde colhiam dados e relatos de quem vive da cana, os pesquisadores ouviram especialistas e cruzaram as informações mais recentes sobre o setor. 

A apresentação começa pelo Centro-Sul, que concentra 87,8% de toda a cana produzida no País e detém 372 das 447 usinas cadastradas na Agência Nacional do Petróleo (ANP). Mais da metade delas, ou 230, estão no Estado de São Paulo. 

O relatório alerta para a ameaça ao bioma do Cerrado. “Há várias usinas circundando a região do Pantanal”, diz Gomes. “Cada região estudada apresenta um tipo de problema ambiental, sempre como conseqüência do avanço da monocultura.” 

No Nordeste, onde foi introduzida no século XVI, a cana ainda é produzida de maneira menos mecanizada que no Centro-Sul. O impacto disso aparece nas condições de trabalho e moradia dos canavieiros. Em março deste ano, uma força-tarefa do Ministério Público do Trabalho em Alagoas teve de autuar 12 das 15 usinas fiscalizadas. Uma ação do MPT em Pernambuco autuou o prefeito de Palmares, Beto da Usina. Aos jornais, o advogado José Hamilton Lins admitiu as condições precárias de trabalho, que considerou “parte de uma cultura colonial que precisa de tempo para se adequar às novas regras trabalhistas”. 

Além do problema trabalhista, o relatório dimensiona a extensão dos impactos no meio ambiente. De acordo com o Centro de Pesquisas Ambientais do Nordeste (Cepan), a cana é responsável por 95% do desmatamento da Mata Atlântica na região. Em 2008, o Ibama multou 24 usinas por crime ambiental apenas em Pernambuco. A maior parte, por desrespeitar áreas de proteção permanente (APPs) ou por não preservar a reserva legal proporcional de mata nativa. 

A terceira região abordada no relatório é a Amazônia, onde, ainda que a cana-de-açúcar não seja muito difundida, está em expansão. “O problema é que o zoneamento (ecológico-econômico) ainda não foi concluído. Mas existe uma pressão forte para que o governo barre a cana na região ao proibir que novas usinas se instalem”, prevê Gomes. Ainda há relativamente poucas usinas na região. Algumas, como a Álcool Verde, pertencente ao Grupo Farias, do deputado federal Augusto Farias (PTB-AL), foram embargadas pela Justiça. Apesar de instalada, está paralisada por apresentar diversos desacordos com a legislação ambiental.

 

 

 

Publicado em Carta Capital

publicado por ardotempo às 12:23 | Comentar | Adicionar
Quinta-feira, 11.12.08

60 Anos...para não deixar esquecer

(para olhar em volta, para ver na tela todos os dias, para não deixar esquecer...o legado de uma geração que sonhou possível um futuro melhor, mais digno e civilizado)

 

Declaração Universal dos Direitos Humanos 

 

Artigo 1°

Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e em direitos. Dotados de razão e de consciência, devem agir uns para com os outros em espírito de fraternidade.

Artigo 2°

Todos os seres humanos podem invocar os direitos e as liberdades proclamados na presente Declaração, sem distinção alguma, nomeadamente de raça, de cor, de sexo, de língua, de religião, de opinião política ou outra, de origem nacional ou social, de fortuna, de nascimento ou de qualquer outra situação. Além disso, não será feita nenhuma distinção fundada no estatuto político, jurídico ou internacional do país ou do território da naturalidade da pessoa, seja esse país ou território independente, sob tutela, autónomo ou sujeito a alguma limitação de soberania.

Artigo 3°

Todo o indivíduo tem direito à vida, à liberdade e à segurança pessoal.

Artigo 4°

Ninguém será mantido em escravatura ou em servidão; a escravatura e o trato dos escravos, sob todas as formas, são proibidos.

Artigo 5°

Ninguém será submetido a tortura nem a penas ou tratamentos cruéis, desumanos ou degradantes.

Artigo 6°

Todos os indivíduos têm direito ao reconhecimento, em todos os lugares, da sua personalidade jurídica.

Artigo 7°

Todos são iguais perante a lei e, sem distinção, têm direito a igual protecção da lei. Todos têm direito a protecção igual contra qualquer discriminação que viole a presente Declaração e contra qualquer incitamento a tal discriminação.

Artigo 8°

Toda a pessoa tem direito a recurso efectivo para as jurisdições nacionais competentes contra os actos que violem os direitos fundamentais reconhecidos pela Constituição ou pela lei.

Artigo 9°

Ninguém pode ser arbitrariamente preso, detido ou exilado.

Artigo 10°

Toda a pessoa tem direito, em plena igualdade, a que a sua causa seja equitativa e publicamente julgada por um tribunal independente e imparcial que decida dos seus direitos e obrigações ou das razões de qualquer acusação em matéria penal que contra ela seja deduzida.

Artigo 11°

  1. Toda a pessoa acusada de um acto delituoso presume-se inocente até que a sua culpabilidade fique legalmente provada no decurso de um processo público em que todas as garantias necessárias de defesa lhe sejam asseguradas.
  2. Ninguém será condenado por acções ou omissões que, no momento da sua prática, não constituíam acto delituoso à face do direito interno ou internacional. Do mesmo modo, não será infligida pena mais grave do que a que era aplicável no momento em que o acto delituoso foi cometido.

Artigo 12°

Ninguém sofrerá intromissões arbitrárias na sua vida privada, na sua família, no seu domicílio ou na sua correspondência, nem ataques à sua honra e reputação. Contra tais intromissões ou ataques toda a pessoa tem direito a protecção da lei.

Artigo 13°

  1. Toda a pessoa tem o direito de livremente circular e escolher a sua residência no interior de um Estado.
  2. Toda a pessoa tem o direito de abandonar o país em que se encontra, incluindo o seu, e o direito de regressar ao seu país.

Artigo 14°

  1. Toda a pessoa sujeita a perseguição tem o direito de procurar e de beneficiar de asilo em outros países.
  2. Este direito não pode, porém, ser invocado no caso de processo realmente existente por crime de direito comum ou por actividades contrárias aos fins e aos princípios das Nações Unidas.

Artigo 15°

  1. Todo o indivíduo tem direito a ter uma nacionalidade.
  2. Ninguém pode ser arbitrariamente privado da sua nacionalidade nem do direito de mudar de nacionalidade.

Artigo 16°

  1. A partir da idade núbil, o homem e a mulher têm o direito de casar e de constituir família, sem restrição alguma de raça, nacionalidade ou religião. Durante o casamento e na altura da sua dissolução, ambos têm direitos iguais.
  2. O casamento não pode ser celebrado sem o livre e pleno consentimento dos futuros esposos.
  3. A família é o elemento natural e fundamental da sociedade e tem direito à protecção desta e do Estado.

Artigo 17°

  1. Toda a pessoa, individual ou colectivamente, tem direito à propriedade.
  2. Ninguém pode ser arbitrariamente privado da sua propriedade.

Artigo 18°

Toda a pessoa tem direito à liberdade de pensamento, de consciência e de religião; este direito implica a liberdade de mudar de religião ou de convicção, assim como a liberdade de manifestar a religião ou convicção, sozinho ou em comum, tanto em público como em privado, pelo ensino, pela prática, pelo culto e pelos ritos.

Artigo 19°

Todo o indivíduo tem direito à liberdade de opinião e de expressão, o que implica o direito de não ser inquietado pelas suas opiniões e o de procurar, receber e difundir, sem consideração de fronteiras, informações e idéias por qualquer meio de expressão.

Artigo 20°

  1. Toda a pessoa tem direito à liberdade de reunião e de associação pacíficas.
  2. Ninguém pode ser obrigado a fazer parte de uma associação.

Artigo 21°

  1. Toda a pessoa tem o direito de tomar parte na direcção dos negócios, públicos do seu país, quer directamente, quer por intermédio de representantes livremente escolhidos.
  2. Toda a pessoa tem direito de acesso, em condições de igualdade, às funções públicas do seu país.
  3. A vontade do povo é o fundamento da autoridade dos poderes públicos: e deve exprimir-se através de eleições honestas a realizar periodicamente por sufrágio universal e igual, com voto secreto ou segundo processo equivalente que salvaguarde a liberdade de voto.

Artigo 22°

Toda a pessoa, como membro da sociedade, tem direito à segurança social; e pode legitimamente exigir a satisfação dos direitos económicos, sociais e culturais indispensáveis, graças ao esforço nacional e à cooperação internacional, de harmonia com a organização e os recursos de cada país.

Artigo 23°

  1. Toda a pessoa tem direito ao trabalho, à livre escolha do trabalho, a condições equitativas e satisfatórias de trabalho e à protecção contra o desemprego.
  2. Todos têm direito, sem discriminação alguma, a salário igual por trabalho igual.
  3. Quem trabalha tem direito a uma remuneração equitativa e satisfatória, que lhe permita e à sua família uma existência conforme com a dignidade humana, e completada, se possível, por todos os outros meios de protecção social.
  4. Toda a pessoa tem o direito de fundar com outras pessoas sindicatos e de se filiar em sindicatos para defesa dos seus interesses.

Artigo 24°

Toda a pessoa tem direito ao repouso e aos lazeres, especialmente, a uma limitação razoável da duração do trabalho e as férias periódicas pagas.

Artigo 25°

  1. Toda a pessoa tem direito a um nível de vida suficiente para lhe assegurar e à sua família a saúde e o bem-estar, principalmente quanto à alimentação, ao vestuário, ao alojamento, à assistência médica e ainda quanto aos serviços sociais necessários, e tem direito à segurança no desemprego, na doença, na invalidez, na viuvez, na velhice ou noutros casos de perda de meios de subsistência por circunstâncias independentes da sua vontade.
  2. A maternidade e a infância têm direito a ajuda e a assistência especiais. Todas as crianças, nascidas dentro ou fora do matrimônio, gozam da mesma protecção social.

Artigo 26°

  1. Toda a pessoa tem direito à educação. A educação deve ser gratuita, pelo menos a correspondente ao ensino elementar fundamental. O ensino elementar é obrigatório. O ensino técnico e profissional dever ser generalizado; o acesso aos estudos superiores deve estar aberto a todos em plena igualdade, em função do seu mérito.
  2. A educação deve visar à plena expansão da personalidade humana e ao reforço dos direitos humanos e das liberdades fundamentais e deve favorecer a compreensão, a tolerância e a amizade entre todas as nações e todos os grupos raciais ou religiosos, bem como o desenvolvimento das actividades das Nações Unidas para a manutenção da paz.
  3. Aos pais pertence a prioridade do direito de escolher o género de educação a dar aos filhos.

Artigo 27°

  1. Toda a pessoa tem o direito de tomar parte livremente na vida cultural da comunidade, de fruir as artes e de participar no progresso científico e nos benefícios que deste resultam.
  2. Todos têm direito à protecção dos interesses morais e materiais ligados a qualquer produção científica, literária ou artística da sua autoria.

Artigo 28°

Toda a pessoa tem direito a que reine, no plano social e no plano internacional, uma ordem capaz de tornar plenamente efectivos os direitos e as liberdades enunciadas na presente Declaração.

Artigo 29°

  1. O indivíduo tem deveres para com a comunidade, fora da qual não é possível o livre e pleno desenvolvimento da sua personalidade.
  2. No exercício destes direitos e no gozo destas liberdades ninguém está sujeito senão às limitações estabelecidas pela lei com vista exclusivamente a promover o reconhecimento e o respeito dos direitos e liberdades dos outros e a fim de satisfazer as justas exigências da moral, da ordem pública e do bem-estar numa sociedade democrática.
  3. Em caso algum estes direitos e liberdades poderão ser exercidos contrariamente aos fins e aos princípios das Nações Unidas.

Artigo 30°

Nenhuma disposição da presente Declaração pode ser interpretada de maneira a envolver para qualquer Estado, agrupamento ou indivíduo o direito de se entregar a alguma actividade ou de praticar algum acto destinado a destruir os direitos e liberdades aqui enunciados.

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Quarta-feira, 20.08.08

Cadeira Favela

Design

 

 

Favela - Design: Irmãos Campana (Brasil) - Conceito do acúmulo de materiais e reutilização de rejeitos úteis de madeira para estruturação de um objeto utiltário (a cadeira-escultura) - A seriação industrial do móvel é realizada com fragmentos de madeiras novas, com certificação ambiental.

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Segunda-feira, 30.06.08

Portas cerradas

 

Na questão da imigração, os governos da França e da Espanha insistem em soprar velhas brasas adormecidas. 

 

publicado por ardotempo às 17:08 | Comentar | Adicionar
Domingo, 11.05.08

O melhor whisky é... japonês!

Escolhido por grupo seleto de degustadores em whisky (ingleses, escoceses, irlandeses, outros europeus e norte-americanos), o whisky NIKKA, single malt, envelhecido 20 anos, foi considerado o melhor do mundo. Deu no El Pais, no Times e na BBC Online britânica.

 

Uma surpresa interessante, essa da qualidade e sabor alcançados pela Distilaria Yoichi, de Hokkaido, para a sua bebida "escocesa", façanha  alcançada  após  74 anos de existência.

 

Apreciadores de Lagavulin, façam a experiência e a comparação - aproveitem que, ao que eu saiba, os chineses ainda não estão fazendo whisky.

 

publicado por ardotempo às 11:39 | Comentar | Adicionar
Segunda-feira, 28.04.08

Contemporâneos em catedrais góticas

Vitrais com desenhos contemporâneos


                                               

As naves das igrejas góticas são as mesmas mas a luz que as banha não será mais a mesma, pelo menos por enquanto. Artistas contemporâneos têm redesenhado os vitrais de algumas destas antigas catedrais na Europa, o que têm gerado novas leituras e diferentes percepções destes renovados espaços sagrados.

Agora foi a vez da Igreja de St.-Martin-in-the Fields, em Londres, que foi reaberta ao público freqüentador dos eventos religiosos, nesta semana, após uma minuciosa restauração do templo, que tem a reputação de ser conhecida como "a igreja branca".

Os vitrais foram concebidos agora em vidros claros, translúcidos e sem a cor que os caracterizou por séculos, anteriormente, e opacos, após uma sofrível  restauração efetivada  nos danos ocasionados pelos bombardeios, durante a 2ª Guerra Mundial na capital britânica.

A idéia dos vidros transparentes e do desenho da "cruz n'água" foi da artista  contemporânea iraniana Shiraz Houshiary, finalista do prestigiado Prêmio Turner de Arte Contemporânea.

Mas não se trata de uma idéia original, uma vez que
os artistas franceses Pierre Soulages (na Abadia de Conques, em Aveyron, França - ao lado) e Jean-Pierre Raynaud (na Igreja da Abadia de Noirlac, igualmente na França - abaixo) tinham já concebido em 1996, soluções abstratas e sintéticas, com igual aproveitamento da luz filtrada clara e resultados estéticos bem similares.



                            

publicado por ardotempo às 19:38 | Comentar | Adicionar
Domingo, 27.04.08

Zuenir fala de 68, do poder, das novas tribos…

Entrevista de Rodrigo de Almeida (JB) com o jornalista Zuenir Ventura

É do jornalista Zuenir Ventura uma das mais fascinantes reconstituições do que ocorreu no Brasil em 1968. Do desbunde às lutas políticas, das paixões libertárias aos dramas soturnos, dos relatos sublinhados pela história oficial aos detalhes daqueles personagens, nada escapou ao olhar arguto de Zuenir em 1968: o ano que não terminou, publicado em 1988.

Vinte anos depois daquele livro, 40 anos depois do interminável 1968 e um tanto de experiência a mais, sem abdicar da inquietação jornalística juvenil, Zuenir retoma o tema e publica, pela editora Planeta, 1968: o que fizemos de nós.

O título é preciso: mais do que uma reportagem sobre aquele ano revisto hoje, trata-se de um diálogo entre duas gerações. Passado e presente se unem e se confrontam nas diferenças não só dos jovens de ontem e de hoje, como também de jovens que se transformaram em senhores e senhoras.

JB: Um livro sobre 68 corre o risco de exibir um excesso de saudosismo em relação àquela geração e um excesso de crítica frente à atual. No seu livro, a crítica parece ser mútua. Muitos dos personagens ouvidos revelam certo desencanto sobre o que poderiam ter sido e o impacto daquelas idéias nos anos seguintes. Ao mesmo tempo, há uma análise dura sobre a perda das utopias, da esperança, da crença no futuro. Você compartilha desse desencanto?

Zuenir Ventura: Procurei ser eqüidistante exatamente por esse risco. Em geral, a visão sobre 68 e mesmo sobre hoje costuma ser muito maniqueísta. Há o risco da apologia e da negação. Em geral, os jovens sofrem o risco de serem rejeitados. Com 68 foi assim e com hoje também é. Há uma tendência a rejeitar o impacto de uma coisa nova. A diferença é que em 68 a resposta era muito agressiva. Dizia-se: "Não confie em ninguém com mais de 30 anos".

Mas não acho que haja desencanto. Por natureza, não tenho olhar desencantado, mesmo em relação a hoje, que vivemos tempos difíceis. Costumo dizer que é tão fácil ser pessimista que sou otimista. Há, nas duas gerações, coisas interessantes e coisas críticas. Como Narciso, achamos feio o que não é espelho. Mas o depoimento do psicanalista João Batista Ferreira e a conversa que tive com muitos jovens me ajudaram a ter um olhar mais generoso.

JB: Se era para não confiar em ninguém com mais de 30 anos, hoje esses personagens não são confiáveis...

ZV: Quarenta anos pesam em qualquer história, em qualquer biografia. Eu me surpreendi ao entrevistar as três meninas (Maria Lúcia Dahl, Maria Clara Mariani e Marília Carneiro). Todas pareciam revolucionárias e hoje são avós! Quarenta anos deixam você mais conservador. O estranhamento com o mundo das novidades é muito grande. Quando vou a uma festa rave não escondo minha perplexidade diante das coisas que não estou preparado para perceber em termos de comportamento. Não quero bancar o jovem. Por sabedoria, temos de procurar entendê-lo, e não o contrário.

JB: Que mudanças você identifica entre a geração de 68 e a de hoje?

ZV: Os jovens de hoje são mais individualistas. O mundo mudou muito, até o conceito de geração mudou. Hoje não há geração, há tribo. Os jovens integram a fragmentação do mundo e, por isso, são voltados para seus interesses, seus desejos. Não têm nenhum apego ideológico, não há interesse na política. Falo isso sem juízo de valor. Mas não é do projeto deles. Aliás, não têm projeto, como havia um em 68. Dizia-se: "Quero um mundo novo".

Numa festa rave você se depara com a busca agônica do paroxismo, de vertigem, de êxtase. Ou do ecstasy. Tudo isso é muito diferente em relação àquela geração de 68. O fato é que hoje não há muita razão para ter um projeto, uma vez que se vive num mundo muito inseguro. Como pensar no futuro se não se sabe nem se o planeta terá futuro? Além do desapego e de um amor ao acaso provisório, os jovens de hoje não olham mais para o passado com a nostalgia do não vivido. Não há saudosismo, o que é positivo.

JB: Você cita o filósofo Francisco Ortega, para quem as utopias corporais substituíram as sociais. Ou seja, lida-se com o corpo, mas sem a transgressão.

ZV:  Exatamente. Aquele momento foi o início do hedonismo, da preocupação de se voltar para o corpo. Mas era tudo muito incipiente. Hoje radicalizou. O tabu saiu da cama e foi para a mesa. Há aquilo que eu chamo no livro de degeneração, que é a pior herança: as drogas. Havia em 68 uma utopia ingênua, em que as drogas permitiriam uma abertura de consciência.

Quarenta anos depois sabemos que não é bem assim. A verdade é que a droga não tem a menor graça. Ou melhor, graça tem, porque é prazer e esse é o grande perigo. Por isso é tão difícil lidar com ela. O combate é o mais desastrado possível. É o combate pela polícia, pela criminalização do usuário. Essa é a mesma política de 68. É a herança maldita.

JB: Você ressalta a existência hoje de um "inventário negativo". Por que a tentativa de mostrar que aquele ano definitivamente acabou?

ZV: A presença desse inventário negativo é muito forte e não só aqui. Aliás, mais do que no Brasil isso ocorre na França. Primeiro o ex-agitador Daniel Cohn-Bendit é acusado de pedofilia. Depois vem o presidente francês Nicolas Sarcozy dizendo que 68 tem de acabar. A campanha se radicalizou. Depois da indulgência plenária desses anos todos, parece ter chegado a hora da desforra: "Vamos acabar com 68". Temos hoje um olhar sobre 68 tão maniqueísta quanto tínhamos em 68. Temos a tendência de culpar 68 por tudo de ruim: a permissividade, a descrença nos valores, a anomia... E esse olhar é tão errado quanto naquela época, quando se achava que se estava do lado do bem e todo o resto era do mal.

Varrer 68 do mapa não é a melhor maneira de rever tudo. A ditadura militar sempre tentou enterrar 68. Mas ocorreu o fenômeno que a psicanálise explica muito bem: o retorno do recalcado. É um mistério como 68 sobrevive no imaginário das pessoas.

JB: No livro, o sociólogo César Benjamim diz: "Se continuamos interessados em 1968 é porque o que então ocorreu ainda nos tem a dizer sobre o futuro".

ZV: Está certíssimo. Como ele diz, 68 ainda tem muito que dizer. Avançou-se muito, sobretudo em comportamento. Talvez tenha ido longe demais, e é difícil digerir todas aquelas novidades, invenções, descobertas. Leva tempo. Como receber essa herança é a grande questão.

No primeiro livro sobre 68, usei como epígrafe uma frase do Mário de Andrade, sobre a geração dele: "Não devemos servir de exemplo a ninguém. Mas podemos servir de lição". Portanto, há muitas lições. Uma delas é em relação ao voluntarismo. "Quem sabe faz a hora, não espera acontecer". Não é bem assim. Outra lição é que a democracia é um valor universal.

JB: Você ou os personagens falam do desapego das ideologias, do esvaziamento da ação política. Mas esse esvaziamento ocorre justamente quando vemos, no poder, egressos daquela geração.

ZV: É verdade, é um paradoxo. Temos 68 no poder. O Fernando Henrique reivindica para o governo dele certos princípios de 68. Olha-se para o governo Lula e se vê que, em volta dele, há muitos personagens de 68. Se 68 não chegou à Presidência da República, pode-se dizer que chegou ao poder. Aliás, o conceito de geração ali não era por idade, mas por afinidade. Havia várias gerações. Alceu Amoroso Lima, Sobral Pinto, Hélio Pellegrino, todos eram geração 68. Isso é curioso porque revela que 68 é mais plural do que pensamos. Não foi uma geração de esquerda. Essa impressão se deve pelo fato de o PT ter sido o partido que mais condensou os princípios de 68, como a paixão pela coisa pública e ética. Achávamos que o PT era o partido de 68. Nunca fui vinculado a nenhum partido, nem em 68. Mas a minha simpatia pelo PT era pela ética. Mas de uns tempos para cá os escândalos sempre têm alguém do PT. Essa transição para o poder foi chocante.

JB: Você falou do abalo da dimensão ética, mas há também o questionamento das utopias.

ZV: Diz-se que a utopia acabou. O fato é que a utopia social caiu em si. Sabemos que não se pode fazer a transformação daquele jeito que imaginávamos em 68. Não pela via da revolução. Mas não acho que o sonho tenha acabado. Se perdermos a capacidade de sonhar, aquele sonho que o Freud associa a desejo, estamos perdidos. Acaba nossa razão de ser. De que maneira sonhar? Com a mudança, com o desejo de melhoria de sua vida, de sua cidade, de seu país. Isso é inseparável da história do homem. Há uma corrente pós-moderna do ceticismo, do cinismo, segundo a qual a utopia, a esperança e a solidariedade seriam sentimentos decadentes. Acho que não. São valores permanentes.

JB: Você só aparece em um ou outro episódio ou no subtexto. Por quê?

ZV: Minha participação em 68 foi de testemunha, de repórter. Nós, jornalistas, somos testemunhas do nosso tempo. Então, muito mais interessante do que eu falar seria dar voz aos outros. Eu não tive importância. Se tive um papel, foi de testemunha.


Entrevista concedida a Rodrigo de Almeida – publicado no JB Online – 27.04.2008
publicado por ardotempo às 12:59 | Comentar | Adicionar
Sábado, 26.04.08

Caipirinha da Estrela

Receita-requinte do mestre Mauro Holanda

                                   

Ingredientes:

40 ml de aguardente (cachaça mineira), ou de vodka (russa, polonesa ou sueca)
3 morangos cortados em fatias
2 cerejas maduras, com os respectivos cabos
2 amoras
4 framboesas
1 carambola cortada em fatias transversais, em formato de estrelas
2 colheres pequenas de açúcar
gelo picado,

Num copo grande e de boca larga, colocar os morangos, as amoras, as framboesas
e o açúcar. Pressionar muito suavemente com o amassador, sem destruir
por completo as frutas.
Acrescentar a cachaça (ou a vodka) e o gelo picado.
Colocar 3 fatias de estrelas de carambola e as duas cerejas.
Mexer bem no próprio copo.
Servir com um canudinho.

© Mauro Holanda
Foto de Mauro Holanda
publicado por ardotempo às 18:20 | Comentar | Adicionar

Editor: ardotempo / AA

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