Segunda-feira, 16.01.12

O Brasil secreto

Um herói popular brasileiro

 

Isa Ferraz conta com emoção a História que não se conta

 

 

 

 

"Um dia, faz 40 anos, eu estava indo com meu pai para a escola e ele disse: 'Vou te contar um segredo: seu tio Carlos é o Carlos Marighella'".

 

Assim começa o documentário "Marighella", de Isa Grinspum Ferraz, com estreia prevista para outubro. Marighella lembra Public Enemy e Racionais, diz Mano Brown

 

Em uma hora e 40 minutos, "Marighella" desfia a trajetória do ícone da esquerda brasileira que acabou baleado e morto dentro de um Fusca em 1969, em São Paulo.

 

Meio século da história do país pode ser contado a partir dos acontecimentos em sua vida: a gênese do comunismo baiano, mulato, do qual Jorge Amado era partidário; o conflito entre integralistas e comunistas; a legalização do Partidão; a clandestinidade; a frustração com Stálin; o golpe militar e, por fim, a luta armada. Mas o que torna "Marighella" único é o olhar íntimo que só quem era de dentro da família seria capaz de documentar: "Tio Carlos era casado com tia Clara. Eles estavam sempre aparecendo e desaparecendo de casa. Era carinhoso, brincalhão, escrevia poemas pra gente. Nunca tinha associado o rosto dele aos cartazes de 'Procura-se' espalhados pela cidade", continua a voz em off da própria Isa, que assina direção e roteiro do filme. Marighella com a sobrinha Isa no ombro, ao lado da companheira Clara Charf e do resto da família Grinspum em 1962

 

 

 

"A ideia é desfazer o preconceito que até pouco tempo atrás havia contra meu tio. Era um nome amaldiçoado, sinônimo de horror. Além da vida clandestina e do ciclo de prisões e torturas, procuramos mostrar também o poeta, estudioso, amante de samba, praia e futebol, e acima de tudo o grande homem de ideias que ele foi", diz Isa, socióloga formada na USP.

 

Na esteira da pesquisa que foi feita, surgiram algumas revelações. Clara Charf, companheira de Marighella de 1945 até sua morte, hoje aos 86, desenterrou uma pasta que pertencia a ele, na qual aparecem correspondências, mapas e esboços de ações guerrilheiras.

 

A produção também descobriu uma gravação de Marighella para a rádio Havana, de Cuba. Em sua fala tipicamente cadenciada, ele anuncia o rompimento com o Partido Comunista e a adesão à luta armada. Mesma época em que intelectuais europeus como o cineasta francês Jean-Luc Godard passam a enviar remessas de dinheiro em apoio à sua causa. O filme ainda traz trilha sonora de Marco Antônio Guimarães e Mano Brown e depoimentos esclarecedores de militantes históricos, como o crítico literário Antonio Candido: "Marighella encarnava moral e psicologicamente o seu povo. Ele era pobre e não abandonou sua classe".

 

 

 

Já a judia Clara enfrentaria resistência do pai ao assumir o relacionamento, no que acabou se transformando numa versão tropical de "Romeu e Julieta". "Carlos era preto, comunista e gói (não judeu)", lembra Clara, aos risos. "Mas era muito doce e, no fim, conquistou a todos."

 

(Publicado na Folha de São Paulo)

 

 Nota do Editor:  É um filme extraordinário, revelador de uma imensa sombra oculta, perene e mistificada da História do Brasil - que permanece ainda como um bunker secreto, construido em  preconceitos e alicerçado em mentiras sussurradas - o lado que se teima em esconder em silêncio reprovador e no medo sistemático: as atrocidades cometidas pela cruel ditadura brasileira contra a liberdade política, artística, cultural e de expressão genuinamente popular  dos brasileiros. 

 

publicado por ardotempo às 15:53 | Comentar | Adicionar
Domingo, 15.01.12

Pointe-du-Hoc, Dia D+1 e hoje

As crateras, o concreto e os insetos

 

As crateras estão todas lá, assombrosas, centenas, formando ondulações ritmadas cobertas de relva, há toneladas de concreto em escombros, estranhos túneis voltados para o céu (para o sol e para a lua) como entranhas expostas em cimento, pedra e ferro retorcido; e milhares de minúsculos insetos a zunirem por todo lado como almas sem guarda. Um monumento doloroso a propor uma reflexão sobre o valor e a essência da liberdade.

 

 

 

 


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publicado por ardotempo às 12:43 | Comentar | Adicionar
Quinta-feira, 19.05.11

A língua é um instrumento de libertação

Que língua a escola deve ensinar?

 

Cláudio Moreno

 

Um grupo de estudantes de Letras veio me visitar: faziam um trabalho para a faculdade e queriam a minha opinião sobre o papel do professor de Português “neste novo milênio, frente às novas teorias linguísticas e aos novos meios eletrônicos de comunicação”. Não pude deixar de sorrir diante de tanta novidade numa frase só; olhei-os com simpatia — todos vão ser meus colegas, em breve — e respondi que o nosso papel continua a ser o mesmo de sempre: transmitir ao aluno a língua da nossa cultura e ensiná-lo a se expressar em prosa articulada. Talvez tenham ficado espantados com a resposta, mas eu não estranhei a pergunta deles.

 

Sei que o avanço da Linguística, com tudo o que nos trouxe de bom, provocou também essa curiosa insegurança da escola quanto aos objetivos do ensino do nosso idioma. No entanto, faço questão de repetir que esses objetivos não mudaram e não devem mudar, por mais que os argumentos em sentido contrário pareçam engenhosos. Um linguista, por exemplo, convidava seus leitores a imaginar um documentário de TV em que o narrador informasse que a canção de acasalamento da baleia azul continha vários erros grosseiros, ou que os gritos dos chimpanzés da Malásia vinham degenerando progressivamente. Seria absurdo? Ora, se não podemos falar em erros da baleia azul, perguntava ele, triunfante, como podemos falar em erros na fala humana? Como pode a escola tentar impingir uma variedade do idioma, tachando as demais de inadequadas? — e por aí ia a valsa.

 

A este tipo de raciocínio engraçadinho, que obteve grande sucesso nos anos 70, contraponho uma verdade que todos nós conhecemos: os linguistas sabem que nosso idioma é muito mais amplo do que a língua escrita culta que é ensinada na escola — mas a escola sabe, mais que os linguistas, que essa é a língua que ela deve ensinar. O que a escola faz, e tem a obrigação de fazer — porque só ela pode fazê-lo de maneira progressiva e sistemática — é ensinar o futuro cidadão a se utilizar dessa forma tão especial de língua que é a língua escrita culta, cujas potencialidades espantosas aparecem na obra de nossos grandes autores.

 

Machado de Assis, Vieira, Eça de Queirós, Nelson Rodrigues, Gilberto Freyre, cada um à sua maneira, são ótimos exemplos. É nesta língua que se cria e organiza a maior parte de nosso pensamentos e sentimentos, seja escrevendo, seja falando (pode parecer paradoxal a inclusão da fala, mas não é; há muito se distingue a língua que o indivíduo fala antes do seu letramento e a língua que ele fala depois). Todas as demais variedades são respeitáveis como fenômeno cultural e antropológico, mas não é nelas que a escola deve concentrar seus esforços. Nosso aluno espera que ensinemos a ele a usar essa língua que constitui a modalidade do Português que todas as pessoas articuladas aceitam como a mais efetiva para expressar seu pensamento. Dizendo de um jeito mais rude: se houvesse forma melhor, ela estaria sendo usada.

 

Todas as sociedades reconhecem isso; o velho Bloomfield, um dos linguistas “duros” do estruturalismo americano, ressaltou que a comunidade, em várias tribos de nativos por ele estudadas, sabia apontar muito bem aqueles que falavam melhor do que os outros. Na sua sabedoria, o público maciçamente tem repelido as tentativas desastradas de fazer a escola aceitar como válida toda e qualquer forma de expressão. Quem não lembra a triste moda dos anos pós-Woodstock, em que defendíamos com entusiasmo a valorização da linguagem do vileiro como algo digno de ser preservado? Hoje sabemos que nada mais era do que uma alegre fantasia da classe média acadêmica, que terminava cristalizando uma categoria de excluídos, contra a vontade de seus pobres falantes.

 

Não é para isso que a gente estuda”, dizem eles — e chamá-los de conservadores é o mesmo que dizer, com arrogância, que nós é que sabemos o que é bom para a sua vida. Já vimos isso na política, em que alguns têm a petulância de dizer que o povo não soube escolher …

 

Agora, por que a prosa? Porque escrever prosa nos torna homens mais exatos, como percebeu Francis Bacon. Escrever é disciplinar o pensamento; o domínio da prosa impõe rigorosa disciplina à nossa mente. Ao escrever, vamos deixando uma trilha do nosso pensamento, permitindo que voltemos sobre nossos próprios passos para encontrar o ponto em que nos desviamos da rota certa e onde nos enganamos. Além disso, precisamos seguir uma série de convenções que permitam que as outras mentes acompanhem o caminho descrito pelo nosso raciocínio. Não vou exagerar, mas acredito que o pensamento articulado é impossível para uma pessoa que não consiga construir um texto coerente e também articulado — e não tenho certeza do que aqui é causa, o que é efeito.

 

Uma escola que não ensine o aluno a escrever com clareza e coerência está comprometendo algo muito mais profundo que aquilo que os antigos chamavam de uma “boa redação”. Muitos alegam que essas regras são mantidas apenas porque é assim se afirma o poder da elite, dividindo a população entre os que conseguem e os que não conseguem entendê-las. Em parte, é verdade: quem as domina consegue expressar-se melhor e argumentar melhor, o que resulta inevitavelmente em maior poder sobre os outros. Mas não são regras estabelecidas por capricho ou por acaso; nasceram da experiência acumulada em milhares de tentativas de expressar-se articuladamente no Português, ao longo dos últimos oito ou nove séculos, num esforço gigantesco que produziu esse magnífico instrumento de expressão e de argumentação.

 

Se essa língua é usada para dominar e submeter, pode, com muito mais razão, ser usada para libertar. Em nome da igualdade social, essa é a missão da escola; agora, como fazer isso, em escala universal e democrática, é uma questão que deve ser resolvida estrutural e politicamente pelos governos e pela sociedade, não pelos professores de Português.

 

Prof. Cláudio Moreno (Artigo publicado na revista Arquipélago, do IEL-RS, em 2005)

publicado por ardotempo às 19:26 | Comentar | Adicionar
Quinta-feira, 21.04.11

A pirâmide é uma ilha

À sua maneira

 

 

 

 

 

Decir adiós puede lograrse apenas con una breve nota dejada sobre la mesa o con una llamada telefónica con la que nos despedimos definitivamente. En los preparativos para marcharse del país, el fin de una relación amorosa o de la vida misma, hay gente que pretende dejar amarrados los más pequeños detalles, trazados esos límites que obligarán a quienes se quedan a seguir su rumbo. Unos se van tirando la puerta y otros reclaman antes de la partida el gran homenaje que creen merecer.

 

Los hay que distribuyen equitativamente sus bienes y también seres con tanto poder que cambian la constitución de un país para que nadie deshaga su obra cuando ellos ya no estén. Los preparativos para el VI congreso del Partido Comunista Cubano y sus sesiones en el Palacio de las Convenciones han sido como un gran réquiem público para Fidel Castro.

 

El escenario de su despedida, el ceremonial minucioso reclamado por él y realizado –sin escatimar recursos– por su hermano menor. Ya en los excesos organizativos del desfile militar, efectuado el 16 de abril, se percibía una intención de “gastárselas todas” en un homenaje final a alguien que no pudo asistir a la tribuna. Resultaba evidente que al anunciar los nombres de quienes asumirían los máximos cargos del PCC, ya no sería leído el del hombre que decidió el rumbo de esta nación por casi cincuenta años. No obstante, él se sentó en la mesa principal del evento para validar con su presencia la transferencia de mando a Raúl Castro. Estar allí fue como acudir – en vida – a la lectura de su propio testamento.

 

Llegó entonces la ovación cerrada, las lágrimas de alguna que otra delegada al cónclave partidista y las frases de compromiso eterno con el anciano de barba casi blanca. A través de la pantalla del televisor, algunos sentimos aquello como el crujir de las flores secas o el sonido de las paletadas de tierra. Queda por ver si el General Presidente podrá sostener el pesado legado que ha recibido, o si bajo la mirada supervisora de su Gran Hermano preferirá no contradecirlo con reformas medulares. Falta comprobar cuán auténtica es esta despedida de Fidel Castro de la vida política y si su sustituto optará por seguir defraudándonos o por negarlo a él.

 

Yoani Sánchez - Publicado em Generación Y

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Domingo, 10.04.11

O mundo em que tudo falta: da liberdade ao azeite de cozinha

Mecanismo azeitado

 

Yoani Sánchez

 

Una gota me resbalaba por la pierna, se me metía en la oquedad que el tobillo forma con el zapato y debía hacer mil piruetas para que mis condiscípulos del preuniversitario no se dieran cuenta. Durante meses, mi familia sólo tuvo aquel aceite mineral para cocinar, gracias a un pariente farmacéutico que lo sacaba a escondidas de su trabajo. Recuerdo que al calentarlo hacía una espuma blanca en la cazuela y después la comida quedaba con un tono dorado de fotografía, ideal para revistas gastronómicas. Sólo que nuestros cuerpos no podían absorber aquella grasa destinada a crear lociones, perfumes o cremas. Se nos salía por el último tramo del intestino y goteaba, goteaba, goteaba…

 

Mi poca ropa interior quedaba manchada, aunque al menos así podíamos descansar de la comida sólo hervida y probar otra, un tanto asada. Éramos realmente afortunados por tener aquel remedo de “manteca”, que alguien robaba para nosotros, pues en los años noventa muchos otros tuvieron que destilar aceites de motores para utilizarlos en sus cocinas. Quizás de ahí nos viene a los cubanos el trauma con ese producto que se extrae del girasol, la soya o el olivo.

 

 

 

 

El precio de un litro de aceite en el mercado se convirtió en nuestro propio y popular indicador de bienestar o de crisis, en el termómetro para medirle la temperatura a las carencias. Con una cultura culinaria cada vez más reducida, de Pinar del Río a Guantánamo, la mayoría de los fogones sólo conocen recetas que incluyen freír los alimentos. De ahí que la grasa de cerdo o esos líquidos mantecosos, con nombres altisonantes como “El Cocinero” o “As de oro”, resulten imprescindibles en nuestra vida cotidiana.

 

Cuando hace unos días – sin previo aviso – aumentó en un 11,6 % el costo del aceite vegetal en las tiendas de divisas, la sensación de molestia fue muy fuerte, incluso mayor que cuando subieron los precios del combustible. Muchos no tenemos autos para constatar cómo cada vez más pesos convertibles se convierten en menos gasolina, pero todos nos enfrentamos cada día a un plato donde los productos de primera necesidad han levantado vuelo.

 

Que eso ocurra sin que le acompañen protestas públicas, cacerolazos de amas de casas descontentas o largos artículos en la prensa quejándose del atropello, es más difícil de tragar que una comida sin grasa. Me da más vergüenza esta aceptación tácita de la subida que el hilo de aceite mineral que me bajó una vez por la pantorrilla ante la mirada burlona de mis colegas.

 

Yoani Sánchez - Publicado no blog Generación Y

publicado por ardotempo às 18:51 | Comentar | Adicionar
Sexta-feira, 18.06.10

JOSÉ SARAMAGO

Sem palavras

 

 

 

(Ausência irreparável - 18 de junho de 2010)

publicado por ardotempo às 16:25 | Comentar | Adicionar
Quinta-feira, 08.01.09

05. Onde está o leitor? Onde está a leitora?

Ler liberta o leitor

 

"Quando o livro fez a sua primeira aparição, Sócrates rejeitou-o por o considerar inferior à conversação. Quando surgiu a imprensa, alguns leitores mais obtusos recusaram-se a permitir a entrada nas suas bibliotecas de produtos industriais e contrataram escribas para copiarem os textos impressos.

 
Quando apareceu a televisão, proclamou-se a morte do livro. Aconteceu o mesmo com a chegada do CD-ROM e do livro electrónico (e-book). Quando o mercado começou a consolidar-se em torno de alguns bestsellers, cadeias de lojas, livrarias virtuais (on-line) e conglomerados editoriais, receou-se pela diversidade.
 
Porém, as enormes vendas de poucos títulos não significam o desaparecimento de todos os outros – mas sim que estes se tornaram relativamente obscuros, menos visíveis. As novas tecnologias (Internet, impressão por encomenda) estão a aumentar os milhões de títulos disponíveis. E as consersações continuam, apesar de ignoradas pela televisão – que nunca as noticiará: “Ontem, um estudante leu a Apologia de Sócrates e sentiu-se livre.”
 
A liberdade e a felicidade experimentadas com a leitura viciam, e a força da tradição reside nessa experiência, que no fim de contas se alimenta de todas as inovações. Ler liberta o leitor e transporta-o do livro para uma leitura de si mesmo e da vida. Leva-o a participar em conversações e, em certos casos, a promovê-las, como fazem tantos leitores activos: pais, professores, amigos, escritores, tradutores, críticos, editores, livreiros, bibliotecários…
 
A singularidade de cada leitor, reflectida na natureza particular da sua biblioteca pessoal (o seu genoma intelectual), floresce na diversidade. E a conversação continua, entre os excessos da grafomania e dos do comércio, entre a expansão tentacular do caos e a concentração do mercado."
 
Ler e publicar na era da abundância - de Gabriel Zaid
 
Publicado no blog  Bibliotecário de Babel
publicado por ardotempo às 23:32 | Comentar | Adicionar
Quinta-feira, 11.12.08

60 Anos...para não deixar esquecer

(para olhar em volta, para ver na tela todos os dias, para não deixar esquecer...o legado de uma geração que sonhou possível um futuro melhor, mais digno e civilizado)

 

Declaração Universal dos Direitos Humanos 

 

Artigo 1°

Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e em direitos. Dotados de razão e de consciência, devem agir uns para com os outros em espírito de fraternidade.

Artigo 2°

Todos os seres humanos podem invocar os direitos e as liberdades proclamados na presente Declaração, sem distinção alguma, nomeadamente de raça, de cor, de sexo, de língua, de religião, de opinião política ou outra, de origem nacional ou social, de fortuna, de nascimento ou de qualquer outra situação. Além disso, não será feita nenhuma distinção fundada no estatuto político, jurídico ou internacional do país ou do território da naturalidade da pessoa, seja esse país ou território independente, sob tutela, autónomo ou sujeito a alguma limitação de soberania.

Artigo 3°

Todo o indivíduo tem direito à vida, à liberdade e à segurança pessoal.

Artigo 4°

Ninguém será mantido em escravatura ou em servidão; a escravatura e o trato dos escravos, sob todas as formas, são proibidos.

Artigo 5°

Ninguém será submetido a tortura nem a penas ou tratamentos cruéis, desumanos ou degradantes.

Artigo 6°

Todos os indivíduos têm direito ao reconhecimento, em todos os lugares, da sua personalidade jurídica.

Artigo 7°

Todos são iguais perante a lei e, sem distinção, têm direito a igual protecção da lei. Todos têm direito a protecção igual contra qualquer discriminação que viole a presente Declaração e contra qualquer incitamento a tal discriminação.

Artigo 8°

Toda a pessoa tem direito a recurso efectivo para as jurisdições nacionais competentes contra os actos que violem os direitos fundamentais reconhecidos pela Constituição ou pela lei.

Artigo 9°

Ninguém pode ser arbitrariamente preso, detido ou exilado.

Artigo 10°

Toda a pessoa tem direito, em plena igualdade, a que a sua causa seja equitativa e publicamente julgada por um tribunal independente e imparcial que decida dos seus direitos e obrigações ou das razões de qualquer acusação em matéria penal que contra ela seja deduzida.

Artigo 11°

  1. Toda a pessoa acusada de um acto delituoso presume-se inocente até que a sua culpabilidade fique legalmente provada no decurso de um processo público em que todas as garantias necessárias de defesa lhe sejam asseguradas.
  2. Ninguém será condenado por acções ou omissões que, no momento da sua prática, não constituíam acto delituoso à face do direito interno ou internacional. Do mesmo modo, não será infligida pena mais grave do que a que era aplicável no momento em que o acto delituoso foi cometido.

Artigo 12°

Ninguém sofrerá intromissões arbitrárias na sua vida privada, na sua família, no seu domicílio ou na sua correspondência, nem ataques à sua honra e reputação. Contra tais intromissões ou ataques toda a pessoa tem direito a protecção da lei.

Artigo 13°

  1. Toda a pessoa tem o direito de livremente circular e escolher a sua residência no interior de um Estado.
  2. Toda a pessoa tem o direito de abandonar o país em que se encontra, incluindo o seu, e o direito de regressar ao seu país.

Artigo 14°

  1. Toda a pessoa sujeita a perseguição tem o direito de procurar e de beneficiar de asilo em outros países.
  2. Este direito não pode, porém, ser invocado no caso de processo realmente existente por crime de direito comum ou por actividades contrárias aos fins e aos princípios das Nações Unidas.

Artigo 15°

  1. Todo o indivíduo tem direito a ter uma nacionalidade.
  2. Ninguém pode ser arbitrariamente privado da sua nacionalidade nem do direito de mudar de nacionalidade.

Artigo 16°

  1. A partir da idade núbil, o homem e a mulher têm o direito de casar e de constituir família, sem restrição alguma de raça, nacionalidade ou religião. Durante o casamento e na altura da sua dissolução, ambos têm direitos iguais.
  2. O casamento não pode ser celebrado sem o livre e pleno consentimento dos futuros esposos.
  3. A família é o elemento natural e fundamental da sociedade e tem direito à protecção desta e do Estado.

Artigo 17°

  1. Toda a pessoa, individual ou colectivamente, tem direito à propriedade.
  2. Ninguém pode ser arbitrariamente privado da sua propriedade.

Artigo 18°

Toda a pessoa tem direito à liberdade de pensamento, de consciência e de religião; este direito implica a liberdade de mudar de religião ou de convicção, assim como a liberdade de manifestar a religião ou convicção, sozinho ou em comum, tanto em público como em privado, pelo ensino, pela prática, pelo culto e pelos ritos.

Artigo 19°

Todo o indivíduo tem direito à liberdade de opinião e de expressão, o que implica o direito de não ser inquietado pelas suas opiniões e o de procurar, receber e difundir, sem consideração de fronteiras, informações e idéias por qualquer meio de expressão.

Artigo 20°

  1. Toda a pessoa tem direito à liberdade de reunião e de associação pacíficas.
  2. Ninguém pode ser obrigado a fazer parte de uma associação.

Artigo 21°

  1. Toda a pessoa tem o direito de tomar parte na direcção dos negócios, públicos do seu país, quer directamente, quer por intermédio de representantes livremente escolhidos.
  2. Toda a pessoa tem direito de acesso, em condições de igualdade, às funções públicas do seu país.
  3. A vontade do povo é o fundamento da autoridade dos poderes públicos: e deve exprimir-se através de eleições honestas a realizar periodicamente por sufrágio universal e igual, com voto secreto ou segundo processo equivalente que salvaguarde a liberdade de voto.

Artigo 22°

Toda a pessoa, como membro da sociedade, tem direito à segurança social; e pode legitimamente exigir a satisfação dos direitos económicos, sociais e culturais indispensáveis, graças ao esforço nacional e à cooperação internacional, de harmonia com a organização e os recursos de cada país.

Artigo 23°

  1. Toda a pessoa tem direito ao trabalho, à livre escolha do trabalho, a condições equitativas e satisfatórias de trabalho e à protecção contra o desemprego.
  2. Todos têm direito, sem discriminação alguma, a salário igual por trabalho igual.
  3. Quem trabalha tem direito a uma remuneração equitativa e satisfatória, que lhe permita e à sua família uma existência conforme com a dignidade humana, e completada, se possível, por todos os outros meios de protecção social.
  4. Toda a pessoa tem o direito de fundar com outras pessoas sindicatos e de se filiar em sindicatos para defesa dos seus interesses.

Artigo 24°

Toda a pessoa tem direito ao repouso e aos lazeres, especialmente, a uma limitação razoável da duração do trabalho e as férias periódicas pagas.

Artigo 25°

  1. Toda a pessoa tem direito a um nível de vida suficiente para lhe assegurar e à sua família a saúde e o bem-estar, principalmente quanto à alimentação, ao vestuário, ao alojamento, à assistência médica e ainda quanto aos serviços sociais necessários, e tem direito à segurança no desemprego, na doença, na invalidez, na viuvez, na velhice ou noutros casos de perda de meios de subsistência por circunstâncias independentes da sua vontade.
  2. A maternidade e a infância têm direito a ajuda e a assistência especiais. Todas as crianças, nascidas dentro ou fora do matrimônio, gozam da mesma protecção social.

Artigo 26°

  1. Toda a pessoa tem direito à educação. A educação deve ser gratuita, pelo menos a correspondente ao ensino elementar fundamental. O ensino elementar é obrigatório. O ensino técnico e profissional dever ser generalizado; o acesso aos estudos superiores deve estar aberto a todos em plena igualdade, em função do seu mérito.
  2. A educação deve visar à plena expansão da personalidade humana e ao reforço dos direitos humanos e das liberdades fundamentais e deve favorecer a compreensão, a tolerância e a amizade entre todas as nações e todos os grupos raciais ou religiosos, bem como o desenvolvimento das actividades das Nações Unidas para a manutenção da paz.
  3. Aos pais pertence a prioridade do direito de escolher o género de educação a dar aos filhos.

Artigo 27°

  1. Toda a pessoa tem o direito de tomar parte livremente na vida cultural da comunidade, de fruir as artes e de participar no progresso científico e nos benefícios que deste resultam.
  2. Todos têm direito à protecção dos interesses morais e materiais ligados a qualquer produção científica, literária ou artística da sua autoria.

Artigo 28°

Toda a pessoa tem direito a que reine, no plano social e no plano internacional, uma ordem capaz de tornar plenamente efectivos os direitos e as liberdades enunciadas na presente Declaração.

Artigo 29°

  1. O indivíduo tem deveres para com a comunidade, fora da qual não é possível o livre e pleno desenvolvimento da sua personalidade.
  2. No exercício destes direitos e no gozo destas liberdades ninguém está sujeito senão às limitações estabelecidas pela lei com vista exclusivamente a promover o reconhecimento e o respeito dos direitos e liberdades dos outros e a fim de satisfazer as justas exigências da moral, da ordem pública e do bem-estar numa sociedade democrática.
  3. Em caso algum estes direitos e liberdades poderão ser exercidos contrariamente aos fins e aos princípios das Nações Unidas.

Artigo 30°

Nenhuma disposição da presente Declaração pode ser interpretada de maneira a envolver para qualquer Estado, agrupamento ou indivíduo o direito de se entregar a alguma actividade ou de praticar algum acto destinado a destruir os direitos e liberdades aqui enunciados.

publicado por ardotempo às 23:26 | Comentar | Ler Comentários (1) | Adicionar
Quarta-feira, 07.05.08

emcubanadamuda

Yoani é impedida de sair de Cuba

A blogueira cubana Yoani Sánchez teve negada a sua solicitação de saída temporária
do País para receber hoje o prestigiado Prêmio Ortega y Gasset de Jornalismo Digital,
em Madrid.

   A festa de premiação sem a
   presença de Yoani Sánchez, com
   a sua imagem no telão.

   © Foto de El País









A homenagem, o incentivo e a saudação a Yoani - de todos os que acompanham o seu
blog Generación Y.

A Havana de Buena Vista Social Club. Veja aqui
publicado por ardotempo às 12:48 | Comentar | Adicionar
Terça-feira, 06.05.08

Força, Yoani, não desista!

O governo cubano bloqueia a saída de Yoani Sánchez para receber o Premio Ortega y Gasset, na Espanha

Sánchez, autora del popular blog 'Generación Y', fue galardonada en la categoría de Periodismo Digital
    
La filóloga Yoani Sánchez probablemente no podrá acudir a Madrid para recibir el Premio Ortega y Gasset de Periodismo al no haber obtenido hasta ahora permiso de las autoridades cubanas para salir del país. Sánchez, autora del popular blog Generación Y, fue galardonada en la categoría de Periodismo Digital por un jurado presidido por el catedrático Gregorio Peces-Barba que valoró su información "vivaz y directa" y "el ímpetu con que se ha incorporado al espacio global del periodismo ciudadano".

Tanto la blogera cubana como los promotores del Premio, otorgado desde hace 25 años por el diario EL PAÍS, han agotado todas las vías administrativas existentes para lograr que Sánchez viaje a España para asistir a la ceremonia de entrega, que se celebrará el miércoles próximo (quarta-feira). Sin embargo, hasta el momento dichas gestiones sólo han tenido por respuesta el silencio administrativo de las autoridades cubanas, lo que hace prever que finalmente la periodista no podrá salir del país.

Publicado em El Pais - 05.05.2008 - Leia a íntegra aqui

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É um fato de uma burrice e de uma insensibilidade burocrática impressionantes, justamente no momento em que Cuba se esforça em promover uma imagem mediática de renovação, com algumas mudanças no comportamento férreo do regime. Aparentemente essa é mais uma oportunidade importante perdida.

Nos tempos mais ásperos da ditadura brasileira, os militares que impunham as diretrizes a todos, arrogantes e imperativos, determinaram a prisão por alguns dias de um obscuro e pouco conhecido operário metalúrgico do ABC paulista. Isso o transformou quase instantâneamente na voz mais eloqüente e legítima das aspirações de liberdade do povo brasileiro. Deu no que deu. A História acabou por contar outra história.

Agora, as autoridades burocráticas cubanas promovem uma não-ação por omissão para impedir a blogueira de receber um prêmio significativo no Exterior por expressar opinião num blog de internet, assinado. Transformam assim Yoani Sanchéz, na sua ausência do palco de premiação em Madrid, na mais fulgurante estrela do evento, consolidando as suas razões e a veracidade de suas informações, confirmando a qualidade de seu prêmio pela coerência de sua história em progresso.

Yoani Sanchéz sopra delicadamente (como se fôra uma espécie de Gandhi das Caraíbas) o castelo de cartas mediático das medidas liberalizadoras acenadas pelo fossilizado regime do pensamento único.
publicado por ardotempo às 13:28 | Comentar | Adicionar
Domingo, 04.05.08

Onde está Yoani?

Na Espanha ou em Cuba?


Terá conseguido a autorização das autoridades cubanas para viajar à Espanha para receber o
seu consagrador prêmio de Jornalismo Digital, a destemida blogueira de escrita elegante Yoani Sanchez?                                  

Ela deveria ter viajado ontem, dia 3 de maio (sábado) para a festa de entrega de seu
merecido
prêmio Ortega y Gasset de Periodismo Digital, em Madrid. A blogueira foi indicada recentemente (na semana passada) pela revista TIME como uma das 100 personalidades mais influentes no mundo em 2008, pelo seu trabalho
(e pelo seu estilo particular e original, não-panfletário) de fornecer a todos, através de seu blog Generación Y, as outras noticias do cotidiano de Cuba.

Este é um bom momento para se constatar se sopram, de fato, novas brisas em Cuba ou se permanecem os mesmos obstáculos e dificuldades na conteção da expressão e na liberdade de opinião.
publicado por ardotempo às 14:42 | Comentar | Adicionar

Editor: ardotempo / AA

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