Quinta-feira, 08.12.11

Homenagem, conversa, leituras, livros, autógrafos e música

Homenagem ao escritor Aldyr Garcia Schlee

 

Centro Cultural CEEE Erico Verissimo

– Grupo CEEE

Rua dos Andradas, 1223 – Porto Alegre – RS

Telefones: (51) 3228.9710 – 3226.5342 – 3226.7974

 imprensa@cccev.com.br www.cccev.com.br

 

15 de dezembro - 19h30

 

 

 

Homenagem ao escritor Aldyr Garcia Schlee inclui lançamento de livros no Centro Cultural CEEE Erico Verissimo

 

O Centro Cultural CEEE Erico Verissimo (CCCEV) promove, dia 15 de dezembro (quinta-feira), às 19h30min, o lançamento, com coquetel, de quatro livros de autoria de Aldyr Garcia Schlee, em homenagem a este escritor e jornalista gaúcho, que dentre realizações fundou o jornal Gazeta Pelotense e a Faculdade de Jornalismo da Universidade Católica de Pelotas (UCPEL), além de possuir significativa produção literária.

 

O evento ocorre no auditório Barbosa Lessa, 4º andar, na Rua dos Andradas, 1223, Centro Histórico de Porto Alegre. Com larga experiência no cenário literário e artístico, Schlee construiu uma trajetória profissional que tem lhe proporcionado reconhecimento no cenário regional, nacional e, também, internacional. Uma prova disto é fato de ser um dos finalistas da 18ª edição do Prêmio Açorianos de Literatura 2011, com o romance Don Frutos, da editora ardotempo, cujo resultado será divulgado no dia 12 de dezembro.

 

A programação prevê ainda um bate-papo com Aldyr Schlee, Paulo José Miranda e Pedro Gonzaga sobre o romance Don Frutos.

 

Os livros que serão lançados, edições ardotempo, são os seguintes: Contos de futebol (reedição 2011); Contos de Verdades (reedição 2011) - Prêmio Açorianos de Literatura, 2001 – ambos com capa de Gilberto Perin; Uma terra só (reedição 2011) - Prêmio II Bienal Nacional de Literatura 1984 – capa de Marcelo Freda Soares; Dom Segundo Sombra, de Ricardo Güiraldes - Tradução Aldyr Garcia Schlee (notas e elucidário) - Edição Comemorativa (2011), com capa de Leonid Streliaev.

 

 

 

 

O Trio Chico será a atração musical da noite, que reúne Andrea Cavalheiro (voz), Pedro Gonzaga (sax e voz) e Rodrigo Rheinheimer (violão), que apresentam em seu repertório composições de Chico Buarque de Holanda.

 

Sobre Aldyr Garcia Schlee – Um dos contistas e romancistas mais importantes do Brasil na atualidade, que vive de sua literatura.

Gaúcho de Jaguarão, é também tradutor, desenhista e professor universitário. As suas especialidades são a criação literária, a literatura uruguaia e gaúcha, a identidade cultural e as relações fronteiriças. Doutor em Ciências Humanas publicou vários livros de contos e participou de antologias, de contos e de ensaios. Traduziu a importante obra "Facundo - Civilização e Barbárie", do escritor argentino Domingos Sarmiento e fez a edição crítica da obra de João Simões Lopes Neto. Criou o uniforme verde e amarelo da seleção brasileira de futebol, mais conhecido como Camisa Canarinho, sendo um dos símbolos da nacionalidade brasileira mais reconhecidos no Brasil e no exterior. Recebeu duas vezes o prêmio da Bienal Nestlé de Literatura Brasileira e foi quatro vezes premiado com o Prêmio Açorianos de Literatura.

 

 

 

 

 Imagens: Retrato do escritor Aldyr Garcia Schlee - Gilberto Perin

 Capa de livro DOM SEGUNDO SOMBRA - Leonid Streliaev

publicado por ardotempo às 00:09 | Comentar | Adicionar
Terça-feira, 06.12.11

Lançamento de Livro - História e Tradições da Cidade de Pelotas

 

Lançamento de Livro : Hoje - em Pelotas RS - 19h

 

 

 

 

 

 

Homenagem aos fotógrafos e ao autor - Noite de autógrafos - Bibliotheca Pública Pelotense

 

Alexandre Schlee Gomes

Daniel Giannechini

Edison Vara

Laureano Bittencourt

Nauro Junior

Paulo Rossi

 

Autor: Mario Osorio Magalhães

 

 


publicado por ardotempo às 11:34 | Comentar | Adicionar
Sábado, 03.12.11

Homenagem ao escritor Aldyr Garcia Schlee - Dia 15 de dezembro


Homenagem a Aldyr Garcia Schlee 


Centro Cultural CEEE Erico Verissimo - 19h30

Rua dos Andradas, 1223 - Centro Histórico

Porto Alegre RS

 

 

 

Conversa com Aldyr Garcia Schlee, Paulo José Miranda e Pedro Gonzaga

- sobre o romance DON FRUTOS (Prêmio Fato Literário 2010)

 Capa: Fotografia de Gilberto Perin

 


 

 

 

Lançamento de 4 livros, edições ardotempo:

 

 

 

 

 

Contos de futebol (reedição 2011)

Capa: Fotografia de Gilberto Perin

 

 

 

 

 

Contos de Verdades (reedição 2011) - Prêmio Açorianos de Literatura, 2001

Capa: Fotografia de Gilberto Perin

 

 

 

 

 

 

 

Uma terra só (reedição 2011) - Prêmio II Bienal Nacional de Literratura 1984

Capa: Fotografia de Marcelo Freda Soares

 

 

 

 

 

 

 

 

Dom Segundo Sombra - de Ricardo Güiraldes - Tradução Aldyr Garcia Schlee (Notas e Elucidário)

- Edição Comemorativa (2011)

Capa: Fotografia Leonid Streliaev

 

 

 

Coquetel de Lançamento

 

Pocket Show -TRIO CHICO

 

 

 

publicado por ardotempo às 22:58 | Comentar | Adicionar
Sexta-feira, 02.12.11

Mudando o mundo

 

MUDANDO O MUNDO


Texto de Apresentação de A ÚLTIMA TEMPORADA, de Pedro Gonzaga -

por © Paulo José Miranda

 

 

 

 

 

 

 

Poucos títulos de livros de poesia têm o cuidado de ser fiéis à totalidade do mesmo, isto é, de cumprirem aquilo que nos prometem.


Não é o caso deste livro que aqui se apresenta aos leitores e ao futuro. Se lermos com alguma atenção o título deste livro de poesia de Pedro Gonzaga, entendemos de imediato do que se trata, isto é, de um livro que faz apresentações de modalidades em torno da expressão “última temporada” e do que isto possa significar numa alma humana. Por conseguinte, toda a minha apresentação deste livro de poesia não vai ser outra coisa senão falar do título do mesmo, nas suas diversas modalidades de apresentação.

 

A expressão “a última temporada”, assim sem referente determinativo, como no título do livro, é uma expressão com dois sentidos quase opostos, mas que aqui se amalgamam de modo a nos mostrar de um modo privilegiado a vida e a linguagem que expressa essa vida. Passemos então a ver o que está em causa no título do livro.

 

Quando alguém diz “a última temporada” de uma peça de teatro ou a “última temporada” de uma série televisiva, está a dizer que, depois de várias outras temporadas anteriores, depois de vários meses ou vários anos, esta aqui e agora onde estamos é a última. Quer isso dizer que depois desta já não vai haver mais nenhuma. Esta é a última, a derradeira temporada, acabou-se. A derradeira temporada pode muito bem ser a vida de cada um de nós, aquela vida que somos aqui e agora, a que nos carrega ou que com ela carregamos.

 

Assim, A Última Temporada, de Pedro Gonzaga, numa primeira instância remete-nos logo para a vida de cada um de nós, aqui e agora. [acerca de “aqui e agora”, veja-se com atenção o poema “em nossos mortos”, à página 41, dialogando com o “Livro X” das Confissões, de Santo Agostinho] Mas como “última temporada”, neste sentido, tem necessariamente de ter um antes do agora, isto é, é preciso existir uma ou mais temporadas anteriores para que se afirme “última temporada”, a última temporada aqui não pode ser a vida, pois as pessoas não tem vidas anteriores (deixemos as crenças de lado).

 

Por conseguinte, esta última temporada é a última temporada da vida, aquela a que se atribui, ou alguém atribuiu, ser a parte final da vida de alguém. A vida humana é assim dividida em temporadas pelo título do livro. Aqui não podemos deixar de lembrar o poeta francês Rimbaud e o seu livro Une Saison en Enfer, Uma Temporada No Inferno. Mas aqui trata-se da última parte da vida humana, e não de um interlúdio amoroso mal sucedido. E o escândalo deste título assume aqui a sua extensão máxima, se tivermos em atenção a idade do poeta, trinta e poucos anos, e tratar-se do seu primeiro livro de poesia.

 

Sabemos isso pelos poemas “herança”, onde se pode ler à página 15: “(...) aos 35 anos / com meus dentes perfeitos (...)”; e pelo poema “para além dos bancos de areia prateada”, onde, na página 36, se lê de um modo algo jocoso, nos últimos dois versos: “señor, não se chega impunemente / ao trigésimo quinto inverno”. Por conseguinte, não podemos deixar passar isto em claro, tomar a coisa por irrelevante. Ora, se um poeta regista em um poema a sua idade, 35 anos, e ao mesmo tempo põe o título ao livro de A Última Temporada, é porque, evidentemente, quer que fique claro que a partir de agora é o início do fim. Para trás ficou tudo o resto, todas as outras temporadas, e se boas ou más não importam aqui e agora. Não se pense também precipitadamente que se trata de um livro de despedida, pois o mesmo poeta remata o poema “descobertas”, à página 52, da seguinte maneira: “(...) serei um homem-bomba / até aos noventa anos”. O poeta entende que a última temporada da vida humana é a mais longa ou, pelo menos, pode vir a ser muito mais longa. Longa, aqui, quer dizer infindável. E, ao mesmo tempo, um infinito de perdas.

 

Leia-se em “imperativo”, página 43:

 

se puderes fechar

os olhos para o real

fecha agora

não te preocupes,

antes, aproveita

hão-de acordar-te

os credores

a dor no ciático

o fingimento da mulher

que nunca se entrega

 

Por outro lado, e também como pudemos ler no excerto anterior, não se trata de uma poética do queixume ou de qualquer denúncia situacional ou de adversidade.

 

Não, aqui a denúncia é a da condição humana (e não a de um humano em particular). E a responsabilidade do que se faz com essa condição humana, desconhecendo-a ou dissecando-a, é nossa. No fundo, aquilo que neste primeiro sentido se pode apurar para o título, A Última Temporada, é o seguinte:

 

a partir de agora é que é a sério, a partir de agora é que se vai ver o que a vida é, pois até aqui foi a brincar.

 

A partir de agora a vida é a doer, como se usa dizer, nos embates esportivos. Um segundo sentido que a expressão e o título A Última Temporada parece ter, escrita assim sem qualquer referente definido, é a de “a última temporada” de verão. Por outro lado, a última temporada de verão pode ter ainda dois sentidos distintos, a saber, que essa última, a outra anterior a esta em que estamos, é que foi boa, ou que a última, a anterior foi muito má e esperamos que esta agora seja muito melhor.

 

Julgo que podemos excluir de imediato a segunda subdivisão, pois a análise que se fez em relação à primeira modalidade do sentido da expressão de “última temporada” assim mesmo o obriga. Parece ter ficado claro anteriormente que a “última temporada” a que o poeta se refere não é melhor do que as anteriores. Como ele mesmo termina o penúltimo poema deste livro “versos de agora, versos de antes”:

 

versos de agora,

versos de antes

vocês sabem que fomos

o que duas criaturas humanas juntas

não poderão nunca superar

 

Dito de outro modo: fomos o insuperável. Fomos!

 

E fica, já quase no fim do livro este eco interminável em nossos corações:

 

fomos, fomos, fomos, fomos, fomos...

 

Comecemos então pela análise do sentido desta segunda modalidade do entendimento que se faz da expressão que dá título ao livro e que, como iremos ver, ao invés de ser contraditória em relação à primeira será antes complementar.

 

Comecemos por pensar que essa outra temporada, a anterior, cheia de sol e de alegria, não é esta aqui e agora, cheia de chuva e de tristeza. E bem podemos dizer isso, pois leia-se os seguintes versos do poema “estrada”, à página 19:

 

mais uma vez a armadilha

mais uma vez o desejo

nenhuma certeza subsiste

nunca fica mais fácil

nada se aprende

da estrada percorrida

 

Para além de que nunca ficar mais fácil, reparemos ainda numa questão técnica, como se fosse suplementar, como se a poesia não fosse toda ela a vida exposta com técnica e alguma ternura: Pedro Gonzaga divide os seus poemas em pontuados e não pontuados.

 

Há nos primeiros uma sensação de náusea a que o leitor mais atento não escapa, como se cada vírgula fosse uma curva na estrada, nos levando a contragosto montanha acima. Confira-se isto, por exemplo, no magistral poema inaugural do livro. O poema fala do amor, fala da possibilidade do amor nos acontecer, mas ele é escrito com tantas curvas, com tantas vírgulas, que quando ele termina com os seguintes versos

 

“quando alguém me diz– /

Ah, o amor é fácil /

mal contenho a vontade /

de cuspir-lhe na cara”

 

é um alívio a viagem terminar. Mais: se ele não cuspisse, eu mesmo vomitava, depois de tanta curva, de tanta e tanta vírgula num poema.

 

Por conseguinte, depois de tanta dificuldade ainda ir escutar alguém dizer que o amor é fácil, ninguém merece, como diz a voz de Deus, a voz popular.

 

É um dos exemplos da superioridade poética de Pedro Gonzaga, sem dúvida, da mestria com que usa a técnica única com que podia ditar este poema. Mas, no outro poema que falávamos atrás, cujo título se chama precisamente “estrada”, ele retira todas as vírgulas, retira todas as curvas, fazendo deste poema uma estrada a direito, como se a vida fosse isso mesmo, sempre a direito, como se a vida fosse ir de Porto Alegre até à Argentina.

Sempre a direito. Ou seja, nossa vida vai daqui ali num instante, ela vai daqui, onde estamos agora, a um imenso e eterno nada, com o desejo pelo meio.

O nada aqui, obviamente não é a morte, é não se aprender nada. Iremos sempre daqui para a Argentina para nada, para não se aprender nada.


Está bem de ver, então, que esta “última temporada” a que me refiro agora, é a temporada passada, é o passado, é aquilo que já foi um dia, que aconteceu e já não é e já não volta.

 

A primeira modalidade de expressão de “a última temporada” tem os dois pés bem vincados no presente, ao passo que a segunda modalidade de expressão de “a última temporada”, tem a cabeça lá trás, no passado. A primeira é aqui e agora sem referências ao passado, a não ser enquanto lógica linguístico-temporal: se esta é a última é porque teve outra ou outras antes desta.

 

Estas duas “últimas temporadas”, uma que nos mostra a consciência do fim eminente e, a outra, que nos mostra uma anterioridade melhor do que o presente, o aqui e agora, é aquilo de que trata, e muito bem, este livro.

 

Estamos literalmente entre a espada e a parede. A parede é o passado atrás de nós que não nos deixa fugir para o tempo bom, recuar até ele, e a espada é aquilo que aqui e agora nos ameaça, o presente prenhe de um futuro laminoso (e me perdoem o neologismo). De outro modo, e me fazendo de sujeito do livro, passo a dizer: eu entendi que é aqui e agora, aqui onde estou, a última temporada, esta é a minha vida e já nada mais me resta até ao fim senão ir sofrendo cada vez mais, declinando lentamente e estar exposto a todas e mais algumas intempéries usando a técnica e a ternura; por outro lado, ficamos também conscientes de que a temporada passada, a da adolescência, a da juventude é que foi boa e não esta aqui e agora, que se mostra como sendo a última, a última dança.

 

Podemos ler à página 30, nos versos finais do poema “procela”, o seguinte:

 

finis terrae

a praia prometida

o barulho das folhas

ilusório verão

Ilusório verão

 

é como acaba o poema, ilusório verão. Precisa de explicações, ilusório verão?

 

E “procela”, que diz tempestade no mar, precisa de explicações?

 

Mar esse que não é só a vida, é também aqui a vida de um poeta.

 

Aliás, no poema podemos ler estes belos versos, preciosos, testemunhais:

 

há um mar em Camões

há um mar em Pessoa

 

Mas querem ver o gume mais afiado da espada que aponta o peito do poeta, esse presente prenhe de futuro de que falámos atrás?

 

Escutem então, e vejam como a vida humana só pode ser pior a cada dia que passa, leia-se apenas o extenso verso com que termina “o baile”:

 

eu sou o medo do dia em que haverei de abraçar o corpo frio de meu pai

 

Há, contudo, vários outros medos que o poeta afirma ser, antes desse medo último, derradeiro. Medo que é também o meu. Medo que causa um arrepio pela existência acima! Mas passemos então agora, e sem demoras, ao poema “a primeira rebentação”, e aos seus oito versos finais:

 

éramos invisíveis

e o que não entendo,

minha adorada,

enquanto seguem a quebrar

as ondas sonoras

na praia deserta do presente

é quem foram aquelas criaturas

que ressurgiram das águas

 

Sim, quem foram aqueles que fomos? Quem éramos nós, que já não estamos aqui? Como é possível haver outros agora ali fazendo de nós? Onde é que fomos parar, que não nos reconhecemos senão naqueles que não somos? Mas o abismo inultrapassável destas modalidades de últimas temporadas, assume a sua expressão mais pungente no poema dedicado a Sérgio Fischer, denominado “em algum lugar”, e que nos leva a um hospital de uma qualquer parte do mundo e à temporada derradeira de alguém (presumivelmente o amigo a quem o poema é dedicado).

 

Leia-se uma vez mais os oito versos finais, desta feita à página 13:

 

lá dentro atrás da porta verde

está o amigo que um dia amamos,

lá está o patrimônio

de tantos almoços

e cafés na juventude

lá estará o tempo

de um telefone

mudo à cabeceira

 

Repare-se na fantástica transformação do espaço em tempo através do advérbio de lugar “”. Começa por dizer o poeta, com uma locução adverbial de lugar, “lá dentro”, lá dentro onde a morte já se instalou e o amigo passa a ser “antes”, através do verso “está o amigo que um dia amamos”.

Um dia”, aqui, é o mesmo que antes, que é o mesmo que nada, pois aquilo que começa por parecer nos colocar num lugar, “”, passa a “um dia” e “um dia” passa a nada, através dos penúltimo e último verso “lá estará o tempo” e “um telefone mudo à cabeceira”. O tempo, visto como um telefone mudo à cabeceira, é o perto mais longe do mundo. E ficámos a saber que um telefone que não toca é o tempo mudo. O tempo mudo é o inferno. Assim, e de modo magistral, a vida humana passa de espaço a tempo, de um lugar preciso para um tempo passado e de um tempo passado a nada, esse substantivo aterrador por excelência. Não podemos deixar de focar a precisão impressionante da forma verbal onde o tempo vai aparecer e transformar o dia em nada: “estará”! No futuro está o nada. No futuro está aquilo que já não somos, onde poeta e amigo são uma e a mesma coisa: lá dentro, um dia, estará o tempo; todos nós vendo a morte de alguém e sendo vistos pelas lágrimas de outrem.

 

O futuro não tem temporada.

 

Como pudemos entender pela análise feita ao título, estamos diante de um livro de vínculo existencial, ontológico. Em muitos dos poemas, lembro as muitas análises fenomenológicas que fiz aos poemas do poeta Kavafis, enquanto estudante de filosofia em geral e de Heidegger, Hussel e Scheler em particular. E, tal como nos autores citados anteriormente, não se trata aqui de um discurso de cariz pessimista.

 

Claro, não vamos encontrar nestes poemas quaisquer versos passíveis de serem enviados às namoradas no dia de Santo António, ou versos de efeito moral, para postar no Facebook, de modo a mostrar como a vida é bela e nós é que damos cabo dela.

 

A poesia de Pedro Gonzaga tem a dimensão de nos conduzir, como numa viagem guiada à vida humana, a vários momentos universais da mesma, descritos de forma exemplar. E, nesse sentido, trata-se de um livro de poesia sem filiação politica, social ou estética.

 

Acima de tudo, é um livro de poesia apátrida, como toda a boa poesia.

 

Há, contudo, algo do saber fazer poético, a técnica, que gostava de trazer à luz aqui diante de vós: a capacidade impressionante que Pedro Gonzaga tem de num mesmo poema, numa mesma estrofe, até num mesmo verso, passar do lírico para o prosaico e vice-versa. E, aqui, lembra-me um dos poetas maiores da segunda metade do século XX inglês: Philip Larkin.

 

Voltemos à “estrada”, e veja-se como nesse poema, de duas estrofes, uma é completamente lírica, a primeira, e a segunda a sua inversão. Leia-se a primeira estrofe, a lírica:

 

o vento bagunça teus cabelos

regime singular do ouro

o sol lambe tuas unhas

cheias de graça

enquanto teus pés cruzados

sobre o painel

diminutas aves brancas

trazem ainda as marcas da noite

 

Veja-se de novo a segunda estrofe do poema “estrada”, e que faz a inversão lírica do mesmo:

 

mais uma vez a armadilha

mais uma vez o desejo

nenhuma certeza subsiste

nunca fica mais fácil

nada se aprende da estrada percorrida

 

Mas leia-se também este recurso técnico no único poema escrito em estrofes de dois versos, dísticos, a lembrar a forma recorrente de um dos poetas maiores do início do século XX norte-americano, Wallace Stevens:

 

um par de meias entre os lençóis antigos

casulos para teus pés de gelo

 

O primeiro verso completamente prosaico e o segundo uma maravilha lírica.

 

Por fim, duas últimas notas, ao autor e ao editor. Ao editor agradeço a coragem de editar um livro de poesia, um livro verdadeiro de poesia, e também por não lhe pôr orelhas. Orelhas num livro de poesia é como burca numa mulher: algo que se esforça por adiar ou impedir o nosso mergulho na beleza.

 

Ao autor agradeço que a leitura deste livro me tenha dado a precisão do que se passa actualmente no mundo: uma guerra entre aqueles que estão a mudá-lo e todos os outros. Quando escuto alguém dizer “temos de mudar o mundo” ou na sua forma patética “começa por te mudar a ti mesmo, se queres mudar o mundo”, sei que não estou diante de alguém que esteja fazendo isso ou que com isso se preocupe.

 

Como na terceira estrofe do poema “sweet marie”, página 49, a contraposição entre a preocupação avisada do pai e a temeridade da escolha do filho:

 

valha-me, querido pai

– não há milagres, meu filho,

por que não tentaste um curso de eletrônica,

aquela vaga no exército brasileiro?

 

Tal como se escreve no Evangelho de São Lucas, 14, 26,27:

 

“Se alguém vem até Mim e não odeia o seu próprio pai,

a sua própria mãe, a sua própria esposa,

os seus próprios filhos, os seus próprios irmãos e irmãs,

e a sua própria vida, não pode ser meu discípulo.

Quem não carregar a sua própria cruz

para vir depois de Mim, não poderá ser meu discípulo.”

 

Sim, o verbo que está escrito no original grego é precisamente odiar. O verbo é o verbo μισεω (miséo), verbo simples da segunda contracção. Pois o que Jesus diz aqui, pelas palavras de São Lucas, é que aos olhos de todos os que nos são próximos, o nosso gesto de deixar tudo para traz e seguir Jesus, tal como se escreve no Novo Testamento, faz parecer, àqueles que deixamos para traz, que os odiamos.

 

Como pode um pai entender que deixemos a sua casa para seguir a Jesus, senão que o odiamos, ainda que não haja sombra de ódio em nossos corações?

 

E como pode um pai entender que o filho queira seguir a palavra em vez do número, no mundo em que vivemos? E, repare-se, a palavra a que me refiro não é a palavra da academia, é palavra de Camões, de Bocage, de Rimbaud, a de Fernando Pessoa. A palavra desses poetas, a quem agora se junta com sua palavra, Pedro Gonzaga, é a palavra que os conduzirá ao abandono do mundo, como se se odiasse o pai, o mundo e toda a família.

 

E como pode um pai entender que o filho se entregue aos versos ao invés de uma carreira segura, profícua, no exército brasileiro?

 

Como pode um pai entender que o filho saia de casa, se perca na noite, na embriaguez, na vida errante, só para salvar o mundo?

 

Meu próprio pai, amor grande e recíproco em minha vida, nunca entendeu.

 

E a verdade é que meu pai, e provavelmente também o pai do poeta do livro, entende bem que nunca um livro bom de poesia foi tão preciso no mundo como hoje, exceptuando talvez no tempo das invasões bárbaras, na queda de Constantinopla e na merda que os alemães, os italianos e os japoneses fizeram na chamada Segunda Guerra Mundial. Os pais entendem, claro, mas custa muito ver um filho ser o cordeiro de libação.

 

No poema “as formigas do colorado”, um dos poemas de categoria maior deste livro, já por si de poesia ímpar, podemos ler à página 32, onde o poeta, ao encontrar um livro num sebo, acerca das formigas do Colorado, de um professor universitário norte-americano, imagina este intercalando-o:

 

você não tem seriedade, mr. Gonzaga,

você se forra na galhofa

onde está sua obra, mr. Gonzaga,

onde está seu legado?

 

Deixe estar, Pedro, não responda, deixe-me ser eu a responder por você ao professor do colorado, que continua perseguindo formigas, mesmo depois de morto, para prover um salário e uma postura de seriedade no mundo. Teu legado, meu caro Pedro, é o mundo a mudar. Pedro Gonzaga ao escrever estes poemas e Alfredo Aquino ao editar o livro mudam o mundo. Fazem parte do pequeno exército que vêm mudando o mundo. O exército daqueles que deixam o conforto de todas as prisões, em que teimamos em viver, para o salvarem. Resta-nos agora a nós, pessoas de bem, segurar um dos exemplares deste livro em nossas mãos, assim como numa oração, e ajudá-los a mudar o mundo.

 

© Paulo José Miranda  -  Porto Alegre RS, Brasil - dezembro 2011

Imagem de capa: Fotografia de Mario Castello

 

publicado por ardotempo às 02:47 | Comentar | Ler Comentários (1) | Adicionar
Quinta-feira, 24.11.11

Convite para ler A última temporada

Lançamento de um grande livro - dia 2 de dezembro

 


publicado por ardotempo às 23:30 | Comentar | Adicionar
Quinta-feira, 22.09.11

Quando se vê as coisas acontecem

 

Aqui é assim mesmo

 

(Texto acerca de Contos de Verdades, de Aldyr Garcia Schlee)

 

Paulo José Miranda

 

Dedico este texto à minha querida amiga e jornalista gaúcha, Paula Russo

 

Permitam-me, por favor, começar na Grécia Antiga, ao falar de Contos de Verdades, de Aldyr Garcia Schlee. Segundo Aristóteles, a diferença entre a história e a poesia é que a primeira debruçava-se sobre o que aconteceu e a última sobre o que poderia ter acontecido. Assim, desde esse tempo Grego, a literatura trata do que poderia ter sido. E a Atenas desse tempo fica tão longe da minha experiência quanto Jaguarão! Em verdade, o que poderia ter sido, muito mais do que o que realmente foi, é aquilo que nos leva à leitura. E parece por demais evidente o entendimento pleno de Aldyr Garcia Schlee acerca do ser da poesia, da essência da literatura.

 

A literatura começa com aquilo que o autor escreve muito bem no início do livro em “As Grandes Onças Brabas”: “(...) cada vez que venho aqui, perco um pouco o coração”. Este aqui a que o autor se refere é uma cidade fronteiriça, um vilarejo, um lugar mítico, como todos os lugares onde crescemos. Quando se cresce, nossa razão e nossa percepção nunca mais vão acertar com o que foi vivido aí, com o que continua subterraneamente a ser vivido alhures dentro de nós. Mas este aqui, que no caso é um cidade e um tempo que parece nunca ter existido, como tudo o que nos fascina, este aqui pode também ser uma aporia, pode também ser um modo de olhar a diferença do mundo e da injustiça. E é por esta injustiça que vamos começar, deixando o fascínio para mais tarde.


Permitam-me, então, por favor, e uma vez mais, uma pequena incursão à Grécia Antiga, desta feita a As Troianas. Porquê? Porque percorre ao longo deste livro de Aldyr Garcia Schlee uma clave humana que o liga ao grande poeta tragediógrafo Eurípides na tragédia As Troianas. Que tema é esse? A injustiça a que a mulher está votada neste mundo. Nesta tragédia, Eurípides mostra-nos algo mais do que mostra em outras poderosas e belas tragédias, mostra-nos que há ainda uma situação pior do que a situação humana: a situação humana da mulher (ao tempo de Eurípides). Contrariamente a outras tragédias que chegaram até nós, em que mulheres protagonizam a acção, como sejam os casos da Antígona, de Sófocles, ou da Medeia, também de Eurípides, a tragédia aqui não está ligada a uma má ou boa escolha na sua conduta (protagonizado por Antígona) ou à afectação de um tremendo pathos que nos leva a agir em direcção ao terror (protagonizado por Medeia). Tanto Medeia quanto Antígona poderiam ser homens, com algumas mudanças nas cenas, mas não Hécuba. Hécuba, protagonista de As Troianas, jamais poderia ser homem e esta tragédia mostra uma diferença essencial em relação às outras tragédias: a situação em que se está, em que Hécuba e as outras troianas se encontram, independentemente de ter sido ditada pela vontade dos deuses, ela não foi criada por nenhuma destas mulheres. Se Antígona traça seu destino ao dar um funeral digno ao seu irmão, contrariando tudo e todos, se Édipo traça seu destino ao matar o viajante que se lhe opôs no caminho e mais tarde a se deitar com a mulher mais velha por quem se apaixona, se Medeia traça seu destino ao se deixar vencer pelo ódio e seu destilado de vingança, Hécuba não teceu nada que a conduza a este seu fim. Para além dos deuses, foram os homens que a conduziram até aqui. Hécuba é vítima dos deuses e dos homens (não dos humanos em geral, mas dos homens em particular). E neste homens em particular, está ainda incluído uma mulher pérfida, Helena. Pois Helena não é aqui uma mulher, mas fraqueza dos homens.

 

Ora, é também isto que acontece nos livros de Aldyr Garcia Schlee. Como aquela expressão que se usa aqui no Brasil, o buraco é mais abaixo, com a apresentação da condição da mulher nos seus livros, a condição humana, o problema da condição humana é mais abaixo. A mulher aparece quase sempre como fraqueza dos homens, propriedade deles ou, no seu esplendor maior, o sofrimento humano para dentro, sofrimento humano calado, sofrimento humano profundo. Leia-se à pagina 18, ainda no primeiro conto do livro “A Flor da Aldeia”: “Inelda, sem surpresa, terá ficado sozinha como sempre, na estância. (...) mas o que quero dizer é que era apenas ela que ficava na casa, que nunca saia dali (ela só se lembrava de ter ido à cidade uma vez, quando o pai morreu) e que, desde a morte da cozinheira, desde que a filha dos caseiros tinha ido embora – desde muito – era apenas ela, sozinha, que se via com todo o serviço: fazia a comida: limpava, varria e espanava tudo; lavava e passava; cozia pão; costurava, cerzia e bordava...” A contraposição da solidão da mulher, deixada sempre em casa, sempre, para sempre, com a solidão do homem sozinho vagando pelas terras do mundo e sentado com ninguém nos bares das vilas e das terriolas mostra bem a miséria maior da mulher nesta vida. Para além da solidão humana, daquele que caminha pelo mundo entregue a si próprio e à incompreensão da vida, acresce ainda a solidão do abandono votado pelo homem, solidão de prisioneira, de mulher casada com um homem, presa na casa dele para sempre. E tem ainda pior, porque nesta vida tudo pode ser sempre pior. Leia-se agora à página 20: “Nunca seria diferente. Desde a primeira vez, desde a primeira noite, Inelda fora usada pelo marido como por obrigação. E era ocupada por ele, ainda, de quando em quando, aos trancos, depressa, sem um sorriso, sem um gesto, sem uma palavra de carinho. Como se tivesse por cima, a cobri-la, um animal.” Sem dúvida, não esperar um sorriso na vida é muito triste e pode atingir homem e mulher, mas ser ocupada é foda! Ser ocupada e nada poder fazer, sem nada sequer pensar que pode ser feito é a solidão máxima a que um humano pode ser votado. E este sentimento, que o autor nos atira à cara sem piedade, surge logo nas primeiras páginas do livro. O livro começa logo a violentar a nossa sensibilidade. Não faço mais citações, porque isso levaria a ler-vos o conto por inteiro.

 

Em “Luíza Vinha de Noite”, a mulher é nos relatada como algo que preenche o vazio da vida. Vazio que é tão somente não se saber o que fazer do tempo, sentir o tempo a sufocar-nos, por dentro, por fora, por todos os lados. Leia-se à página 29: “De cada vez que Luíza não vinha, deixava-me sozinha com o tempo: o tempo imenso que não tínhamos, alargando-se sobre mim a cada instante (...)” Mas Luíza, esta mulher, traz também o único poder que as mulheres deste livro têm: assombração! A mulher assombra a existência do homem, o querer do homem, a vontade dos homens. Luíza é, foi e sempre será um sonho! Quando a mulher não é prisioneira, escrava do homem, exerce sobre ele o seu verdadeiro poder, o poder de nos fazer sonhar. Mas a mulher é também violentada pela mulher, violentada na sua liberdade, nas suas escolhas, não só pelas palavras de outras mulheres acerca das suas decisões, mas até pela mãe, essa primeira mulher. Leia-se em “Amor Amor Amor”: “Ali no carro-motor, voltando para casa e levando a filha de volta como um traste sem préstimo, fazendo força para não chorar junto com a filha, a mãe de Celeste lutava para parecer calma e não discutir com a menina.” Mas uma pergunta irá repercutir em nossos corações, em nossas consciências: quem faz com que Celeste seja aos olhos da mãe um traste sem préstimo? Será que são as outras mulheres? Será que são os homens? Será que é o mundo?

 

E porque uma mãe precisa tanto de forças para não chorar? Porque é que uma mãe precisa, tantas e tantas vezes nesta vida, de ter forças para não chorar? E porque é que uma filha tem de mentir com tamanha veemência a uma mãe, gritando: “– É mentira, mãe! Eu nunca andei com esse homem... Te juro, te juro, te juro!” Porque chegam a Jaguarão, naquele dia, de carro-motor, uma mãe e uma filha abandonadas para sempre? Porque sentem que ao atravessar agora a Ponte, vindo de Pelotas, as vidas acabaram? Pelo desejo que um homem mais velho acalmou com a filha ainda criança de uma mãe? E mesmo que não se tenham tocado, se isso foi possível, a injustiça não foi feita? A injustiça dos homens sobre a decisão das mulheres?


Mas adentremos agora aquilo que me parece ser o núcleo duro da literatura de Schlee: o fascínio. E o fascínio de Schlee é pelo fascínio em si mesmo. O fascínio pelo humano, pela idade de ouro perdida que existe em cada humano, por esse estranho e inexplicável acontecimento que é a mudança de idade do humano, à imagem da mudança de pele das serpentes. O que é mais importante do que a verdade? O fascínio. Sem fascínio não tem poesia, não tem literatura. O fascínio por Jaguarão é a um mesmo tempo o fascínio pela poesia e o fascínio pelo humano que se perde de si mesmo, de cada vez que cresce.

 



Mas o que é propriamente isso a que chamamos “”fascínio”? Recuando uma vez mais no tempo, encontramos que a palavra latina fascinum tem de algum modo a sua origem na palavra grega βάσκανος, baskanos. Ora, baskanos era uma palavra usada pelos gregos no sentido em que alguém é atingido pela malícia ou pelo enganamento de outrem. O termo latino, fascinum, tem esta malícia como base, este ser levado no bico, como se diz em Portugal, ser levado na cantiga do outro, mas traz também uma novidade que a palavra grega não tinha: ficar sem querer ver outra coisa. Por conseguinte, o fascínio é ser levado na cantiga de alguém e ficar num estado de não querer outra coisa. Ficar encantado, ficar sob o efeito de uma qualquer coisa mágica, sob o efeito da cantiga do outro, à imagem do encantamento produzido pela flauta de Pan. Jaguarão e seu passado, o da história e o da poesia, isto é, do que foi e do que poderia ter sido, exerce um fascínio tremendo em Aldyr Garcia Schlee, e ele não quer ver outra coisa, outra cidade, outras paragens. Nenhum lugar do mundo exerce esse fascínio no autor, nenhum lugar o encanta como Jaguarão. E partindo da consciência deste fascínio, ele escreve e nos fascina, como quem se vinga. Literalmente, Schlee nos leva na cantiga dele, prostrando-nos num estado de não querer outra cantiga, pelo menos até que ela se acabe, até que o livro se feche na última página. Mas o fascínio de Jaguarão, com já se disse de passagem no início, não é somente o fascínio pelo lugar, mas pelo tempo. E o tempo, aqui, não é o tempo do lugar, mas o tempo de crescimento, o tempo em que o autor se deixava levar nas cantigas que lia, que via ou que lhe contavam, até mesmo várias vezes ao dia.

 

O tempo em que somos levados na conversa do outro e ficamos parados a escutar, como se nada mais importasse, é parte do fascínio que Jaguarão exerce sobre o autor. Não se confunda, contudo, isto, com a recorrente história do retorno à infância, ou a cantiga do fascínio pela infância perdida. O fascínio não é tanto pela infância perdida, mas pela consciência da existência de um tempo fascinante em nós. Leia-se à página 38, no conto “Missa por Rolando Vergara”: “(...) e toca-lhe um beijo na boca. // Foi tão rápido como não se imagina nem se consegue recordar por inteiro, mas até agora ela guarda na boca aquele beijo. Foi como se explodissem mil foguetes, revoassem dúzias de pombas, soassem todos os sinos lá na Praça da Matriz, em tarde de festa. Era como se ela ali tivesse despertado, tivesse acordado como num conto de fadas, porém – em vez de ter-se então quebrado o encantamento – foi então que começou o encantamento. // Quanto mais se precisa do tempo parado mais ele foge ligeiro. (...) Ah, o tempo! Ah o tempo que precisou de passar! Ah, o tempo!” Ao longo deste conto, o tempo surge quase sempre em itálico, em expressões exclamativas, como se se tratasse de um poema à parte, de um poema que acompanha o relato de Anita relembrando Rolando, de Anita perdida no encantamento, perdida no tempo e sua cantiga.

 

Ah, o tempo!  É aqui, nesta exclamação, que o fascínio se revela no seu máximo esplendor, porque o maior dos fascínios é o que nunca foi, que nunca é e que nunca será, como um poema. O tempo, a consciência do tempo será sempre a pele largada da serpente, que agora se olha e tudo faz parar, à excepção do que poderia ter sido, à excepção da poesia, da literatura, do fascínio. Há no humano, como condição ontológica, um lugar desconhecido que é, à falta de melhor expressão, uma vontade de fascínio, um desejo de ficar fascinado, um desejo de ficarmos nas mãos do outro; uma vontade de não nos pertencermos. É este constituinte do ser humano que Aldyr Garcia Schlee nos mostra, na sua tentativa de descobrir ele mesmo o que isso é e o que ele próprio é. Como escreve logo à página 11, acerca das grandes onças brabas, “Conta-se que elas atraíam e seduziam a gente com tal fascínio e encantamento que jamais qualquer um de nós pôde perceber que fora arrastado até ali a ponto de perder o coração.” E as onças brabas, aqui, além de serem o que são, também podem ser tudo o que esperamos que tenha acontecido ou que venha a acontecer.


Tem ainda, neste livro, as questões técnicas. Mais importante que isso: a consciência das questões técnicas. Só acerca disto, fosse eu outro que não eu, dava uma tese.

 

 

De qualquer modo, não quero deixar de salientar o conto “A Moça Dirundina”. Leia-se este conto e, se até aqui ainda não se tinha entendido o que era narrar, entenda-se agora de uma vez por todas, através das seguintes palavras com que o autor inicia cada pequeno parágrafo ou até algumas frases dentro desses parágrafos: “Imagine (...) Admita (...) Considere (...) Presuma (...) Figure (...) Pense no que terá feito o pobre do marido quando (...) Repare (...) Recorde que (...) Note ainda que (...) Se quiser, combinamos, que (...)”.


Mas este livro é, não devemos esquecer, um livro de fronteira: de vidas e lugares de fronteira. A única fronteira que conheci melhor ao longo da minha vida foi a fronteira entre ler e escrever: fronteira traçada por visões, e estas não têm identidade outra para além do que se vê e do que acontece. E foi só agora, com este livro de Aldyr Garcia Schlee, que compreendi por dentro, compreendi de compreender, que a leitura e a escrita são como Jaguarão: “Aqui é como do outro lado: manda quem canta melhor. Aqui, quando se vê as coisas acontecem.

 

Sei que poderia terminar agora a minha apresentação, com a visão que pude, passando para o outro lado com estas palavras últimas de Aldyr Garcia Schlee acerca de Jaguarão, mas que eu leio, e sempre hei-de ler, como sendo palavras acerca do mundo: “Sei que é difícil acreditar, não é mesmo? Parece um mistério. Mas nunca se sabe direito o motivo.” De qualquer modo, prefiro acompanhar o autor, concordar com ele, e terminar precisamente com algumas palavras da última página do livro: “O tempo passou. E tudo que se conta talvez nunca se tenha sabido, assim como nunca se terá contado o que se pôde realmente saber. (...) a ponto de a gente não despertar para os idos, para o que foi, nem acordar para os havidos, para o que terá sido e já não saber o que é, o que poderá ser, o que será... a ponto de apagar-se até a imaginação.

 

© Paulo José Miranda – edições ardotempo

Porto Alegre, 20 de Setembro de 2011

 

 

Paulo José Miranda

 

Nasceu em 1965 na Aldeia de Paio Pires, a 16 km de Lisboa. É poeta, escritor e dramaturgo. Licenciou-se em Filosofia pela Universidade de Letras de Lisboa. É membro do Pen Club desde 1998. Viveu em Istambul entre 1999 e 2003, tendo viajado nesse período pelo Mediterrâneo e Médio Oriente.

 

Publicou três livros de poesia, cinco novelas (a mais recente em Junho deste ano), uma peça de teatro e um livro de aforismos acerca da América (EUA). O seu primeiro livro de poesia venceu o Prémio Teixeira de Pascoaes em 1997 e a sua segunda novela arrebatou o primeiro Prémio José Saramago em 1999. Recebeu uma bolsa de criação literária do Ministério da Cultura para escrever a sua terceira novela e uma outra da Fundação Oriente, para viver três meses em Macau e escrever a sua quarta novela (inserido no mesmo projecto que levou o escritor brasileiro Bernardo Carvalho à Mongólia e a escrever esse livro homónimo). Colaborou em revistas de vários países e há estudos acerca da sua obra em Portugal, Espanha, França e Brasil.

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Sexta-feira, 19.08.11

O dia da rua e do livro

 

Dia 20 de agosto - Rua Uma terra só

 

 

 

Imagem: Marcelo Freda Soares

 

 

 

Lançamento do livro Uma terra só 

 

 

 

Imagem de capa: fotografia de Marcelo Freda Soares

 

Lançamento do livro Contos de Verdades

 

 

 

Imagem de capa: fotografia de Gilberto Perin

 

Livraria Contexto - Jaguarão - 17horas, (sábado) na Casa de Cultura de Jaguarão.

 

 

 

 

Em breve, durante o mês de setembro:

 

 

Lançamento da reedição do premiado livro Contos de futebol

 

 

 

 

 

 

 Imagem de capa: fotografia de Gilberto Perin

 

 

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Segunda-feira, 25.07.11

Um livro, uma rua

 

Em breve, um livro. No mesmo dia, uma rua.

 

 

 

 


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Segunda-feira, 04.07.11

Segredo nos vestiários - As fotografias de Gilberto Perin

 

Lançamento HOJE - 19h - Livraria Cultura

 

 

 

 

 


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Sábado, 02.07.11

CAMISA BRASILEIRA - 4 de julho - Porto Alegre

 

 

Lançamento do livro CAMISA BRASILEIRA na Livraria Cultura - Porto Alegre - SEGUNDA FEIRA

 

Convite a todos os amigos deste blog e dos autores do livro: Gilberto Perin, Aldyr Garcia Schlee e João Gilberto Noll.

 

 

 

 

 

 


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Terça-feira, 28.06.11

Sexta-feira 1º de julho - Dia de CAMISA BRASILEIRA

Lançamento do livro no Museu do Futebol em São Paulo

 

Convite a todos os amigos deste blog e dos autores do livro: Gilberto Perin, Aldyr Garcia Schlee e João Gilberto Noll.

 

 

 

 

 


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Segunda-feira, 20.06.11

Coquetel com griffe: Caipirinha do Bar Veloso

Museu do Futebol (SP) Camisa Brasileira - no Estádio do Pacaembu

 

Lançamento nacional: dia 1º de julho.

 

Fotografias dos bastidores de um futebol que ninguém vê Camisa Brasileira é um conjunto de imagens originais que o fotógrafo Gilberto Perin captou ao acompanhar, ao longo de vários meses, o vestiário de um clube de futebol em jogos oficiais da segunda divisão.

 

Os bastidores de um futebol que ninguém vê é o tema do livro que será lançado no Museu do Futebol, no Estádio do Pacaembu (Praça Charles Miller, s/nº fone 55 11 3664-3848), dia 1º de julho, sexta-feira, às 19 horas, com a presença do fotógrafo e do escritor Aldyr Garcia Schlee (também o criador da camisa “canarinho” da seleção brasileira). No auditório do Museu do Futebol ocorrerá uma conversa do fotógrafo e do escritor, com o público presente.

 

Esse projeto de Gilberto Perin é um ensaio com 110 fotografias captadas nos vestiários do futebol da segunda divisão do futebol gaúcho, acompanhando o Grêmio Esportivo Brasil (Pelotas-RS). As fotos revelam a alegria, dor, a religiosidade, o drama dos expulsos e machucados, apresentando imagens que hoje são inacessíveis para torcedores e a Imprensa.

 

Nesse livro não há imagens de craques renomados - diz o escritor Aldyr Garcia Schlee. “Aqui há o anonimato de jogadores de futebol do interior do Brasil que dependem do resultado de cada jogo para a própria sobrevivência.

 

Camisa Brasileira é um lançamento de edições ardotempo. No coquetel de lançamento haverá a inconfundível griffe da caipirinha do Bar Veloso.

 

 

 

 

 


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Sorteio no Blog Verdes Trigos

 

 

Lançamento: Livro CAMISA BRASILEIRA, edições ardotempo

 

Sorteio dia 2 de julho

 

 

 

Promoção: Serão sorteados dois exemplares de “CAMISA BRASILEIRA” em 2 de julho: um para os fãs de VerdesTrigos no facebook e um para os seguidores twitter do @VerdesTrigos que derem RT a seguinte frase:

 

“Sigo @VerdesTrigos, quero ganhar “CAMISA BRASILEIRA” (#sorteio), lançamento das edições @ardotempo(http://kingo.to/Gas)”

 

Promoção no Facebook: http://sorteie.me/facebook/compartilhar.php?id=2312

 

Livro de arte em grande formato (22 cm x 28 cm) Edição de luxo - Fotografias de Gilberto Perin – 110 imagens Textos de Aldyr Garcia Schlee e João Gilberto Noll edições ardotempo Fotografias (110 imagens a cores e preto&branco a quatro cores) e textos sobre os bastidores do futebol. Um olhar sobre o futebol que ninguém mais vê. O universo secreto dos trabalhadores do futebol.

 

Verdes Trigos

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Quarta-feira, 08.06.11

CAMISA BRASILEIRA - 1º de julho - São Paulo - Lançamento de livro

 

Museu do Futebol - São Paulo - 1º de Julho - 19h

 

 

 

 

 

Lançamento do Livro de fotografias sobre os bastidores do futebol, de Gilberto Perin - Textos de Aldyr Garcia Schlee e João Gilberto Noll

No evento de lançamento, um encontro e uma conversa entre Gilberto Perin e Aldyr Garcia Schlee, no Museu do Futebol, no Estádio do Pacaembu, em São Paulo - 1º de julho de 2011 (sexta-feira) - 19 horas / edições ardotempo

 

 

 

 

 

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Quarta-feira, 18.05.11

Enrique Vila-Matas em São Paulo

HOJE - 18.05 -  Instituto Cervantes

 

Palestra de Enrique Vila-Matas, lançamento do livro “Dublinesca” e sessão de autógrafos

 

18 de maio de 2011 19:30 até 22:00

 

O Instituto Cervantes de São Paulo e a Editoria Cosac Naify, apresentam:

Conhecendo Vila-Matas. Lançamento Dublinesca

Apresentação do livro Dubilnesca

e sessão de autógrafos deste autor espanhol nascido em Barcelona.

 


 

 

Mais informações em www.enriquevilamatas.com

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Segunda-feira, 18.04.11

Alex no País dos Números

O negócio dele é números

 

Escritor e jornalista britânico Alex Bellos lança livro sobre paixão pela matemática.

 

Depois de morar cinco anos no Rio de Janeiro como correspondente do jornal The Guardian no Brasil, o jornalista inglês Alex Bellos voltou a seu país natal e tentou, sem muito sucesso, como costuma acontecer com muitos jornalistas, lançar-se em uma vida de empreendedor: "Vendi camisetas de jogadores de futebol brasileiros, comecei um blog, acalentei o plano de importar frutas tropicais", escreve ele no prefácio de seu livro mais recente. No fim, Bellos protagonizou uma dupla volta ao passado.

 

Nos anos 1990, antes de ingressar no jornalismo, ele havia se formado em filosofia e matemática. Juntando essa formação à experiência de correspondente, e após uma temporada de pesquisas e estudos para retomar contato com a matemática da qual estivera distante nos últimos anos, Bellos, 41 anos, agora apresenta-se no livro Alex no País dos Números como um correspondente no mundo da Matemática.

 

 

 

 

Bellos estará na terça-feira (19/04), às 9h, em Porto Alegre, para um bate-papo no Salão de Atos da UFRGS (Avenida Paulo Gama, 110) com o professor Ruy Carlos Ostermann que inaugura a série de ações paralelas do Fronteiras do Pensamento 2011: o Fronteiras Educação – Diálogos com Professores.

 

O encontro é voltado para professores e estudantes de cursos de licenciatura, com entrada franca, e as inscrições podem ser feitas pelo e-mail convite@fronteirasdopensamento.com.br ou pelo telefone (51) 3012-2621 – a atividade é um complemento ao Fronteiras Educação – Diálogos com a Geração Z, voltado para estudantes. Na pauta da conversa, as estratégias para tornar o ensino da matemática mais eficiente, as formas de transmitir aos estudantes o fascínio pela magia lógica dos números e os motivos pelos quais uma ciência de bases tão consolidadas tem dificuldades históricas de ser transmitida nos bancos escolares.

 

Alex no País dos Números é um livro de divulgação científica que honra seu gênero – porque divulga mas não vulgariza.

 

Escrito com a prosa leve e ágil que Bellos desenvolveu em seus anos como jornalista, mas com a familiaridade natural com números que boa parte da profissão não tem, o livro é um passeio curioso pela onipresença da matemática como um sinal evidente da civilização. Bellos começa falando com um linguista francês, ex-aluno de Noam Chomsky, que passa meses por ano no Brasil estudando o idioma de uma tribo mundurucu, que desconhece números acima de cinco – na vida comunal dos indígenas, em que tudo é de todos e todas as crianças são responsabilidade coletiva, não faz sentido contar além dos dedos da mão nem mesmo os próprios filhos.

 

Bellos é também o autor de Futebol: O Brasil em Campo (Jorge Zahar, 2002), livro que o jornalista escreveu durante seu período de residência no Brasil, e que incluía viagens e grandes deslocamentos atrás dos aspectos mais pitorescos de o quanto a paixão pelo futebol estava entranhada na mentalidade brasileira. Alex no País dos Números vale-se de expediente semelhante. Ao longo dos 12 capítulos do livro – o primeiro é identificado com o número 0, conquista matemática dos indianos que o escritor define como "uma das maiores realizações intelectuais da história da humanidade" –, Bellos viaja não apenas pelo mundo físico (da Alemanha ao Japão, da Índia ao Estado americano de Oklahoma), mas pelas diversas províncias do universo matemático: as análises combinatórias, a aritmética, a álgebra, a geometria, a etnomatemática (o "estudo de como diferentes culturas abordam a matemática), a estatística.

 

Carlos André Moreira - Publicado em Zero Hora

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Quarta-feira, 30.03.11

EM BREVE – Lançamento

CAMISA BRASILEIRA

 

 


 

 

Projeto BRASIL - Camisa Brasileira - 2011

GILBERTO PERIN

ALDYR GARCIA SCHLEE

JOÃO GILBERTO NOLL

Livro de Arte de Fotografias, Textos de Autoria e Exposição de Fotografias

Formato: 22 cm x 28 cm

Capa dura com sobrecapa debruada - Miolo em Couchê Fosco 170g

Edição bilíngue - Português / Inglês


 

ISBN nº 978-85-62984-08-2

 

Copyright © 2011 Gilberto Perin - Fotografias

© 2011 Aldyr Garcia Schlee

edições ardotempo

 

ardotempo@gmail.com

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Terça-feira, 15.03.11

Sítio Charqueador Pelotense

Lançamento de livro, com fotografias e desenhos - 24 de março

 

 

 

 

Desenhos, esboços de época aquarelados e xilogravuras de As Charqueadas, de Danúbio Gonçalves - com a presença e autógrafos do artista

 

Instituto João Simões Lopes Neto - Realização ATO Produção Cultural

 

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Segunda-feira, 13.12.10

SÁBADO 18 de dezembro - O JANTAR - Livraria da Vila Itaim

LANÇAMENTO EM SÃO PAULO - Livraria da Vila Itaim

 

 

 

 

 

 

Lançamento na Livraria da Vila Itaim - Rua Mário Ferraz, nº 414 (11) 3073-0513 - Itaim-Bibi São Paulo, no dia 18 de dezembro, das 15h até às 19h30, com a presença da autora, Naira Scavone, do chef Aires Scavone e do fotógrafo Mauro Holanda, autor das várias imagens publicadas no livro.

 

Imagem: Mauro Holanda

 



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Terça-feira, 07.12.10

SVEGLIA, de Edson Migracielo

 

Lançamento de livro - Bamboletras

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

O lançamento do livro SVEGLIA, do escritor Edson Migracielo, que ganhou Menção Honrosa no Prêmio Nacional SESC 2009, será lançado nesta quinta-feira, dia 9 de dezembro, às 19h na Livraria Bamboletras, em Porto Alegre, RS.


Publicado pela editora 7letras, o livro é um romance sobre a liberdade, mas tem uma característica particular: a história é contada sem pausas, em um parágrafo único, no qual diálogos, descrições e devaneios se misturam.


A intenção do autor é valorizar o ritmo e o som da obra, "um delírio da linguagem em transe de escrita", segundo ele.


Trecho do livro:


Chegou num cavalo, com sede. Arfava. Ao redor do pescoço pendia num barbante uma chave pendurada e pelo menos visíveis não eram as asas que proclamava ter. Bradou: água! Quero mais que me ver! Quero me lambuzar no sangue do tempo! Quero nascer! Água! Água! Arfava. Gostava de consumir-se no seu fardo que pertencia a cada um a seu modo e no caso dele era o mistério. O mistério em que refestelava-se levava-o imune pelo  mundo, e ele precisava aceitar como um prêmio aquela dor. Porque era dor também um fardo como o mistério, como o segredo vivo da morte, carregar-se assim como um iluminado e sem chamar a atenção como um passageiro. As pessoas eram roubadas e não percebiam, achavam que ele era apenas condescendente. Mas ele via nos encontros e nos sucessos os efeitos, e os tomava por causas num pressentimento de trás para a frente que era como divertir-se. Com as mais diversas máscaras cuspia atravessado em algumas caras. Como uma invenção móvel e imprecisa, assim moldava-se a cada vez distinto. Pois queria amar mas o amor quanto maior mais implacavelmente o dissolvia no grande pavor de um nada. Mas o céu restava. O céu estava sempre lá e as estrelas vinham à noite e nenhum espelho devolvia com fidelidade seu genuíno suspiro quando alguma delas caía. O fogo ardia num transe e ele pegava-se emprestado algumas chamas altas, para queimar-se. Para cumprir o misterioso fardo de consumir-se. As bolhas das queimaduras estouravam conforme as revoluções da lua e ele era novo. Bastava começar a caminhar e ele já era um rosto sem o sim e o não que conhecia, e cultivava, um rosto fabricado pelo futuro de todos, andando na rua entre mil outros. Famílias e descaminhos atiçavam-lhe a imagem e ele dizia muito, escrevia, ele acabava falando demais e deixava-se perpassar por flechas quando muito mais fácil teria sido abandonar os personagens. Mas não é fácil viajar sem a vida ou mesmo miseramente distante dela. E o fumo, e um café forte cujo cheiro já era uma promessa, café feito às pressas para abraçar a insônia. Para abraçar as máscaras, removê-las atentamente do papel cuidando que suas letras permanecessem unidas como na palavra Sveglia. E assim como a verdade, Sveglia também é sempre o filho trazido do cemitério onde ventava muito quando acordei. Receei que o sono do início fosse querer me levar outra vez: mas eu lembrava mesmo de quando estivera lá dentro, no escurinho líquido, atado por um cordão de carne?

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Terça-feira, 30.11.10

FATO LITERÁRIO em Pelotas - 2 de dezembro

A festa será grande e bela

 

 

 

 

 

 

 

 

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Dia do JANTAR - o que não se pode perder

 

O Jantar, na Livraria da Vila - Itaim - 18 de dezembro

 


 

 


O delicioso, substancial e provocativo ensaio O JANTAR, de Naira Scavone levanta questões e respostas importantes sobre a alta gastronomia brasileira.

 

Qual a razão primordial para que o espaço da cozinha profissional seja ainda dominado pelos chefs masculinos (apesar da recente moda das chefs mulheres e, especialmente, da tradição secular da cozinha caseira cotidiana ser predominantemente de fatura feminina)? Qual a justificativa para o desenvolvimento de um novo gosto gastronômico a partir da presença de chefs estrangeiros em restaurantes e hotéis internacionais no Brasil (especialmente os franceses e os italianos)? Porque a gastronomia de experimentação e de vanguarda é sempre de fora (Espanha, Japão, Itália e França) e quase nunca a partir de uma cozinha de origem brasileira, resultando esta mais ancorada no conservadorismo para ser respeitada na sua qualidade intrínseca? Qual a razão para a “descoberta” de certos ingredientes brasileiros (pimenta-rosa, carambola e mandioquinha, por exemplo) como sofisticados, exóticos e apreciáveis, estar na palavra de chefs estrangeiros e não como proposta de chefs brasileiros? Qual o papel das revistas especializadas na formação do gosto no atual momento da gastronomia brasileira?

 

 

 

 


Lançamento na Livraria da Vila Itaim - Rua Mário Ferraz, nº 414 (11) 3073-0513 - Itaim-Bibi São Paulo, no dia 18 de dezembro, das 15h até às 19h30, com a presença da autora, Naira Scavone, do chef Aires Scavone e do fotógrafo Mauro Holanda, autor das várias imagens publicadas no livro.

 

Imagem: Mauro Holanda

publicado por ardotempo às 10:37 | Comentar | Adicionar
Quinta-feira, 25.11.10

Convite para DON FRUTOS em Pelotas

 

Convite para Lançamento do novo romance de Aldyr Garcia Schlee em Pelotas RS

 


 

publicado por ardotempo às 03:03 | Comentar | Adicionar
Sexta-feira, 19.11.10

Música no jardim - Museu da Casa Brasileira - Sábado 20 de novembro

Música

 

 

 

 

 

 

 

 

publicado por ardotempo às 10:30 | Comentar | Adicionar
Quarta-feira, 17.11.10

No jardim do Museu da Casa Brasileira - Dia 20 das 11 horas às 14h

Convite para Recital Ave, Flor


Com Fernando Mattos (viola) e Deisi Coccaro (soprano)

Temas Brasileiros (Eruditos e Populares)

com LAURA DE SOUZA (soprano) e Nancy Bueno (piano)

 

Exposição de Imagens Botânicas no jardim do MCB

De ANELISE SCHERER e poemas de CLEONICE BOURSCHEID

 

Lançamento de livro AVE, FLOR

De CLEONICE BOURSCHEID e ANELISE SCHERER

Edições ARdoTEmpo

 

 

publicado por ardotempo às 13:01 | Comentar | Adicionar
Segunda-feira, 15.11.10

Convite para Recital e Exposição AVE, FLOR

Dia 20 de novembro no Museu da Casa Brasileira - São Paulo

 

Das 11h às 14h - Sábado (20 de novembro)

 

Recital AVE, FLOR - com LAURA DE SOUZA (e a pianista Nancy Bueno)

De Fernando Mattos sobre os poemas de Cleonice Bourscheid

com Deisi Coccaro e Fernando Mattos

 

PROGRAMA

 

PARTE I AVE, FLOR (ciclo de canções)

 

Música: Fernando Mattos

Poesia: Cleonice Bourscheid


I. Poética

II. Lírios

III. Asa-de-anjo (Flor-do-céu)

IV. Mal-me-quer

V. Lição de poesia

 

SOPRANO: DEISI COCCARO

VIOLA: FERNANDO MATTOS

 

PARTE II TRIBUTO À NATUREZA


Diversos Compositores

 

R.Schumann

Myrten” op. 25 (H.Heine)

Die Lotosblume , n°7

- Du bist wie eine Blume, n° 24

- Der Nussbaum, n°3

 

C.Guastavino

 

“Flores Argentinas”(León Benarós)

- El clavel del aire Blanco

- Qué linda la madreselva!

- Campanilla, adónde vás?

La Rosa y el Sauce

 

F.Mignone

 

Quando uma flor desabrocha (Toada)

 

H.Villa-Lobos

 

“Modinha carioca” (Cattulo Cearense)

-  Tu passaste por este jardim

 

SOPRANO: LAURA DE SOUZA

PIANO: NANCY BUENO

 

Exposição no Jardim do Museu da Casa Brasileira

Imagens botânicas de ANELISE SCHERER

De 20 de novembro de 2010 a 16 de janeiro de 2011

 

Lançamento do Livro AVE, FLOR

Poemas de CLEONICE BOURSCHEID

Imagens de aquarelas botânicas de Anelise Scherer

Edições ARdoTEmpo

 

 

 

 

publicado por ardotempo às 13:53 | Comentar | Adicionar
Domingo, 14.11.10

O gênero confrontado com o fogão profissional

Trecho de O JANTAR - de Naira Scavone

 

 

 

 

 

 

No senso comum, cozinha, comida e alimentação automaticamente associam-se ao gênero feminino e aos papéis sociais normatizados, como mãe, esposa, empregada, etc. Porém, quando falamos em gastronomia ou pensamos em restaurantes famosos ou jantares especiais e requintados, a associação que se faz é com a figura clássica do chef de cozinha, com sua doma (jaleco bordado, muitas vezes, cheio de prêmios) e chapéu alto.


O homem vem dominando a gastronomia profissional ou a “gastronomia especial” ao longo de toda a nossa história. Quando falamos numa cozinha aparentemente mais qualificada ou encarada como profissão, imediatamente ela é associada aos homens. Assim, essa hegemonia construiu um senso comum acerca do gênero no exercício da profissão que, consequentemente, também tem exercido poder na definição do bom gosto e na construção da alta gastronomia. Só para exemplificar, uma forma peculiar de demonstração de poder masculino na área consistiu em batizar as receitas ou pratos com nome de homens nobres ou homens da classe alta. Eventualmente, esse ato acabava por dar autoria da receita à pessoa, como o caso do molho maionese, atribuído ao duque de Richelieu, em 1756, ou o molho béchamel, invenção de um dos cozinheiros de Luís XIV que  homenageou o financista Luis Béchamel, marquês de Noitel.


Além disso, a palavra “chefe”, definida originalmente no dicionário como um substantivo masculino, vem desacompanhada de uma palavra no feminino (ou da designação do artigo) para a mesma função, talvez porque por muito tempo não fosse necessária, já que mulheres não eram admitidas nesse contexto. Não é preciso muito esforço para constatar a hegemonia masculina na profissão.


Historicamente e na contemporaneidade, a maioria – para não dizer 90% – dos chefs de cozinha e escritores de alta gastronomia é constituída por homens. Assim como a História Geral foi, com certeza, uma história contada e construída por homens, a história da alta gastronomia também. Além da hegemonia masculina na profissão, sua relação com o gênero feminino teve, na sua origem e por muito tempo, uma conotação inferior. Vale lembrar que, por exemplo, quando as mulheres começaram a exercer a profissão de cozinheiras, recebendo pagamento por essa atividade, só eram empregadas por aqueles que não eram ricos o bastante para pagar um cozinheiro homem (na época, elas eram chamadas cordons-bleues); contudo, essa expressão tornou-se posteriormente sinônimo de comida excelente.


A grande maioria de escritores e chefs reconhece que a alta culinária francesa atingiu seu apogeu na segunda metade do século passado, que também foi o século da cuisine bourgeoise. Ariovaldo Franco (2004) diz que, por muito tempo, a cozinha burguesa foi objeto de desdém de alguns chefs. Contudo, cozi-nheiras talentosas e exigentes foram responsáveis pela construção e pela consolidação de uma “cozinha de base menos aparatosa e mais realista” (FRANCO, 2004). Esse comentário –“mais realista”– supõe mais econômica, o que novamente separa os tipos de cozinha: a glamourosa e a realista (a do chef de cozinha e a da cozinheira burguesa).


Se observarmos a história, perceberemos que sempre foi importante para os membros da nobreza e do novo mundo das finanças possuírem um cozinheiro. Isso era determinante na escala da distinção, representava poder, isto é, significava a possibilidade de oferecer aos convidados pratos que eles nunca tivessem provado, executados por um profissional com status.


Dessa forma, construía-se a ideia de que a cozinheira mulher possuía conhecimentos práticos e de tradição familiar e que os cozinheiros, os chefs, tinham, além da capacidade de invenção e reflexão sobre gastronomia, conhecimentos diferentes e superiores aos das cozinheiras, o que, consequentemente, lhes conferia maior status profissional.


Posteriormente, os cozinheiros homens não só detinham e transmitiam a profissão, como também acabariam se tornando os primeiros proprietários de restaurantes, emergindo aí uma nova classe social, a dos chefs e proprietários de restaurantes, com poder econômico e, essencialmente, com capital cultural de estimado valor. Esse fenômeno é observado principalmente após a Revolução Francesa, pois vários restaurantes contratam os chefs antes empregados pela monarquia, assim como alguns desses chefs abrem seus próprios estabelecimentos. A partir desse momento, o chef de restaurante oficialmente desempenhará o papel de criação gastronômica, e esta permanecerá predominantemente centrada em Paris.


© Naira Scavone - Trecho de O Jantar - Edições ARdoTEmpo, 2010

Sobremesa, criação da chef Ruth (Escola de gastronomia EGAS, Porto Alegre RS Brasil)

Imagem: Fotografia de Mauro Holanda

publicado por ardotempo às 18:53 | Comentar | Adicionar

Encontro de chefs, gourmets e leitores em São Paulo

Lançamento de O JANTAR em São Paulo

 

Para todos os convidados a O JANTAR - as chefs, os chefs, os gourmets, as leitoras e os leitores:

 

 

 

publicado por ardotempo às 17:05 | Comentar | Adicionar
Terça-feira, 09.11.10

Elvis na Praça - Um romance

Convite:

 


A escritora Laure Limongi viaja ao Brasil e participa da 56ª Feira do Livro de Porto Alegre a convite da Câmara Sul-riograndense do Livro, com o apoio integral e cobertura de viagens e hospedagens por parte da Embaixada da França no Brasil.

publicado por ardotempo às 01:17 | Comentar | Adicionar
Segunda-feira, 08.11.10

Jantar polêmico na 56ª Feira do Livro de Porto Alegre

Convite:

 

 

 

publicado por ardotempo às 21:01 | Comentar | Adicionar

Editor: ardotempo / AA

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