Sábado, 11.02.12

A barbárie previsível

A barbárie é um mundo sem livros

 

 

Existe uma nova maneira de se queimar livros sem a utilização do fogo.

 

Um mundo sem arte, sem poesia, sem literatura, sem memória, sem cultura.

Um mundo concentrado exclusivamente no entretenimento frívolo, midiático (cada vez mais superficial, cada vez com menos palavras), no consumo demencial e na desenfreada especulação financeira, construindo um cenário idealizado em engenharia de gestão não-social que privilegia o desemprego como uma ideia de austeridade.

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Terça-feira, 20.09.11

Doces de Pelotas têm origem certificada

Doçuras pelotenses agora são certificadas

 

Dias Lopes - O Estado de S.Paulo

 

Alguns doces de Pelotas, cidade a 250 quilômetros de Porto Alegre, no Rio Grande do Sul, não têm mais a delicadeza do passado. Hoje são grandes demais ou incorporam leite condensado, produto industrial que está padronizando o sabor da doçaria tradicional brasileira e desfigurando receitas centenárias. O pudim de leite do século 17 foi uma delas. Só um pequeno grupo de confeitarias ainda prepara os doces de Pelotas com as tipicidades do passado. Mas, pela expressão cultural ou econômica, eles acabam de receber o selo de Indicação de Procedência do Inpi - Instituto Nacional de Propriedade Intelectual. A autarquia federal avaliza com essa chancela o processo de elaboração, a identidade e a qualidade de 15 receitas que remontam ao século 19. Além de protegê-las de falsificações, o selo representa uma distinção para 16 confeitarias autorizadas e aumenta a competitividade dos seus produtos.

 

Os doces de Pelotas estão em boa companhia. Já receberam o selo de Indicação de Procedência outros 13 produtos nacionais, entre os quais o café da Serra da Mantiqueira (Minas Gerais) e a cachaça de Paraty (Rio de Janeiro).

 

O acervo pelotense tem história rica. Há quase dois séculos, dezenas de confeitarias e padarias da cidade fazem pessegadas, marmeladas, figadas, bananadas, passas de frutas, bolos, tortas, pudins e os que mereceram agora o selo do Inpi: o pastel de santa clara, quindim, papo de anjo, fatia de braga, amanteigado, olho de sogra, panelinha de coco, camafeu, queijadinha, beijinho de coco, broinha de coco, bem-casado, ninho, trouxinha de amêndoa e doces cristalizados.

 

Curiosamente, a cidade fica distante das regiões açucareiras. Mesmo assim, projetou-se pela elaboração de doces que impressionam forasteiros de bom gosto, informação e cultura. O mais lembrado é o pernambucano Gilberto Freyre. Ele escreveu assim no prefácio da terceira edição do livro Açúcar (Global Editora, São Paulo 2007): "Não nos esqueçamos (...) de outras subáreas brasileiras que têm, também, seus doces requintados: uma delas, a que tem Pelotas, no Rio Grande do Sul, por centro. Que aí a arte do doce rivaliza com a do Nordeste".

 

Por que a cidade gaúcha se voltou para a doçaria? Pelo fato de ter sido, antes de tudo, capital da indústria nacional do charque. Em 1780, o português José Pinto Martins instalou em Pelotas uma charqueada. Ele se dedicava à atividade em Aracati, no Ceará. Açoitado pela "seca dos três setes", que durou de 1777 a 1779 e dizimou o gado, mudou para o Sul. Outros empreendedores o imitaram. O botânico e naturalista francês Auguste Saint-Hilaire, no livro Viagem ao Rio Grande do Sul - 1820-1821 (Martins Livreiro, Porto Alegre, 1987), testemunhou o progresso alcançado pela cidade. Em 1873, Pelotas contabilizava 38 charqueadas, que chegaram a abater 400 mil reses por ano. Os navios transportadores do charque para o Nordeste, principal mercado pelotense, não retornavam vazios. Traziam artigos nacionais e importados: louças, pratarias, quadros, móveis, livros, figurinos, tecidos, mantimentos e, obviamente, açúcar.

 

Pelotas contrariou a geografia do doce, que privilegiava as áreas produtoras de açúcar. A prosperidade vinda do charque criou uma aristocracia de hábitos europeus, que promovia festas, saraus, banquetes, ia ao teatro e comia doces. Inicialmente, as receitas de Pelotas eram portuguesas, como atestam várias delas, algumas aculturadas. O seu pastel de santa clara, por exemplo, que se diz originário do convento das clarissas de Coimbra, tem nome equivocado.

 

O livro A Doçaria Tradicional de Pelotas, de Arthur Bosisio e outros (Editora Senac Nacional, Rio de Janeiro, 2003), manda esticar a massa e deixá-la muito fina, quase transparente como um papel de seda. O formato é de pacotinho, não de meia-lua, como o verdadeiro santa clara. Portanto, trata-se de outro pastel, ou seja, o de Tentúgal. Hoje, os doces de Pelotas, como alguns dos nomes indicam, são cosmopolitas. O selo do Inpi foi merecido? É evidente que sim.

 

 

 

Dias Lopes - Publicado em O Estado de São Paulo

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Sábado, 03.09.11

Um dia, a beleza

 

Cidade séria

 

Paulo José Miranda

 

 

 

 

Demorei muito a chegar à idade que tenho. Demorei 41 anos e mais alguma coisa. Vivo em São Paulo e agrada-me muito viver aqui.

 

São Paulo é um cidade séria. Como quase todas as prostitutas, está disponível o tempo todo e longe de ser perfeita. A qualquer hora lhe peço o jornal, uma revista, um livro, uma cerveja, um sandwich, uma costela de boi ou que me aconchegue de amor, e nunca vi sombra de má vontade na mão que me estende.

 

E isto tudo num raio de cinquenta metros da porta de onde moro. Não vivo em Manhattan, nem em Beyoglu, não, vivo junto à Paulista. A morte acontece muito por aqui, é verdade, mas a morte acontece muito a quem anda na vida. São Paulo é profunda como os mistérios de Nietzsche. São Paulo está quase sempre a começar de novo. Arrasa tudo e dá de novo. São Paulo não preserva deuses antigos, constrói novos edifícios.

 

Tem muita poluição, dizem, e que isso prejudica a saúde como uma bomba ou uma guerra civil. A poluição mata em massa. Pode ser, não digo que não seja assim. Mas, ainda que possa não ter razão nenhuma, prefiro sentir no ar um inimigo do que não saber onde ir. Prefiro lutar contra o ar, lembrando o Dom Quixote delirando por terras de Castilha, do que morrer dia a dia de tédio, de cada vez que sair de mim e for até à rua. Em São Paulo, uma avenida vai até nunca mais.

 

Nunca vamos a nunca mais, isso também é verdade, mas a possibilidade de poder ir, ali, concreta diante dos olhos e dos passos, é uma sensação de futuro, uma sensação muito melhor do que passear no ar puro de uma montanha. A grandiosidade de um autor que, para além da excelência da sua escrita também escreveu muito, como Heidegger, por exemplo, não reside numa pretensa necessidade ou obrigatoriedade de nos fazer ler tudo, mas no facto concreto de sabermos que há muito mais do mesmo para ler. Este “muito mais” conforta-nos, ainda que não passemos da próxima esquina.

 

Mas confrontamo-nos constantemente com a miséria, dizem-me, só para me contrariar.

 

Melhor assim, respondo, lembra-nos duas coisas que não devemos esquecer ao longo da vida: humildade e convicção. Humildade para reconhecer naquele que está caído na rua o seu próprio corpo, o seu próprio rosto coberto; e convicção em não deixar que isso atrapalhe o que temos de fazer. São Paulo é profunda, filosófica, cresce alargando a noção de humanidade.

 

Em que cidade, logo pela manhã, me confrontaria eu com as perguntas que deve ter corroído Karl Marx, quando da sua tese de doutoramento acerca dos jardins de Epicuro, até aos Pirinéus da sua preocupação: será possível conciliar o prazer com a ética? Será possível ser justo e esteta? Será possível ter necessidades básicas e praticar a justiça? Será possível o deslumbramento e a igualdade?

 

Todo o mundo sabe que, em São Paulo, a realidade tem um caso com a verdade. E em mais nenhuma outra cidade do mundo isto acontece. Em mais nenhum outro lugar a realidade seduziu a verdade. Os paulistas, quando desencantados com a sua cidade, tão nietzschiana, sempre em construção, dizem: quando estiver pronta, São Paulo será bonita. E ter a beleza no futuro, caminhar na direcção de ser bela não é já uma das ideias contemporâneas mais belas da humanidade? São Paulo é séria como só uma puta séria consegue sê-lo, e eu demorei 41 anos para aqui chegar. Mas em que cidade faria mais sentido esta expressão da língua portuguesa: “mais vale tarde do que nunca”? Em São Paulo, tem sempre um lugar pra se chegar.

 

Paulo José Miranda

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Quinta-feira, 23.06.11

Drogas livres: pense nos seus filhos adolescentes

Ronaldo Laranjeira - o que vê o efeito das drogas todos os dias

 

A voz contra a liberação das drogas

 

Mariana Barros

 

Na polêmica sobre a descriminalização da maconha, não faltam argumentos defensáveis tanto do ponto de vista de quem é a favor quanto dos que são contra uma mudança na legislação atual. Essa discussão, que andava adormecida, voltou à cena por causa de manifestações como a Marcha da Maconha, realizada em maio na Avenida Paulista com o apoio de cerca de 700 pessoas, e com a estreia, no início deste mês, do documentário “Quebrando o Tabu”, do cineasta Fernando Grostein Andrade.

 

Quem dá o tom da narrativa é o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, que visita várias cidades do mundo para mostrar boas e más experiências em políticas relacionadas ao tema. O filme conclui que a descriminalização da maconha representaria um passo importante para diminuir o poder dos criminosos do narcotráfico. “Viver num mundo sem drogas é utópico, isso nunca existiu, mas podemos trabalhar para reduzir os danos”, afirma FHC, a certa altura do filme. No debate em torno do tema, o psiquiatra paulistano Ronaldo Laranjeira, de 54 anos, virou um porta-voz dos que não apoiam uma flexibilização na lei. Após mais de três décadas de atividade profissional dedicada ao tratamento de dependentes químicos, experiência que o colocou entre os maiores especialistas do país no assunto, ele está convencido de que, em se tratando de substâncias ilícitas, não há negociação possível: é preciso haver proibição total.

 

Além de conhecer a fundo a política antidrogas de países como Suécia, Estados Unidos e Inglaterra, Laranjeira coordena o atendimento de mais de 100 pessoas adictas todos os dias em sua clínica particular e coordena 180 internações realizadas por sua equipe. É ainda fundador da Uniad, serviço na Vila Mariana especializado em drogas da Universidade Federal de São Paulo e autor do primeiro estudo clínico nacional com usuários de crack. “Mais fácil seria defender o direito de cada um fazer o que bem quiser, mas a saúde pública está em jogo”, diz.

 

Nas oportunidades que encontra para falar sobre o assunto, ele cita uma série de estudos para justificar seus argumentos. Uma dessas pesquisas mostra que uma em cada dez pessoas que experimentam maconha desenvolve algum tipo de transtorno mental. Além disso, uma vez liberada essa droga, Laranjeira avalia que o número de usuários subiria de estimados 5% para 15% dos brasileiros. O baixo preço — um cigarro custa 1 real — faria o consumo incidir sobre a parcela mais vulnerável da população: os adolescentes e as classes mais baixas. “É preciso pensar na sociedade como um todo”, afirma. Para o psiquiatra, o Brasil deveria se mirar no exemplo da Suécia. “A liberação nos anos 60 impulsionou o consumo e fez o país voltar atrás, passando a punir traficantes e usuários para retomar o controle da situação”, afirma.

 

A clareza de suas posições transformou-o numa espécie de estandarte antidrogas. “Virei o chato, o do contra, o careta de plantão”, comenta. Todos os meses ele recebe até sessenta convites para participar de debates, palestras e entrevistas em vários estados brasileiros. Em um dos eventos, organizado pelo jornal Folha de S.Paulo em outubro passado, saiu escoltado por dois seguranças depois de ter se sentido ameaçado de agressão por parte da plateia. Já foi insultado em blogs e fóruns da internet e considerado persona non grata por jovens universitários — hostilizado até mesmo por alunos da faculdade onde leciona, a Escola Paulista de Medicina. Por várias vezes foi minoria nas discussões.

 

O tema até virou piada entre seus familiares. Um de seus três filhos, a caçula Lina, de 8 anos, criou um bordão para iniciar as imitações. “Olá, sou Ronaldo Laranjeira, sou contra as drogas e luto por você”, diz a menina em tom de propaganda eleitoral. Nas décadas anteriores, estudando a dependência de fumantes e alcoólicos, ele enfrentou o lobby das empresas fabricantes de cigarros e bebidas, questionando a atuação delas e defendendo a regulação do consumo de seus produtos. “Era um diálogo difícil, mas eu nunca havia sido tão hostilizado como ocorre agora no debate sobre a liberação da maconha”, afirma. Embora muitas vezes se sinta solitário na discussão, o psiquiatra acredita estar do lado da maioria. Contabiliza a seu favor famílias de viciados, muitos pais de classe média e a maioria dos evangélicos.

 

Se houvesse um plebiscito, a descriminalização jamais seria aprovada”, aposta.

 

Entrevista concedida a Mariana Barros

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Terça-feira, 31.05.11

“Cozinha o cérebro”

OMS anuncia que celular pode aumentar risco de câncer

 

A radiação de telefones celulares pode causar câncer, anunciou a OMS (Organização Mundial de Saúde) nesta terça-feira. A agência lista o uso do telefone móvel como "possivelmente cancerígeno", mesma categoria do chumbo, escapamento de motor de carro e clorofórmio.

 

A informação foi publicada no site CNN Health. Antes do anúncio de hoje, a OMS havia garantido aos consumidores que a radiação não tinha sido relacionada a nenhum efeito nocivo à saúde. Uma equipe de 31 cientistas de 14 países, incluindo Estados Unidos, tomou a decisão depois de analisar estudos revisados por especialistas sobre a segurança de telefones celulares.

 

A equipe encontrou provas suficientes para classificar a exposição pessoal como "possivelmente cancerígena para os seres humanos." Isto significa que não existem estudos suficientes a longo prazo para concluir se a radiação dos telefones celulares é segura, mas há dados suficientes que mostram uma possível conexão, e que os consumidores devem ser alertados. O tipo de radiação que sai de um telefone celular é chamado de não-ionizante. Não é como um raio-X, mas mais como um forno de micro-ondas de baixa potência. "O que a radiação do micro-ondas faz, em termos mais simples, é semelhante ao que acontece aos alimentos no micro-ondas: cozinha o cérebro", disse Keith Black ao site da CNN, neurologista do Centro Médico Cedars-Sinai, em Los Angeles.

 

 

 

A OMS classifica os fatores do ambiente em quatro grupos: cancerígenos -- ou causadores de câncer -- para o homem; possivelmente cancerígeno para os seres humanos; não classificados quanto ao risco de câncer para o homem; e provavelmente não cancerígeno para os seres humanos. O tabaco e o amianto estão na categoria "cancerígeno para os seres humanos".

 

Chumbo, escapamento do carro e clorofórmio estão listados como "possivelmente cancerígeno para os seres humanos". O anúncio foi feito do escritório da OMS em Lyon, na França, após o número crescente de pedidos de cautela sobre o risco potencial da radiação do celular. A Agência Europeia do Ambiente pediu mais estudos, dizendo que os telefones celulares podem ser tão nocivos para a saúde pública quanto o tabagismo, o amianto e a gasolina.

 

O líder de um instituto de pesquisa do câncer da Universidade de Pittsburgh enviou um memorando a todos os funcionários, pedindo a diminuição do uso do celular por causa de um possível risco de câncer. A indústria de telefonia celular afirma que não há provas conclusivas de que a radiação dos aparelhos cause impacto sobre a saúde dos usuários. O anúncio de hoje pode ser um divisor de águas para as normas de segurança. Os governos costumam usar a lista da Organização Mundial de classificação de risco cancerígeno como orientação para as recomendações de regulamentação ou ações.

 

Publicado pelo Universo Online

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Sábado, 28.05.11

Ponto de fuga

Perspectiva

 

"Quando o sol da cultura está baixo, sobre a linha do horizonte, até  mesmo os anões projetam sombras enormes". Karl Kraus

 

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Quinta-feira, 26.05.11

Mal-entendido ou bem-entendido?

Recusa de obras de Ianelli pelo MAM provoca mal-estar

 

Gabriela Longman

 

O testamento do artista previa doação de 16 trabalhos à instituição (MAM São Paulo) 

 

O Conselho do MAM São Paulo votou agora por ficar apenas com duas, rejeitando outras 14 obras Conhecido pela luminosidade de seus quadros, o artista Arcangelo Ianelli morreu em 2009. No testamento, deixou obras para 16 museus e instituições diversas – Masp, MAC-USP, Museu Afro Brasil e FAAP foram alguns dos contemplados pela doação.

 

Com 15 obras do pintor em seu acervo atual, o MAM-SP considerou as obras recebidas como "redundantes", à exceção de duas: o óleo sobre tela "Barcos", de 1961, e uma escultura sem título, de 1974.

 

A decisão, tomada pelo curador Felipe Chaimovich e pelo conselho de arte do museu, foi considerada ofensiva pela família do pintor.

 

"Essa justificativa é absurda", disse à Folha Katia Ianelli, filha do artista. "O conjunto contém esculturas, pastéis, relevo sobre madeira, tudo o que eles não têm no acervo. Fico triste porque meu pai era muito ligado ao MAM. Participou de Conselhos e organizou leilões beneficientes ao Museu."

 

Segundo ela, a atitude contrasta com a de todos os outros museus, que celebraram a chegada das obras. "A Pinacoteca programou uma exposição como forma de agradecer a doação."

 

Chaimovich afirmou que a importância do pintor é inegável, mas que o Conselho mantém sua posição sobre a redundância e a rejeição das obras de Ianelli. "Vamos entrar em contato com a família e desfazer o mal-entendido."

 

Gabriela Longman - Publicado pela Folha de São Paulo / UOL

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Terça-feira, 24.05.11

Paris-Tokio Rue Saint' Anne

Paris japonesa

 

 

Estação Pyramides - Linha 14 M - saindo do Metro automatique, metro a metro, toda a rua é japonesa, em seu leve decline, as esquinas limítrofes incluídas, tudo na Rue Saint' Anne possui a atmosfera e o gosto do Japão. Foto de Eric Tenin

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Domingo, 22.05.11

Hotel de Charme - Usina Cultural

Hôtel des Isles - Barneville-Carteret

 

 

 

O charmoso e encantador Hôtel des Isles, animado com seu Festival Gastronômico Brasileiro - Brasil-Gourmet 2011, com chefs estrelas como Carla Pernambuco, Fernanda Azevedo, Gustavo Pinto, Caco Zanchi; várias atrações culturais como a importante mostra de fotografias CAMISA BRASILEIRA de Gilberto Perin. Tudo se movimenta em harmonia na orquestração elegante, segura e competente de Flavia de Mello e de José de Mello, mestres em receber seus hóspedes e agitar a vida cultural da Normandia. Um extraordinário lugar para se estar na França.

 

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Sexta-feira, 20.05.11

Um insulto à Arte

 

 

MAM-SP rejeita doação de 16 obras do pintor Arcangelo Ianelli

 

Claudio Leal

 

 

 

 

O Conselho Consultivo do MAM (Museu de Arte Moderna) de São Paulo rejeitou a doação de 16 obras do pintor e escultor Arcangelo Ianelli (1922-2009), um dos mais importantes e valorizados artistas plásticos brasileiros.

 

Ianelli doou, em testamento, cerca de 170 obras representativas de sua trajetória para o acervo de 13 museus nacionais e cinco estrangeiros. O museu paulista foi o único a rejeitar a oferta e surpreendeu os filhos do pintor, Katia e Rubens.

 

"Tinha redundância em relação ao que a gente já tem do Ianelli", argumenta o curador do MAM, Felipe Chaimovich, em conversa com Terra Magazine. Apenas duas das 16 peças foram consideradas como não-redundantes pelo conselho formado por Annateresa Fabris, Luisa Duarte e Lauro Cavalcanti. A recusa também se fundamenta na ausência de recursos para pagar o imposto de transmissão das obras. "Não tinha nada previsto em termos do nosso plano anual", acrescenta Chaimovich.

 

Na carta enviada à família, em 24 de novembro de 2010, o curador não mencionou as justificativas. "O Conselho Consultivo de Artes do Museu de Arte Moderna, em sua última reunião, posicionou-se contrariamente à entrada dessas obras no acervo do museu. Assim sendo, entendemos por bem recusar as mesmas", informa, secamente, o documento.

 

 

"Houve rejeição ao artista", diz família

 

 

Depois de ser informada sobre os fundamentos do veto, Katia Ianelli consultou o advogado da família e soube que os museus estaduais estão isentos do imposto de transmissão, o que favoreceu a Pinacoteca de São Paulo e o MASP. Ela contesta, mais energicamente, a tese da "redundância".

 

"A nossa primeira preocupação é ter, por impresso, todas as obras que cada museu possui. Na primeira carta da proposta de doação, eu fazia referência a esse cuidado: nós iríamos contemplar os museus com fases que eles não tivessem, com trabalhos inéditos", relata Katia.

 

A filha do pintor enumera as novidades para o acervo: "O MAM não tem nenhuma escultura do meu pai. Estavam propostas duas esculturas e mais uma escultura em madeira. Não tem nenhum pastel. Estavam propostos vários pastéis. Nenhuma transição e nenhuma arte figurativa. Eles não tinham nada dessas fases e dessas técnicas, como escultura de mármore, relevo pintado, que foi o último segmento da obra do artista, com 30 exemplares - e um deles estava indo para o MAM. Tudo que foi proposto era inédito. Se nada disso era contribuição, acho que eles não queriam mesmo a contribuição do artista, e não das obras".

 

A presidente do MAM e uma das principais acionistas do Itaú, Milú Villela, não retornou ao telefonema da reportagem. Em 20 de dezembro de 2010, ela recebeu uma carta dos filhos de Ianelli, na qual se lastima a recusa e se ressalta "a trajetória do artista nessa entidade", bem como a "história profissional, reconhecidamente destacada no panorama da arte moderna do Brasil". Arcangelo Ianelli integrou o conselho do MAM e ajudou a criar a biblioteca Paulo Mendes de Almeida. Por considerá-lo um dos seus museus favoritos, ele estimulava outros artistas a doarem suas obras para fortalecer o acervo.

 

 

"A gente entende que um museu deve saber o que é relevante. Parece que o MAM ficou sem memória e esquece um artista importante, que teve seu momento na arte brasileira", critica o artista plástico Rubens Ianelli. "Existe uma memória seletiva e um ponto de vista pessoal. Não é uma visão mais abrangente, mais aberta, sem tendências. É preciso ter essa história", reforça o filho.

 

O exemplo do MAM não foi seguido por outras instituições, que reagiram com entusiasmo ao testamento de Ianelli: o Museu Afro Brasil, a FAAP e o MASP, em São Paulo; o Museu Inimá de Paula, em Belo Horizonte; o Museu Oscar Niemeyer (MON), em Curitiba; e o MAC (Museu de Arte Contemporânea) de Niterói (RJ). Museus da Argentina, do Chile e da Colômbia serão contemplados. "Emanoel Araújo, diretor do Afro Brasil, vibrou com a notícia e foi o primeiro a incorporar as obras, em março de 2010", conta Katia.

 

O MAM do Rio de Janeiro ainda não se posicionou sobre a oferta.

 

Ferreira Gullar: "Estou perplexo"

 

O poeta e crítico de arte Ferreira Gullar, 80 anos, revela "perplexidade" com a decisão do museu. "A princípio, me parece um pouco estranho. Sem examinar, sem conhecer as razões, é difícil que uma instituição se negue a aceitar uma doação de um artista da importância do Ianelli. É, de fato, surpreendente. Eu era amigo do Ianelli, admirava a obra, sem dúvida eu lamento isso. É uma coisa estranha... Só digo a você que estou perplexo, perplexo, não estou entendendo nada".

 

Ao ser informado sobre as justificativas do museu, Ferreira Gullar reforça a estranheza. "Nenhuma instituição se nega a aceitar as obras de um artista da importância do Ianelli, porque isso enriquece o acervo. É estranho. O museu deve ter lá suas razões, mas, olhando assim de longe, eu confesso que estou surpreendido".

 

Com sentimento idêntico, o museólogo e ex-curador do Masp, Fábio Magalhães, destaca a importância artística de Ianelli. "Seguramente, seu papel histórico está crescendo com o tempo. Ele é um artista que ultrapassou as fronteiras do Brasil, passou as fronteiras internacionais. É indiscutível. Há depoimentos críticos sobre isso. Eu me surpreendo. Estou criando o Museu de Arte Contemporânea de Sorocaba (SP) e solicitei à família que doasse algumas obras, porque ainda não existia quando ele fez o testamento. Temos interesse em receber as obras de Ianelli", enfatiza.

 

Magalhães avalia que os museus podem se equivocar nas suas escolhas. Fundado em 1931, o Whitney Museum of American Art foi criado a partir de uma coleção de arte americana rejeitada pelo MoMA (The Museum of Modern Art), de Nova Iorque. "Depois, ele voltou atrás e hoje tem uma coleção americana enorme. Os museus também se equivocam e, muitas vezes, isso fica claro num pequeno período de tempo. É humano, as pessoas se equivocam", afirma o crítico. "Sei que a Katia Ianelli é muito atenciosa nessas coisas. Não acredito que ela não tenha visto cuidadosamente as obras existentes no museu para fazer uma doação criteriosa na cobertura de eventuais lacunas. A única coisa que posso ficar é surpreso".

 

O diplomata Gilberto Chateaubriand, dono de uma das maiores coleções privadas de arte brasileira, cedida em comodato ao MAM do Rio de Janeiro, prefere não opinar sobre o assunto, por não ter acompanhado de perto. Ele apenas relata que os museus internacionais costumam acolher essas doações, "desde que tenham disponibilidade física e interesse cultural". "Mas é o Ianelli, meu Deus!!!", diz.

 

 

 

 

O testamento

 

"A gente não sabia da existência do testamento", relembra Rubens Ianelli. "Ele já tinha uma lista. A doação era um consenso aqui em casa". Em conversas com os filhos, o pintor manifestava a vontade de doar as obras mais representativas para alguns museus brasileiros e internacionais, num esforço de permanência artística. O trabalho de catalogação, com o rastreamento de quadros e esculturas, já dura oito anos.

 

Após a morte de Ianelli, Katia iniciou a seleção, amparando-se nas indicações do pai. Rubens cuidou do encaminhamento das obras para os museus. Cada instituição recebeu uma pasta com a ficha catalográfica.
 
 

Em março de 2011, o MON de Curitiba realizou a primeira mostra dos 16 quadros doados por Ianelli (contava com apenas três obras dele no acervo). E exemplares da fase figurativa agora se encontram na Pinacoteca de São Paulo. A partir dos anos 60, Ianelli se dedicou ao abstracionismo informal e chegou, na década 70, à abstração geométrica, com retângulos e quadrados interpenetrados. No mercado, suas obras têm valorização crescente. Em agosto de 2009, num leilão realizado no centro de convenções B'Nai B'Rith, em São Paulo, os lances iniciais de dois de seus quadros foram R$ 200 mil e R$ 150 mil.

 

"Com o MAM, ele tinha uma relação diferente, porque participou desde o seu começo, criou a biblioteca que não existia e fez a sua primeira retrospectiva lá", recorda-se Rubens. O destino das 16 obras rejeitadas depende da Justiça e ainda não está definido. Um gesto raro de doação segue suspenso no ar, sem moldura e sem paredes. 

 

 

 

 

Claudio Leal

 

 

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Quinta-feira, 19.05.11

A cidade tombada

Jaguarão: Patrimônio Histórico e Artístico Nacional

 

Alan Dutra de Melo

 

Reveste-se de grande comemoração o anúncio realizado no último dia 03 de maio pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, IPHAN, sobre o tombamento do conjunto histórico e paisagístico do centro urbano da cidade de Jaguarão. É o maior tombamento em número de exemplares protegidos do Estado do Rio Grande do Sul, e este momento é a consagração de um trabalho iniciado na década de 1980, com pessoas da cidade que participaram do Projeto Jaguar em conjunto com professores da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal de Pelotas, dentre tantos é necessário destacar a contribuição da Professora Ana Lucia de Oliveira com as conclusões editadas no Programa de Revitalização Integrada de Jaguarão – PRIJ.

 

 

 Convém lembrar também dos primeiros bens tombados na cidade pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Estadual – IPHAE no começo da década de 1990, quando da proteção do Teatro Esperança, Mercado Público, Antigo Fórum e Ruínas da Enfermaria Militar. Mais recentemente o Plano Diretor Participativo da cidade incorporou ao plano uma legislação bastante responsiva com seu patrimônio tanto no eixo da proteção como no estimulo para a preservação através de incentivos fiscais, fruto também dos acúmulos do PRIJ e da compreensão coletiva do sentido da proteção patrimonial para o futuro da cidade.

 

Em Jaguarão contra o patrimônio só ouço falar da falta que fazem poucos exemplares perdidos no centro da cidade utilizados em maior parte para instalação de agências bancárias, assim a população é contra o desaparecimento de seus bens culturais.

 

Mais recentemente o aporte do IPHAN e do Poder Público Municipal tem projetado o patrimônio cultural como fator de desenvolvimento econômico e social, isto começando pela restauração da primeira etapa do Teatro Esperança, e ainda a contratação de projetos de restauros para o Mercado Público e Ruínas da Enfermaria Militar onde será erguido o Centro de Interpretação do Pampa, foram investimentos em obras realizados pelo Governo Federal e em projetos os realizados pela Municipalidade, com aportes próprios e parcerias com o Governo do Estado do Rio Grande do Sul e também da Universidade Federal do Pampa. Aliás, a cidade ocupa a primeira presidência da Associação das Cidades Históricas do RS.

 

 

 

Tal como em Ouro Preto, que de capital do Estado abandonada em Minas Gerais, e após a sua patrimonialização mudou a sua condição com o passar das décadas de investimentos até tornar-se referência cultural, e este hoje é um caminho que se aponta muito claramente para Jaguarão, pois a amálgama entre o turismo de compras existente na cidade vizinha de Río Branco no Uruguai, combinada com atrativos singulares no Brasil como o acervo do Museu Carlos Barbosa, aliados aos projetos contemporâneos projetos pelo Arquiteto Marcelo Ferraz, tanto no Centro de Interpretação como no Mercado e ainda com o aporte gerado pela Unipampa projetam a cidade para o desafio apontado na aula Magna do Curso de Turismo UFPel realizado no último dia 04 de maio no Teatro Guarany, proferida pelo Dr. Mario Beni quando sentenciou: “A Costa Doce tem muitos atrativos e um deles é o patrimônio cultural, mas a questão do patrimônio é que ele tem de ser resignificado”.

 

É neste caminho que Jaguarão avança resignificando seus bens e suas práticas e apostando muito especialmente no poder indutor do patrimônio para o turismo e a cultura, sobretudo quando se aposta e investe todo o seu potencial em novos usos.

 

Alan Dutra de Melo

Mestre em Memória Social e Patrimônio Cultural UNIPAMPA/Jaguarão - RS Brasil

 

Publicado no blog do Jornalista Vaz

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Terça-feira, 17.05.11

Compromissos de afeto

Pont des Arts - Paris

 

 

 

 

 

Nas treliças das telas de aço das laterais da Pont des Arts, milhares de cadeados duplamente nominados selam os compromissos do afeto. Alguns não sobreviverão ao gesto de fechar o elo blindado e jogar a chave ao rio. Outros permanecerão perpetuamente porque simbolizam uma convicção do espírito, uma escolha serena por determinados valores. A ponte de aço pintado em verde discreto, refulge em ouro e prata sob o sol da primavera. Longo tempo e boa ventura para os afetos escolhidos e perseverados.

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Sexta-feira, 13.05.11

Será ainda possível sonhar este sonho?

A Europa dos cafés

 

João Ventura

 

 

 

 

 

Primeiro, Viena, essa «estação meteorológica do fim do mundo» - como dizia Karl Kraus -, em cujos cafés os homens sem qualidades – afrontavam a vertigem do vazio da era moderna ou se deixavam ir, contemplativos, em «apocalipse alegre», que era a forma como os austríacos viveram nihilismo de fin de siècle). O Café Central, em cujas mesas, nos começos do século, se refugiava o poeta Peter Altenberg para escrever as suas incendiárias parábolas, os seus breves apontamentos sobre instantes de deslumbramento ou de sombra nos quais a vida revela a sua graça ou o seu vazio.

 

Também aqui se vinha sentar Bronstein, aliás Trotski, que, como conta Claudio Magris, em Danúbio, terá suscitado a seguinte reacção de um ministro austríaco à denuncia de preparativos revolucionários em cursos na Rússia: «E quem fará a revolução, na Rússia? talvez esse senhor Bronstein, que passa todo o dia no Café Central?»

 

Não muito longe de dali, em Zurique, conta Enrique Vila-Matas, outro revolucionário sentava-se, também, à mesa do café. «Na manhã seguinte, nevava em Zurique. Saí do hotel com o chapéu de feltro e o meu guarda-chuva, e fui tomar o pequeno almoço ao velho e famoso Café Odeon, de que sempre se disse que Lenine, assíduo cliente daquele estabelecimento, pôde trocar mais de uma palavra com James Joyce, outro cliente habitual. Ah, o Odeon! Lembrei-me que Mata-Hari tinha ali debutado como bailarina. E a seguir imaginei uma cena impossível, imaginei Lenine a beber um café, enquanto lançava olhares furtivos a um exemplar de Gente de Dublin». Fim de tarde em Zurique, neva lá fora, Lenine, à mesa do café, imaginando uma revolução. James Joyce escrevendo a história moral da Irlanda. Mata-Hari ensaiando os primeiros passos na intriga internacional. A presença invisível, ainda, de Goethe, Hermann Hesse, Thomas Mann.

 

A Europa é feita de cafetarias, de cafés. Estes vão da cafetaria preferida de Pessoa, em Lisboa, aos cafés de Odessa frequentados pelos gangsters de Isaac Babel. Vão dos cafés de Copenhaga, onde Kirkegaard passava nos seus passeios concentrados, aos balcões de Palermo. «Desenhe-se o mapa das cafetarias e obter-se-á um dos marcadores essenciais da ideia de Europa», escreve George Steiner no ensaio A ideia da Europa.

 

A Europa dos cafés, lugar de encontro de poetas, escritores, artistas, filósofos, revolucionários, flâneurs. Na Milão de Stendhal, na Veneza de Casanova, na Paris de Baudelaire, o café albergava o que existia de oposição política, de liberalismo clandestino. Odessa: num café do guetto judeu, Isaac Babel põe em movimento os seus gangsters de papel. Copenhaga: Kierkegaard troca a universidade pelos cafés da cidade e lança as bases do existencialismo. Lisboa: no Martinho da Arcada, Pessoa inventa a mais profunda genealogia da literatura portuguesa. Paris: através dos vidros molhados por uma chuva oblíqua Walter Benjamin observa desde o Café de Flore a coreografia de guarda-chuvas correndo apressados no Boulevard Saint Germain: a modernidade a ser pensada no espaço interior de um café para onde se transporta o mundo exterior. Praga: Kafka conversa com o seu amigo amigo Marx Brod no Café Louvre. Budapeste, Deszó Kosztolányi, no Café Sirius, a pedir tinta para escrever, em vez de um café: «- Garçon – dizia – tinta, s´il vous plaît!». Trieste: Claudio Magris desatando o fio de Aridiane - que é o seu livro Danúbio - no Café San Marco, «um verdadeiro café, situado na periferia da História».

 

Este o primeiro axioma que Steiner convoca para pensar uma Europa, hoje, em perda de identidade. Desapareceram, entretanto, os cafés. Os que sobrevivem já não são habitados pela ideia de infinito, mas antes por uma espécie de melancolia generalizada dos europeus, servindo apenas de espelho retro-reflector de um esplendor apropriado à admiração de turistas nostálgicos, refinados ou fetichistas. «Bruxelas é a capital do vazio», escreve Peter Sloterdijk no livro Se a Europa se levanta. A Europa como «laboratório para a experiência do fim do mundo», conforme uma visão completamente apolítica da existência. Em vez dos cafés, os não-lugares sem alma dos centros comerciais. Em vez da conversa mobilizadora à mesa do café, a delegação política em «expertocratas que gerem as coisas por nós, de modo a realizar o projecto de nos tornarmos os últimos homens», como afirmou Sloterdijk. Permanece válida a pergunta de Czeslaw Milosz: «Estes homens de negócios de olhares nulos e sorrisos atrofiados… É a esta vérmina que chegou uma civilização tão delicada, tão complexa?»

 

Em vez do infinito, o consumismo, como se a Europa tivesse perdido para sempre a sua alma faustiana habitada pela ideia de infinito. Assim como se eclipsaram os cafés da «velha» Europa, também a paixão metafísica se evaporou da nova cartografia espiritual europeia. A literatura já não é a grande máquina da modernidade. Quem são, hoje, os herdeiros da Mitteleurope? Quem transporta o fogo de Thomas Mann e de Robert Musil? Na Inglaterra, os grandes escritores são indianos, sul-africanos, ou emigraram para a América. W. G.Sebald já cá não está. A literatura encontra-se numa encruzilhada. Ou é uma literatura ensimesmada, sobre o nada. Ou reporta-se a inutilidades pós-modernas, a representações de consumo enjoado. Para onde vai a Europa herdeira das duas cidades, Atenas e Jerusalém? «Com a queda do marxismo na tirania bárbara e na nulidade económica, perdeu-se um grande sonho de – como Trotsky proclamou - o homem comum seguir as pisadas de Aristóteles e Goethe».

 

Nesta espécie de laboratório do consumismo em que se transformou a Europa, ainda guardamos algumas referências - «a santidade do pormenor diminuto», dizia William Blake - de que é feita a nossa diversidade. Mas cada vez mais somos turistas de nós próprios, consumidores do efémero, perdidos no labirinto do novo Minotauro. Como olhar, então, o touro sem sucumbir ao fascínio do seu olhar que como um espelho restitui à Europa o seu feitiço, levando-a à perdição? Acredita, apesar de tudo, Steiner que «o sonho pode, e deve ser, sonhado novamente. É, porventura, apenas na Europa que as fundações necessárias de literacia e o sentido da vulnerabilidade trágica da condition humaine poderiam constituir-se como base. É entre os filhos frequentemente cansados, divididos e confundidos de Atenas e de Jerusalém que poderíamos regressar à convicção» de que ainda é possível enganar o Minotauro e inverter o ardil a favor da Europa.

 

João Ventura - Publicado no blog O Leitor sem qualidades

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Terça-feira, 26.04.11

Um vinho de legenda

Arerunguá

 

Um tannat potente, pleno de sabores e de saberes, de taninos líricos e protegidos em rolha de cortiça genuína, colorida naturalmente na sua base secreta em vermelho indiano profundo com matizes de violeta.

 

Vinho sestroso aos corações, de pronunciado aroma em nariz de eloquências elegantes, evocativo aos sons de bandonéons gementes e de cantorias carismáricas, hipnóticas, os perdidos ecos do Prata e dos Andes.

 

Um tannat muito bom e personal, nem melhor e tampouco pior do que malbecs altaneiros, das prateleiras arenosas das cordilheiras, ou do que bordôs e borgonhas de outro hemisfério. Apenas um vinho singular, raro e inesquecível pelo seu corpo de lágrimas e de luz trespassada, hemorrágica, de grande personalidade e legenda incomum.

 

Um tango legítimo. O vinho do lugar onde nasceu o cantor, cerros da mina de ouro de Tacuarembó, da extinta mina San Pablo, domínios da antiga Compagnie Française d’Or de l’Uruguay, cenário dourado dos barrocos volteios dançarinos de Mlle. Gardés. Ali cresceu a vinha mítica e inscrustrou suas raízes na busca da água mais pura e das terras minerais marmorizadas em delicados veios de ouro. O ouro que já não se encontra visível em volumes de cobiça e couraça, mas que se cola e recorta com requinte a madeira viva enterrada que frutificará em sedutoras e escuras esferas de sol, para safras de guarda.

 

 

 

 

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Sábado, 16.04.11

Por enquanto, tudo vai indo bem

 

Aeroportos da Copa

 

Dizem que os  aeroportos brasileiros estão bem e vão dar conta do fluxo, do movimento extraordinário, da demanda emergencial do turismo e da movimentação de delegações esportivas, de jornalistas e torcedores, durante a Copa do Mundo de Futebol de 2014 (sem falar do evento anterior, a Copa das Confederações), além da vida normal e dos negócios daqueles que levam outra existéncia na qual o futebol tem pouca ou nenhuma importância.

 

Já está sendo bem complicado,  enfrentar os congestionamentos e os nós-cegos de fluxo diário, com atrasos e desconfortos, os vôos cancelados e com horários bizarros a enlouquecer os usuários. Talvez São Paulo esteja bem, talvez o Rio, Belo Horizonte, Brasília, Curitiba e Salvador que dispõem de aeroportos um pouco mais contemporâneos e mais bem planejados. Talvez. Porém, em Porto Alegre o caos é sempre ameaçador aos minutos imediatos. O projeto construído recentemente é acanhado, antiquado, foi mal concebido, mal planejado e está muitissimo distante da realidade do País. O que se poderá esperar para as exigências de 2014? Só mesmo construindo um aeroporto novo, noutro lugar. Mas não há mais tempo.

 

Como em outras coisas no país, vai se levando, inconscientemente, sem espírito público, como se tudo estivesse bem e não se olhasse para o que se deixou de fazer nos 16 últimos anos – as pontes que faltam ( a nova sobre o Rio Guaíba), as duplicações de estradas que faltam (para Pelotas, Rio Grande, Canoas, São Leopoldo, Novo Hamburgo, sul de Santa Catarina), o metrô que não existe em Porto Alegre e é limitado em outras grandes cidades, a via rápida de aeromóvel, do trem urbano ao aeroporto de Porto Alegre, que uma estrepitosa campanha publicitária alardeou durante dez meses em 2010 (tirada do ar em outubro) que estaria em funcionamento ao final de 2010. Não se colocou ali um centímetro cúbico de concreto, além do dinheiro gasto inutilmente em propaganda irresponsável (alguém viu esse aeromóvel redentor circulando entre a estação de trem e o aeroporto, cerca de 600 metros de distância, que se dizia no ultra veiculado mote publicitário que estaria em pleno funcionamento em dezembro de 2010, trazendo um pouco de alivio e conforto aos usuários do aeroporto? Utopias e esquecimentos)

 

O tempo vai passando, dia após dia, e nada se faz – por enquanto, tudo vai indo bem...

 

 

 

 

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Domingo, 10.04.11

O mundo em que tudo falta: da liberdade ao azeite de cozinha

Mecanismo azeitado

 

Yoani Sánchez

 

Una gota me resbalaba por la pierna, se me metía en la oquedad que el tobillo forma con el zapato y debía hacer mil piruetas para que mis condiscípulos del preuniversitario no se dieran cuenta. Durante meses, mi familia sólo tuvo aquel aceite mineral para cocinar, gracias a un pariente farmacéutico que lo sacaba a escondidas de su trabajo. Recuerdo que al calentarlo hacía una espuma blanca en la cazuela y después la comida quedaba con un tono dorado de fotografía, ideal para revistas gastronómicas. Sólo que nuestros cuerpos no podían absorber aquella grasa destinada a crear lociones, perfumes o cremas. Se nos salía por el último tramo del intestino y goteaba, goteaba, goteaba…

 

Mi poca ropa interior quedaba manchada, aunque al menos así podíamos descansar de la comida sólo hervida y probar otra, un tanto asada. Éramos realmente afortunados por tener aquel remedo de “manteca”, que alguien robaba para nosotros, pues en los años noventa muchos otros tuvieron que destilar aceites de motores para utilizarlos en sus cocinas. Quizás de ahí nos viene a los cubanos el trauma con ese producto que se extrae del girasol, la soya o el olivo.

 

 

 

 

El precio de un litro de aceite en el mercado se convirtió en nuestro propio y popular indicador de bienestar o de crisis, en el termómetro para medirle la temperatura a las carencias. Con una cultura culinaria cada vez más reducida, de Pinar del Río a Guantánamo, la mayoría de los fogones sólo conocen recetas que incluyen freír los alimentos. De ahí que la grasa de cerdo o esos líquidos mantecosos, con nombres altisonantes como “El Cocinero” o “As de oro”, resulten imprescindibles en nuestra vida cotidiana.

 

Cuando hace unos días – sin previo aviso – aumentó en un 11,6 % el costo del aceite vegetal en las tiendas de divisas, la sensación de molestia fue muy fuerte, incluso mayor que cuando subieron los precios del combustible. Muchos no tenemos autos para constatar cómo cada vez más pesos convertibles se convierten en menos gasolina, pero todos nos enfrentamos cada día a un plato donde los productos de primera necesidad han levantado vuelo.

 

Que eso ocurra sin que le acompañen protestas públicas, cacerolazos de amas de casas descontentas o largos artículos en la prensa quejándose del atropello, es más difícil de tragar que una comida sin grasa. Me da más vergüenza esta aceptación tácita de la subida que el hilo de aceite mineral que me bajó una vez por la pantorrilla ante la mirada burlona de mis colegas.

 

Yoani Sánchez - Publicado no blog Generación Y

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Sexta-feira, 08.04.11

Ciclistas no meio do caminho

Atropelador de ciclistas é libertado do Presídio Central
 
O atropelador dos ciclistas do grupo Massa Crítica, Ricardo Neis, foi libertado do Presídio Central às 14h18min desta sexta-feira. Ontem, a 3ª Câmara Criminal do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul concedeu o habeas corpus a Neis, autorizando a sua libertação. 

Com a aparência abatida, o atropelador deixou a penitenciária no carro de seu advogado e se recusou a falar com a imprensa que o aguardava. Ele foi encaminhado ao Presídio Central no dia 31 de março e responderá ao processo em liberdade.

Neis foi denunciado pelo Ministério público por 17 tentativas de homicídio triplamente qualificadas. A promotora de Justiça Lúcia Helena Callegari, autora da denúncia, alegou que, ao acelerar seu automóvel contra as vítimas, Neis deu início ao ato de matar e causou lesões corporais comprovadas pelos boletins de atendimento médico. 


Segundo o MP, os ciclistas foram salvos pelo fato de estarem usando equipamentos de segurança e pelo pronto atendimento recebido. Ainda conforme a denúncia, os crimes tiveram motivo fútil e o autor dificultou a defesa das vítimas.
 
Publicado em Zero Hora 
 
(N.E.: Será que entregaram a ele a carta de habilitação? Ele está legalmente autorizado a dirigir por aí? Ciclistas de Porto Alegre, atenção, o caçador de ciclistas está novamente à solta e ele quer vingança)
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Sábado, 02.04.11

O que se escreve, onde se lê

Escrever no século XXI

 

José Mário Silva

 

 

 

 

 

Olhemos à nossa volta. Os aparelhos que permitem ler e-books multiplicam-se, sofisticam-se, democratizam-se. Cada vez mais pessoas têm uma biblioteca ambulante no Kindle, no iPad, no iPhone. A tecnologia progride todos os dias. As novidades sucedem-se. Há umas semanas, por exemplo, foi lançado o Google eBooks, que promete revolucionar os nossos hábitos de leitura.

 

Em vez de ficarem alojados num determinado hardware, os ficheiros com livros passarão a existir virtualmente numa «nuvem» online, à qual acederemos em qualquer lado e em qualquer suporte físico, através de uma simples ligação à internet. Ou seja, um romance pode ser começado no computador lá de casa, ao pequeno-almoço; prosseguindo depois a leitura num tablet, durante a viagem de comboio até ao emprego; ou na fila do Multibanco, quando se aproveita os minutos de espera para despachar mais um capítulo no smartphone.

 

Neste sistema, a desmaterialização do livro é levada ao limite: o livro passa a existir só na tal «nuvem» abstracta, algures na rede de informação, como se fosse uma entidade supraterrena, um arquétipo que desce a pedido aos nossos vários ecrãs (depois de pago com o cartão de crédito, claro). Por enquanto, esta potencial mudança dos hábitos de leitura ainda não é acompanhada por quem produz os livros, pelo menos no nosso país. Para as editoras tradicionais, o mundo digital continua a representar uma ameaça, mais do que um desafio ou uma oportunidade. Mesmo os grandes grupos, que teriam meios para investir a sério nas novas tecnologias, avançam a medo, timidamente, receando apostar em modelos de negócio que ainda não passaram o teste do tempo. É sintomático que os debates sobre o futuro do livro se resumam quase sempre ao fantasma de um medo apocalíptico: será que o livro físico, em papel, com textura e cheiro a pó, vai desaparecer de vez? Provavelmente não. Provavelmente continuará a existir, porque há uma experiência de leitura associada aos livros-livros que é inimitável e para muita gente, sobretudo as gerações que aprenderam a ler com eles, insubstituível.

 

Contudo, mesmo quem prefere o papel tenderá a ler cada vez mais em suportes digitais. Já para não falar das crianças que nascem agora, na era do multitasking, e que previsivelmente pensarão dos livros-livros o mesmo que nós pensamos das calculadoras: «Mas afinal só fazem isto?» Pela minha parte, o que me preocupa não é o meio (se vamos ler na parede da sala, no tecto da cozinha ou no tablier do carro); é o conteúdo.

 

Que literatura o século XXI tem para nos oferecer e de que forma será capaz de se sintonizar com os tempos que vivemos. Os primeiros sinais, devo dizer, são preocupantes. Ao fim de uma década, contam-se pelos dedos os romances que são especificamente deste século, com narrativas que reflictam e incorporem o zeitgeist, dos novos paradigmas sociais à interconectividade global. A maior parte das ficções que se escrevem e publicam hoje podiam ter sido criadas em qualquer das décadas do século anterior – e muitas são meras variações, serôdias e gastas, dos romances oitocentistas. Enquanto outras artes souberam integrar a pulsação da criatividade contemporânea (veja-se os graffiti expostos em museus ou o uso dos samples na música, tanto popular como erudita), a literatura parece ter dificuldade em reinventar-se, em descobrir modos narrativos que estejam à altura da complexidade do mundo actual. É deprimente entrar numa livraria e perceber que 90% dos romances disponíveis obedecem a uma lógica linear, com os mesmos esquemas, mil vezes repetidos.

 

Em 2011, exige-se que certos géneros literários (sobretudo o romance) façam o necessário upgrade. David Shields, no seu brilhante ensaio-manifesto que mistura ideias próprias e alheias em 618 fragmentos (Reality Hunger, Hamish Hamilton), mostra como é vasto o campo das possibilidades ainda por explorar. Na verdade, espero que o romance do século XXI não seja escrito só no século XXII. Porque gostava mesmo de o ler – seja em papel, a partir da «nuvem» ou noutro sistema qualquer que ainda esteja por inventar.

 

 

José Mário Silva - Publicado no blog Bibliotecário de Babel

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Domingo, 27.03.11

A quase usina nuclear do Caribe

 

Adiós para siempre, Juraguá!

 

Yoani Sánchez

 

 

 


 

 

En nuestra pequeña salita, nos contó aquella madrugada sobre el tiempo que había pasado en la URSS.

 

Llevaba apenas unas horas en la Habana, después que un avión de Aeroflot lo había regresado de su larga estancia por la tierra de Gorbachov. Venía con su título universitario de letras góticas, graduado de una ingeniería que mi mente infantil no podía entender. Fue la primera vez que escuché hablar de la central nuclear de Juraguá, que se construía en Cienfuegos desde 1983.

 

La voz del recién llegado describía al enorme reactor VVER 440 enclavado en el centro de Cuba como si fuera un dragón vivo que lanzaría sus bocanadas de aliento sobre nosotros. Allí irían a trabajar, como científicos del átomo, cientos de jóvenes formados en centros de estudio a más de 9 mil kilómetros de distancia de sus hogares. Millones y millones de rublos llegados desde el Kremlin ayudaban a levantar la que sería la obra cumbre de nuestro “socialismo tropical”, el pilar fundamental de nuestra autonomía energética.

 

Después supe que aquel joven entusiasta nunca llegó a ejercer como ingeniero nuclear. La Unión Soviética se desmembró justo cuando la primera de las dos unidades que se planeaban construir estaba terminada en un 97 % de su estructura. La hierba cubrió una buena parte del lugar y a la intemperie quedaron trozos del núcleo, los generadores de vapor, las bombas de enfriamiento y hasta las válvulas de aislamiento. Juraguá se convirtió en una ruina nueva, en un monumento a los delirios de grandeza que nos había legado el imperialismo soviético. Con las sienes encanecidas y mientras corta metales en su nueva profesión de tornero, el otrora experto me dice ahora: “Fue una suerte que no se echara a andar”.

 

Según calculó junto a otros colegas, las posibilidades de un accidente nuclear en Juraguá eran de un 15 % más que en cualquier otra planta nuclear del mundo. “Hubiéramos terminado con la Isla partida a la mitad” me dice sin dramatismo. Yo delineo en mi mente un trozo de nación por aquí y otro por allá, mientras un hoyo humeante se empecina en cambiarnos la geografía nacional.

 

Ahora que la planta de Fukushima lanza sus residuos y con ellos expande también el miedo, no puedo dejar de alegrarme de que en Cienfuegos ese reactor no haya despertado, que bajo ese sarcófago de concreto la reacción nuclear no haya comenzado a efectuarse. Presiento que de haber sucedido, todos nuestros problemas actuales nos parecerían pequeños, menudas insignificancias ante el avance pavoroso de la radioactividad.

 

Yoani Sánchez - Publicado no blog Generación Y

 

http://www.desdecuba.com/generaciony/

 

(N.E.: Se a segurança dos japoneses fracassou tragicamente em Fukushima e alertou ao limite do pânico as autoridades alemãs e os habitantes da Alemanha (!), sobre o futuro de suas próprias instalações de usinas nucleares na Europa, o que podemos esperar sobre as condições de segurança nas já idosas usinas de Angra dos Reis? Terão procedimentos melhores do que no Japão e na Alemanha? E que futuro podemos esperar das lúgubres, sinistras e pouco controladas nucleares instaladas na Rússia, depois da falência e desmanche da antiga União Soviética, que foi justamente a causa do destino à sucata e à oxidação da central do Caribe?)

 

 


publicado por ardotempo às 20:39 | Comentar | Adicionar

Ordem e progresso

Preconceito e racismo

 

O racismo convencional, permanente, atávico e silencioso que está presente no cotidiano feroz e aparentemente pacato, no Brasil. O preconceito contra as pessoas mais pobres e especialmente contra os negros, que vem disfarçado de costume cultural arraigado (oculto sob basalto) sobre o qual quase todos se calam (ou fazem anedotas sulfúricas em círculos fechados, em incontidos alaridos etílicos).

 

O policial branco, armado, protegido e bem equipado exerce seu poder de opressão contra crianças indefesas, cruel e sadicamente, agredindo-as com spray de pimenta nos olhos. Não são as primeiras nem serão as últimas. Não é ocasional, acontece a cada instante pelas vilas, favelas e esquinas de todas as cidades brasileiras há mais de cem anos.

 

Certa vez foram os frágeis pés descalços pisados e esmagados pelas botas do soldado, noutras, os esquálidos corpinhos atingidos com precisão pela pontaria dos fuzis dos atiradores de elite, chumbo sistemático, grafado pelas elegantes cartilhas de redação dos jornais como incontornáveis e acidentais “balas perdidas”...Treinamento para conter a população durante os próximos espetáculos esportivos internacionais?

 

 

 

 

publicado por ardotempo às 19:08 | Comentar | Ler Comentários (1) | Adicionar
Quarta-feira, 09.03.11

Os Correios no País das Maravilhas

"O seu SEDEX será entregue amanhã, sem falta"

 

Algum tempo atrás, os Correios no Brasil estiveram ótimos. Eram eficazes e entregavam as cartas e encomendas leves em apenas um dia entre as capitais brasileiras. Funcionava bem e detinha a simpatia e a confiança da população. Nem precisava fazer publicidade e tampouco desviar quantias amazônicas em suspeitos e desnessários patrocínios ao esporte. Funcionava bem e era bastante respeitado. As quantias cobradas pelos serviços era adequadas e até consideradas módicas. Os brasileiros, de maneira generalizada, gostavam dos Correios.

 

Os tempos são outros. Os Correios terceirizaram-se em franquias. Os custos subiram consideravelmente e tudo piorou de maneira cubana. Um dia, um executivo ladino inventou o SEDEX, artimanha que consistia em aumentar em dez vezes os custos para prestar o mesmo serviço que já se fazia, de entregar cartas e encomendas leves em um dia e, repentinamente, transformaram-se as cartas simples e registradas num serviço de terceira classe, que leva de cinco a seis dias para serem entregues, às vezes cerca de um mês.

 

Genial, cobrar bem mais pelo que já se fazia e piorar uma parte de seus próprios serviços, pelo mesmo valor que já se cobrava anteriormente num serviço de excelência, agora por um serviço mais demorado e deficiente. Começou paralelamente a folia da publicidade.

 

Agora o serviço de SEDEX, que já é bastante caro - uma carta em envelope de peso mínimo chega a custar mais de R$ 40,00 para ir de Porto Alegre a Brasília - e já não é mais entregue em apenas um dia como, infelizmente, continuam apregoando os funcionários nos balcões dos Correios (agora é entregue em média, em cinco dias, no mínimo, como aconteceu recentemente).

 

Sim, porque ocorreu uma nova invenção de transformação do existente - a transformação valiosa do que já existe simplesmente em algo bem mais caro para se prestar o mesmíssimo serviço. A perfeição para o País da Maravilhas, no qual não se reclama de nada simplesmente porque não se tem a quem reclamar (e jamais se é atendido por tal reclamação).

 

Surgiu o SEDEX 10, que custa o dobro do SEDEX, ou seja, de vinte a cinquenta vezes o que custava anteriormente o porte simples, que era e podia ser entregue da mesma forma, em apenas um dia. Agora com o SEDEX 10, pratica-se uma chantagem de balcão - sua carta pode ser entregue em um dia, mas o mais seguro será enviar por SEDEX 10. E a carta urgente, um envelope simples com peso mínimo, que partindo na quinta-feira deveria ser entregue na sexta feira, ao custo de R$ 24,00 (Porto Alegre - São Paulo), simplesmente não foi entregue na sexta-feira por algum motivo secreto (“eu bem que falei ao Sr. para enviar por SEDEX 10 ao custo de pouco mais de R$ 50,00 - cerca de 23 euros - afinal era urgente, não?”) não foi entregue no dia previsto e até agora passados já 6 dias ainda não chegou às mãos do destinatário. Apesar da promessa enfeitada da publicidade de televisão, a proclamar a excelência dos serviços dos Correios do rico País das Maravilhas, do Carnaval e do Futebol.

 

 

 

 

Repare que no dia em que deveria ser entregue (sexta-feira), a carta, que já estava em São Paulo desde a noite anterior (quinta-feira), sequer foi tocada e a informação da tentativa de entrega para uma empresa comercial de serviços de computação gráfica “teria” ocorrido após o meio dia de sábado de Carnaval... Correios, Correios...

 

PS: Experimente enviar um livro de Portugal para o Brasil...a encomenda certamente será extraviada nos Correios do País das Maravilhas e jamais chegará ao seu destino final.

publicado por ardotempo às 17:59 | Comentar | Adicionar
Terça-feira, 08.03.11

Cenário em preto e branco

Jogos diferentes

 

Cláudio Moreno

 

 


 

 

De algum lugar do Oriente – Índia, Pérsia ou China, não importa –, os árabes que invadiram a Espanha no século 18 trouxeram consigo o jogo de xadrez, que logo se difundiu por todo o continente e terminou conquistando até jogadores improváveis como os truculentos viquingues. Houve mudanças mínimas nas regras originais, mas, na sua essência, nunca deixou de ser o mesmo jogo: no território representado pelo tabuleiro de sessenta e quatro casas, dois exércitos completos, com seus reis, rainhas, cavaleiros e peões, começam a se enfrentar a cada nova partida.

 

Por volta do século 12, surgiu na Espanha o jogo de damas, que alguns enxadristas da época chamaram desdenhosamente de “xadrez das mulheres”, cometendo um preconceituoso erro de avaliação: o jogo de damas jamais tentou ser um substituto ou uma simplificação do xadrez. As peças são diferentes, seus movimentos são diferentes, as regras são muito diferentes – apenas o tabuleiro é o mesmo, certamente adotado por ser mais prático e econômico. Isso criou um inevitável vínculo entre os dois jogos, inclusive na maneira de comercializá-los: nos natais da minha infância, eles sempre vinham juntos, numa espécie de dois-em-um compulsório, com as peças de xadrez e as pedras do jogo de damas misturadas na mesma caixa.

 

Eu era apenas uma criança e achava isso um misterioso desperdício. Só agora, muitos natais depois, eu começo a desconfiar que essa pode ser uma esclarecedora imagem de como o homem e a mulher se relacionam: os dois se encontram frente a frente, diante do mesmo tabuleiro, mas ele está jogando xadrez, enquanto ela joga damas! Enquanto o casal não se der conta desta verdade tão simples, pouco vai adiantar que ambos se esforcem e se empenhem para que a vida em comum dê certo.

 

Tudo será em vão; como pensam que estão jogando o mesmo jogo, nenhum dos dois consegue compreender os movimentos que o outro faz – em questões de dinheiro, na educação dos filhos, nos assuntos de cama ou de trabalho. Ela então o acusa de não saber jogar, ele lamenta que ela jogue tão mal, e a vida deles passa a ser aquele inferno das pequenas queixas e incriminações. A solução é simples e fácil de pôr em prática: todos os casais felizes que conheço procuram se observar com interesse e respeito mútuo, estudando o jogo do parceiro e divertindo-se com as diferenças. Entregues à curiosidade, um procura aprender as regras do outro, não para segui-las ou imitá-las, mas para entender, finalmente, que é natural que existam muitos pontos importantes sobre os quais os dois nunca irão concordar, e que, sendo jogos distintos, nunca haverá vencedor – apenas o prazer de jogar.

 

Cláudio Moreno - Publicado em Zero Hora

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Domingo, 06.03.11

A cultura é seleção e escolha

Abstracciones, historias

 

Cees Nooteboom

 

Un día recibo una petición para escribir un texto sobre la cultura. La cultura es una abstracción hasta que se cuenta una historia y cada cultura tiene su propia historia. Entonces, ¿por dónde empezar? Puedo citar miles de cosas que en mayor o menor medida tienen una relación con la cultura: un cuarteto de cuerda, una lección de latín, una pila bautismal barroca, una máscara de teatro griego, un Alfa Romeo, una muñeca wayang, un traje de Brioni, un bar mitzvá, una estatuilla votiva de piedra de Jizo, un manuscrito de la Edad Media, una reverencia, una mezquita, un aguafuerte, un ordenador...

 

La inyección que produce la muerte a un condenado de una cárcel norteamericana ¿también es cultura? Y por tanto, ¿forma parte de la cultura norteamericana? ¿Y la sharia? ¿La campana que suena en la Bolsa? ¿El Gran Hermano? ¿El carnaval? ¿Un festival de la canción? ¿La ablación femenina? ¿Un duelo? ¿El himno vasco que suena cuando se entierra a un terrorista? ¿Los informes de la Segunda Cámara del Parlamento holandés? ¿La película sobre el Corán de Wilders? ¿Hay alguna cosa que no sea cultura? La "mala" cultura, ¿se inscribe igualmente en la cultura? Y la cultura que es radicalmente distinta, la que se siente como hostil, ¿es cultura a pesar de todo?

 

Si se quiere, se puede definir cultura, por analogía con la agricultura, como algo que ha crecido lentamente. O bien, si se observa el resultado, como algo que ha surgido así y por tanto de ningún otro modo.

 

Me gusta visitar los museos arqueológicos dondequiera que estén. Gracias a ello he constatado que el origen siempre está en el sílex, ya sea germano, coreano, azteca o de Kirguizistán. Me gusta mirar esos fragmentos de piedra que están en las vitrinas porque sé que nunca los reconocería si me los encontrara en un camino lleno de fósiles o en un sendero cubierto de grava y de piedras. Algo mucho peor les ocurre a los cuencos. Lo más probable es que al sílex y a las hachas le sucedieran los cuencos. El efecto que produce en mí el cuenco es el mismo que la impresión que le causó a Heidegger la jarra, un objeto ancho por abajo que se estrecha ligeramente en la parte superior y donde se puede guardar aceite, agua o vino. Pero eso está en el paso siguiente, en la próxima sala. Ahora, jarras y vasos están decorados con personajes, lo que les convierte en objetos más refinados y elegantes. Presentan historias mitológicas con sus dioses y sus héroes que han sobrevivido a los siglos posteriores, cuando ya ni creíamos en ellos y que son el cuadro de referencia de la cultura occidental. Musas, la Esfinge, Ulises, el dios Apolo, el Edipo en el que más tarde Freud encontraría su complejo, la Antígona que mucho tiempo después de Sófocles inspiraría a los pintores y escritores del Renacimiento, una fascinación que dura hasta nuestra época.

 

Los cuadros de Rubens y de De Chirico, las óperas de Haendel, la Ifigenia en Tauride de Goethe, las tragedias de Anouilh y Cocteau, el Orfeo de Monteverdi, las novelas de Vestdijk y de Joyce, todo ello está repleto de historias de hace cinco mil años. De igual modo cuentan las historias del Antiguo y el Nuevo Testamento. Job, Sansón y Dalila, Daniel en la fosa de los leones, la resurrección de Lázaro, la milagrosa multiplicación de los panes, las murallas de Jericó, la expulsión de Adán y Eva del Paraíso, el combate con el ángel, todo ello pertenece desde hace siglos y en todas sus formas a la colección del arte occidental. El libro Movotapes, de A. F. Th., es impensable sin Apolo, de quien los cines y teatros toman su nombre y por eso ya nadie le conoce.

 

Aquel que presintió que el mismo fenómeno se produciría con el Dios de los cristianos era un hereje y a pesar de ello, desde hace tiempo se pueden ver los síntomas de ese declive, al menos en Holanda, donde las mezquitas están llenas pero, en cambio, las iglesias vacías. En todo caso, ¿qué va a ocurrir con el marco de referencia de nuestra cultura? La mayoría de la gente deambula por iglesias y museos como si fueran ciegos y todos necesitan una explicación de igual forma que se necesita leer el programa de una ópera para entender la historia.

 

A todo esto se puede objetar alegando que el marco de referencia de la cultura ha sido siempre privilegio de una élite, pero aquellos que en la Edad Media no sabían leer, sí sabían lo que significaban y representaban los retablos y los capiteles de las iglesias y de los claustros romanos, porque la gente normal conocía las representaciones que se utilizaban para contar la historia de su cultura. Mientras tanto, nosotros perdemos nuestras propias representaciones porque no conocemos la historia que les dio origen y, debido a la globalización, nos encontramos inmersos en las imágenes y en los símbolos de otros. A nuestro alrededor se construyen mezquitas y templos hindúes. En los escaparates de los anticuarios y en las casas de nuestros amigos vemos barcos funerarios y dioses con múltiples brazos y cabezas que tienen un sentido totalmente distinto en su país de origen que en el nuestro. A decir verdad, tendríamos que saber cuál es la diferencia entre suníes y chiíes y por qué en el arte islámico no se representa al ser humano.

 

Cuando vamos de vacaciones visitamos las ruinas mayas o los santuarios budistas y nos preguntamos qué significado tienen todas esas representaciones que para el habitante medio de Tailandia o de Japón se han convertido en algo tan extraño como para nosotros la mayoría de las historias sobre la mitología griega. Cuando paseamos por España, por Italia o incluso por el sur de Alemania, oímos sonar las campanas a mediodía y a las seis de la tarde sin saber, la mayoría de las veces, que están sonando a la hora del "ángelus", en el mismo instante en que el ángel llegó para anunciar a María que iba a ser la madre de Dios. Naturalmente que es posible vivir sin información, pero entonces no sabríamos por qué suenan las campanas. ¿Es importante?

 

Puede que no, pero da igual. ¿Qué ocurre cuando una cultura se aleja lenta y profundamente de sus raíces? ¿Tendría que ser obligatoria la lectura de la Biblia para los que nunca van a la iglesia? ¿Hay que obligar a los que no hacen gimnasia a conocer la historia de la Antigüedad? ¿O simplemente tenemos que aceptar que solo un grupo minoritario de personas todavía mantiene contacto con lo que en otro tiempo era el núcleo de nuestra cultura y por esa razón se convierte en un extraño en la sociedad? ¿Necesita el arte viejos impulsos? ¿O puede valérselas por sí mismo creando nuevas representaciones válidas? Por ejemplo, ¿las exposiciones con vídeos? ¿La Documenta de Kassel? ¿La Bienal de Venecia? Pero ¿para quién son válidas?

 

¿Para el millonario que compra el cráneo incrustado de diamantes de Damien Hirst por cien millones? ¿O para anestesiar a la sociedad a través del interés comercial de los nuevos medios de comunicación con el pretexto de mantener un contacto mínimo con otras culturas?

 

El arte como mercancía está muy lejos de un capitel romano o de una cantata de Bach. Tras haber perdido su interés por la Iglesia, ¿se desinteresará la sociedad también por el arte? No hay razón para creerlo y sin embargo podría ser así. Cuadros que se compran a precio de oro, subvenciones para animar a la gente a ir a la ópera, becas para escritores, patrocinio de conciertos, traducciones de todas las lenguas, best sellers con tiradas asombrosas, iPods capaces de grabar la obra entera de Couperin, ¿no es maravilloso?

 

En otro tiempo había que vivir prácticamente en una corte para poder oír música y ahora todo el mundo tiene su propia corte en casa... Erasmo tenía una biblioteca de quinientos libros. Hoy día "todo el mundo" ha tirado a lo largo de su vida al menos cien libros de bolsillo. Todo eso está muy bien, pero ¿cuál es el otro lado de la moneda?

 

Por ejemplo, el hecho de que en Estados Unidos solamente el 3% de la literatura que se publica son libros traducidos. Obviamente, así no podemos hablar de globalización. Y si observamos en detalle la inflación de los precios del arte, con mucha frecuencia oiremos hablar de proyectos abortados por "falta de presupuesto". En la televisión resulta imposible producir un programa literario de calidad. Bajo la norma del sentimentalismo, la dictadura del proletariado espiritual ha golpeado eficazmente algo que ciertamente no hubieran querido Henriette Roland Holst ni Domela Nieuwenhuis.

 

Todos estos fenómenos contradictorios se traducen en un deterioro y un empobrecimiento en paralelo a una burocratización del arte que gangrena su propia esencia, como si abandonar nuestras viejas historias no haya hecho más que anunciar el gran adiós o, por si este pensamiento resulta demasiado pesimista, un gran cambio del que es imposible prever las consecuencias. Desde los primeros cuencos hasta nuestros días ha habido una revolución continua y llegará el momento en que cada uno mirará con nostalgia al pasado y sentirá que la evolución le sobrepasa. Sin embargo, no me siento pesimista. Como he vivido el tiempo suficiente para darme cuenta de que he llegado a un punto en el que puedo mirar al pasado con lucidez, por eso soy más consciente de lo que ha desaparecido y de lo que desaparece que de lo que va a suceder. No hay motivo para entristecerse, al contrario, hay que ser consciente. Y esta conciencia también forma parte de la cultura.

 

En 1825, al final de su vida, Goethe escribió una carta a Carl Friedrich Zelter, que moriría antes que él. "Mi querido amigo, en el presente todo es ultra, todo tiene una trascendencia continua tanto en la forma de pensar como en la de actuar. Nadie se conoce a sí mismo, nadie conoce el elemento en el que trabaja y evoluciona o la materia en la que se ocupa... se ejerce demasiado pronto una gran presión sobre los jóvenes que luego son arrastrados por la vorágine del tiempo; lo que todo el mundo admira y cada uno busca es la riqueza y la velocidad; el ferrocarril, el correo urgente, los barcos de vapor y los servicios de comunicación son los medios que el mundo desarrollado utiliza para avanzar y lo que hace que se atasque en la mediocridad. Este fenómeno es además el resultado de la generalidad, de la banalización de una cultura media, intentemos, en la medida de lo posible, mantener nuestro estado de ánimo y entonces, tal vez con algunos otros, seremos los últimos de una época que no volverá pronto".

 

Su ferrocarril es nuestros aviones y su correo urgente, nuestros ordenadores. Las grandes historias que Goethe creó para el teatro están aún de actualidad. Mil años después de la caída del Imperio Romano comenzó el Renacimiento. En el mundo turbulento en el que me ha tocado vivir, la guerra, la guerra fría, la amenaza nuclear, la descolonización han sido siempre una constante así como el aprendizaje que recibí durante los años que pasé en el instituto siguiendo una formación clásica y las historias que han acompañado mi vida. Yo sé, y también comprendo, que todo esto no les sirve a la mayoría de mis contemporáneos. También sé que mis palabras se las llevará el viento cuando digo que sus vidas serán más ricas gracias a esta herencia. Pero al menos las he dicho.

 

Cees Nooteboom - Publicado em Babelia

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Quarta-feira, 02.03.11

Diferenças republicanas

Sexta-feira em Paris e em Porto Alegre

 

Paris – Um estilista de moda, estrela e milionário, embriagado, num bar no Marais, discute com um casal de judeus. Diz palavras graves e estúpidas, ofende o casal, agride-os com palavras elogiando Adolf Hitler. É gravado numa câmera de celular. Em seguida é denunciado numa delegacia do bairro. Apesar de ser uma celebridade mundial é detido e passa na noite na cadeia. Foi indiciado e possivelmente passará seis meses na prisão. Foi imediatamente demitido do cargo singular que ocupava na célebre Maison Dior, onde era o designer-mestre que assinava as grandes coleções de moda. Passaram-se quatro dias do fato ocorrido em Paris.

 

Porto Alegre – Um alto funcionário do Banco Central, uma espécie de banqueiro com o dinheiro público, atropela brutalmente quase uma centena de ciclistas, pelas costas, simplesmente porque ficou irritado em esperar alguns minutos para cruzar uma avenida da cidade. Faz uma tentativa de assassinar coletivamente dezenas de pessoas indefesas e foge sem socorrer ninguém. Esmaga e inutliza vinte bicicletas. Fere com fraturas, contusões e prováveis sequelas futuras quase duas dezenas de pessoas. Gera uma demanda e superlotação de ambulâncias e de leitos no Hospital de Pronto Socorro, ocupando equipamentos públicos e ocasionando graves prejuízos com o dinheiro público, dissipando frivolamente valores essenciais para a saúde coletiva.

 

Procura confundir e dificultar as investigações, ocultando as placas do automóvel e agindo de maneira subrepticia para mascarar as provas na arma utilizada, o seu carro. Esconde-se por três dias e aparece com um história inventada, sem credibilidade alguma. Toda a cena sangrenta e dolosa do atropelamento é gravada numa câmera de celular. Nada acontece. O criminoso aparece, dá entrevistas e some alegremente, protegido pelos seus advogados, sob o olhar leniente da Polícia, que nada faz. O prefeito da cidade sequer aparece para dar uma palavra aos cidadãos aturdidos pela violência urbana e para assegurar um mínimo de segurança para os que utilizam um veículo que tem sido uma solução viária em importantes cidades do mundo (inclusive em Paris). A direção do Banco Central fica em silêncio. Publicamente omissa. A pantomina continua e o ator-criminoso continua seu solo em liberdade, frente à platéia de tolos. Será que mais uma vez em Porto Alegre a história vai se repetir, na qual os heróis negativos, os que matam, os loucos destemperados são tolerados, admirados e recebem discretos  e eficientes apoios silenciosos, o tempo passa, tudo fica igual e termina em pizza? Passaram-se quatro dias do fato ocorrido em Porto Alegre.

 

 

 

 

 

Publicado no jornal Zero Hora: Motorista que atropelou grupo de ciclistas 
é preso em hospital de Porto Alegre
 A Polícia Civil prendeu, às 6h30min desta manhã, quarta-feira, 02 de março,
o funcionário do  Banco Central Ricardo Neis, 47 anos, 
autor do atropelamento, com um automóvel Golf blindado, de um grupo 
de cerca de uma centena de ciclistas na última sexta-feira 
no bairro Cidade Baixa, em Porto Alegre. 
Neis foi localizado em um hospital psiquiátrico
 da zona sul da capital, RS, no qual se internara por iniciativa própria.
No local, a polícia aguarda a chegada do médico e do advogado do atropelador 
para encaminhá-lo à Delegacia de Delitos de Trânsito da Capital. 
A saída do hospital dependerá de alta médica. 
Segundo o delegado Rodrigo Garcia, quando o mandado de prisão foi lido, 
Neis parecia desorientado (possivelmente em razão dos medicamentos 
tranquilizantes tomados). Surpreso, ele teria perguntado à polícia 
qual o motivo para a sua prisão
Na terça-feira, a Justiça acatou o pedido da Polícia Civil e decretou a prisão preventiva 
do funcionário do Banco Central.
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Segunda-feira, 28.02.11

O ataque contra os ciclistas de Porto Alegre

 
O Serial Killer de Porto Alegre
 
O terrível serial killer de Porto Alegre, o atropelador em massa de ciclistas, o valente do volante do automóvel Golf negro de rodas velozes, chama-se Ricardo José Neis. O “maverick” livre, macho, veloz e imperativo que ninguém bloqueia. O malvado que odeia bicicletas. O baby boomer hedonista que não suporta esperar, com seu potente veículo, atrás de algumas frágeis e lentas bicicletas.
 
Ele é alto funcionário do Banco Central do Brasil, está blindado com seus advogados e alega legítima autodefesa pois sentiu-se ameaçado ao ver tantas bicicletas à sua frente, todos de costas para ele, seguindo na mesma direção em que ele trafegava num automóvel reluzente, desafiadoramente com muito menos velocidade do que ele era capaz de imprimir ao seu novo e potente carro. Insuportável situação aquela que o impedia de ir em alta velocidade, como sempre estivera disposto a fazer, nas suas ruas, nas suas estradas. O seu ir e vir é mais importante, naturalmente, do que o ir e vir de milhares de outras pessoas na mesma cidade. 
 
Se fossem tanques de guerra, ônibus, carros, cavalos ou até mesmo sólidas motos, ele aguardaria um pouco ou até desviaria pela rua lateral. Mas bicicletas e meros ciclistas... NÃO, aquilo era definitivamente insuportável. O serial killer odeia ciclistas, como odeia os pedestres e não estancaria frente a capivaras silvestres ou galinhas...
 
O alto funcionário do Banco Central não hesitou e acelerou gloriosamente, coração e instinto destemidos, como num vídeogame e os atropelou a todos, pelas costas, jovens, adolescentes, mulheres, crianças, cães. Nada seria obstáculo à sua confirmada valentia no trânsito. Um sucesso nas telas.
 
Sente-se ainda chocado pela visão apocalíptica e assustadora de tantos ciclistas obliterando o seu caminho e o seu natural ritmo imperativo; a ele, o piloto audaz do Golf negro, a quem ninguém ousaria desafiar.
 
Portanto, naquele seu gesto higiênico e industrial, ele expressara a sua mais profunda repulsa a todos e em especial à lentidão anacrônica das malditas bicicletas que ele tanto odiava.
 
Ele, o “maverick”, o funcionário do monumento ao dinheiro, passou por cima de todos, esmagando prazerosamente as bicicletas, convencido que está inocente desde o primeiro instante e com as razões de sua própria escolha, um mártir dos tempos de dinâmica velocidade e uma espécie de Muamar Kadhafi do trânsito de Porto Alegre, a quem todos devem aprender a respeitar e temer.
 
 
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Honra e respeito

Salinger y los nuevos tiempos
 
Enrique Vila-Matas 
        
Vivimos de espaldas a la memoria del mundo, como si temiéramos ser vistos como anticuados por recordar algo del pasado. Y hay una constante inmersión autista de lo mediático en un efímero presente que borra todo lo demás. Se habla, por ejemplo, de la crisis de la prensa escrita como si fuera un tema de nuestros días, de "rabiosa actualidad". Pero esa crisis es muy antigua. 
 
Leyendo J.D. Salinger. Una vida oculta, la excelente biografía de Kenneth Slawenski (Galaxia Gutenberg), me he acordado de una crisis que fue realmente clave y que tuvo lugar a principios de la década de 1960. 
 
¿Cómo explicarnos que muchos periodistas de hoy parezcan desconocerla? En eso sucede lo mismo que con las constantes polémicas que nos parecen tan de actualidad, pero que en el fondo repiten discusiones que ya tuvieron lugar en otros días y que se habían ya hasta apagado de tanto repetirse.
 
Me he encontrado con la crisis de prensa de los años 60 en el libro de Slawenski. Desde siempre me interesó averiguar las causas más probables del abandono, por parte de Salinger, de la vida pública. Y he encontrado una posible clave de su deserción en ciertos episodios de una 'guerra de la prensa neoyorquina' que tuvo lugar a principios de la década de 1960. En esos días, la mayoría de los estadounidenses se informaban de los acontecimientos y de las corrientes de opinión a través de diarios y revistas. Los informativos de televisión estaban aún en pañales. Sin embargo, el asesinato de Kennedy iba a demostrar en 1963 el poder del medio para atraer una audiencia masiva: al final de la década, la influencia de la prensa se vería eclipsada por el periodismo televisivo. 
 
Nos cuenta Slawenski que el cambio del deseo del público de noticias impresas a favor de las televisadas se produjo de forma irregular. En lugares como Nueva York, donde el número de diarios era extraordinario, la transición fue violenta. Cuatro periódicos, entre ellos New York Times, competían por un público lector siempre menguante y libraban una guerra continua por la difusión.
 
Ciertas reglas del juego se quebraron. El Herald Tribune intentó dinamitar el prestigio de The New Yorker, el suplemento dominical de NYT y atacaron a William Shawn, el director, un hombre siempre en la sombra y tan famoso por su deseo de privacidad como su amigo y colaborador J.D. Salinger. Para el autor de El guardián entre el centeno, The New Yorker formaba parte de su propia familia y Shawn era algo más que un amigo. El Herald Tribune había fichado a periodistas brillantes, como Tom Wolfe, quien, nada más ingresar en la redacción, decidió lanzarse directamente a la yugular de Shawn, y no sólo escribió dos hirientes parodias sobre el estilo de dirección y hábitos personales de éste, sino que lo asedió por teléfono solicitándole una entrevista.
 
Particularmente injurioso fue Pequeñas momias. La verdadera historia del soberano del país de los muertos vivientes de la calle Cuarenta y tres, el artículo de Wolfe contra Shawn y la redacción de su suplemento. Muchos famosos escribieron cartas en defensa de Shawn y se escandalizaron de que la reputación del Herald Tribune hubiera ido a parar a las cloacas. Pero ninguna carta acaparó más atención que la de J.D. Salinger, que conocía ya muy bien en esos días lo que era ser manipulado y descalificado por la prensa. Salinger habló de honor y respeto. Sonó extraño. Eran dos palabras anticuadas
 
Pero es que honor y respeto eran cualidades esenciales para él, estaban grabadas en su personalidad: eran sólidos atributos por los que el escritor medía su vida y las de los que le rodeaban. Escribe Slawenski: "No sólo se exigía a sí mismo rectitud y gentileza, sino que también las esperaba de los demás, y siempre mostraba sorpresa y aflicción cuando lo trataban de forma ruda o decepcionante (...) Incluso la carta más mordaz y desdeñosa de Salinger se ceñía a una cortesía de la que nunca se le habría ocurrido desprenderse. Lo que más le dolía era la insensibilidad de los demás: la falta de percepción en una crítica, la promesa rota de un amigo, la mentira de un niño"
 
Todo indica que ni Shawn ni su amigo Salinger captaron el concepto que estaba detrás de la maniobra del Herald Tribune. No se trataba en absoluto de respeto ni honor (¡cosas tan anticuadas!), sino de difusión, publicidad y dinero, precisamente todo lo que más desdeñaba J.D. Salinger. Los tiempos estaban cambiando. Empezaba una época en la que los brillantes demoledores de iconos, como Wolfe (hoy en día, pagado con su propia medicina, demolido también él), iban a sentirse cómodos y triunfarían, mientras que Salinger - también él un icono - no se identificaría con las deshonestas nuevas formas de un mundo en el que honor y respeto no iban a ser ya más respetados.
 
 
Todo eso debió de alertar a Salinger, que decidió esconderse aún más, alejarse ya sin paliativos de lo que podríamos llamar la "frenética profesión". ¿Frenética? No tiene por qué serlo si el éxito en ella depende de la opinión que uno tenga sobre sí mismo. "Piensa bien de ti, y habrás ganado. Pierde tu autoestima, y estás perdido", dice el hombre sensato. Pero por esa misma razón se trata una profesión delirante, porque va desarrollándose en ella un complejo de persecución cuando uno comprende que es la pura verdad que la gente que no habla bien de ti te está matando.
 
Era mejor apartarse, y así lo vio Salinger. En la era de la difusión, publicidad y dinero, no había - no hay - sitio para el honor, el respeto, la gentileza, la sensibilidad hacia los otros. Cuando pienso en esto, me acuerdo del viejo loco que vi ayer en la calle. Parecía que pidiera limosna, pero cuando pasé por su lado le oí decir: "Pero al fin y al cabo, ¿en qué consiste tanta felicidad?". En difusión, publicidad y dinero, pensé. Pero en ese momento vi que la felicidad a la que se refería era la suya.
 
Enrique Vila-Matas - Publicado em El País
Imagem: Pintura de Edward Hopper
publicado por ardotempo às 03:07 | Comentar | Adicionar
Domingo, 27.02.11

Bicicletas assassinadas

 
Atropelamento múltiplo de ciclistas em Porto Alegre
 
Na noite de sexta-feira dia 25 de fevereiro, no bairro Cidade Baixa em Porto Alegre, um automóvel Golf preto, novo, atropelou e derrubou cerca de 200 ciclistas do grupo Massa Crítica, ferindo com gravidade 15 ciclistas, removidos com urgência ao Hospital de Pronto Socorro, destruindo totalmente 20 bicicletas e danificando dezenas de outras. Na sequência, em alta velocidade, fugiu do local do crime, abandonando dezenas de feridos graves no asfalto da avenida. A Polícia de Porto Alegre mostrou-se incapaz de identificar e prender o agressor, apesar de ter localizado o carro danificado na madrugada de sábado no bairro Partenon, abandonado e com a placas de licença removidas.  A Polícia já sabe que o carro pertence a um morador do Centro de Porto Alegre, que tem a idade de 47 anos, porém não consegue informar sua identificação, localizá-lo fisicamente e tampouco esclarecer o motivo que o levou a "a participar do acidente".
 
Aparentemente o proprietário, talvez o motorista, chama-se Ricardo José Neif, 47 anos, e seria morador no centro de Porto Alegre.
 
 
Carta aberta de repúdio ao Delegado Gilberto Almeida Montenegro e à Polícia Civil do RS
 
Em primeiro lugar, Sr. Delegado de Polícia Gilberto Montenegro, nós os ciclistas não cometemos erro nenhum, estávamos utilizando as vias públicas de Porto Alegre com meios de transporte autorizados e legais, o que inclusive deveriam ser incentivados para que não ocorram congestionamentos e poluição ambiental.
 
O “erro” que o Sr, afirma, muito menos foi um ”erro grave”, pois legalmente não se necessita pedir autorização para nenhuma entidade para pedalar bicicletas em conjunto, repito, em vias públicas de Porto Alegre ou em qualquer cidade brasileira. Além disso, a EPTC sabia dos eventos da Massa Crítica.
 
Outro equivoco do Sr. – ninguém impediu o direito de ir e vir de ninguém – estávamos andando nas vias como meios de transporte legítimos, bicicletas, conhece o Sr. uma bicicleta, sabe o que é? Um veiculo aceito e autorizado ao trânsito urbano pelo Código Nacional de Trânsito?
 
Não era uma manifestação e sim um deslocamento para uma festividade, com muitas pessoas utilizando o mesmo meio de transporte. Eram 200 carros, Sr. Delegado? Não, eram singelas bicicletas, pois se todos fossemos de carro ficariamos congestionados na via pública. Isso sim seria um transtorno para muitos.
 
Os automóveis frequentemente são os que obstruem a minha passagem de bicicleta pelas vias, pois normalmente ando mais rápido que um carro para ir da perimetral até a Olavo Bilac, pela José do Patrocínio.
 
Sr. Delegado, responda-me uma coisa somente: porque nos dias de futebol várias ruas são legalmente fechadas e o fluxo de carros é totalmente impedido para que torcedores, apenas torcedores pedestres, passem? Estas manifestações são consideradas mais “legítimas” pela polícia? Elas podem impedir o direito de ir e vir de todos os outros que nada têm a ver com futebol, e que às vezes muitas vezes, por questões urgentes, até de saúde e de risco de vida, necessitariam passar por aquelas vias bloqueadas?
 
Com mais 100 ciclistas derrubados, 20 bicicletas, eu disse 20 bicicletas totalmente destruídas, além das dezenas de feridos graves e um carro bastante avariado, como o Sr acha que “ainda não é possível afirmar que o motorista teve alguma intenção de matar”?  As testemunhas, e são várias, e o Sr. já deve tê-las ouvido como delegado de polícia que é, disseram que o carro acelerou deliberadamente, com intensidade e não parou mesmo com pessoas sobre o capô e bicicletas amontoadas embaixo do carro. E o Sr. afirma publicamente que não foi com intenção de matar? Em nome do que e de quem o Sr. defende esse agressor que não conhecemos?
 
Por favor, só posso interpretar esta declaração como tendenciosa, defendendo, protegendo e ocultando o criminoso. Ainda por cima está esperando ouvir o motorista para que ele confirme ou não que teve a intenção de matar ou ferir alguém? Ora, me desculpe, isso não é polícia investigativa, Sr. Delegado Gilberto Almeida Montenegro. Por acaso, vocês já conhecem o motorista? Ele é policial? É alguém de nome importante na cidade ou filho desse alguém considerado importante? A polícia está ganhando tempo e acobertando alguma coisa? Esperando o tempo passar para evitar o flagrante ou extinguir os resíduos do álcool ou das drogas?
 
Se o proprietário do carro não deu queixa nenhuma, não informou roubo do veículo, não foi para sua casa, não atende ao telefone e abandonou o carro num bairro popular, distante da sua residência no centro ou em algum bairro sofisticado da cidade, logo depois da tentativa de assassinato coletivo, retirando ardilosamente as placas do carro, o que significa isso? Quem poderia estar dirigindo o carro, anonimamente?
 
A perícia tirou ao menos, impressões digitais no carro, no volante, no espaço do carro em que estavam as placas que foram removidas? Ou nem isso fizeram?
 
Com tudo isso que eu argumentei, qualquer pessoa de mínima inteligência ligaria todos fatos, informando imediatamente a população quem é o culpado, quem dirigia o carro naquele momento de intensa agressão. Espero que a Polícia Civil tenha o mínimo respeito à população, que merece ser informada.
 
Sr. Delegado Gilberto Montenegro, espero que o Sr. também peça desculpas publicamente por suas declarações infelizes, pois o Sr. criminalizou um movimento de ciclistas em paz, lutando apenas por dignidade e respeito no trânsito, ao tentar justificar e amenizar o procedimento do agressivo atropelador.
 
Continuaremos com muito mais bicicletas nas ruas, pois é nosso direito, é o nosso meio de transporte, sem poluição, sem alarido, sem agressão ao meio ambiente e aos outros cidadãos.
 
Mais amor, menos motor!
 
Guilherme Schröder
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Terça-feira, 15.02.11

Por acaso, a receita secreta

Receita da Coca-Cola é revelada e tem coentro

 

A “receita” secreta da bebida mais famosa do mundo foi revelada. Para fazer um litro de Coca-Cola basta ter ingredientes como extracto líquido de folha de coca, óleo de noz-moscada e néroli. O coentro também é necessário para produzir o sabor 7X que entra na composição do xarope que dá o toque especial à bebida.


A descoberta foi feita pela pelo This American Life, um programa de rádio semanal de uma hora, que é transmitido pela Chicago Public Radio, e que encontrou a fotografia da receita na edição de 18 de Fevereiro de 1979 do jornal "Atlanta Journal Constitution", em Atlanta, a cidade de John Stith Pemberton, o homem que inventou a fórmula da bebida em 1885.


Pemberton era farmacêutico e voltou da Guerra Civil viciado em morfina. Para tentar resolver o seu vício fabricou uma bebida alcoólica que tinha coca nos seus ingredientes chamada Pemberton's French Wine Coca. Mais tarde, devido às pressões contra as bebidas alcoólicas, o químico refez a receita sem álcool, mas manteve a coca na sua composição. Nasceu assim a Coca-Cola.


O artigo sobre a Coca-Cola da edição de 1979 do jornal de Atlanta recebeu pouca atenção na altura, mas os produtores do programa da rádio, explica a revista "Time", dizem que ninguém se apercebeu que a fotografia que ilustrava o artigo continha a receita. Segundo a rádio, a receita foi passada à mão, a partir da original de Pemberton, por um amigo do farmacêutico, e estava escrita num livro com receitas de produtos medicinais e unguentos, com uma capa de couro, que foi copiada por amigos e família durante gerações.

 

A receita:


Extracto líquido de folha de coca: 11,07 mililitros (mL)

Ácido cítrico: 90 mL

Cafeína: 30mL

Açúcar: 30 (medida desconhecida)

Água: 9,46 L

Sumo de lima: 0,946 L

Baunilha: 28,35 gramas

Caramelo: 42,525 gramas (a quantidade pode ser maior para dar cor)


O sabor secreto 7X (usa-se 60mL do sabor 7X por 18,927L de xarope)


Álcool: 240 mL

Óleo de laranja: 20 gotas

Óleo de limão: 30 gotas

Óleo de noz-moscada: 10 gotas

Coentro: 5 gotas

Néroli (extracto de flor de um citrino "parente" da laranja): 10 gotas

Canela: 10 gotas


Publicado pelo jornal Público (Lisboa - Portugal) e notícia indicada por Eduardo Pitta (Da Literatura)


Você acredita nesta história? Eu também não mas ela é bem engraçada. Acho que é uma brincadeira dos jornalistas norte-americanos, só para ver o tamanho da repercussão em todo o mundo. Curiosamente, no Brasil, uma agência de publicidade afirma que a felicidade existe e que está dentro de uma lata ou de uma garrafa desse refrigerante. O que será mesmo que eles estão querendo passar com essa mensagem?

publicado por ardotempo às 20:51 | Comentar | Ler Comentários (2) | Adicionar
Domingo, 13.02.11

Chocolate

Palavras mágicas


Maria do Rosário Pedreira


Há muitos anos, fui contactada por uma agência de publicidade para lá ir dizer o que esperava de uma pasta de dentes. Compareci no dia combinado e fiquei eu própria surpreendida com a quantidade de coisas que consegui verbalizar sobre uma matéria aparentemente comezinha como aquela. Não era a única pessoa presente, claro, e essa circunstância acabou por desencadear um diálogo de mais de uma hora à volta do tema "dentífricos", com intervenções memoráveis sobre cor, sabor, textura, embalagem, preço e ecologia. Mais tarde, explicaram-me que aquela reunião era parte daquilo a que se chama um "estudo de mercado" e que, quando uma agência quer lançar um produto, tem de saber o que os clientes exigem e desejam para construir a campanha em consonância.

 

 

 

Ora, o sucesso de um livro é sempre uma incógnita e, para os livros, não há realmente estudos de mercado possíveis (por isso nos zangamos quando chamam "produtos" aos livros). E, no entanto, parecem existir palavras mágicas que conduzem quase sempre ao êxito. A melhor que conheço é "chocolate" e, se um título a inclui, é quase certo que o livro se vai vender bem. O romance Chocolate – que depois deu um filme menor com a admirável Juliette Binoche – tirou Joanne Harris do anonimato e transportou-a para um estrelato que se calhar nem merecia, e o Baunilha e Chocolate de Sveva Casati Modignani pô-la a vender de repente milhares de exemplares num país onde os escritores italianos raramente vingam...


Maria do Rosário Pedreira - Publicado no blog Horas Extraordinárias

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Quarta-feira, 09.02.11

Charutos negros

Negócios com nicotina


Yoani Sánchez


As manos se mueven seguras, veloces, apenas tienen 30 segundos para colocar en la parte inferior de la mesa los tabacos que irán hacia el mercado negro. Dos cámaras panean el salón donde las olorosas hojas se enrollan y terminan en cajas con el nombre de Cohiba, Partagás, H. Upmann. Cada ojo de vidrio gira 180 grados, dejando –por muy breve tiempo– una zona ciega, una estrecha franja de torcedores sin vigilancia. Buen momento para poner fuera de las vista de los supervisores aquel lancero o ese robusto, que después será vendido al margen del mercado oficial. Otro empleado se encarga de pagar a los custodios para lograr sacarlo del recinto y en veinticuatro horas su fuerte aroma ya estará en las calles.

 

 

Cuando mis estudiantes de español me preguntan sobre la calidad de los tabacos que se venden “por fuera”, bromeo diciéndoles que en el interior de dichas cajas bien podrían encontrarse el periódico Granma enrollado. Sin embargo, también sé que una buena parte de esa oferta clandestina es sacada de los mismos lugares institucionales donde se confeccionan los que se exhiben en las tiendas legales. Tres de cada cinco habaneros, en caso de ser interpelados, se vanagloriarán de conocer a un verdadero torcedor que consigue puros auténticos y frescos. El negocio de la nicotina involucra a miles de personas en esta ciudad y genera una red de corrupción y ganancias de incalculable tamaño. Su reto es que el producto final se parezca al que comercia el Estado, pero cueste tres o cuatro veces menos.


Entre las proposiciones más comunes que reciben aquí los turistas se escuchan aquellas de “¡Mister, cigars!”, “¡Lady, habanos!”que les lanzan en cada esquina. Al menos, no resulta tan chocante como cuando el proxeneta les susurra un catálogo que incluye “Chicas, Chicos, Chicas con Chicos”. Así la secuencia que comienza en la fábrica, en esos 30 segundos en que el lente de la cámara mira hacia otro lado, termina en un extranjero pagando por veinticinco tabacos lo que de otra manera sólo le alcanzaría para comprarse un par. Todos salen felices: el torcedor, el custodio, el vendedor ilegal y … ¿el estado? bueno… ¿a quién le importa?

 

Yoani Sánchez - Publicado em Generación Y

yoani.sanchez@gmail.com

publicado por ardotempo às 16:26 | Comentar | Adicionar

Editor: ardotempo / AA

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