Domingo, 14.08.11

Os mínimos obstáculos, intransponíveis

Legados de Ianelli

 

Paulo Amaral

 

Contemplar a obra de Arcangelo Ianelli equivale a passear pelos melhores caminhos da arte brasileira guiado por quem sempre ocupará privilegiado assento entre os grandes mestres da pintura e da escultura. Ianelli trilhou uma carreira visivelmente gradativa, construiu uma obra Suo tempore, sobretudo coerente e plasmada no profundo conhecimento das cores que soube distribuir sobre telas de rara plasticidade. É, em resumo, um artista digno de ser exposto nos maiores museus do mundo.

 

Estes, muitas vezes, apresentam espaços exíguos, o que os obriga a formar acervos limitados, e de forma geral dispõem de verbas minguadas, que os impedem de adquirir novas obras. Mas estas circunstâncias, considerando Arcangelo Ianelli, não justificam que se refutem obras-primas de artistas de sua densidade. Ainda neste ano, o Museu de Arte Moderna de São Paulo (MAM), do qual Ianelli foi estreito colaborador durante sua vida, e de cujo Conselho participou intensamente, rejeitou 14 das 16 obras deixadas em testamento pelo artista, falecido em 2009. A alegação do MAM foi de que eram redundantes em relação a outras do mesmo Ianelli já existentes no acervo da entidade.

 

À polêmica, amplamente discutida pela imprensa do centro do país, estarrecidos com a decisão do MAM, juntaram-se vozes respeitáveis como as de Ferreira Gullar, Fábio Magalhães e Emanoel Araújo. Também ao MARGS, que não possui nenhum exemplar de sua obra, Ianelli legou 15 expressivos trabalhos, dentre os quais duas primorosas marinhas pintadas a óleo, datadas de 1958, quando o artista encontra o esplendor de sua preciosa fase figurativa. Estes quadros estão catalogados no livro IANELLI – Os Caminhos da Figuração, editado pela FAAP por ocasião de uma retrospectiva do artista, ocorrida no Museu da Arte Brasileira, da FAAP em 2004.

 

Outra tela doada ao MARGS (óleo nas dimensões 2,00mx2,50m), pertence à fase mais conhecida por Vibrações, na qual o artista coroa sua extensa carreira, esbanjando absoluto domínio da luz e dos efeitos de transparência. As demais obras são sete pastéis sobre papel, quatro gravuras e uma escultura, todas elas igualmente importantes. Trata-se, em poucas palavras, de uma seleção ampla e expressiva da trajetória de Ianelli, capaz de sozinha sustentar uma exposição gloriosa. Entretanto, estas doações, ofertadas há mais de um ano e meio, ainda não participam do acervo do MARGS pela falta de recursos da entidade para o pagamento de um imposto de transmissão de valor pouco inferior a R$ 8.000,00!

 

Este caso, paradoxal por sua natureza, suscita uma reflexão sobre o descaso dos governos para com a Cultura em geral. Num Estado como o nosso, em que o orçamento destinado à área mal alcança meio por cento do geral, torna-se difícil chancelar a seriedade da gestão pública que não valoriza uma generosa doação de bens avaliados em torno de meio milhão de reais e que não é acolhida por ser indisponível irrisória cifra para o pagamento de uma simples taxa. O fato reproduz um pouco a história da administração pública do Brasil, onde é comum acontecer que se percam projetos e oportunidades por “decorrência de prazo”, isto é, um eufemismo para exprimir inépcia.


As obras de Ianelli foram indiscutivelmente aceitas pelo núcleo de acervo do MARGS, ao contrário do que se passou no MAM de São Paulo. Mas remanesce, fruto de uma política equivocada do governo em relação à história de um museu com mais de meio século de existência, uma pendência tão prosaica quanto inaceitável. Alguma solução poderia vir da Associação de Amigos do MARGS, suporte financeiro do museu, entidade que há alguns anos, através de um organizado trabalho junto a mecenatos, logrou adquirir um pequeno acervo em número de peças, mas rico em conteúdo, no qual pontificava uma estupenda tela de Guignard. Cabe à Associação de Amigos procurar recursos para cumprir metas do cotidiano - e ressaltemos que esta não é uma meta do cotidiano, mas uma ação que, a um custo simbólico, pode significar a aquisição da década para o acervo do maior e mais importante museu de arte do Rio Grande do Sul.

 

O risco que corre o MARGS em acabar não recebendo as obras de Ianelli é maior do que se possa imaginar, porquanto a família do artista aguarda o pagamento do imposto de transmissão para o efetivo encerramento do inventário. Até quando poderão os doadores, por interesse próprio ou por imposições legais, manter em aberto este processo ? A decorrer algum prazo retardatário além do admissível, estas obras poderiam ser oferecidas a outros museus nacionais e estrangeiros que as receberiam com festas de foguetório, como o fizeram o MASP, a Pinacoteca e o Museu da Arte Brasileira, todos de São Paulo.

 

Raramente ocorre a oportunidade de um artista do quilate de Arcangelo Ianelli legar grupos de obras a entidades, e menos ainda seus testamenteiros insistirem em levar tal missão ao cabo.

 

Estas considerações terminam por evocar outra, de caráter institucional.

 

Museus no mundo inteiro cobram ingressos para a visitação, muitas vezes estabelecendo diferentes classes de tarifas de acordo com a importância e o número de exposições exibidas. A França, onde os museus nacionais são congregados por uma só entidade, a Réunion des Musées Nationaux, isso é tratado assim na integralidade. No Reino Unido, excepcionalmente, há algumas políticas de gratuidade, mesmo em casas importantes como a Tate Britain. Mas a opção do Estado inglês em subsidiar estas visitas é compatível com a devida contrapartida financeira por ele alcançada aos museus que não cobram ingressos.

 

Aqui, diferentemente, o Estado não se interessa por dotar museus de verbas compatíveis com um funcionamento digno. Não é difícil compreender este tabu da não cobrança. Ele está preso a um antigo conceito de Estado paternalista em que prevalece a noção de que a arte é ainda-e-para-sempre incipiente, e que cobrar ingressos de um público específico significaria uma afronta a toda uma sociedade. Uma grande falácia. No caso da doação Ianelli, por exemplo, o imposto de transmissão já há muito tempo teria sido pago com recursos diretos de ingressos. A cobrança, mesmo que simbólica, e excetuados alguns casos como os de estudantes e idosos, por exemplo, valoriza os museus ao mesmo tempo em que move a economia da cultura: para os museus, mais acervo, mais publicações, melhores condições disponíveis ao usuário e, por consequência, maior visitação; para os artistas, maior reconhecimento de seu fazer; para os marchands, melhores vendas e mais compras aos que produzem arte.

 

É um ciclo saudável e compatível com a realidade de um país como o nosso, cujo governo se jacta de enfrentar crises econômicas com galhardia e incentiva o consumo a rodo. Que consumamos cultura, pois, e que possamos perceber o baixo custo para o enriquecimento da alma. Ars longa, vita brevis

 

Paulo Amaral - Publicado no jornal Zero Hora

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Quarta-feira, 10.08.11

Fotografias e livros no Museu

 

MALG  SESC

Gilberto Perin e Aldyr Garcia Schlee

 


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Terça-feira, 09.08.11

Um fotógrafo com Leica

 

Uma cidade que se move - Mario Castello

 

 

 

 

 

 

Mario Castello - Monumento às Bandeiras (Victor Brecheret) - Fotografia (São Paulo SP Brasil), 2011

publicado por ardotempo às 17:21 | Comentar | Adicionar

Livro, fotografias e textos

Luiz Antonio de Assis Brasil

 

Futebol

 

Cabe celebrar aqui Camisa Brasileira, uma obra cúmplice do fotógrafo Gilberto Perin e do escritor Aldyr Schlee, a que se somaram um depoimento de João Gilberto Noll e o trabalho de um editor – e poeta – sensível, Alfredo Aquino e sua ardotempo.

 

É um livro sobre o Grêmio Esportivo Brasil, de Pelotas. O que poderia ser uma peça de ardor clubístico, transforma-se numa reflexão sobre o ser humano. A arte soberba de Gilberto Perin seguiu parte da campanha do Brasil no ano passado, entre vitórias e derrotas, momentos de desânimo e euforia. Os protagonistas são os próprios jogadores, captados em diferentes vestiários e túneis. Os jogadores não são identificados. O fotógrafo capturou suas imagens e dividiu-as em secções que indicam os elementos que perpassam os vestiários: a preparação do jogo, a fé religiosa dos atletas, a dor, a solidão dos expulsos de campo.

 

O capítulo da fé impressiona: são pequenas imagens de santos, galho de arruda atrás da orelha, Jesus Cristo e Iemanjá, rezas coletivas. Já a preparação mostra a indigência de alguns vestiários, com suas duchas de plástico, azulejos faltantes, paredes cobertas de mofo. A glória das vitórias e o desalento das derrotas constituem uma das partes mais dramáticas – mas ambas se parecem, em seus efeitos psicológicos: choros e abraços.

 

Costurando as fotos e dando-lhes uma identidade única, está o texto de Aldyr Schlee, escritor de Contos de Futebol e, cabe repetir sempre, criador do uniforme da seleção canarinho. É dele esse resumo impecável: o vestiário “é um mundo fechado e interdito de onde os homens saem mudos e deslembrados; de onde, logo, já não se sabe e não se diz o que se viu ou se ouviu; de onde, depois de tudo, já não se recorda o que se fez ou o que se deixou de fazer”.

 

O depoimento de João Gilberto Noll comove também pela síntese, capturando o instante sem tempo das fotos: “Vemos jogadores em um campeonato de segunda divisão num intimismo viril, nos toscos vestiários, alguns ensaboados debaixo dos chuveiros, entre confidências discretas, surdos palpites talvez”. A apresentação de Alfredo Aquino é um sumário que revela: “O que vemos neste livro está antes do apito inicial e logo após o apito final, ou seja, sem a competição, sem a luta e sem o lúdico...” E podemos completar: trabalhado com esmero e paixão, uma obra de arte superior.

 

Luiz Antonio de Assis Brasil - Escritor

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Quarta-feira, 27.07.11

Uma pintura, uma fotografia?

Um homem e seu cão

 

 

 

 

Giacomo Favretto - Sem titulo - Fotografia (São Paulo Brasil), 2011 -

Uma fotografia com cores e texturas que lembram uma pintura de Edward Hopper. Bravo, Giacomo Favretto!!!

 

 

 

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Gênios e sobredotados

Entrevista traduzida depois de imaginada

 

Paulo José Miranda

 

 

 

A minha entrevistada desta noite tem 32 anos e acaba de escrever um livro acerca da distinção entre pessoas sobredotadas e o génio. Ela mesma é uma pessoa sobredotada. Tem um doutoramento em física nuclear, pela universidade de Cambridge, e um doutoramento em literatura, pela universidade do Bósforo e tem ainda uma licenciatura em Filosofia, também pela universidade do Bósforo. Lê e fala 10 línguas. Tem ouvido absoluto, que implica reconhecer imediatamente o som que escuta, e estudou 9 anos de piano e toca Mozart, Chopin e Lizst na perfeição. Aos 16 anos o seu QI foi classificado de 190. Para que os nossos telespectadores possam ter uma noção mais precisa do que isto representa, acrescento que o QI de Einstein foi classificado de 180.

 

Entrevistadora: Boa noite! Espero que a minha apresentação não tenha esquecido nada. Julga-se um génio?

 

Mulher: Não, mas talvez seja aquela que está em melhor posição para reconhecer o génio. Eu sou aquilo que é designado pelas ciências da cognição como sobredotada.

 

E: O que é que a leva a fazer essa distinção? Porque, para a maioria das pessoas, uma pessoa como você é um génio.

 

M: O génio é aquele que faz o que nunca ainda tinha sido feito. O que ainda não tinha vindo ao mundo. O génio faz mundo. O sobredotado, como eu, faz muito bem feito uma quantidade enorme de coisas que já estão no mundo. Para usar uma metáfora da música, e que é verdade em mim, o sobredotado tem um ouvido absoluto para o mundo. O sobredotado faz, isto é, “imita” imediatamente o que há, quer seja a matemática, quer seja a música ou as línguas já criadas. Ele ouve e reproduz. Esta é a definição que melhor cabe para sobredotado: o reprodutor do mundo. O génio, pelo contrário, pode até ser surdo para o mundo, isto é, não conseguir aprender línguas com facilidade, ter sérias dificuldades para a matemática ou para a música, mas, depois, aquela que é a sua actividade, aquilo que faz, faz mundo. Contrariamente ao reprodutor de mundo, que é o sobredotado, o génio é o fazedor de mundo. O sobredotado “apanha” o mundo todo de ouvido, o génio não apanha nada. O génio joga, lança, faz mundo. É como se, o génio ao não saber quase nada, inventasse ele mesmo um saber, o seu saber.

 

E: Mas o génio pode também saber muito! Quando se trata de ciência, então, o génio sabe também sempre muito. Por exemplo, o caso de Einstein.

 

M: Sem dúvida! Mas ainda assim, Einstein não sabia mais matemática do que eu, e sabia menos física e matemática do que muitos cientistas ou professores do seu tempo. A questão é esta: o que faz a diferença entre Einstein e um professor do seu tempo não é o que ele sabe ou deixa de saber, mas de ir buscar o que ninguém sabe. E: Então porque é que o seu livro não faz de si um génio? M: Porque o meu livro faz apenas, ainda que possa ser brilhante, a distinção entre coisas que já há, entre o sobredotado e o génio. Não crio nem um, nem outro.

 

E: Mas julgo que cria essa distinção, que ainda não existia.

 

M: Não! A distinção já existia, não estava era muito clara. Eu apenas dei claridade à coisa. É muito diferente de criar a coisa. O facto de haver um livro, não identifica o seu autor com coisa nenhuma a priori. O que mais há no mundo são livros, e só muito poucos são de génio. E a maioria nem sequer são, asseguro-lhe, de pessoas sobredotadas.

 

E: O que é mesmo um sobredotado?

 

M: Um sobredotado é uma espécie de agente secreto dos filmes, uma espécie de James Bond, que consegue fazer tudo, mas não inventa nada, não cria nada. O James Bond é aquele que faz o que quer do mundo, mas não lhe acrescenta nada. E vamos ver uma coisa, inventar ou criar, não é uma questão modal, mas substancial. Ou seja, criar versos que não existem pode também ser não criar nada.

 

E: Porquê?

 

M: Porque se pode tratar de uma imitação, de uma reprodução de algo que é verdadeiramente bom. Também há livros que nós dizemos que são bons, mas não são de génio. São os livros a que eu chamo de sobredotados. Livros que imitam perfeitamente o génio, sem que se perceba. Mas não se trata aqui de um falsificador, como aqueles que imitam os quadros de pintores famosos, trata-se antes de alguém que escreve de um modo que já foi escrito. Píndaro inventa a escrita, Rimbaud inventa a escrita e Fernando Pessoa, poeta português do início do século passado, inventa a escrita, só para dar alguns exemplos, depois, os outros, quando são bons são sobredotados, isto é, imitam muito bem o mundo que esses, os génios, criaram. O problema, em relação à poesia, é que como as palavras e a ordem delas são diferentes de livro para livro, tem-se a ilusão de que são coisas diferentes, quando verdadeiramente não são. Aliás, o problema é comum a todas as artes. São variações do génio, alterações modais e não substanciais, isto é, não acrescentam mundo. A ciência já não tem este problema. Por exemplo, a Teoria da Relatividade não é imitada.

 

E: Mas pode ser ultrapassada, na sua tentativa de descrição do universo!

 

M: Isso pode! Na arte, o génio nunca é ultrapassado. O génio é sempre à mesma altura ou, para manter a metáfora anterior, o génio é inultrapassável, é sempre à mesma velocidade, a inultrapassável velocidade da luz.

 

Paulo José Miranda

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Domingo, 10.07.11

Bastidores do teatro, do circo e da dança

 

Exposição de Fotografias - THOLL e Gilberto Perin

 

Theatro São Pedro - 12 de julho - 19h - Porto Alegre RS Brasil

 

As imagens dos bastidores do teatro, do circo e da dança - Atrás da cortina vermelha

Fotografias inéditas de Gilberto Perin

 

 

 

 


 


 


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"O álcool matou meu pai"

 

Paris, 21 de junho de 2010 - O fotógrafo caminha pela cidade (II)

 

 

 

Pierre Yves Refalo - Paris, 21 de junho 2010 - Fotografia (Paris, França), 2010

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Sexta-feira, 08.07.11

O homem da bolha de sabão

 

Paris, 21 de junho de 2010 - O fotógrafo caminha pela cidade (I)

 

 

 

 

Pierre Yves Refalo - Paris, 21 de junho 2010 - Fotografia (Paris, França), 2010

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Terça-feira, 28.06.11

Sexta-feira 1º de julho - Dia de CAMISA BRASILEIRA

Lançamento do livro no Museu do Futebol em São Paulo

 

Convite a todos os amigos deste blog e dos autores do livro: Gilberto Perin, Aldyr Garcia Schlee e João Gilberto Noll.

 

 

 

 

 


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Sábado, 25.06.11

Uma exposição: uma tela

Arte en medio de la violencia

 

 

 

Nunca una exposición tan pequeña creó tanta expectación. Quizá porque nunca una obra de Pablo Picasso viajó a Palestina. El lienzo Busto de mujer, pintado por el artista en 1943, se encuentra ya en la Academia Internacional de Arte Palestina, con sede en la ciudad cisjordana de Ramala. El cuadro es el primero del pintor malagueño en ser mostrado allí, y su traslado ha costado dos años de arduas negociaciones.

 

Desde ayer, y hasta el próximo 22 de julio, preside Picasso en Palestina, la exposición más pequeña del mundo. Será la única obra ofrecida al público a modo de metáfora de las dificultades sufridas por esa población, que alberga la sede de la Autoridad Nacional Palestina.

 

Busto de mujer es una pintura valorada en cinco millones de euros. Es también una de las estrellas de la colección del museo holandés Van Abbe (Eindhoven), que la ha cedido en nombre de su particular teoría sobre el papel del arte en la sociedad. O como dice Charles Esche, responsable del centro, "para que una colección europea contribuya a buscar una respuesta a las contradicciones de la realidad global en que vivimos".

 

"Nuestro picasso vendrá cambiado de su viaje a Ramala. Y esta peripecia formará parte, para siempre, de la historia del cuadro. Es como si creáramos algo nuevo, preservando al mismo tiempo lo que teníamos", comenta. Khaled Hourani, director artístico de la Academia Internacional de Arte Palestina, ha añadido aún otro acento al insólito viaje picassiano: "Intentamos arrojar luz sobre la realidad contemporánea de Palestina y darle a este proyecto el poder de lo imposible. Picasso en Palestina habla del valor del arte y también de relaciones humanas".

 

La idea de la muestra arrancó en 2009, cuando los alumnos de la Academia palestina escogieron el lienzo de pintor español para colgarlo en el centro. No solo señalaron a uno de los grandes nombres del arte moderno. Relatar los problemas de la mudanza -entre permisos de aduanas y seguridad- serviría para discutir el efecto del conflicto de Oriente Medio en el arte mismo surgido en la zona. Según los responsables del museo Van Abbe, durante el periodo de creación de Busto de mujer, en plena guerra mundial y poco después de la guerra civil española, "Picasso dejó claro su rechazo al conflicto bélico".

 

Verlo en Ramala, por tanto, "ayuda a pensar en otras luchas ocurridas en otros lugares y momentos históricos". Para que la exposición cierre el círculo de compromiso artístico y social que ha dibujado, incluye un programa de conferencias que abordarán las repercusiones del intercambio artístico entre instituciones europeas y de Oriente Medio. Pero tal vez la parte más emotiva de la expedición del cuadro sea su reflejo en el documental dirigido por el cineasta palestino Rashid Masharawi. Hijo de refugiados y nacido en Gaza, en El viaje de Picasso cuenta los detalles de dos años de negociaciones para embarcar la tela en un vuelo entre Ámsterdam y Tel Aviv. También sigue su paso por innumerables controles, y la escolta de agentes de seguridad israelíes que velaron el recorrido hasta Ramala.

 

"Es un momento histórico para nosotros. Es muy importante poder darle al público una obra de este calibre", asegura Tina Sherwell, directora de la Academia Internacional de Arte Palestina. En el museo Van Abbe comparten su opinión. Esche anuncia: "Estamos ampliando las posibilidades de nuestra colección [que suma también varias piezas de Kandinsky con gestos así".

 

Isabel Ferrer - Publicado em El País

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Sexta-feira, 24.06.11

As imagens contam

 

Livro de Arte Fotográfica de Gilberto Perin

 

 

 

  

 

 

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Sexta-feira, 17.06.11

Um recusa, outros reverenciam

 

BRAVO!!! Pinacoteca de São Paulo

 

 

 

 

Um curador de um museu de São Paulo recusou para o seu acervo, juntamente com o seu conselho consultivo, 16 obras do notável artista pintor e escultor Arcangelo Ianelli. Ao mesmo tempo a Pinacoteca de São Paulo reverencia e homenageia o grande artista pelo idêntico gesto generoso de doação de obras ao seu acervo. Bravo, Pinacoteca de São Paulo. Parabéns, Arcangelo Ianelli.

 

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Terça-feira, 14.06.11

Leonard Cohen

La seducción de la tristeza cínica

 

Ya alcanzada por ventura una provecta edad en la que cuesta esfuerzos épicos recordar nombres, títulos, fechas, personas y cosas que alguna vez creíste inolvidables, la memoria se empeña con motivos racionales o enigmáticos en ser instantánea y selectiva, evocadora y emocionada, ante imágenes, poemas, canciones, rostros, sensaciones, momentos fugaces que van a instalarse a perpetuidad en el consciente y en el subconsciente.

 

Sintiendo aversión por todo lo que huela a impuesta o estratégica moda, a publicitada flor de un día, a los continuos inventos huecos del marketing, a estar en la onda que exige cada momento para que te concedan la prestigiosa etiqueta de enrollado, a veces me muestro ciego o despreciativo sin causa ante artistas nuevos que promociona infatigablemente el esnobismo, que pretenden hacerte sentir como un marciano si muestras tu ignorancia ante su supuesta o evidente trascendencia. Y en esa corte bendecida por el vanguardismo, tan cool ella, por supuesto que conviven el arte y la impostura, la adornada nadería y la futura condición de clasicismo, el fraude y la autenticidad, pero eso no evita la pereza inicial a descubrir y a consumir lo que dicta el mercado pretendidamente exquisito.

 

Disponiendo desde la adolescencia o la temprana juventud de una insustituible galería de directores de cine, músicos, escritores, pintores, cantantes y poetas, difuntos o aún vivos y sin intención de jubilar su arte, gente que mantiene intactas a lo largo del tiempo en tu cerebro y en tu sensibilidad las emociones que te regalaron en el primer encuentro, aunque a veces les abandonara el estado de gracia ("no es humano ni posible ser sublime sin interrupción", certificó alguien muy sabio), cuesta trabajo tener los sentidos permanentemente abiertos ante lo nuevo, dejar de apostar sobre seguro, descuidar lo eternamente amado para embarcarse en aventuras coreadas por la inapelable actualidad.

 

Entre mis dioses sin fecha de caducidad, entre los que además de poseer el don de la poesía también recibieron la capacidad para expresarla a infinita gente con su voz honda y con su envolvente música, mediante discos y conciertos, existe en mi altar un profesional de la seducción llamado Leonard Cohen, transmisor de un mundo que yo comprendería aunque no existiera traducción, hipnótico y profundo, sedoso y dolorido, sensual y perturbador, inmejorable banda sonora de la tristeza y el deseo, oscuro y luminoso.

 

El príncipe judío de Montreal nunca se olvida de las alegrías del cuerpo aunque esté obsesionado con las tormentas y los jirones del alma, es descreído y mordaz, está convencido de que la paradoja y la contradicción son esenciales para explicar la vida. Su música puede alcanzar efecto balsámico cuando el estado emocional anda en horas bajas, se lleva muy bien con la soledad, la pérdida y el fin del amor (Cohen aconseja que este te pille bailando), es ideal para lamerse las heridas y añorar el ni contigo ni sin ti, pero también puede ser exaltante, ejercer de afrodisiaco cuando todavía reina la alegría en los dormitorios compartidos.

 

En cualquier caso, esa voz, esas imágenes, esas palabras, la elegante armonía entre lo que dice y cómo lo dice, esa intensidad emocional, esa carnalidad y ese misticismo, esa estética y esa ética te enamoran. Si entras en el planeta Cohen vas a permanecer en él toda tu existencia, ese campo magnético es inextinguible, las canciones que arañaron tus fibras más íntimas hace tanto tiempo, cuando todavía no habían ocurrido demasiadas cosas en tu vida, mantienen su fascinación al sentir la cercanía del crepúsculo. Fueron deslumbrantes en la primavera, pero también otorgan calor al invierno.

 

La primera vez que escuché esa voz fue en 1971, en la banda sonora de Los vividores, un western insólito, romántico y sombrío dirigido por Robert Altman. Nadie me había hablado de Cohen. Salí flotando de esa experiencia. Creo recordar que su primer disco, Songs of Leonard Cohen, se me rayó en poco tiempo al convertir su escucha en obsesión cotidiana. No me abandonó esa sensación opiácea cuando esas canciones fueron concebidas desde una lacerante habitación, cuando la inundaba el amor y el odio, cuando era necesaria una nueva piel para la vieja ceremonia. Me mosqueé cuando el sonido Spector ambientó la muerte de un mujeriego. Después hubo periodos tibios con joyas aisladas. Pero en 1988 llegó una nueva plenitud con una obra de arte en la que Cohen le recordaba conmovedoramente a una mujer que en todas las circunstancias él era su hombre. Y lamenté que por culpa de Buda y su presunta capacidad para otorgar paz al atormentado y redención al pecador pasaran nueve interminables años entre The future y Ten new songs. La primera vez que observé a este hombre actuando en un escenario no precisaba de nadie. Solo necesitaba un taburete y una guitarra para que el público se sintiera en el cielo durante dos horas.

 

Ocurrió en el teatro Monumental. Hace 37 años. Esa magia ancestral se llena de matices cuando le acompañan grupos que entienden su mundo y esos magníficos coros habitados permanentemente por señoras hermosas, con clase. El hombre del famoso impermeable azul sabe mucho de ellas, de su belleza y su misterio, de los días de vino y rosas y de la desolación, de trajes con rayas y de sombreros. Lo que más me gusta de Cohen es oírle cantar, pero también es muy grata su poesía impresa, la de Vamos a comparar mitologías, La energía de los esclavos, Flores para Hitler, La caja de especias de la Tierra. El narrador de El juego favorito y Los hermosos vencidos me interesa menos. Lo suyo es la lírica.

 

Y, por supuesto, este señor está más allá del elogio, más allá de los premios, incluido el que acaba de concederle la sangre azul. Pero si los premios tienen que existir, él se los merece todos. Incluido el Nobel de Literatura. Con permiso de Dylan, al que también acabarán concediéndoselo si los académicos se operan la miopía. Las canciones de ambos seguirán regalando sensaciones impagables a los receptores en los próximos siglos.

 

Carlos Boyero - Publicado em El País

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Segunda-feira, 13.06.11

Uma estátua no telhado

Fotografia

 

 

 

 

Alexandre Schlee Gomes - Sem título - Fotografia (Pelotas RS Brasil), 2011

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O espaço caloroso dos livros

 

O mistério dos livros

 

 

 

Pierre Yves Refalo - Librairie des Alpes - Paris - Fotografia (Paris)

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Anish Kapoor em Paris

A escultura no Grand Palais

 

 

Leviathan - Anish Kapoor - Escultura monumental de fibra translúcida, colocada no espaço expositivo do Grand Palais, em maio/junho de 2011 (Paris França), 2011

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Domingo, 05.06.11

Os que escrevem e os que desenham

Livros em pintura

 

Enrique Vila-Matas

 

 

 

En el principio fue el dibujo y luego las letras, después todo se invirtió. Ahora esta fórmula de los libros clásicos ilustrados vuelve como una de las estrategias para fomentar la lectura y reducir la crisis del sector. A los dibujos de Doré o Beardsley se suman los de artistas actuales que iluminan el ingenio de Hawthorne, Wilde, Brecht, Kipling o Schnitzler. Existe la creencia de que en las novelas que van ilustradas los grabados, los dibujos, se basaron siempre en los textos escritos. Y, sin embargo, no siempre fue así.

 

Hubo una época en la que los narradores que escribían novelas por entregas para los periódicos se ponían al servicio de famosos y prestigiosos dibujantes; primero, entregaban éstos sus ilustraciones, y después venían los narradores y se acoplaban a los dibujos de las estrellas de los grabados. Es el caso célebre del periódico londinense Evening Chronicle, que en 1836 le encargó al joven Dickens de 24 años que escribiese una serie de textos de carácter costumbrista para las ilustraciones del famoso dibujante Robert Seymour, gran estrella del momento. O sea que Seymour hacía las ilustraciones y a éstas las acompañaba posteriormente un texto adicional. La trama de las historias, por tanto, se subordinaba al dibujo. En el caso que nos ocupa, pronto surgieron las desavenencias entre la estrella Seymour y el genio - entonces desconocido - de Dickens. La obra concebida por el dibujante proponía, a través de sus grabados, un relato acerca de un club de cazadores llamado Nimrod, una sociedad de perdigueros cómicamente inexpertos...

 

Pero sucedió que el texto no tardó en imponerse a su ilustración, es decir, que el escritor desconocido se impuso al afamado dibujante. Leer el siguiente capítulo de Los papeles póstumos del Club Pickwick, la brillante y divertidísima historia de Dickens, se convirtió en una pasión tan grande en Londres que en unos meses provocó el aumento de la tirada del periódico desde los 400 ejemplares a los 400.000. Tras la quinta entrega, Seymour se suicidó. Nunca se había ilustrado de esa forma tan trágica la derrota de un ilustrador. A partir de ese momento, fue Hablot Knight Browne, alias Phiz, quien se encargó de los dibujos y quien permitió que Los papeles... se invirtieran y pasara Dickens a escribir el texto y, a partir de lo que dictaba la trama del narrador, se hacía la ilustración. Hace unos años, Jordi Llovet cedió por unas semanas los grabados de su ejemplar de 1837 de la edición original de Los papeles póstumos del Club Pickwick para que Mondadori, en su colección de Grandes Clásicos, traducción de José María Valverde (2004), remedara aquella primera edición en la que la unión entre Dickens y Phiz configuró uno de los libros ilustrados más extraordinarios de la literatura inglesa y también de la universal de todos los tiempos. Esa edición original de Los papeles... es uno de los faros que todavía hoy guían el espíritu de los esforzados impresores y empresarios de vocación literaria que tratan de hacer brillantes libros ilustrados, concentrándose, últimamente más que nunca, en la edición de clásicos de la literatura, lo que de algún modo facilita la lectura de algunos libros que absurdamente imponen respeto cuando en realidad los clásicos son los libros más contemporáneos que existen, quiero decir que son una fiesta de lo moderno, como se ve perfectamente en algunos de los libros que he seleccionado para estas páginas. Un día tendremos que ocuparnos del divertido tema de los escritores que dibujan.

 

Como es sabido, con el romanticismo, en Francia, los escritores empezaron a dibujar. La pluma corría por la hoja, se detenía, vacilaba, distraída o nerviosamente... A comienzos del XIX, comenzaron a aparecer escritores como Victor Hugo que demostraron ser, encima de grandes narradores, buenos pintores. Pero es que Victor Hugo era excesivo en todo y de hecho fue la excepción en la malévola regla que dice que los malos escritores dibujan bien, y viceversa. Me acuerdo ahora de los casos de Stendhal o de Balzac, que lo intentaron, pero se vio que eran dibujantes ridículos, infantiles, patéticos. El caso más interesante, que quedó al descubierto ante la nueva moda, fue el de los escritores que sabían dibujar demasiado bien (Mérimée, Alfred de Vigny, Théophile Gautier, los Goncourt, siempre los Goncourt) y que precisamente a causa de esto escribían rematadamente mal.

 

De esa época llama la atención especialmente Alfred de Musset, precursor de los cómics; componía para diversión suya y de amigos y familiares, historietas con conocidos personajes caricaturizados... Pero para terminar volvamos ya a los inefables hermanos Goncourt, los reyes del dibujo. De ellos son estas sabias palabras: "¡Dichoso oficio el del pintor comparado con el del hombre de letras! A la actividad feliz de la mano y del ojo en el primero, corresponde el suplicio del cerebro en el segundo. Y el trabajo que para uno es un goce para el otro es un completo sufrimiento...". Ni qué decir tiene que los Goncourt sufrieron toda la vida y todavía hoy su cerebro padece en la eternidad.

 

Enrique Vila-Matas

Imagem: Gustave Doré - Ilustração para a Divina Comédia - de Dante Alighieri

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"Viver sempre como pobre, mesmo tendo muito dinheiro"

Kahnweiler: uma mina de ouro en Paris

 

Manuel Vicent

 

Guiado por su olfato extraordinario y su deseo de ser marchante, compraba cuadros de pintores que empezaban: Picasso, Gris, Braque. En secreto les iba adelantando el dinero preciso hasta verlos salir de la miseria y adquirir la fama universal.

 

 Un joven judío alemán, de nombre Daniel-Henry Kahnweiler, nacido en 1884 en Mannheim, a la edad de 23 años alquiló un local de 16 metros cuadrados a un sastre polaco en la calle de Vignon, número 28, de París, pintó con sus propias manos el techo de blanco, cubrió las paredes con tela de sacos, colgó unos cuadros recién adquiridos en el Salón de los Independientes y esperó a que entrara el primer cliente en la tienda.

 

No tenía ninguna experiencia en el mundo del arte. Pudo haber sido agente de Bolsa, como su padre, o heredero de los negocios de minas de oro y diamantes en Sudáfrica, propiedad de uno de sus tíos, Sigmund Neumann, en cuya empresa radicada en Londres libró este vástago sus primeras armas financieras apenas abandonó la adolescencia. La noticia en otros webs webs en español en otros idiomas Con Picasso iba a las tabernas que le recordaban los burdeles de Barcelona. Atendía todas las necesidades de Juan Gris, de Braque...

 

Corría el año 1907. El dilema se le planteó cuando decidieron enviarle de representante del negocio a Johannesburgo. No le atraía en absoluto esa clase de riqueza que consiste en extraer un tesoro del fondo de la tierra con un trabajo de esclavos para volver a guardarlo a continuación en una cámara acorazada de los bancos bajo las pistolas de unos guardias. El oro nunca aflora. Siempre está enterrado, de una tumba a otra. Se sentía artista.

 

Abandonó las finanzas y la explotación de las minas de oro para ser músico, pero viéndose sin un talento extraordinario, un día se forjó una idea que no tuvo el valor de confesarla a sus padres y al principio la realizó de forma clandestina. Quería ser marchante de cuadros en París, con un propósito semejante al de director de orquesta. "Actuar como intermediario entre los artistas y el público, abrirles camino a los pintores jóvenes y evitarles las preocupaciones materiales. Si el oficio de marchante de cuadros tenía una justificación moral, sólo podía ser esa", dijo medio siglo después en la cima de la gloria. En 1904 la gente aún se burlaba o se crispaba antes los cuadros de los impresionistas.

 

El joven Kahnweiler cruzó un día el Faubourg de Saint Honoré cuando unos cocheros detenidos ante el escaparate de la galería de Durand-Ruel, donde se exhibía un Monet, gritaban: "Hay que quemar esta tienda que expone semejante porquería". No obstante los impresionistas ya comenzaban a ser caros, por eso decidió dedicarse a los pintores de su edad, objeto de toda clase de burlas. La gente iba al Salón de los Independientes a desternillarse de risa y a dar gritos de furor. En medio de aquel escarnio compró unos lienzos de Derain y de Vlaminck, pintores entonces desconocidos, que vivían en la miseria y poco después de colgarlos en las paredes de su tienda ambos artistas pasaron a saludarle. Fueron los primeros a quienes dio la mano. Pronto se corrió la voz por París de que había un jovenzuelo alemán que compraba cuadros de pintores que estaban empezando, un judío muy raro al que le gustaban las locuras de la última vanguardia.

 

Un día entró en su tienda un tipo con un aire poco común que le llamó la atención. Iba mal vestido, con los zapatos empolvados, era pequeño y rechoncho, con el pelo negro como un ala de cuervo volcada hasta la mejilla, pero tenía unos ojos que al marchante le parecieron magníficos. El visitante se puso a mirar los cuadros en silencio y se fue sin decir nada. Al día siguiente el joven misterioso volvió a la tienda de Kahnweiler acompañado de un señor mayor, gordo y barbudo. Miraron los cuadros y se fueron sin despedirse. El joven era Picasso y el viejo se llamaba Ambroise Vollard.

 

"Para que unos cuadros se vendan caros, han tenido que venderse muy baratos al principio", decía Picasso. Un historiador y crítico alemán, Wilhelm Uhde, amigo de Kahnweiler, le habló de aquel pintor y de un cuadro muy extraño que estaba pintando. Guiado por su olfato extraordinario este marchante novato dio muy pronto con la guarida que tenía en Montmartre. Había allí un tinglado de madera, que los artistas llamaban el Bateau Lavoir, por su semejanza con los barcos lavaderos de las riberas del Sena, que se extendía por la colina de la Rue de Ravignan, número 13. Estaba compuesto de compartimentos ocupados por pintores, que vivían en un grado de pobreza colindante ya de la miseria.

 

Por una de las ventanas Kahnweiler vio a un joven moreno que estaba comiendo una sopa hecha con huesos de aceituna triturados. Se llamaba Juan Gris y después hasta el final de su vida sería uno de sus mejores amigos. En otro habitáculo pintaba otro joven muy atractivo, que en el futuro llevaría de calle a las mujeres y a los coleccionistas. Se llamaba Georges Braque. En el camino por aquel infecto tinglado pasó junto a las ratoneras de Van Dongen y de un joven judío italiano, de nombre Modigliani, del escultor Brancusi, de Léger, del aduanero Rousseau y otros artistas desarrapados hasta llegar a la madriguera que le indicó una portera que vivía en la casa de al lado. La puerta estaba llena de papeles de avisos clavados con chinchetas: Eva te estera en Le Rat Mort... Derain ha pasado por aquí.

 

Le abrió Picasso en mangas de camisa, despechugado y con las piernas al aire. Estaba en compañía de una mujer muy hermosa, Fernande, y de un perro enorme llamado Frika. Al ver a aquel joven Picasso recordó lo que le había dicho Vollard aquel día en que visitaron su tienda. "Pablo, a este chico sus papás le han regalado una galería de arte por su primera comunión".

 

En el estudio de Picasso estaba un gran lienzo del que le habían hablado con escándalo. Era el cuadro Las señoritas de Aviñón. Kahnweiler observó el infecto desorden del estudio, no exento de ratas, y los papeles amontonados de dibujos que servían para encender la cocina y calentar la estufa en invierno. Derain le había comentado: "Cualquier día aparecerá Picasso ahorcado con una soga detrás de ese cuadro".

 

 

 

No obstante Kahnweiler veía que algunos lienzos estaban firmados con un je t'aime o ma jolie sobre bizcocho en forma de corazón, dedicado a su amante de turno. No le pareció que fuera tan desgraciado. Los pintores del Bateau Lavoir vivían en plena bohemia, se intercambiaban las amantes y modelos en aquel tinglado de madera donde reinaba una fiesta perenne de creación después de haber roto todas las reglas del arte.

 

Kahnweiler tuvo una inspiración.

 

De pronto le vino a la mente que aquel barco lavadero de Montmartre era una mina de oro y diamantes mucho más productiva que las de Sudáfrica y él tenía que ponerse al frente de esta empresa para sacar de la pobreza a aquellos mineros. Kahnweiler fue el que la descubrió bajo la razón social del cubismo y la hizo bendecir por los poetas Apollinaire o Max Jacob para darle prestigio. Allí en 1908 se celebró el famoso banquete, entre la burla y la admiración, en homenaje al ingenuo aduanero Rousseau, para resarcirle de la broma con que le impulsaron a robar una estatuilla egipcia del Louvre, que le costó la cárcel. Allí se celebró también el hecho de que a Max Jacob se le hubiera aparecido Cristo en un vagón de tren.

 

"Vivir siempre como un pobre teniendo mucho dinero". Esta fue siempre la divisa de Picasso. Con él iba Kahnweiler a las tabernas que le recordaban los burdeles de Barcelona. Con Vlaminck compartía una barca en el Sena. Les compraba cuadros. Atendía todas las necesidades de Juan Gris, de Braque, de sus mujeres y amantes para que pudieran pintar en libertad. No había contratos, ni publicidad, ni exposiciones al público. En secreto les iba adelantando el dinero preciso hasta verlos salir de la miseria y adquirir la fama universal. Como en las minas de oro y diamantes de Sudáfrica este descubridor de Picasso, de Braque y de Juan Gris se hizo también famoso. Escondió su tesoro durante la Primera Guerra Mundial y luego sobrevivió a la persecución de los nazis. Aquella tienda de la calle de Vignon evolucionó hasta transformarse en la galería Louise Leiris. Sin Kahnweiler no se podría entender la moderna historia del arte.

 

Manuel Vicent - Publicado em El País

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Sexta-feira, 03.06.11

Cloaca, a redundância dos curadores

 

Cloaca

 

 

A máquina Cloaca, nem mais bela nem mais feia do que milhares de máquinas espalhadas em plantas de produção industrial pelo mundo, é considerada uma "instalação de arte", de tecnologia biológica, inventada por Win Delvoye, colocada dentro de um museu de arte contemporânea e que produz merda genuína de maneira sistemática. O seu produto é tratado como múltiplo de “obra de arte” sendo empacotado, numerado e assinado pelo seu criador.

 

Uma curiosidade engenhosa, certamente, porém não a acredito como obra de arte – nem a instalação e tampouco sua produção como algo que seja surpreendente, magnífico ou encantador, que mereça ser colecionado ou exposto em outros museus.

 

Não basta estar colocada em ambiente considerado um espaço da arte para ser transformada automaticamente em obra de arte. Isso encontra justificativa forçada apenas na cabeça de certos curadores de museus contemporâneos que fazem malabarismos intelectuais para provar que alguma coisa é arte (quando não é) e para recusar maliciosamente obras-primas de notáveis artistas sobre os quais as pessoas não têm a mais remota dúvida sobre a qualidade e valor artístico do que foram capazes de criar, apenas para tentar posar de carrascos de uma Arte mais profunda e construtiva (esta bem mais difícil de ser realizada pela exigência de talento real e capacidade de elaboração das ideias).

 

Esses curadores são figuras deletérias e recalcadas, que pretendem negar a existência de grandes artistas apenas para se notabilizar mediaticamente pelo escândalo e pelo choque, que a sua iconoclastia artificial seria capaz de causar, sem ater-se que a função de um curador é dizer não - dizer não ao seu Conselho Consultivo quando este estiver equivocado e dizer não quando alguma ação negativa possa causar dano ao conjunto de seu acervo. Recusar obras fundamentais é causar prejuízo irreparável a qualquer acervo de museu significativo e privar o público ao acesso a essas obras, se recusadas.

 

Dizer não à doação de obras-primas originais de um artista paradigmático e, portanto, obras incomparáveis entre si, é negar a existência do artista e de tudo o que ele tenha realizado ao longo de sua carreira. É tentar anedoticamente transformar a História da Arte (como Hitler tentou fazer com seu Museu de Linz, recusando e destruindo obras de artistas)... É como tentar dizer que Picasso, Miró, Morandi, Vieira da Silva, Matisse, Bacon, Marie Laurencin, Serge Poliakof, Van Gogh, Karel Appel não tenham existido, o que, no mínimo, só pode ser considerado uma insensatez e uma patologia.

 

No entanto, esses curadores que se fazem difusores de ideias indefensáveis, autoritárias e chocantes, de uma certa forma colocam-se como espécies de redundâncias ao estranho deslocamento produzido pela máquina Cloaca num inesperado espaço artístico que eles, curadores e máquina, ocupam indevidamente como se fossem traiçoeiros cavalos ocos de madeira: as ideias e as ações derrisórias que são capazes de produzir têm a mesma consistência, conteúdo, odor e valor que o produto que sai das entranhas do artefato mecânico industrial.

 

Alfredo Aquino

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Sábado, 28.05.11

Uma agulha, três fios

Fotografia

 

 

Alexandre Schlee Gomes - Sem título - Fotografia (Pelotas RS Brasil), 2011

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Ponto de fuga

Perspectiva

 

"Quando o sol da cultura está baixo, sobre a linha do horizonte, até  mesmo os anões projetam sombras enormes". Karl Kraus

 

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Quinta-feira, 26.05.11

Origem do Mundo - Instalação Cubo Rubik

 

Instalação Invader - Cubo mágico (Cubo Rubik)

 

 

 

 

Invader - L'Origine du monde / Releitura L'Origine du Monde - Gustave Courbet - (Pintura óleo sobre tela - 1866) -  Instalação com Cubos Rubik, colados sobre painel de madeira  (Paris) 2006

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Mal-entendido ou bem-entendido?

Recusa de obras de Ianelli pelo MAM provoca mal-estar

 

Gabriela Longman

 

O testamento do artista previa doação de 16 trabalhos à instituição (MAM São Paulo) 

 

O Conselho do MAM São Paulo votou agora por ficar apenas com duas, rejeitando outras 14 obras Conhecido pela luminosidade de seus quadros, o artista Arcangelo Ianelli morreu em 2009. No testamento, deixou obras para 16 museus e instituições diversas – Masp, MAC-USP, Museu Afro Brasil e FAAP foram alguns dos contemplados pela doação.

 

Com 15 obras do pintor em seu acervo atual, o MAM-SP considerou as obras recebidas como "redundantes", à exceção de duas: o óleo sobre tela "Barcos", de 1961, e uma escultura sem título, de 1974.

 

A decisão, tomada pelo curador Felipe Chaimovich e pelo conselho de arte do museu, foi considerada ofensiva pela família do pintor.

 

"Essa justificativa é absurda", disse à Folha Katia Ianelli, filha do artista. "O conjunto contém esculturas, pastéis, relevo sobre madeira, tudo o que eles não têm no acervo. Fico triste porque meu pai era muito ligado ao MAM. Participou de Conselhos e organizou leilões beneficientes ao Museu."

 

Segundo ela, a atitude contrasta com a de todos os outros museus, que celebraram a chegada das obras. "A Pinacoteca programou uma exposição como forma de agradecer a doação."

 

Chaimovich afirmou que a importância do pintor é inegável, mas que o Conselho mantém sua posição sobre a redundância e a rejeição das obras de Ianelli. "Vamos entrar em contato com a família e desfazer o mal-entendido."

 

Gabriela Longman - Publicado pela Folha de São Paulo / UOL

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Arrogância de Museu

Conselho do MAM mantém rejeição a obras doadas por Ianelli

 

Claudio Leal

 

O conselho consultivo do Museu de Arte Moderna (MAM) de São Paulo, numa reunião realizada esta semana, decidiu manter a rejeição a 14 obras doadas em testamento pelo pintor e escultor Arcangelo Ianelli. Entretanto, o curador Felipe Chaimovich e os conselheiros  Annateresa Fabris, Luisa Duarte e Lauro Cavalcanti, resolveram reabrir o diálogo com a família do artista, para incorporar as duas únicas obras consideradas não-redundantes no acervo. O museu reconheceu um equívoco sobre o imposto de transmissão, um dos argumentos para a recusa.

 

Segundo Chaimovich, além de ver redundância nos quadros e esculturas, não haveria recursos para bancar a incorporação. Contestado pelo advogado da família Ianelli, que lembrou a não-incidência do imposto sobre os museus estaduais, o MAM admitiu o erro, após uma consulta ao setor jurídico.

 

Na sexta-feira (20), Terra Magazine revelou que, em novembro de 2010, o MAM recusou as obras de Ianelli, um dos maiores e mais valorizados pintores brasileiros contemporâneos.

 

Ele deixou, em testamento, cerca de 170 obras representativas de sua trajetória para o acervo de 16 museus nacionais e estrangeiros. Após a divulgação da recusa, os filhos do pintor, Katia e Rubens Ianelli, receberam dezenas de mensagens de solidariedade de artistas plásticos e professores universitários. A família não voltou a ser contatada por Chaimovich.

 

Oficialmente considerada uma "política curatorial", a rejeição acendeu uma polêmica. O poeta e crítico de arte Ferreira Gullar se revelou "perplexidade". A presidente do MAM, Milu Villela, permanece em silêncio sobre o episódio.

 

Segundo a assessoria do MAM, quem se pronuncia sobre a política de acervo é o conselho consultivo e a curadoria.

 

Numa carta à família, em 24 de novembro de 2010, o curador não havia detalhado os argumentos. "O Conselho Consultivo de Artes do Museu de Arte Moderna, em sua última reunião, posicionou-se contrariamente à entrada dessas obras no acervo do museu. Assim sendo, entendemos por bem recusar as mesmas", informou. O MAM foi o único museu brasileiro e internacional a recusar as obras deixadas em testamento.

 

Claudio Leal

 

 

 

 

(NE ardotempo - Teimosia e arrogância -

 

 

Não há o que dizer frente a este absurdo no qual todos no MAM, diretoria, conselheiros e curador são culpados e cúmplices. Creio que a proposta de aceitação de duas obras e rejeição de outras catorze obras é envenenada, pois supõe a aceitação resignada da ideia ABSURDA e RIDÍCULA da "redundância".

 

 Que absurdo é esse de "redundância" com relação a artistas sérios, originais e paradigmáticos? Que fazem "plágio" de si mesmos? Que "repetem" ideias pictóricas?

 

Isso se aplica ("redundância?!?) a Mark Rotko, a Calder, a Max Bill, a Frank Stella, a Ianelli, a Volpi, a MORANDI, a Charoux, a Tomie, a Emanoel Araújo, a Miró, a Nikki de St. Phalle, a Mira Schendel, a Vieira da Silva, a Torres-Garcia, a Frida Khalo, a Roy Lichenstein, a Hockney, a Tapiés, a Francis Bacon?

 

O acadêmico arrogante, mal intencionado, leniente, preguiçoso, irresponsável e estúpido que engendrou essa tese espantosa deveria ser sumariamente demitido!)

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publicado por ardotempo às 12:28 | Comentar | Adicionar
Segunda-feira, 23.05.11

Túnel - SAO

 

São Paulo

 

 

 

Giacomo Favretto - Fotografia - I Phone (São Paulo SP Brasil) , 2011

publicado por ardotempo às 15:20 | Comentar | Adicionar
Domingo, 22.05.11

Hotel de Charme - Usina Cultural

Hôtel des Isles - Barneville-Carteret

 

 

 

O charmoso e encantador Hôtel des Isles, animado com seu Festival Gastronômico Brasileiro - Brasil-Gourmet 2011, com chefs estrelas como Carla Pernambuco, Fernanda Azevedo, Gustavo Pinto, Caco Zanchi; várias atrações culturais como a importante mostra de fotografias CAMISA BRASILEIRA de Gilberto Perin. Tudo se movimenta em harmonia na orquestração elegante, segura e competente de Flavia de Mello e de José de Mello, mestres em receber seus hóspedes e agitar a vida cultural da Normandia. Um extraordinário lugar para se estar na França.

 

publicado por ardotempo às 00:16 | Comentar | Adicionar
Sábado, 21.05.11

Carta-aquarela

 

A sombra

 

 

 

Desenho Carta - Aquarela sobre papel de gravura 100% algodão - 2011

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Sexta-feira, 20.05.11

Um insulto à Arte

 

 

MAM-SP rejeita doação de 16 obras do pintor Arcangelo Ianelli

 

Claudio Leal

 

 

 

 

O Conselho Consultivo do MAM (Museu de Arte Moderna) de São Paulo rejeitou a doação de 16 obras do pintor e escultor Arcangelo Ianelli (1922-2009), um dos mais importantes e valorizados artistas plásticos brasileiros.

 

Ianelli doou, em testamento, cerca de 170 obras representativas de sua trajetória para o acervo de 13 museus nacionais e cinco estrangeiros. O museu paulista foi o único a rejeitar a oferta e surpreendeu os filhos do pintor, Katia e Rubens.

 

"Tinha redundância em relação ao que a gente já tem do Ianelli", argumenta o curador do MAM, Felipe Chaimovich, em conversa com Terra Magazine. Apenas duas das 16 peças foram consideradas como não-redundantes pelo conselho formado por Annateresa Fabris, Luisa Duarte e Lauro Cavalcanti. A recusa também se fundamenta na ausência de recursos para pagar o imposto de transmissão das obras. "Não tinha nada previsto em termos do nosso plano anual", acrescenta Chaimovich.

 

Na carta enviada à família, em 24 de novembro de 2010, o curador não mencionou as justificativas. "O Conselho Consultivo de Artes do Museu de Arte Moderna, em sua última reunião, posicionou-se contrariamente à entrada dessas obras no acervo do museu. Assim sendo, entendemos por bem recusar as mesmas", informa, secamente, o documento.

 

 

"Houve rejeição ao artista", diz família

 

 

Depois de ser informada sobre os fundamentos do veto, Katia Ianelli consultou o advogado da família e soube que os museus estaduais estão isentos do imposto de transmissão, o que favoreceu a Pinacoteca de São Paulo e o MASP. Ela contesta, mais energicamente, a tese da "redundância".

 

"A nossa primeira preocupação é ter, por impresso, todas as obras que cada museu possui. Na primeira carta da proposta de doação, eu fazia referência a esse cuidado: nós iríamos contemplar os museus com fases que eles não tivessem, com trabalhos inéditos", relata Katia.

 

A filha do pintor enumera as novidades para o acervo: "O MAM não tem nenhuma escultura do meu pai. Estavam propostas duas esculturas e mais uma escultura em madeira. Não tem nenhum pastel. Estavam propostos vários pastéis. Nenhuma transição e nenhuma arte figurativa. Eles não tinham nada dessas fases e dessas técnicas, como escultura de mármore, relevo pintado, que foi o último segmento da obra do artista, com 30 exemplares - e um deles estava indo para o MAM. Tudo que foi proposto era inédito. Se nada disso era contribuição, acho que eles não queriam mesmo a contribuição do artista, e não das obras".

 

A presidente do MAM e uma das principais acionistas do Itaú, Milú Villela, não retornou ao telefonema da reportagem. Em 20 de dezembro de 2010, ela recebeu uma carta dos filhos de Ianelli, na qual se lastima a recusa e se ressalta "a trajetória do artista nessa entidade", bem como a "história profissional, reconhecidamente destacada no panorama da arte moderna do Brasil". Arcangelo Ianelli integrou o conselho do MAM e ajudou a criar a biblioteca Paulo Mendes de Almeida. Por considerá-lo um dos seus museus favoritos, ele estimulava outros artistas a doarem suas obras para fortalecer o acervo.

 

 

"A gente entende que um museu deve saber o que é relevante. Parece que o MAM ficou sem memória e esquece um artista importante, que teve seu momento na arte brasileira", critica o artista plástico Rubens Ianelli. "Existe uma memória seletiva e um ponto de vista pessoal. Não é uma visão mais abrangente, mais aberta, sem tendências. É preciso ter essa história", reforça o filho.

 

O exemplo do MAM não foi seguido por outras instituições, que reagiram com entusiasmo ao testamento de Ianelli: o Museu Afro Brasil, a FAAP e o MASP, em São Paulo; o Museu Inimá de Paula, em Belo Horizonte; o Museu Oscar Niemeyer (MON), em Curitiba; e o MAC (Museu de Arte Contemporânea) de Niterói (RJ). Museus da Argentina, do Chile e da Colômbia serão contemplados. "Emanoel Araújo, diretor do Afro Brasil, vibrou com a notícia e foi o primeiro a incorporar as obras, em março de 2010", conta Katia.

 

O MAM do Rio de Janeiro ainda não se posicionou sobre a oferta.

 

Ferreira Gullar: "Estou perplexo"

 

O poeta e crítico de arte Ferreira Gullar, 80 anos, revela "perplexidade" com a decisão do museu. "A princípio, me parece um pouco estranho. Sem examinar, sem conhecer as razões, é difícil que uma instituição se negue a aceitar uma doação de um artista da importância do Ianelli. É, de fato, surpreendente. Eu era amigo do Ianelli, admirava a obra, sem dúvida eu lamento isso. É uma coisa estranha... Só digo a você que estou perplexo, perplexo, não estou entendendo nada".

 

Ao ser informado sobre as justificativas do museu, Ferreira Gullar reforça a estranheza. "Nenhuma instituição se nega a aceitar as obras de um artista da importância do Ianelli, porque isso enriquece o acervo. É estranho. O museu deve ter lá suas razões, mas, olhando assim de longe, eu confesso que estou surpreendido".

 

Com sentimento idêntico, o museólogo e ex-curador do Masp, Fábio Magalhães, destaca a importância artística de Ianelli. "Seguramente, seu papel histórico está crescendo com o tempo. Ele é um artista que ultrapassou as fronteiras do Brasil, passou as fronteiras internacionais. É indiscutível. Há depoimentos críticos sobre isso. Eu me surpreendo. Estou criando o Museu de Arte Contemporânea de Sorocaba (SP) e solicitei à família que doasse algumas obras, porque ainda não existia quando ele fez o testamento. Temos interesse em receber as obras de Ianelli", enfatiza.

 

Magalhães avalia que os museus podem se equivocar nas suas escolhas. Fundado em 1931, o Whitney Museum of American Art foi criado a partir de uma coleção de arte americana rejeitada pelo MoMA (The Museum of Modern Art), de Nova Iorque. "Depois, ele voltou atrás e hoje tem uma coleção americana enorme. Os museus também se equivocam e, muitas vezes, isso fica claro num pequeno período de tempo. É humano, as pessoas se equivocam", afirma o crítico. "Sei que a Katia Ianelli é muito atenciosa nessas coisas. Não acredito que ela não tenha visto cuidadosamente as obras existentes no museu para fazer uma doação criteriosa na cobertura de eventuais lacunas. A única coisa que posso ficar é surpreso".

 

O diplomata Gilberto Chateaubriand, dono de uma das maiores coleções privadas de arte brasileira, cedida em comodato ao MAM do Rio de Janeiro, prefere não opinar sobre o assunto, por não ter acompanhado de perto. Ele apenas relata que os museus internacionais costumam acolher essas doações, "desde que tenham disponibilidade física e interesse cultural". "Mas é o Ianelli, meu Deus!!!", diz.

 

 

 

 

O testamento

 

"A gente não sabia da existência do testamento", relembra Rubens Ianelli. "Ele já tinha uma lista. A doação era um consenso aqui em casa". Em conversas com os filhos, o pintor manifestava a vontade de doar as obras mais representativas para alguns museus brasileiros e internacionais, num esforço de permanência artística. O trabalho de catalogação, com o rastreamento de quadros e esculturas, já dura oito anos.

 

Após a morte de Ianelli, Katia iniciou a seleção, amparando-se nas indicações do pai. Rubens cuidou do encaminhamento das obras para os museus. Cada instituição recebeu uma pasta com a ficha catalográfica.
 
 

Em março de 2011, o MON de Curitiba realizou a primeira mostra dos 16 quadros doados por Ianelli (contava com apenas três obras dele no acervo). E exemplares da fase figurativa agora se encontram na Pinacoteca de São Paulo. A partir dos anos 60, Ianelli se dedicou ao abstracionismo informal e chegou, na década 70, à abstração geométrica, com retângulos e quadrados interpenetrados. No mercado, suas obras têm valorização crescente. Em agosto de 2009, num leilão realizado no centro de convenções B'Nai B'Rith, em São Paulo, os lances iniciais de dois de seus quadros foram R$ 200 mil e R$ 150 mil.

 

"Com o MAM, ele tinha uma relação diferente, porque participou desde o seu começo, criou a biblioteca que não existia e fez a sua primeira retrospectiva lá", recorda-se Rubens. O destino das 16 obras rejeitadas depende da Justiça e ainda não está definido. Um gesto raro de doação segue suspenso no ar, sem moldura e sem paredes. 

 

 

 

 

Claudio Leal

 

 

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Terça-feira, 03.05.11

Normandia

 

 

Exposição de Fotografias em Barneville-Carteret

 

CAMISA BRASILEIRA

Fotografias de Gilberto Perin

 

Bastidores do futebol - Vestiários e os segredos do futebol que ninguém vê

 

Hôtel des Isles - 9 boulevard Maritime

Normandia França

 

Dia 6 de maio de 2011

 

 

 

 

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Editor: ardotempo / AA

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