Jorge Luis Borges será colocado ao lado de Georges Orwell no panteão dos grandes escritores visionários ? Não que ele faça concorrência ao “
Big Brother is watching you” do famoso livro filosófico
1984 de Orwell, anunciando o totalitarismo de uma sociedade de vigilância repleta de câmeras de TV, ou que lhe tenha emprestado seu
Ministério da Verdade, o seu
Comissariado de Romances e a sua
Polícia do Amor, mesmo que ele até tenha sido muito sensível ao mundo da Oceania.
O profetismo de Borges se situa noutra esfera: ao lado da
revolução tecnológica da Internet. Pelo menos é o que parece refletir uma recente tendência em pesquisas, livros e teses em andamento nos Estados Unidos e na seqüência de opiniões emitidas por intelectuais tais como o lingüista Umberco Eco.
Borges é citado muitas vezes como o
pai da www (world.wide.web).
Isso é colocado claramente por Perla Sasson-Henry em
Borges 2.0 – from text to virtual words, que estabelece uma relação entre o
YouTube, os blogs, a
Wikipédia e certos textos de Borges na sugestão de que “
o leitor participa ativamente” e é retomada em
Cy-Borges, que foi bem recebido nos Estados Unidos.
O
New York Times, que dedica um artigo ao fenônemo, publicou alguns trechos da obra de Borges (especialmente de
Ficciones, 1944 ) que se apresentam como significativos quando comparados aos seus equivalentes de internet. Para a
Wikipedia, deve-se ler o que está descrito para a enciclopédia infinita de
Tlön, Uqbar, Orbis Tertius (1940); para o que é a idéia atual do blog e do arquivo permanente, isso já estaria presente em
Funes, el memorioso (1942); e para o projeto da biblioteca universal localizada no
Google, deve-se naturalmente colocar ao seu lado
La biblioteca de Babel (1941).
Pierre Assouline –
La Republique des Livres – Le Monde – 17.01.08