Pontal do Estaleiro - Porto Alegre RS - Brasil O comentário aí embaixo foi feito hoje em Portugal acerca de alguma proposta mirabolante de um complexo de construção em vista, com a promessa facilitadora de geração de empregos e de algum beneficio para a população da cidade. Não sei, não conheço o projeto (nem a que cidade se destina), que gera o comentário forâneo. Mas posso imaginar a cena...A publicidade é de luxo, principesca mesmo. Papel couchê de alta gramatura, verniz UV, tudo muito bem impresso em cores e com efeitos gráficos especiais. Se calhar, dourados e azuis. Isso funciona bem. Tudo muito bonito... Absurdamente essas propostas surgem, investidas em fortunas e muitas vezes ao arrepio das leis vigentes e de planos diretores e ambientais, contornando habilmente as limitações legais e os gabaritos pré-definidos. As construtoras sempre desejam mais, além das leis, além das licenças previstas e a especulação corre desenfreada. O comentário a seguir encaixa-se perfeitamente no caso do Pontal do Estaleiro, não? Lá como cá, aparentemente passa o mesmo filme...
José Simões - Publicado no Blog Der Terrorist
Frio, muito frio
Em Lisboa está muito frio, neva na serra. Nevasca extemporânea em Paris. O que aconteceu com o clima, com o tempo? Serão as guerras, os volumes incríveis de química no ar, os gases?...há montanhas de detritos despejados a anos nos rios, plásticos e muito óleo nos oceanos, o lixo nauseabundo do desperdício dos muito ricos, o lixo apodrecido e fétido dos que têm pouco. Todos contribuem para o caos. Enchentes nunca vistas em Santa Catarina, no Brasil, chuvas caudalosas intermitentes em época inesperada. Ciclone extratropical, estréia que agora aproxima certas áreas do Brasil, a verdadeira América (a revelada pelos portugueses e descrita por Vespuccio) àquela outra América, a do Norte, esta sim acostumada aos tufões e aos ciclones.
A poucos quilometros da inundada Santa Catarina, o Rio Grande do Sul sofre uma estiagem prolongada em meses, com perdas quase totais das colheitas nas lavouras. Quem explica?
No Brasil há grandes desmatamentos, perdas significativas de florestas, substituídas por pastagens e por cana de açúcar. E depois as grandes queimadas dos resíduos da cana no campo, por que é mais simples e mais barato fazer desse modo predatório, para a continuidade do plantio. Muita fumaça, grandes volumes de gases tóxicos na atmosfera. Governos sem planejamento a longo prazo, vive-se o dia após outro dia na busca do déficit zero, pouco importa o futuro e o ambiente. Festeja-se agora o investimento de bilhões de eucaliptos sobre os ricos mananciais de água pura e potável de uma região ainda muito fértil. Até quando? Quem explica o frio em demasia?
Fotos de Eric Tenin, do blog Paris Daily Photo
Escultura de Aristide Maillol coberta neve defronte ao Louvre; e o Champ de Mars, ao lado da Tour Eiffel.
O lado B do etanol
A cada ano a safra da cana-de-açúcar bate recordes na mesma proporção em que cresce sua importância estratégica para o País. Ao mesmo tempo, o avanço da monocultura e a mecanização da lavoura ameaçam ecossistemas como o Cerrado e a Mata Atlântica, enquanto as condições de trabalho continuam duríssimas. Acompanhar os impactos sociais, ambientais e trabalhistas deste setor é um dos objetivos do Centro de Monitoramento de Agrocombustíveis, braço da ONG Repórter Brasil, que publica o relatório O Brasil dos Agrocombustíveis, Cana-de-Açúcar 2008 no dia 7 de janeiro.
Para concluir o trabalho, ainda inédito, a equipe do CMA visitou estados como Alagoas, Pernambuco, Bahia, Maranhão, Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, São Paulo e Acre. “Estivemos tanto em áreas onde a cultura da cana está consolidada com modos de produção modernos ou arcaicos como nas áreas das novas fronteiras”, explica Marcel Gomes, coordenador da equipe. Além das visitas de campo, onde colhiam dados e relatos de quem vive da cana, os pesquisadores ouviram especialistas e cruzaram as informações mais recentes sobre o setor.
A apresentação começa pelo Centro-Sul, que concentra 87,8% de toda a cana produzida no País e detém 372 das 447 usinas cadastradas na Agência Nacional do Petróleo (ANP). Mais da metade delas, ou 230, estão no Estado de São Paulo.
O relatório alerta para a ameaça ao bioma do Cerrado. “Há várias usinas circundando a região do Pantanal”, diz Gomes. “Cada região estudada apresenta um tipo de problema ambiental, sempre como conseqüência do avanço da monocultura.”
No Nordeste, onde foi introduzida no século XVI, a cana ainda é produzida de maneira menos mecanizada que no Centro-Sul. O impacto disso aparece nas condições de trabalho e moradia dos canavieiros. Em março deste ano, uma força-tarefa do Ministério Público do Trabalho em Alagoas teve de autuar 12 das 15 usinas fiscalizadas. Uma ação do MPT em Pernambuco autuou o prefeito de Palmares, Beto da Usina. Aos jornais, o advogado José Hamilton Lins admitiu as condições precárias de trabalho, que considerou “parte de uma cultura colonial que precisa de tempo para se adequar às novas regras trabalhistas”.
Além do problema trabalhista, o relatório dimensiona a extensão dos impactos no meio ambiente. De acordo com o Centro de Pesquisas Ambientais do Nordeste (Cepan), a cana é responsável por 95% do desmatamento da Mata Atlântica na região. Em 2008, o Ibama multou 24 usinas por crime ambiental apenas em Pernambuco. A maior parte, por desrespeitar áreas de proteção permanente (APPs) ou por não preservar a reserva legal proporcional de mata nativa.
A terceira região abordada no relatório é a Amazônia, onde, ainda que a cana-de-açúcar não seja muito difundida, está em expansão. “O problema é que o zoneamento (ecológico-econômico) ainda não foi concluído. Mas existe uma pressão forte para que o governo barre a cana na região ao proibir que novas usinas se instalem”, prevê Gomes. Ainda há relativamente poucas usinas na região. Algumas, como a Álcool Verde, pertencente ao Grupo Farias, do deputado federal Augusto Farias (PTB-AL), foram embargadas pela Justiça. Apesar de instalada, está paralisada por apresentar diversos desacordos com a legislação ambiental.
Publicado em Carta Capital
A sexta extinção das espécies ainda pode ser evitada Texto de Christiane Galus – Le Monde A espécie humana, que já conta 6,7 bilhões de indivíduos, modificou de tal maneira seu meio ambiente que, nesta fase atual da sua história, ela já começou a atingir gravemente a biodiversidade das espécies terrestres e marinhas, e, no médio prazo, já está ameaçando a sua própria sobrevivência. A tal ponto que um número cada vez maior de cientistas não hesita a falar de uma sexta extinção, que será provocada pelas importantes alterações introduzidas pelo ser humano na natureza e no meio ambiente. Esta nova extinção deverá se suceder às cinco precedentes, que estabeleceram o ritmo da vida na Terra. A União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN), com sede na Suíça, que desenvolve estudos sobre 41.415 espécies (de um total de cerca de 1,75 milhão conhecidas) para elaborar sua lista vermelha anual, avalia que 16.306 dentre elas estão ameaçadas. Ou seja, um mamífero em cada quatro, uma ave em cada oito, um terço de todos os anfíbios e 70% de todas as plantas estudadas estão correndo perigo, segundo a UICN. Será ainda possível frear esse declínio das espécies, que corre o risco de ampliar-se quando o nosso planeta atingir 9,3 bilhões de humanos em 2050? Os biólogos americanos Paul Ehrlich e Robert Pringle (da universidade Stanford, na Califórnia) acreditam que isso seja possível, com a condição de que diversas medidas radicais sejam tomadas no plano mundial. Eles apresentam essas medidas num relatório publicado em 12 de agosto na revista especializada americana "Proceedings of The National Academy Of Sciences" (PNAS - Minutas da Academia Nacional de Ciências), numa edição que dedica um dossiê especial à sexta extinção. Em preâmbulo, os dois pesquisadores não hesitam a declarar que "o futuro da biodiversidade no decorrer dos próximos 10 milhões de anos será certamente determinado pelo que acontecerá nos próximos 50 a 100 anos que estão por vir, em função da atividade de uma única espécie, o Homo sapiens, que tem apenas 200.000 anos de existência". Se considerarmos que as espécies de mamíferos - às quais nós pertencemos - têm uma vida útil de um milhão de anos em média, isso coloca o Homo sapiens em meados da sua adolescência. Este "adolescente" mal-criado, "um narcisista que pressupõe a sua própria imortalidade, andou maltratando o ecossistema que o criou e o mantém em vida, sem preocupar-se com as conseqüências dos seus atos", acrescentam severamente Paul Ehrlich e Robert Pringle. Consumo Excessivo Segundo os dois cientistas, é preciso insuflar uma mudança de mentalidade profunda, de maneira que a humanidade enxergue a natureza com outros olhos. Isso porque "a idéia segundo a qual o crescimento econômico é independente da saúde do meio ambiente e que a humanidade pode expandir indefinidamente sua economia é uma perigosa ilusão", afirmam Ehrlich e Pringle. Para enfrentar esta perda de rumo, é preciso começar controlando o ritmo da expansão demográfica e diminuindo nosso consumo excessivo dos recursos naturais, dos quais uma boa parte serve para saciar gostos supérfluos e não para as necessidades fundamentais. Por exemplo, a piscicultura e a avicultura são atividades menos onerosas em termos de transportes e de consumo de combustível, do que a criação dos porcos e dos bois, dois animais reunidos no sacrossanto cheeseburger com bacon... Os autores do estudo propõem um outro ângulo de ataque: os serviços oferecidos pela biosfera são numerosos e gratuitos. Ela fornece as matérias-primas; os sistemas naturais de filtração das águas; a estocagem do carbono pelas florestas; a prevenção da erosão e das inundações pela vegetação, além da polinização das plantas por vários tipos de insetos e de pássaros. Por si só, esta última atividade movimenta cerca de US$ 1,5 bilhão (cerca de R$ 2,4 bilhões) nos Estados Unidos. Com isso, seria extremamente necessário avaliar os custos dos serviços oferecidos pela natureza e incluí-los nos cálculos econômicos, de tal modo que se possa garantir sua proteção. Para financiar o desenvolvimento das áreas protegidas, cujo número é insuficiente e que são excessivamente parceladas, Paul Ehrlich e Robert Pringle propõem que se recorra a fundações privadas dedicadas à conservação. Esta solução apresenta a vantagem de ser menos custosa para os contribuintes e permite gerar quantias importantes. Na Costa Rica, um fundo desse tipo, o Paz Con La Naturaleza, arrecadou US$ 500 milhões (cerca de R$ 800 milhões), quantia esta que servirá para financiar o sistema de conservação do país. É possível igualmente associar de maneira mais estreita pastores e agricultores nas tarefas de preservação da biodiversidade, evitando impor-lhes decisões em relação às quais eles não têm nenhum poder de controle, e com a condição de que a sua fonte de renda seja preservada. Esse processo deve ser viabilizado por meio de explicações e de uma melhor educação neste campo. Contudo, nada impede que esforços também sejam empenhados na restauração das áreas onde o habitat foi deteriorado. Entretanto, os dois pesquisadores se dizem preocupados diante do divórcio crescente, nos países industrializados, entre a população e a natureza, divórcio esse gerado pela utilização intensiva da multimídia. Eles constatam que, "nos Estados Unidos, a expansão das mídias eletrônicas coincidiu com uma diminuição importante das visitas nos parques nacionais, depois de um crescimento ininterrupto que durou cinqüenta anos".
Publicado no UOL
Biocombustíveis podem ser piores do que se pensava a princípio
Um relatório interno do Banco Mundial que vazou para o Guardian sustenta que os biocombustíveis talvez sejam responsáveis por até 75% da alta nos preços dos alimentos. Nem os grupos ambientais foram tão longe em suas estimativas.
Os preços de alimentos são um assunto prioritário na agenda para a reunião de cúpula da semana que vem do G-8 no Japão, e o presidente do Banco Mundial Robert Zoellick foi claro que é preciso tomar medidas. "O que estamos testemunhando não é um desastre natural - um tsunami silencioso ou uma tempestade perfeita", escreveu em uma carta na terça-feira aos principais líderes ocidentais. "É uma catástrofe feita pelo homem e, como tal, deve ser consertada pelas pessoas."
De acordo com um relatório confidencial do Banco Mundial obtido pelo Guardian na quinta-feira, a organização de Zoellick talvez tenha uma idéia bem clara de como deveria ser a solução: parar de produzir biocombustíveis.
O relatório alega que os biocombustíveis elevaram os preços dos alimentos mundiais em 75%, sendo responsáveis por mais da metade do salto de 140% nos preços desde 2002 dos alimentos examinados pelo estudo. O artigo do Guardian alega que o relatório, concluído em abril, não foi divulgado para não embaraçar o presidente americano George W. Bush.
Uma análise americana recentemente chegou à conclusão que apenas 3% do aumento dos preços dos alimentos poderiam ser atribuídos aos biocombustíveis.
O Banco Mundial na sexta-feira procurou limitar o impacto do vazamento do relatório. Um porta-voz da organização, que pediu para não ser identificado, disse ao Spiegel Online que o documento obtido pelo Guardian foi apenas um de vários relatórios internos sobre biocombustíveis não destinados à publicação. Ele salientou que o Banco Mundial há muito concordou que os biocombustíveis são um fator que pressiona os preços dos alimentos, mas que prefere não quantificar esse impacto.
"Os biocombustíveis sem dúvida contribuem significativamente", disse Zoellick nesta primavera, estabelecendo a linha do Banco Mundial sobre biocombustíveis. "Claramente, os programas na Europa e nos EUA que aumentaram a produção de biocombustíveis contribuíram para a maior demanda por alimentos."
Ainda assim, em um ambiente de crítica crescente aos biocombustíveis e cada vez mais preocupação com o impacto do salto nos preços de alimentos, o relatório é uma bomba. Ele estima que os aumentos nos custos de energia e de fertilizantes foram responsáveis por apenas 15% do aumento nos preços de alimentos. Nem mesmo o grupo ambiental Oxfam chegou tão longe quanto o relatório do Banco Mundial. Em um estudo divulgado no final de junho, chamado "Outra verdade inconveniente", a Oxfam disse que os biocombustíveis levaram mais de 30 milhões de pessoas à pobreza - mas que haviam contribuído com apenas 30% no aumento de preços globais de alimentos.
"Os líderes políticos parecem ter a intenção de suprimir e ignorar fortes evidências que os biocombustíveis são um importante fator nos recentes aumentos de preços de alimentos", disse o assessor de política da Oxfam, Robert Bailey, ao Guardian, na sexta-feira.
A demanda por biocombustíveis aumentou significativamente nos últimos anos, na medida em que os países industrializados procuraram cortar as emissões de CO2 utilizando fontes de energia renováveis. Em abril, Londres introduziu novos regulamentos exigindo que 2,5% do combustível vendido nas bombas no Reino Unido fosse composto de biocombustível e que essa mistura aumentasse para 5% em 2010. A União Européia estabeleceu para si mesma a meta de acrescentar 10% de biocombustível aos combustíveis até 2020 em todo o continente. O presidente dos EUA, George W. Bush, também se apegou ao etanol como forma de reduzir a dependência dos EUA em petróleo estrangeiro.
Em um relatório publicado na terça-feira pelo Banco Mundial, em preparação para a reunião de cúpula da próxima semana do G-8, a organização recomendou que o grupo promovesse "ações nos EUA e na Europa para diminuir subsídios, mandatos e tarifas sobre biocombustíveis que derivam do milho e de sementes".
As críticas ao combustível feito de grãos e capim não giram apenas em torno dos preços de alimentos. Os produtores nos países em desenvolvimento estão derrubando florestas e drenando mangues - ambos valiosos por sua habilidade de absorver CO2 da atmosfera - para abrir espaço para plantações de biocombustível. Assim, muitos duvidam que o produto seja neutro em carbono. E mais, alguns fertilizantes usados na produção de grãos para biocombustíveis liberam óxido nitroso na atmosfera, um gás de efeito estufa que é até 300 vezes mais nocivo do que o CO2.
O relatório do Banco Mundial obtido pelo Guardian diz que a produção de biocombustíveis coloca pressão sobre os preços de alimentos tirando os grãos da produção de alimentos, estimulando os agricultores a separarem terras para plantações de biocombustíveis e gerando especulação de grãos nos mercados financeiros.
O problema tornou-se tão ruim que o Representante Especial da ONU pelo Direito ao Alimento, Jean Ziegler, chamou os biocombustíveis de um "crime contra a humanidade" no início desta primavera.
Publicado por Der Spiegel / UOL
Fotografia de Mauro Holanda
Agora
O agora passa muito rápido.
©Jorge Luis Borges / Borges Verbal, Emecê Editores – Buenos Aires Argentina
Foto recente da devastação em curso na floresta amazônica, Brasil - 2008
O verde de Ipanema contra o maior plantador de soja.
Quem vencerá?
O funcionário nomeado de um lado, com as leis, com as possibilidades de multas pecuniárias previstas, com as concessões de licenças ambientais, com as pressões do chefe. Do outro lado, o imenso poder econômico e a ação em curso, as liminares, os advogados, as queimadas e as motosserras em movimento, à revelia dos procedimentos burocráticos...
No centro, a grande floresta, a expectativa da população e a saúde do planeta.
No final sabemos quem vencerá... (e quando acontecer, podemos imaginar o que permanecerá, mesmo que por aqui já não exista mais ninguém para testemunhar o final).
Comentário de Ricardo Noblat
Como pôde a frágil Marina Silva resistir durante cinco anos às pressões para relaxar seus cuidados com a preservação do meio ambiente?
Primeiro porque de frágil ela só tem a aparência. Segundo porque as pressões que forçaram sua retirada só começaram a se tornar indigestas quando acabou a Era Palocci na economia e teve início a Era Dilma.
O que marcou a mudança das eras não foi a demissão de Palocci do Ministério da Fazenda sob a suspeita de ter mandado quebrar o sigilo bancário de um caseiro que o viu onde ele jurou que nunca esteve. Foi a decisão tomada por Lula de angariar fama como tocador de obras.
Era preciso remover entraves à execução do Programa de Aceleração do Crescimento. E um deles atendia pelo nome de Marina, entrincheirada no Ministério do Meio Ambiente, aliada de bagres e dourados, e adepta da máxima de “todo o desenvolvimento possível com o máximo de floresta em pé”.
A paciência de Lula com ela quase se esgotou em abril do ano passado. “Se pudesse, eu acabaria com o Ibama”, desabafou Lula ao saber que ainda não fora concedida a licença ambiental para a construção de duas usinas hidroelétricas no rio Madeira.
Quer dizer então que Lula gostaria de ver Marina pelas costas?
Não. Uma eventual demissão dela pegaria mal para a imagem do governo aqui e lá fora. E serviria para santificar Marina ainda em vida – Santa Marina, a protetora das florestas e de tudo que vive à sua sombra.
Uma coisa era contar com Marina como subordinada, inibida em expor publicamente sua contrariedade com determinadas ações do governo. Outra seria tê-la de volta ao Senado com inteira liberdade para defender seus pontos de vista ali e em qualquer parte. Lula queria que Marina fosse, digamos, apenas mais flexível.
O fato é que Lula foi surpreendido com a deserção de Marina. E com a hora e a forma escolhidas por ela para desertar.
Dá para acreditar no que ele disse na semana passada diante da primeira-ministra alemã Angela Merckel: “Então a companheira Marina se foi e a política dela continua”.
Por que Marina daria no pé se a política dela não será revista? De resto, em um regime político como o nosso, não existe política de ministro e sim de presidente.
A metamorfose ambulante que preside o país está, hoje, mais para Blairo Maggi, governador do Mato Grosso, onde o desmatamento cresce a galope, do que para Marina, assim apresentada por ele quando a empossou: “É o primeiro sinal que transmito ao mundo de que a Amazônia agora será tratada de forma diferente".
Publicado no Blog do Noblat - 19.05.2008
Ambiente ameaçado
"A queda de Marina "é um sinal de alerta", anotou a chanceler da Alemanha, Ângela Merkel, ao expressar um sentimento mundial sobre o episódio e seus prováveis desdobramentos. Evidência de que não caiu no esquecimento total, o discurso feito por Lula, em dezembro de 2002, ao anunciar a ardente ecologista - herdeira dos ideais e da ação do líder seringueiro Chico Mendes em relação ao desenvolvimento sustentável e harmônico com a preservação ecológica - como sua primeira escolha pessoal na formação do ministério que então se instalava: "O primeiro sinal que transmito ao mundo de que a Amazônia agora será tratada de forma diferente", prometia.
Com Marina agora fora do jogo, "quem ganha é sua rival no governo, a superministra Dilma Rousseff, mão direita de Lula e encarregada de pôr em marcha o plano de crescimento econômico acelerado que choca de frente com a proteção do meio ambiente", como pontuou o influente diário espanhol "El País". A observação é polêmica, mas nem de longe parece fora de propósito, diante dos sinais destes dias. Vale prestar mais atenção no que vem por aí. "
Publicado no Blog do Noblat
Foto de Mário Castello
Ambiente
Não se sabe o que estava sendo feito. Sabe-se que a defesa do meio ambiente é algo abstrato, de caráter filosófico, ético e do interesse pela sobrevivência da Humanidade. Do outro lado, em confronto direto, estão os interesses pragmáticos, dotados da tangibilidade real em CNPJs, estão os interesses econômicos imediatos, estão as grandes corporações, os mega-investimentos, os fazendeiros, a indústria do agronegócio, o etanol, os loobys, as poderosas bancadas ruralistas de senadores e deputados no Congresso Nacional, as largas extensões desmatadas na busca da mais alta rentabilidade.
Temos visto que as queimadas e a devastação no Mato Grosso, no Pará e no Amazonas aumentaram nos últimos tempos, travestidas da necessidade de progresso e do crescimento econômico do País, por estimulos concedidos pelas políticas governamentais. A floresta tem sofrido, portanto, um ataque avassalador na expansão dessa fronteira agrícola.
Com a saída melancólica da ministra do Meio Ambiente Marina Silva, uma voz quase solitária no governo, em defesa do ambiente, sabe-se apenas que tudo vai piorar.
"Minha permanência não estava mais agregando", afirmou a ex-ministra. Para ela, seu trabalho no ministério encontrava-se "estagnado". "Pelo menos comigo, não sairiam mais as políticas necessárias. É preciso movimentar as pedras que não estavam se movimentando. Espero que o movimento agora seja positivo".