Segunda-feira, 11.05.09

Vale mais que a saúde de todos

País perde controle dos transgênicos
 
Agnaldo Brito
 
 
 
A primeira safra de milho geneticamente modificado no Brasil ampliará o descontrole do país em relação ao controverso uso desse tipo de produto na indústria de alimentos.
 
Além de já representar uma ameaça de contaminação a produtores de variedades não transgênicas, o milho transgênico deverá contaminar milhões de toneladas do grão convencional devido à decisão dos produtores de não separar os dois tipos de cultivo.
 
A reportagem da Folha visitou regiões produtoras no interior do Paraná e ouviu de produtores e cooperativas que não existe estrutura suficiente para colheita, transporte e armazenagem da produção transgênica separada da convencional.
 
A Lei de Biossegurança não exige a separação da produção, mas é clara ao exigir a fiscalização de todos esses processos, o que não ocorre. Responsável por esse controle, o Ministério da Agricultura diz que ele é realizado, embora os produtores neguem.
 
Edmundo Klotz, presidente da Abia (Associação Brasileira das Indústrias da Alimentação), afirma que a indústria está sendo obrigada a controles de matéria-prima que não são de responsabilidade dela. 
 
A falta de controle confronta o direito dos consumidores de saber o que consomem e pode dificultar as exportações de produtos agrícolas e pecuários.
 
Agnaldo Brito - Publicado na Folha de São Paulo / UOL
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Domingo, 05.04.09

A Antártida está derretendo

Ponte de gelo na Antártida se rompe e causa temores sobre clima
 
Pesquisadores estão preocupados com efeitos das mudanças climáticas.
 
Uma ponte de gelo que liga um bloco do tamanho da Jamaica a duas ilhas da Antártida rompeu-se, informaram pesquisadores neste final de semana. Cientistas afirmam que o rompimento pode indicar que o bloco Wilkins, como é conhecido o território, flutuará livremente, o que seria um sinal das mudanças provocadas pelo aquecimento global.
 
O bloco Wilkins, que fica no oeste da Península Antártica, está diminuindo de tamanho desde a década de 1990. Para os pesquisadores, a ponte de gelo era uma barreira importante que mantinha o bloco ligado à região. O rompimento permitiria que o bloco Wilkins se movimentasse livremente entre as ilhas de Charcot e Latady.
 
 
Fotos da Agência Espacial Europeia haviam demonstrado que a ponte estava começando a se romper. O pesquisador David Vaughan, do instituto British Antarctic Survey, colocou um GPS na ponte de gelo em janeiro e está monitorando o movimento do bloco Wilkins.
 
"Nós sabemos que [o bloco de gelo Wilkins] está completamente ou muito estável desde os anos 30, e depois ele começou a diminuir de tamanho nos anos 90", disse ele à BBC.
 
"O fato de que ele está diminuindo e agora perdeu conexão com uma das ilhas é uma indicação forte de que o aquecimento da Antártica está tendo efeito em outro bloco de gelo.
 
O rompimento não deve ter impacto direto no nível dos mares, porque o gelo está flutuando e não derreteu, mas cientistas estão preocupados com as mudanças no clima da Antártida.
Nos últimos 50 anos, a península tem sido uma das que mais está se aquecendo no planeta. Muitas das camadas de gelo diminuíram no período e seis delas se romperam por completo - Prince Gustav, Larsen Inlet, Larsen A, Larsen B, Wordie, Muller e Jones.
 
Pesquisas mostram que quando os blocos se rompem, as geleiras e as massas degelo começam a se movimentar em direção ao Oceano. É esse gelo que pode aumentar o nível do mar, mas ainda há muitas dúvidas sobre a forma como esses fenômenos estão ocorrendo.
Esses fenômenos não foram incluídos no relatório do Painel Intergovernamental para Mudanças Climáticas (IPCC, na sigla em inglês), que fez projeções sobre o aumento do nível do mar no futuro. O texto de 2007 do IPCC diz que as dinâmicas do gelo ainda são pouco compreendidas pelos cientistas.
 
Publicado no blog BBC Brasil
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Segunda-feira, 02.02.09

Lá como cá...

Pontal do Estaleiro - Porto Alegre RS - Brasil

O comentário aí embaixo foi feito hoje em Portugal acerca de alguma proposta mirabolante de um complexo de construção em vista, com a promessa facilitadora de geração de empregos e de algum beneficio para a população da cidade. Não sei, não conheço o projeto (nem a que cidade se destina), que gera o comentário forâneo. Mas posso imaginar a cena...A publicidade é de luxo, principesca mesmo. Papel couchê de alta gramatura, verniz UV, tudo muito bem impresso em cores e com efeitos gráficos especiais. Se calhar, dourados e azuis. Isso funciona bem.

Tudo muito bonito...

Absurdamente essas propostas surgem, investidas em fortunas e muitas vezes ao arrepio das leis vigentes e de planos diretores e ambientais, contornando habilmente as limitações legais e os gabaritos pré-definidos. As construtoras sempre desejam mais, além das leis, além das licenças previstas e a especulação corre desenfreada. O comentário a seguir encaixa-se perfeitamente no caso do Pontal do Estaleiro, não? Lá como cá, aparentemente passa o mesmo filme...

 

 
Por falar em argumentos pouco sérios
 
Como já lá existia uma antiga fábrica, nada melhor para requalificar a zona que a construção de um centro comercial com um parque de estacionamento à volta para aí tamanho do estádio da Luz e servido por uma via rápida; "pequenas alterações", dizem.
 
Nunca lhes passou pela cabeça que a melhor maneira de requalificar a zona fosse pura e simplesmente demolir a fábrica, limpar os terrenos e devolvê-los à natureza e às populações, como forma de corrigir uma barbaridade ambiental e aumentar a qualidade (de) vida.
 
Se calhar passar pela cabeça passou, mas e depois a joint-venture construção civil/ partido que é sempre muito útil para financiamentos vários em campanhas várias?
 

José Simões - Publicado no Blog Der Terrorist 

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Terça-feira, 13.01.09

O clima mudou. Quem explica?

Frio, muito frio

 

Em Lisboa está muito frio, neva na serra. Nevasca extemporânea em Paris. O que aconteceu com o clima, com o tempo? Serão as guerras, os volumes incríveis de química no ar, os gases?...há montanhas de detritos despejados a anos nos rios, plásticos e muito óleo nos oceanos, o lixo nauseabundo do desperdício dos muito ricos, o lixo apodrecido e fétido dos que têm pouco. Todos contribuem para o caos. Enchentes nunca vistas em Santa Catarina, no Brasil, chuvas caudalosas intermitentes em época inesperada. Ciclone extratropical, estréia que agora aproxima certas áreas do Brasil, a verdadeira América (a revelada pelos portugueses e descrita por Vespuccio) àquela outra América, a do Norte, esta sim acostumada aos tufões e aos ciclones.

 

 

A poucos quilometros da inundada Santa Catarina, o Rio Grande do Sul sofre uma estiagem prolongada em meses, com perdas quase totais das colheitas nas lavouras. Quem explica?

No Brasil há grandes desmatamentos, perdas significativas de florestas, substituídas por pastagens e por cana de açúcar. E depois as grandes queimadas  dos resíduos da cana no campo, por que é mais simples e mais barato fazer desse modo predatório, para a continuidade do plantio. Muita fumaça, grandes volumes de gases tóxicos na atmosfera. Governos sem planejamento a longo prazo, vive-se o dia após outro dia na busca do déficit zero, pouco importa o futuro e o ambiente. Festeja-se agora o investimento de bilhões de eucaliptos sobre os ricos mananciais de água pura e potável de uma região ainda muito fértil. Até quando? Quem explica o frio em demasia?

 

 

Fotos de Eric Tenin, do blog Paris Daily Photo

Escultura de Aristide Maillol coberta neve defronte ao Louvre; e o Champ de Mars, ao lado da Tour Eiffel.

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Terça-feira, 23.12.08

Riscos para a floresta, para os humanos e para os animais

O lado B do etanol 

 

A cada ano a safra da cana-de-açúcar bate recordes na mesma proporção em que cresce sua importância estratégica para o País. Ao mesmo tempo, o avanço da monocultura e a mecanização da lavoura ameaçam ecossistemas como o Cerrado e a Mata Atlântica, enquanto as condições de trabalho continuam duríssimas. Acompanhar os impactos sociais, ambientais e trabalhistas deste setor é um dos objetivos do Centro de Monitoramento de Agrocombustíveis, braço da ONG Repórter Brasil, que publica o relatório O Brasil dos Agrocombustíveis, Cana-de-Açúcar 2008 no dia 7 de janeiro. 

Para concluir o trabalho, ainda inédito, a equipe do CMA visitou estados como Alagoas, Pernambuco, Bahia, Maranhão, Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, São Paulo e Acre. “Estivemos tanto em áreas onde a cultura da cana está consolidada com modos de produção modernos ou arcaicos como nas áreas das novas fronteiras”, explica Marcel Gomes, coordenador da equipe. Além das visitas de campo, onde colhiam dados e relatos de quem vive da cana, os pesquisadores ouviram especialistas e cruzaram as informações mais recentes sobre o setor. 

A apresentação começa pelo Centro-Sul, que concentra 87,8% de toda a cana produzida no País e detém 372 das 447 usinas cadastradas na Agência Nacional do Petróleo (ANP). Mais da metade delas, ou 230, estão no Estado de São Paulo. 

O relatório alerta para a ameaça ao bioma do Cerrado. “Há várias usinas circundando a região do Pantanal”, diz Gomes. “Cada região estudada apresenta um tipo de problema ambiental, sempre como conseqüência do avanço da monocultura.” 

No Nordeste, onde foi introduzida no século XVI, a cana ainda é produzida de maneira menos mecanizada que no Centro-Sul. O impacto disso aparece nas condições de trabalho e moradia dos canavieiros. Em março deste ano, uma força-tarefa do Ministério Público do Trabalho em Alagoas teve de autuar 12 das 15 usinas fiscalizadas. Uma ação do MPT em Pernambuco autuou o prefeito de Palmares, Beto da Usina. Aos jornais, o advogado José Hamilton Lins admitiu as condições precárias de trabalho, que considerou “parte de uma cultura colonial que precisa de tempo para se adequar às novas regras trabalhistas”. 

Além do problema trabalhista, o relatório dimensiona a extensão dos impactos no meio ambiente. De acordo com o Centro de Pesquisas Ambientais do Nordeste (Cepan), a cana é responsável por 95% do desmatamento da Mata Atlântica na região. Em 2008, o Ibama multou 24 usinas por crime ambiental apenas em Pernambuco. A maior parte, por desrespeitar áreas de proteção permanente (APPs) ou por não preservar a reserva legal proporcional de mata nativa. 

A terceira região abordada no relatório é a Amazônia, onde, ainda que a cana-de-açúcar não seja muito difundida, está em expansão. “O problema é que o zoneamento (ecológico-econômico) ainda não foi concluído. Mas existe uma pressão forte para que o governo barre a cana na região ao proibir que novas usinas se instalem”, prevê Gomes. Ainda há relativamente poucas usinas na região. Algumas, como a Álcool Verde, pertencente ao Grupo Farias, do deputado federal Augusto Farias (PTB-AL), foram embargadas pela Justiça. Apesar de instalada, está paralisada por apresentar diversos desacordos com a legislação ambiental.

 

 

 

Publicado em Carta Capital

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Quinta-feira, 14.08.08

Extinção

A sexta extinção das espécies ainda pode ser evitada

 

Texto de Christiane Galus – Le Monde

 

A espécie humana, que já conta 6,7 bilhões de indivíduos, modificou de tal maneira seu meio ambiente que, nesta fase atual da sua história, ela já começou a atingir gravemente a biodiversidade das espécies terrestres e marinhas, e, no médio prazo, já está ameaçando a sua própria sobrevivência. A tal ponto que um número cada vez maior de cientistas não hesita a falar de uma sexta extinção, que será provocada pelas importantes alterações introduzidas pelo ser humano na natureza e no meio ambiente. Esta nova extinção deverá se suceder às cinco precedentes, que estabeleceram o ritmo da vida na Terra.

 

A União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN), com sede na Suíça, que desenvolve estudos sobre 41.415 espécies (de um total de cerca de 1,75 milhão conhecidas) para elaborar sua lista vermelha anual, avalia que 16.306 dentre elas estão ameaçadas. Ou seja, um mamífero em cada quatro, uma ave em cada oito, um terço de todos os anfíbios e 70% de todas as plantas estudadas estão correndo perigo, segundo a UICN.

 

Será ainda possível frear esse declínio das espécies, que corre o risco de ampliar-se quando o nosso planeta atingir 9,3 bilhões de humanos em 2050? Os biólogos americanos Paul Ehrlich e Robert Pringle (da universidade Stanford, na Califórnia) acreditam que isso seja possível, com a condição de que diversas medidas radicais sejam tomadas no plano mundial. Eles apresentam essas medidas num relatório publicado em 12 de agosto na revista especializada americana "Proceedings of The National Academy Of Sciences" (PNAS - Minutas da Academia Nacional de Ciências), numa edição que dedica um dossiê especial à sexta extinção.

 

Em preâmbulo, os dois pesquisadores não hesitam a declarar que "o futuro da biodiversidade no decorrer dos próximos 10 milhões de anos será certamente determinado pelo que acontecerá nos próximos 50 a 100 anos que estão por vir, em função da atividade de uma única espécie, o Homo sapiens, que tem apenas 200.000 anos de existência". Se considerarmos que as espécies de mamíferos - às quais nós pertencemos - têm uma vida útil de um milhão de anos em média, isso coloca o Homo sapiens em meados da sua adolescência. Este "adolescente" mal-criado, "um narcisista que pressupõe a sua própria imortalidade, andou maltratando o ecossistema que o criou e o mantém em vida, sem preocupar-se com as conseqüências dos seus atos", acrescentam severamente Paul Ehrlich e Robert Pringle.

 

 

Consumo Excessivo

 

Segundo os dois cientistas, é preciso insuflar uma mudança de mentalidade profunda, de maneira que a humanidade enxergue a natureza com outros olhos. Isso porque "a idéia segundo a qual o crescimento econômico é independente da saúde do meio ambiente e que a humanidade pode expandir indefinidamente sua economia é uma perigosa ilusão", afirmam Ehrlich e Pringle. Para enfrentar esta perda de rumo, é preciso começar controlando o ritmo da expansão demográfica e diminuindo nosso consumo excessivo dos recursos naturais, dos quais uma boa parte serve para saciar gostos supérfluos e não para as necessidades fundamentais. Por exemplo, a piscicultura e a avicultura são atividades menos onerosas em termos de transportes e de consumo de combustível, do que a criação dos porcos e dos bois, dois animais reunidos no sacrossanto cheeseburger com bacon...

 

Os autores do estudo propõem um outro ângulo de ataque: os serviços oferecidos pela biosfera são numerosos e gratuitos. Ela fornece as matérias-primas; os sistemas naturais de filtração das águas; a estocagem do carbono pelas florestas; a prevenção da erosão e das inundações pela vegetação, além da polinização das plantas por vários tipos de insetos e de pássaros. Por si só, esta última atividade movimenta cerca de US$ 1,5 bilhão (cerca de R$ 2,4 bilhões) nos Estados Unidos. Com isso, seria extremamente necessário avaliar os custos dos serviços oferecidos pela natureza e incluí-los nos cálculos econômicos, de tal modo que se possa garantir sua proteção.

 

Para financiar o desenvolvimento das áreas protegidas, cujo número é insuficiente e que são excessivamente parceladas, Paul Ehrlich e Robert Pringle propõem que se recorra a fundações privadas dedicadas à conservação. Esta solução apresenta a vantagem de ser menos custosa para os contribuintes e permite gerar quantias importantes. Na Costa Rica, um fundo desse tipo, o Paz Con La Naturaleza, arrecadou US$ 500 milhões (cerca de R$ 800 milhões), quantia esta que servirá para financiar o sistema de conservação do país. É possível igualmente associar de maneira mais estreita pastores e agricultores nas tarefas de preservação da biodiversidade, evitando impor-lhes decisões em relação às quais eles não têm nenhum poder de controle, e com a condição de que a sua fonte de renda seja preservada. Esse processo deve ser viabilizado por meio de explicações e de uma melhor educação neste campo. Contudo, nada impede que esforços também sejam empenhados na restauração das áreas onde o habitat foi deteriorado.

 

Entretanto, os dois pesquisadores se dizem preocupados diante do divórcio crescente, nos países industrializados, entre a população e a natureza, divórcio esse gerado pela utilização intensiva da multimídia. Eles constatam que, "nos Estados Unidos, a expansão das mídias eletrônicas coincidiu com uma diminuição importante das visitas nos parques nacionais, depois de um crescimento ininterrupto que durou cinqüenta anos".

 

Publicado no UOL  

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Domingo, 06.07.08

Biocombustível

Biocombustíveis podem ser piores do que se pensava a princípio

 

Um relatório interno do Banco Mundial que vazou para o Guardian sustenta que os biocombustíveis talvez sejam responsáveis por até 75% da alta nos preços dos alimentos. Nem os grupos ambientais foram tão longe em suas estimativas.

 

Os preços de alimentos são um assunto prioritário na agenda para a reunião de cúpula da semana que vem do G-8 no Japão, e o presidente do Banco Mundial Robert Zoellick foi claro que é preciso tomar medidas. "O que estamos testemunhando não é um desastre natural - um tsunami silencioso ou uma tempestade perfeita", escreveu em uma carta na terça-feira aos principais líderes ocidentais. "É uma catástrofe feita pelo homem e, como tal, deve ser consertada pelas pessoas."

 

De acordo com um relatório confidencial do Banco Mundial obtido pelo Guardian na quinta-feira, a organização de Zoellick talvez tenha uma idéia bem clara de como deveria ser a solução: parar de produzir biocombustíveis.

 

O relatório alega que os biocombustíveis elevaram os preços dos alimentos mundiais em 75%, sendo responsáveis por mais da metade do salto de 140% nos preços desde 2002 dos alimentos examinados pelo estudo. O artigo do Guardian alega que o relatório, concluído em abril, não foi divulgado para não embaraçar o presidente americano George W. Bush.

 

Uma análise americana recentemente chegou à conclusão que apenas 3% do aumento dos preços dos alimentos poderiam ser atribuídos aos biocombustíveis.

 

O Banco Mundial na sexta-feira procurou limitar o impacto do vazamento do relatório. Um porta-voz da organização, que pediu para não ser identificado, disse ao Spiegel Online que o documento obtido pelo Guardian foi apenas um de vários relatórios internos sobre biocombustíveis não destinados à publicação. Ele salientou que o Banco Mundial há muito concordou que os biocombustíveis são um fator que pressiona os preços dos alimentos, mas que prefere não quantificar esse impacto.

 

"Os biocombustíveis sem dúvida contribuem significativamente", disse Zoellick nesta primavera, estabelecendo a linha do Banco Mundial sobre biocombustíveis. "Claramente, os programas na Europa e nos EUA que aumentaram a produção de biocombustíveis contribuíram para a maior demanda por alimentos."

 

Ainda assim, em um ambiente de crítica crescente aos biocombustíveis e cada vez mais preocupação com o impacto do salto nos preços de alimentos, o relatório é uma bomba. Ele estima que os aumentos nos custos de energia e de fertilizantes foram responsáveis por apenas 15% do aumento nos preços de alimentos. Nem mesmo o grupo ambiental Oxfam chegou tão longe quanto o relatório do Banco Mundial. Em um estudo divulgado no final de junho, chamado "Outra verdade inconveniente", a Oxfam disse que os biocombustíveis levaram mais de 30 milhões de pessoas à pobreza - mas que haviam contribuído com apenas 30% no aumento de preços globais de alimentos.

 

"Os líderes políticos parecem ter a intenção de suprimir e ignorar fortes evidências que os biocombustíveis são um importante fator nos recentes aumentos de preços de alimentos", disse o assessor de política da Oxfam, Robert Bailey, ao Guardian, na sexta-feira.

 

A demanda por biocombustíveis aumentou significativamente nos últimos anos, na medida em que os países industrializados procuraram cortar as emissões de CO2 utilizando fontes de energia renováveis. Em abril, Londres introduziu novos regulamentos exigindo que 2,5% do combustível vendido nas bombas no Reino Unido fosse composto de biocombustível e que essa mistura aumentasse para 5% em 2010. A União Européia estabeleceu para si mesma a meta de acrescentar 10% de biocombustível aos combustíveis até 2020 em todo o continente. O presidente dos EUA, George W. Bush, também se apegou ao etanol como forma de reduzir a dependência dos EUA em petróleo estrangeiro.

 

Em um relatório publicado na terça-feira pelo Banco Mundial, em preparação para a reunião de cúpula da próxima semana do G-8, a organização recomendou que o grupo promovesse "ações nos EUA e na Europa para diminuir subsídios, mandatos e tarifas sobre biocombustíveis que derivam do milho e de sementes".

 

As críticas ao combustível feito de grãos e capim não giram apenas em torno dos preços de alimentos. Os produtores nos países em desenvolvimento estão derrubando florestas e drenando mangues - ambos valiosos por sua habilidade de absorver CO2 da atmosfera - para abrir espaço para plantações de biocombustível. Assim, muitos duvidam que o produto seja neutro em carbono. E mais, alguns fertilizantes usados na produção de grãos para biocombustíveis liberam óxido nitroso na atmosfera, um gás de efeito estufa que é até 300 vezes mais nocivo do que o CO2.

 

O relatório do Banco Mundial obtido pelo Guardian diz que a produção de biocombustíveis coloca pressão sobre os preços de alimentos tirando os grãos da produção de alimentos, estimulando os agricultores a separarem terras para plantações de biocombustíveis e gerando especulação de grãos nos mercados financeiros.

 

O problema tornou-se tão ruim que o Representante Especial da ONU pelo Direito ao Alimento, Jean Ziegler, chamou os biocombustíveis de um "crime contra a humanidade" no início desta primavera.

 

 

 

Publicado por Der Spiegel UOL

Fotografia de Mauro Holanda 

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Terça-feira, 03.06.08

Aforismo Borgesiano - 23

Agora

 


 

O agora passa muito rápido.

 

 

©Jorge Luis Borges / Borges Verbal, Emecê Editores – Buenos Aires  Argentina 

Foto recente da devastação em curso na floresta amazônica, Brasil - 2008

publicado por ardotempo às 02:33 | Comentar | Ler Comentários (2) | Adicionar
Quarta-feira, 21.05.08

Quem vencerá?

O verde de Ipanema contra o maior plantador de soja.

 

Quem vencerá?

O funcionário nomeado de um lado, com as leis, com as possibilidades de multas pecuniárias previstas, com as concessões de licenças ambientais, com as pressões do chefe. Do outro lado, o imenso poder econômico e a ação em curso, as liminares, os advogados, as queimadas e as motosserras em movimento, à revelia dos procedimentos burocráticos...

No centro, a grande floresta, a expectativa da população e a saúde do planeta.

 

No final sabemos quem vencerá... (e quando acontecer, podemos imaginar o que permanecerá, mesmo que por aqui já não exista mais ninguém para testemunhar o final).

 

                    

 

                   

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Segunda-feira, 19.05.08

Ambiente e motosserra

Comentário de Ricardo Noblat

 

Como pôde a frágil Marina Silva resistir durante cinco anos às pressões para relaxar seus cuidados com a preservação do meio ambiente?

Primeiro porque de frágil ela só tem a aparência. Segundo porque as pressões que forçaram sua retirada só começaram a se tornar indigestas quando acabou a Era Palocci na economia e teve início a Era Dilma.

O que marcou a mudança das eras não foi a demissão de Palocci do Ministério da Fazenda sob a suspeita de ter mandado quebrar o sigilo bancário de um caseiro que o viu onde ele jurou que nunca esteve. Foi a decisão tomada por Lula de angariar fama como tocador de obras.

Era preciso remover entraves à execução do Programa de Aceleração do Crescimento. E um deles atendia pelo nome de Marina, entrincheirada no Ministério do Meio Ambiente, aliada de bagres e dourados, e adepta da máxima de “todo o desenvolvimento possível com o máximo de floresta em pé”.

A paciência de Lula com ela quase se esgotou em abril do ano passado. “Se pudesse, eu acabaria com o Ibama”, desabafou Lula ao saber que ainda não fora concedida a licença ambiental para a construção de duas usinas hidroelétricas no rio Madeira.

Quer dizer então que Lula gostaria de ver Marina pelas costas?

Não. Uma eventual demissão dela pegaria mal para a imagem do governo aqui e lá fora. E serviria para santificar Marina ainda em vida – Santa Marina, a protetora das florestas e de tudo que vive à sua sombra.

Uma coisa era contar com Marina como subordinada, inibida em expor publicamente sua contrariedade com determinadas ações do governo. Outra seria tê-la de volta ao Senado com inteira liberdade para defender seus pontos de vista ali e em qualquer parte. Lula queria que Marina fosse, digamos, apenas mais flexível.

 

O fato é que Lula foi surpreendido com a deserção de Marina. E com a hora e a forma escolhidas por ela para desertar.

 

Dá para acreditar no que ele disse na semana passada diante da primeira-ministra alemã Angela Merckel: “Então a companheira Marina se foi e a política dela continua”.

Por que Marina daria no pé se a política dela não será revista? De resto, em um regime político como o nosso, não existe política de ministro e sim de presidente.

A metamorfose ambulante que preside o país está, hoje, mais para Blairo Maggi, governador do Mato Grosso, onde o desmatamento cresce a galope, do que para Marina, assim apresentada por ele quando a empossou: “É o primeiro sinal que transmito ao mundo de que a Amazônia agora será tratada de forma diferente".

 

Publicado no Blog do Noblat - 19.05.2008

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Domingo, 18.05.08

Tudo faz sentido

Ambiente ameaçado

 

"A queda de Marina "é um sinal de alerta", anotou a chanceler da Alemanha, Ângela Merkel,  ao expressar um sentimento mundial sobre o episódio e seus prováveis desdobramentos. Evidência de que não caiu no esquecimento total, o discurso feito por  Lula, em dezembro de 2002, ao anunciar a ardente ecologista - herdeira dos ideais e da ação do líder seringueiro Chico Mendes em relação ao desenvolvimento sustentável e harmônico com a preservação ecológica - como sua primeira escolha pessoal  na formação do ministério que então se instalava: "O primeiro sinal que transmito ao mundo de que a Amazônia agora será tratada de forma diferente", prometia.

Com Marina agora fora do jogo, "quem ganha é sua rival no governo, a superministra Dilma Rousseff, mão direita de Lula e encarregada de pôr em marcha o plano de crescimento econômico acelerado que choca de frente com a proteção do meio ambiente", como pontuou o influente diário espanhol "El País". A observação é polêmica, mas nem de longe parece fora de propósito, diante dos sinais destes dias. Vale prestar mais atenção no que vem por aí. "

 

                  

 

Publicado no Blog do Noblat

Foto de Mário Castello

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Quinta-feira, 15.05.08

Vai piorar...

Ambiente

 

Não se sabe o que estava sendo feito. Sabe-se que a defesa do meio ambiente é algo abstrato, de caráter filosófico, ético e do interesse pela sobrevivência da Humanidade. Do outro lado, em confronto direto, estão os interesses pragmáticos, dotados da tangibilidade real em CNPJs, estão os interesses econômicos imediatos, estão as grandes corporações, os mega-investimentos, os fazendeiros, a indústria do agronegócio, o etanol, os loobys, as poderosas bancadas ruralistas de senadores e deputados no Congresso Nacional, as largas extensões desmatadas na busca da mais alta rentabilidade.

 

Temos visto que as queimadas e a devastação no Mato Grosso, no Pará e no Amazonas aumentaram nos últimos tempos, travestidas da necessidade de progresso e do crescimento econômico do País, por estimulos concedidos pelas políticas governamentais. A floresta tem sofrido, portanto, um ataque avassalador na expansão dessa fronteira agrícola.

 

Com a saída melancólica da ministra do Meio Ambiente Marina Silva, uma voz quase solitária no governo, em defesa do ambiente, sabe-se apenas que tudo vai piorar.

 

"Minha permanência não estava mais agregando", afirmou a ex-ministra. Para ela, seu trabalho no ministério encontrava-se "estagnado". "Pelo menos comigo, não sairiam mais as políticas necessárias. É preciso movimentar as pedras que não estavam se movimentando. Espero que o movimento agora seja positivo".

 

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Sexta-feira, 02.05.08

Laboratório de Dengue

Dengue

Existe uma epidemia de dengue no Brasil, especialmente no Rio de Janeiro com muitos casos registrados e inclusive dezenas de casos fatais. É algo preocupante, sério e grave. A dengue já chegou ao sul do Brasil e alguns casos foram identificados em Porto Alegre, precisamente no bairro Menino Deus.












Pois no Menino Deus, enquanto as equipes sanitárias se esforçam por extingüir focos em residências, fiscalizando por toda a cidade com dificuldades evidentes, as tigelinhas das samambaias, das avencas caseiras e os pneus velhos abandonados como pontos cruciais que colocam em risco a saúde da população da cidade, um prédio mantém um gigantesco lençol d’água não tratada, uma vez que recolhida em grande parte diretamente da chuva, em toda a extensão do teto de sua cobertura, alheio a todos os esforços de precaução realizados pela comunidade. Trata-se, aparentemente, de um crime contra a saúde pública e um atentado ao bom-senso. Percebe-se que é algo programado pois todo o teto foi minuciosamente vedado com produtos impermeabilizantes para manter ali a água perigosamente estagnada. Será aquele o esconderijo de uma espécie de perverso “Coringa” local, inimigo nº 1 da população da cidade?
 
Coincidentemente ou não, naquele bairro foram constatados TODOS os infectados de dengue em Porto Alegre…
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Quinta-feira, 01.05.08

Saramago conta uma história infantil


                             


A Maior Flor do Mundo
- um conto para crianças, de José Saramago.   Veja aqui
Desenho de Saul Steinberg

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Sábado, 19.04.08

Siron Franco: TAUARI

Instalação de Siron Franco defende a Amazônia: na Europa

Dois colossais troncos de tauari (madeira de lei considerada em extinção), resgatados pelo Greenpeace, de uma derrubada recente e, ainda sobreviventes das queimadas criminosas realizadas por fazendeiros e por agro-empresas na Amazônia, sob o olhar omisso e complacente das autoridades governamentais, fazem parte de uma instalação itinerante que percorrerá a Europa (iniciando o percurso agora em abril, na Alemanha), concebida pelo artista plástico Siron Franco, que preservando-os na sua forma original agredida, montou uma vídeo-instalação de 9 monitores por DVDs, com imagens atualizadas que denunciam a devastação ora em curso, contra a grande floresta e a sua biodiversidade.

Um alerta contundente do artista em favor da floresta silenciosa e negligenciada.















                       

Depoimento de Siron Franco sobre a gênese de sua obra:

" Optei por deixar a árvore intacta, da maneira como a vi pela primeira vez em Brasília, a convite do Greenpeace. Quando soube que os dois troncos viriam para mim, fiquei com a imagem original na mente por vários dias, até que tive a idéia de não transformá-las em escultura, respeitando a sua forma original. Os monitores foram inseridos cuidadosamente no interior de cada um dos troncos das árvores e as imagens são reveladas por aberturas circulares irregulares, que lembram as incisões das "brocas de árvores". As nove imagens em movimento contínuo, tratam da biodiversidade da floresta e do gravissimo perigo de extinção que ela corre, o que afetará irremediavelmente a vida no planeta, em todos os sentidos. "









                      








Instalação Tauari - Siron Franco, 2008
Fotos de Vinícius de Castro
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Quarta-feira, 16.04.08

Imortal?


Se essa criação máxima dos humanos – uma criança – não puder mais rolar e brincar  num gramado sobre a terra, então, o que restou realmente de nós? O que, do nosso espírito, será realmente imortal?





















Extraído de O mundo sem nós, de Alan Weisman, Editora Planeta – 2007
Desenho sobre cartão, de Nicola de Maria, Paris - 2005
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publicado por ardotempo às 19:07 | Comentar | Adicionar

Extratos de Ney Gastal

A verdadeira vanguarda do atraso

Não existe jornalismo neutro. Como norma, todo jornalista tem sua opinião, assim como toda a empresa jornalística tem a sua própria. Empresas modernas e saudáveis abrem espaço para jornalistas que não comunguem com suas próprias posições (da empresa) para darem ao público em geral uma visão minimamente variada dos fatos. Por isso, mesmo em jornais tradicionalmente conservadores é possível encontrar repórteres, editores e colunistas de posições avançadas. Aliás, foram os jornais mais conservadores que abrigaram maior número de perseguidos pelo regime militar, no Brasil. Saudável contradição.
 
Nem todo conservador é sacana, e vice versa. Uma das maiores lições que aprendi com meu pai e com José Lutzenberguer (ambos repetiam muito isso) foi esta: a grande maioria de nossos adversários não tem as posições que tem por má fé ou má intenção, e sim por convicção. Assim como nós. Eles acreditam tanto nas deles quanto acreditamos nas nossas próprias idéias. Em conseqüência, é preciso exercitar sempre a difícil arte do diálogo tolerante. Verdade que é muito difícil ser tolerante quando o adversário avança com tacapes na mão, mas a tentativa não deve ser descartada logo à primeira pancada. (...)
 
Três décadas não são pouco, mas também não são demais. Em três décadas, os “modernos” escravagistas da Europa e dos Estados Unidos haviam sido patrolados pelos que chamavam de “inimigos do progresso”. O Brasil, claro, precisou de mais tempo, aqui os “progressistas” sempre precisam de mais tempo para rever seus conceitos. Mas hoje nenhum país minimamente civilizado tem escravos.
 
Com a questão ambiental certamente será assim.

Em breve chegará o tempo em que até aqui no Brasil os “progressistas” vão perceber que a conservação de um meio ambiente saudável, de uma biodiversidade variada, são fundamentais para a própria preservação de nossa sociedade. Poderá ser tarde, talvez não, mas eles vão perceber. Então, toda esta discurseira “progressista” de hoje, que nada mais é do que a verdadeira vanguarda do atraso, expressão que eles tanto gostam de usar, terá sido varrida para o lixo. Difícil vai ser fazer as correções então urgentes e necessárias dos problemas que ela tiver provocado. Mas se algum consolo nos resta, é o de que o planeta sobrevive, sempre. Sobreviveu à primeira grande extinção, e a vida voltou renovada, sobreviveu à segunda grande extinção, que levou os dinossauros, e a vida voltou renovada, e sobreviverá à terceira, provocada por processos naturais apressados pela agressividade humana. Mas a vida certamente voltará, renovada.
 
Nós é que não estaremos mais aqui.



















Publicado no Blog Vento Minuano - de Ney Gastal - Leia na integra, no blog
Foto de Mário Castello
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Segunda-feira, 14.04.08

Vento Minuano




Saudações e boas-vindas ao Blog Vento Minuano, um alerta vigilante em defesa do meio ambiente no Rio Grande do Sul (Brasil) e em todo o planeta, editado pelo jornalista Ney Gastal.

Veja o blog Vento Minuano
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publicado por ardotempo às 16:58 | Comentar | Adicionar
Sábado, 12.04.08

carros+carros+carros

O último engarrafamento

A boa notícia é que nunca se viu tantos carros nas ruas.
A má notícia é que nunca se viu tantos carros nas ruas.

Carros sendo produzidos e comprados como nunca significam fábricas e fornecedores funcionando e empregando mais, mais gente com mais dinheiro ou crédito no mercado, uma classe média em expansão, uma economia em crescimento. Carros sendo produzidos e comprados como nunca significam engarrafamentos inéditos e acidentes de trânsito em níveis de massacre, sem falar no aumento da poluição do ar que respiramos e no agravamento generalizado das neuroses.

É bom que muitas pessoas que não tinham condições de comprar seu carro agora tenham, é ruim que em todas as grandes cidades brasileiras hoje exista uma grande nostalgia pelas chamadas horas do rush, ou os horários de pique no trânsito, de antigamente, pois agora toda hora é hora do rush.

O que há é que, na surrada analogia de uma Bélgica dentro de uma Índia para descrever o Brasil, a Bélgica cresceu e os belgas e neobelgas têm mais carros, mas continuam obrigados a circular nas ruas e estradas da Índia. Quanto mais cresce a Bélgica, mais aparecem as precariedades da Índia. A publicidade dos carros sendo lançados prefere ignorar esta realidade e anunciar máquinas flamantes feitas para zunir por ruas e estradas de um país que não apenas não é a Índia como não é nenhuma Bélgica reconhecível, mas uma terra fantástica onde o trânsito sempre flui
e os carros voam.

Uma ironia que se repete diariamente: o cara chega em casa depois de algumas horas preso num engarrafamento de qualquer grande cidade brasileira, liga a televisão e, entre notícias de terríveis acidentes com morte em estradas inadequadas por excesso de velocidade, só vê propagandas de carros vendendo a grande aventura da velocidade. E da potência sem impedimentos, muito menos de carros na frente
e dos lados.

Como fica cada vez mais improvável que conheceremos essa terra de sonho, resta esperar que a indústria automobilística se prepare para o engarrafamento final que vem aí, quando o trânsito se tornará, literalmente, impossível. Esqueçam velocidade e potência. Interiores com beliches, quitinete e mesas para carteado, para passar o tempo. Rojões de sinalização, para pedir o resgate por helicóptero. Sei lá.


© Luis Fernando Verissimo - Publicado no Blog do Noblat - 10.04.2008
publicado por ardotempo às 00:28 | Comentar | Adicionar
Sexta-feira, 04.04.08

Quando o ser humano deseja fazer o papel de deus

Babaus

E agora essa. Li que duas pessoas recorreram à justiça para impedir que o Centro Europeu de Pesquisa Nuclear ponha em funcionamento o gigantesco acelerador de partículas que está construindo há 14 anos perto de Genebra, alegando que um dos resultados da colisão de prótons em escala inédita que acontecerá dentro do acelerador pode ser a criação de um buraco negro que engoliria a Terra - e talvez o Universo.

A inauguração do acelerador está marcada para este verão europeu. Por via das dúvidas, enquanto não se resolver a questão, não faça planos para depois de julho.

A colisão dos prótons dentro do super acelerador recriará energias e condições que ocorreram pela primeira (e última) vez na fração de segundo depois do Big Bang que deu origem a, literalmente, tudo. Pesquisadores estudarão os efeitos destes choques atrás de novas pistas sobre a natureza da massa e das forças que formam o Universo. Calcula-se que quase 90 por cento da matéria do Universo é chamada pelos cientistas de “matéria negra” para não precisarem chamá-la de “mistério”, ou de “seja lá o que for”.  Com o novo acelerador se estaria avançando alguns passos importantes nessa escuridão. Mas como as partículas sub-atômicas são notoriamente imprevisíveis, o resultado de mais este exemplo da bisbilhotice humana poderia ser uma grande surpresa, a surpresa final.

Em vez de um Big Bang, teríamos um Big Slurp, que nos chuparia - você, eu e todas as galáxias - para o nada, ou seja lá o que exista do outro lado do buraco.

Quase todos os cientistas ouvidos sobre a questão dizem que não há perigo. Os buracos negros, se aparecerem, serão pequenos (engolindo, presumivelmente, só a Suiça). O alarmismo atual é equiparado ao que acompanhou a construção da bomba atômica em Los Alamos, quando se especulava que uma única explosão nuclear poderia incendiar toda a atmosfera terrestre. E os alarmistas de hoje não parecem merecer muito crédito. Um é espanhol, o outro mora no Havaí, de onde partiu a ação judicial, e nenhum dos dois é físico praticante. Mas o que assusta é que alguns cientistas, inclusive um tal Mangano ligado ao CEPN, não acham a hipótese tão fantástica assim, e o próprio CEPN montou um grupo de avaliação de segurança para rever o projeto antes de ligar o acelerador.

Quer dizer, não quero estragar o dia de ninguém, mas nosso velho Universo pode estar dando suas últimas voltas.

Haverá tempo para uma última especulação, antes de sermos chupados. Talvez o significado de um dos fenômenos mais misteriosos do Universo, o de astros longínquos que desaparecem para dentro de si mesmos, seja que em algum lugar do cosmo os cientistas locais foram curiosos demais, e deram um passo que não era para dar.

© Luis Fernando Verissimo - Publicado no Blog do Noblat - 03.04.2008
publicado por ardotempo às 17:06 | Comentar | Adicionar
Quarta-feira, 02.04.08

O ambientalista

Os defensores do sepultamento ecológico questionam por que, depois que entoamos palavras sagradas sobre o pó voltando ao pó, colocamos corpos na terra de forma ambivalente, indo extraordinariamente longe para evitar esse contato.

Essa prática começou – mas apenas começou – com os esquifes. Caixões de pinho se transformaram em modernos sarcófagos de bronze, cobre puro, aço inoxidável ou caixões que utilizam aproximadamente 60 milhões de pés por ano de madeiras nobres de florestas tropicais temperadas – derrubadas apenas para serem colocadas sob a terra. Na verdade, não realmente sob a terra, porque a caixa em que somos enfiados para sempre é posta dentro de outra caixa, um invólucro usualmente feito de concreto cinzento liso. (…)

O pessoal do sepultamento verde prefere caixões feitos de materiais passíveis de biodegradação rápida, como papelão e vime – ou mesmo nenhum material, corpos não embalsamados, enrolados em mortalhas e colocados diretamente no chão para começar a devolver à terra o que restou de seus nutrientes. Embora a maioria das pessoas através da história tenha sido enterrada dessa forma, no mundo ocidental só alguns cemitérios permitem isso – e menos ainda, a lápide verde substituta: uma árvore plantada para colher imediatamente os nutrientes do corpo humano.















Extraído de O mundo sem nós, de Alan Weisman, Editora Planeta – 2007
Foto de Mario Castello

    Acontecera uma única exceção. Um ambientalista de renome de sua cidade certa feita o escutara com curiosidade e algum interesse, fizera várias perguntas e permanecera silencioso, observando-o e refletindo sobre os dados que Albumina expunha, prolixo, reforçando as afirmações com ansiosos gestos de mãos. Porém o cientista, que o incentivara a continuar as pesquisas, já estava bem idoso, com a sua saúde comprometida, e viria a falecer alguns meses depois desse encontro.

    O sr. Albumina acompanharia o velório e o enterro do ambientalista, que expressara o seu desejo de ser enterrado no campo, sob algumas árvores num pequeno bosque, envolto apenas em tecidos brancos de algodão e sem caixão, diretamente em contato com a terra. Naquele dia e no exato momento desse seu enterro tão singular ocorrera uma tempestade impressionante de ventanias e chuvas horizontais, como se a natureza estivesse celebrando um rito de sacralização em meio a muita água, caudalosa, puríssima. Sem a menor possibilidade da presença de baratas.

    O sr. Albumina ficara encharcado como todos os presentes ao enterro, lembrara-se com ironia que uma das características da albumina era a de ser solúvel em água. Mas ele continuava ali, sólido, consistente e molhado até a alma. Aquilo lhe parecera extremamente coerente, permaneceria pensando sobre o assunto. No campo, jamais vira baratas, nas praias, longe das cidades, também não, apenas umas tais baratas d’água nas rochas junto ao mar, meio transparentes, sem cheiro, sem asas, que nem baratas de verdade pareciam ser.

Extraído do conto Baratas voam dos cemitérios, de A. Aquino,
A Fenda, Editora Iluminuras – 2007















    O mundo sem nós

    Autor: Alan Weisman
    Editora Planeta - 382 páginas, 2007
    Comunicação e Natureza
    ISBN Nº 978-85-7665-302-8


publicado por ardotempo às 13:57 | Comentar | Adicionar
Terça-feira, 01.04.08

Pneus inúteis, lixo incontornável

Não existe pneu seguro…” ©Carassotaque

… em 1839, tentou misturar látex natural com enxofre. Quando a mistura caiu acidentalmente em um forno, Charles Goodyear percebeu que tinha criado uma coisa que a natureza nunca tinha experimentado antes.

    Até hoje , a natureza também não arranjou um micróbio capaz de decompô-la. O processo de Goodyear, chamado vulcanização, une longas cadeias de polímeros de borracha a pequenos filamentos de átomos de enxofre, transformando-os, na verdade, em uma única molécula gigante. Como a borracha é vulcanizada – significando que é aquecida, aditivada com enxofre e despejada num molde, com o formato, por exemplo de um pneu de caminhão – a grande molécula resultante toma aquela forma e nunca mais a abandona.

    Sendo uma molécula única, o pneu não pode ser derretido e transformado em outra coisa. (…) Os pneus usados deixam os operadores dos aterros sanitários enlouquecidos… Nos Estados Unidos, uma média de um pneu por cidadão é descartado anualmente – ou seja, um terço de bilhão em apenas um ano. E ainda há o restante no mundo.

    Com todo esse carbono, os pneus também podem ser queimados, liberando considerável energia, o que os torna difíceis de extinguir, juntamente com quantidades surpreendentes de fuligem oleosa, que contém alguns componentes nocivos que inventamos rapidamente durante a II Guerra Mundial.

Extraído de O mundo sem nós, de Alan Weisman, Editora Planeta – 2007

No Brasil é proibida por lei a importação de pneus usados descartados porque são considerados lixo de difícil solução, que acarreta problemas sanitários cumulativos.
Porém…

Pneus velhos, fraude nova

Doze empresas que conseguiram trazer para o Rio, 250 contêineres com cerca de 220 mil pneus usados da Europa estão sendo investigadas pela Receita Federal. O material está retido no Porto até que o setor de inteligência do órgão apresente um relatório final sobre caso. Há suspeitas de que alguns importadores tenham burlado a legislação para revender o produto no Rio e em estados vizinhos, o que é proibido. Desde 1997, o Brasil não autoriza a importação de pneus usados, porque são considerados lixo de difícil destinação, causando sérios danos à natureza. Com menos tempo útil de vida, eles são usados e logo descartados no meio ambiente.

As investigações no Rio começaram depois que a Receita desencadeou em fevereiro, no Espírito Santo, no Paraná e na Bahia, a Operação Lixeira, que identificou compradores que obtinham na Justiça liminares para trazer o produto do exterior. Eles alegavam que importavam matéria-prima que seria remodelada e transformada de novo num pneu. Mas a Receita descobriu que algumas empresas não tinham sequer capacidade para fazer a remodelagem e estavam revendendo pneus velhos. Duas importadoras descobertas na fraude no Espírito Santo também têm negócios no Rio e são responsáveis por parte da carga retida no Porto. A preço de mercado de um pneu já remodelado, os 220 mil poderão render às empresas cerca de R$19 milhões.

Publicado pelo O Globo – Rio de Janeiro, em 13.03.2008
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Sexta-feira, 28.03.08

Plásticos nos rios, plásticos nos oceanos

Plástico é sempre plástico. O material é um polímero. O polietileno não é biodegradável em uma escala de tempo praticável. Não há mecanismos no ambiente marinho para degradar uma molécula tão longa. (…) Exceto por uma pequena quantidade que tem sido incinerada, toda a partícula de plástico fabricada no mundo nos últimos 50 anos ainda existe. Está em algum lugar no ambiente.” – Dr. Anthony Andrady, Cientista Pesquisador Sênior do Depto. de Pesquisas da Universidade da Carolina do Norte, EUA.

A produção total desse meio século agora ultrapassa 1 bilhão de toneladas. Isso inclui centenas de plásticos diferentes, com permutações desconhecidas, envolvendo plastificantes aditivados, opacificadores, pigmentos, produtos para enchimentos e para aumento da resistência e estabilizadores leves. A longevidade de cada um pode variar enormemente.

Extraído de O mundo sem nós – Alan Weisman, Editora Planeta, 2007
Instalação de arte nas margens do Rio Tietê, São Paulo SP – Brasil
Obra de Eduardo Srur, Quase líquido – 2008

 


Agora pense naquelas “inocentes e confortáveis” sacolinhas plásticas oferecidas gentilmente e aos milhares, nos supermercados para o transporte das mercadorias compradas, pense nas garrafas pets dos refrigerantes… Para onde irão…?

publicado por ardotempo às 17:25 | Comentar | Adicionar

As fazendas de salmão do Chile estão doentes

Vírus nos salmões do Chile


















Quem olha para as montanhas verdes e baixas que serpenteiam por quilômetros de cursos d'água plácidos no sul do Chile, mal pode imaginar que algo possa estar errado. Mas abaixo das redes cuidadosamente instaladas em torno das fazendas de piscicultura próximas à costa os salmões estão morrendo.

Uma doença virótica conhecida como anemia infecciosa do salmão, ou ISA, na sigla em inglês, está dizimando milhões de salmões destinados à exportação para o Japão, a Europa e os Estados Unidos. A doença também fez com que as companhias de exportação ficassem expostas a novas acusações de biólogos e ambientalistas que afirmam que a criação de salmões em cercados subaquáticos superlotados está contaminando estas águas, outrora puras e produzindo peixes potencialmente doentes.

Alguns acusam a indústria de criar peixes de uma maneira que convida ao desastre, e os produtores estão sofrendo cada vez mais pressões para modificarem os seus métodos a fim de preservar as águas azul-cobalto do sul do Chile para os turistas e as espécies nativas da vida marinha.

"Todos estes problemas estão relacionados a uma ausência básica de controles sanitários", denuncia Felipe C. Cabello, professor do Departamento de Microbiologia e Imunologia da Universidade de Medicina de Nova York, em Valhalla, no Estado de Nova York, que estuda a indústria de exportação de peixes do Chile. "Infecções parasitárias, virais e fúngicas disseminam-se quando os peixes ficam estressados e os centros de criação são construídos demasiadamente próximos uns dos outros".

As companhias admitem que essas doenças fizeram com que utilizassem doses elevadas de antibióticos. Os pesquisadores afirmam que esta prática é comum na indústria de peixes chilena, e que se consiste de uma mistura de produtos farmacológicos internacionais e chilenos. Segundo os cientistas, alguns desses antibióticos são proibidos para uso em animais nos Estados Unidos. O novo vírus está se espalhando, mas tem afetado principalmente os peixes da Marine Harvest, uma companhia norueguesa que é a maior produtora do mundo de salmões criados em fazendas, e que é responsável por cerca de 20% do salmão exportado pelo Chile.

Arne Hjeltnes, o porta-voz principal da Marine Harvest em Oslo, na Noruega, diz que a sua companhia reconhece que o uso de antibiótico é excessivo no Chile, e que os cercados de peixes muito próximos contribuíram para os problemas. "Algumas pessoas alegam que esta indústria é boa demais para ser verdade", diz Hjeltnes. "Mas enquanto todo mundo estava ganhando muito dinheiro e tudo ia bem, não havia motivo para adotar medidas duras". Ele diz que a crise atual é um alerta para que se preste atenção nas várias medidas que se fazem necessárias.

Os ambientalistas dizem que o salmão está sendo criado para exportação às custas de quase tudo mais. Biólogos e ambientalistas dizem que fezes de salmão e grãos de ração estão reduzindo o oxigênio da água, matando outras espécies da vida marinha e disseminando doenças. Os pesquisadores afirmam que os salmões que fogem estão comendo outras espécies de peixe e começaram a invadir os rios e os lagos.

"Simplesmente não é possível produzir peixe em uma escala industrial de forma sustentável", argumenta Wolfram Heise, diretor do programa de conservação marinha do Projeto Pumalin, uma iniciativa conservacionista privada no Chile. "Nunca se conseguirá atingir um equilíbrio ecológico".

Quando as companhias começaram a criar aqui salmões do Oceano Atlântico, que não são nativos desta região, duas décadas atrás, a criação de salmão era tida como uma bênção para uma área pouco habitada que só tinha algumas aldeias sonolentas de pescadores e campings. A indústria cresceu oito vezes de tamanho desde 1990. Atualmente ela emprega 53 mil pessoas, direta ou indiretamente. Quando a indústria começa agora a abandonar a região dos Lagos em busca de águas não contaminadas em outros locais, a população local fica furiosa, além de preocupada com o futuro.

"As companhias de salmão estão roubando as nossas riquezas", acusa Victor Guttierrez, um pescador de Cochamo, uma vila no Golfo de Reloncavi, que é pontilhado de fazendas de salmão. "Elas trazem as doenças e depois vão embora, deixando-nos com os problemas".

Guttierrez, 33 anos, diz que há apenas seis anos ele e o seu companheiro de pesca pescavam 500 kg de robalo em um dia normal de trabalho. Recentemente ele mostrou o resultado de uma pescaria, apontando para os 40 kg de peixe que estavam em uma caixa térmica na carroceria da sua caminhonete. Ele lamenta as mudanças que observa nos peixes: eles estão mais rosados do que antes, e têm a pele mais flácida. Guttierrez diz suspeitar que os peixes selvagens estão comendo a mesma ração da qual os salmões se alimentam. Segundo ele, a ração está se depositando no fundo do mar. "Se a água continuar sendo contaminada, simplesmente teremos que nos mudar para outra área para encontrar o nosso peixe", diz ele. "A situação está ficando cada vez mais difícil".

Alexei Barrionuevo, Puerto Montt, Chile – publicado no UOL - 27.03.2008
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Sexta-feira, 21.03.08

Peixe-ouro da Polinésia



Peixe-ouro da Polinésia (Australiae Aurum Salmonis)
Comercial e biologicamente extinto desde o ínicio da década 90 do século XX.

“…dos peixes do Golfo dos Franceses, os formidáveis peixes-ouro da Polinésia, que só existiram naquela ilha-continente e que sumiram depois de terem sido pescados à exaustão pelas redes das traineiras japonesas, neo-zelandesas e até fenecianas durante os anos inox.
 
Pesca predatória em dimensão gigantesca comparável somente à omissão complacente das autoridades truculentas, que fôra tão abusiva que o peixe, secularmente abundante nas águas do continente, sendo o símbolo da fartura naquela região e até desenhado no brasão da república de Austral-Fênix, simplesmente desaparecera daqueles mares, extingüira-se por completo no Golfo dos Franceses, para onde vinha reproduzir-se desde tempos imemoriais, anteriores à descoberta pelos navegadores portugueses. O peixe-ouro da Polinésia sumira para sempre das costas da ilha-continente.”

©CARASSOTAQUE
publicado por ardotempo às 17:40 | Comentar | Ler Comentários (1) | Adicionar
Quinta-feira, 13.03.08

Rosas de Exportação

Dois terços de uma flor, como de um ser humano, são água. Assim, o montante de água que um exportador típico de flores embarca para a Europa a cada ano é igual às necessidades anuais de uma cidade de 20 mil habitantes. Durante as secas, os produtores de flores, que precisam cumprir cotas, instalam bombas-sifões no lago Naivasha, um santuário de água fresca, cercado de papiros, para pássaros e hipopótamos, exatamente abaixo das correntes que descem pelo Parque Nacional Aberdares, no Quênia central. Juntamente com a água, são sugadas gerações inteiras de ovos de peixes. O que respinga de volta é certo mau cheiro resultante da barganha química que mantém o frescor perfeito das rosas em sua viagem para Paris.

O tecido apodrecido de carcaças de hipopótamos revela o segredo das fragrâncias perfeitas: DDT e Dieldrin, quarenta vezes mais forte, pesticidas banidos dos países cujos mercados fizeram do Quênia o maior exportador de rosas do mundo. Muito depois que os humanos e até os animais e as rosas desapareçam, o Dieldrin, uma molécula artificial engenhosamente estável, ainda estará por aqui.

                                                                       
 
(Extraído de O mundo sem nós, de Alan Weisman / Planeta – 2007)
Pelo amor de Deus / Damien Hirst - Objeto escultórico, crânio de platina cravejado com diamantes, 2007 
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publicado por ardotempo às 21:38 | Comentar | Ler Comentários (1) | Adicionar
Segunda-feira, 03.03.08

Olhar a natureza

GARÇA-BRANCA

Garça-branca

Plana

Pausa

Pensativa

Pousa

Na boca suja

Do rio.






© Cleonice Bourscheid, poema, © Isolde Bosak, pintura em aquarela
Ave Pássaro – Editora Nova Prova, Porto Alegre RS, 2007
publicado por ardotempo às 18:41 | Comentar | Adicionar
Sábado, 23.02.08

A defesa da natureza

“A comunhão com a natureza, realizada por Gonzaga, é tão significativa e ele a trasmite por meio de suas obras e textos, comovendo-me profundamente, porque eu a sinto de maneira semelhante. Poderia atribuir-lhe os mesmos termos de meu manifesto do Naturalismo Integral, que escrevi na Amazônia, na bacia do Alto Rio Negro, numa quinta-feira, 03 de agosto de 1978. O Naturalismo Integral de Gonzaga é alérgico a toda forma alienante de poder ou da metáfora do poder. O único poder que ele reconhece não será este, destruidor e abusivo, o da sociedade, mas aquele outro, purificador e catártico, o da imaginação a serviço da sensibilidade. O naturalismo assim concebido diferencia-se radicalmente do realismo, que é sempre a metáfora do poder. Isso implica não somente numa maior organização da percepção, mas também , num maior desenvolvimento humano.

O naturalismo integral de Gonzaga se faz da paixão e da iniciação. Numa carta que o artista escreveu-me em 12 de agosto de 2001, ele declara:
Quero embriagar-me com tanta beleza, com a beleza da natureza. Não se trata de alienação. A alienação é o fato de, contra ela, NATUREZA, se cometer tanta violência.

O percurso poético integral de Gonzaga repousa sobre a recusa radical a esse tipo de alienação. Sua cultura identifica-se plenamente com o conceito da vitalidade global da natureza. É na potência cósmica da fecundação que a natureza detém o mistério da vida. É  a partir dessa magia fundamental que o artista procura exprimir-se com suas esculturas, numa linguagem formal que não é nem descritiva nem metafórica, mas emblemática e simbólica sobre os elementos da Natureza profunda.” – Pierre Restany, Paris 2002

Considerado pelo crítico de arte francês como um dos mais importantes escultores brasileiros contemporâneos, GONZAGA, com a sua defesa incondicional da Natureza se faz uma voz autorizada e presente, nesse momento assombrosamente caótico e de generalizada omissão cínica, em que o meio ambiente e a própria Humanidade encontram-se em risco grave pelos desmandos da cupidez continuada. A ARTE de Gonzaga se faz presente da mesma maneira severa, corajosa e solitária como o foi o grito desferido por Picasso no meio da sombria noite do século, na qual todos se mediam resignados e impotentes.

A SEIVA DA TERRA Escultura monumental de Gonzaga (2002)
publicado por ardotempo às 23:54 | Comentar | Adicionar

Editor: ardotempo / AA

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