Atribuição e afirmativa
Atribui-se a Michelângelo o comentário, barroco, ao observar vários pedaços em grandes volumes de mármore amontoados em Carrara, de que neles já antevia em seu interior cada uma das figuras, com seus gestos formidáveis e em movimentos petrificados, cabendo a ele apenas a árdua tarefa de retirar o excesso de material para libertar cada uma das imagens...
António Lobo Antunes escreve: "Se abrir a torneira ouvirei o ruído do mar? Em pequeno, na cama, as ondas chegavam até mim, uma após outra, misturadas com o vento nos pinheiros e o imenso mistério da vida. Escutava-as na certeza de ser feliz e eterno. Amanhecia e o mar calava-se. Via-o da janela no mesmo sítio, em silêncio, ele que no escuro encostava a cabeça aos caixilhos para me ver dormir e me seguia com aqueles olhos que o mar tem, ao mesmo tempo zangados e cheios de lágrimas e, no corredor da casa, os passos da insónia, tac, tac, tac."
Mudo de posição na cadeira, e pergunto
"– Como é que se faz um livro?
porque continuo sem saber como se faz um livro. Não me acho capaz de explicar como fiz os que até agora se publicaram, o que lembro melhor é o esforço enorme e, por vezes, mais raramente, uma alegria indizível. Ainda existirá algum em mim?"