Mãos iluminadas
escrevo estes versos
escrevo estes versos para o amigo que mesmo condenado
descobriu que ainda havia tempo para encontrar o amor
escrevo estes versos para a mulher que um dia abandonei
a quem desejo que encontre o filho que nunca pude lhe dar
escrevo estes versos para o meu quitandeiro da esquina
por beber um litro de graspa e erguer caixas às 6 da manhã
escrevo estes versos para aquele velho professor de latim
por me ensinar que a poesia é basicamente um desperdício
escrevo estes versos para o conforto de um poeta do campo
longe de sua lisboa que foi o mundo antes mesmo de camões
escrevo estes versos para as flores da última primavera
cantada pelos mestres chineses tantos séculos antes de mim
escrevo estes versos para uma menina perdida no futuro
que há de lê-los com as mãos iluminadas de tocar sua carne
© Pedro Gonzaga, 2012