Ambiente e motosserra
Comentário de Ricardo Noblat
Como pôde a frágil Marina Silva resistir durante cinco anos às pressões para relaxar seus cuidados com a preservação do meio ambiente?
Primeiro porque de frágil ela só tem a aparência. Segundo porque as pressões que forçaram sua retirada só começaram a se tornar indigestas quando acabou a Era Palocci na economia e teve início a Era Dilma.
O que marcou a mudança das eras não foi a demissão de Palocci do Ministério da Fazenda sob a suspeita de ter mandado quebrar o sigilo bancário de um caseiro que o viu onde ele jurou que nunca esteve. Foi a decisão tomada por Lula de angariar fama como tocador de obras.
Era preciso remover entraves à execução do Programa de Aceleração do Crescimento. E um deles atendia pelo nome de Marina, entrincheirada no Ministério do Meio Ambiente, aliada de bagres e dourados, e adepta da máxima de “todo o desenvolvimento possível com o máximo de floresta em pé”.
A paciência de Lula com ela quase se esgotou em abril do ano passado. “Se pudesse, eu acabaria com o Ibama”, desabafou Lula ao saber que ainda não fora concedida a licença ambiental para a construção de duas usinas hidroelétricas no rio Madeira.
Quer dizer então que Lula gostaria de ver Marina pelas costas?
Não. Uma eventual demissão dela pegaria mal para a imagem do governo aqui e lá fora. E serviria para santificar Marina ainda em vida – Santa Marina, a protetora das florestas e de tudo que vive à sua sombra.
Uma coisa era contar com Marina como subordinada, inibida em expor publicamente sua contrariedade com determinadas ações do governo. Outra seria tê-la de volta ao Senado com inteira liberdade para defender seus pontos de vista ali e em qualquer parte. Lula queria que Marina fosse, digamos, apenas mais flexível.
O fato é que Lula foi surpreendido com a deserção de Marina. E com a hora e a forma escolhidas por ela para desertar.
Dá para acreditar no que ele disse na semana passada diante da primeira-ministra alemã Angela Merckel: “Então a companheira Marina se foi e a política dela continua”.
Por que Marina daria no pé se a política dela não será revista? De resto, em um regime político como o nosso, não existe política de ministro e sim de presidente.
A metamorfose ambulante que preside o país está, hoje, mais para Blairo Maggi, governador do Mato Grosso, onde o desmatamento cresce a galope, do que para Marina, assim apresentada por ele quando a empossou: “É o primeiro sinal que transmito ao mundo de que a Amazônia agora será tratada de forma diferente".
Publicado no Blog do Noblat - 19.05.2008