Cuba - Como não mais será
LUZ DE CUBA
Lisette Guerra foi a Cuba com a sua função
e o seu olhar de fotógrafa profissional.
Não foi como diletante, não foi como turista e
muitissimo menos como engajada política num viés ou noutro.
Foi para fotografar sistematicamente ao longo de quatro viagens
à ilha. Quatro duradouras viagens de cerca de um mês cada uma
– períodos de permanência para viver em convívio com os
habitantes da ilha em diferentes localizações geográficas,
como se fosse ela mesma
uma habitante do local, em movimento.
Sem preconceitos estabelecidos e sem outras finalidades
que não fosse o compromisso ético com a sua própria
expressão fotográfica.
Ela não foi para a ilha com o objetivo prévio de fazer
escolhas estéticas orientadas por um posicionamento
político, de defesa ideológica
de uma postura assumida ou por um filtro seletivo
em que valorizasse algo em detrimento de alguma
coisa que devesse permanecer oculta.
A sua fotografia está isenta desses valores
estranhos à sua exigência artística.
Ela fotografou o que viu, especialmente retratou as pessoas
em seus locais de atividades, que produziram um depoimento
imagético de profunda humanidade.
Ela mostra tudo, o estado preciso e real das coisas,
dos objetos, dos bairros, das cidades, das limitações significativas
de um mundo tolhido por um persistente bloqueio econômico,
a presença da música como um antídoto à falta de perspectivas,
a alegria e o desejo de superação de suas dificuldades
por parte de um povo sofrido que muito se assemelha
ao povo brasileiro.
Lisette Guerra realizou centenas, milhares de fotografias
que resultaram nesta seleção para a mostra LUZ DE CUBA
(e para o seu livro que será publicado em breve).
É importante ressaltar alguns dos critérios que balizaram
a construção deste conjunto de imagens;
inicialmente a busca de um conceito estético estrito pela
qualidade fotográfica de autoria da artista e
a veracidade temática com a isenção de qualquer produção
externa sobre as imagens capturadas e documentadas;
Lisette realizou o seu projeto de documentar um momento
de um período histórico em cidades cubanas (de 2009 a 2011)
em viagens sequenciais, período no qual ela fixou
um testemunho de imagens através do estado das pessoas,
dos objetos e dos locais. Ela não fotografou o passado nostálgico
nem um futuro imaginário, ela apenas congelou imageticamente
um documento extremamente importante -
o retrato de uma Cuba como não mais será
(necessaria e inexoravelmente com a passagem do tempo).
© Ouro de Cuba, fotografia de Lisette Guerra, Habana Vieja , Cuba
Alfredo Aquino - Artista plástico, escritor e curador da exposição LUZ DE CUBA