Televisão, jogo, notebook? Não? Um livro a ser lido...será?
As comunidades de leitores
Isabel Coutinho
O filósofo Pierre Lévy acredita que, no futuro, a grande maioria dos livros será lida em “tablets” ou em aparelhos como o Kindle da Amazon, por causa da “possibilidade de interactividade”. Bob Stein, o director do Institute for the Future of the Book, acredita que a verdadeira transformação está a chegar fora do mercado editorial, principalmente do mundo dos jogos electrónicos.
“As editoras terão de seguir este exemplo para aprender como integrar diferentes formas de média -não apenas adicionar fotos, vídeos e áudios aos textos -, e como lidar com comunidades de leitores. A indústria dos jogos já sabe muito bem como fazer isso”, disse ao jornal “O Globo”. Deu como exemplo o jogo on-line “World of Warcraft”, que conseguiu ter mais de 12 milhões de assinaturas por mês. “Talvez o futuro da literatura esteja em autores que criam um mundo a ser habitado pelos leitores, que dentro deste universo escrevem suas próprias histórias”, acrescentou, dizendo que não ficará surpreendido se uma empresa de jogos comprar uma grande editora nos próximos dez anos.
Bob Stein tem agora uma nova empresa, a SocialBook Inc, que está a trabalhar na melhor maneira de juntar o mundo dos livros com as comunidades de leitores. Na sua opinião, serão as discussões à volta dos livros que passarão a ter valor e será para ter acesso a isso que os leitores pagarão no futuro. O conteúdo poderá passar a valer muito pouco; as pessoas vão pagar é pelo contexto e pela comunidade à volta desse conteúdo, defende. O Institute for the Future of the Book, de que é director, criou, em 2008, o Golden Notebook Project.
Um grupo de sete mulheres (escritoras e jornalistas britânicas e norte-americanas) leu na Internet o livro “The Golden Notebook”, da Nobel da Literatura Doris Lessing; ao mesmo tempo que o lia, colocava notas nas margens. Tudo se passava em ambiente “web”. Quem se ligava ao “site” conseguia ler o que estava nas margens do livro, ter acesso a um blogue e a um fórum de discussão. Bob Stein está agora a preparar novos destes exemplos.
A dar importância às comunidades de leitores está também a Amazon, que acaba de abrir a sua loja on-line em Itália (depois de aberturas nos EUA, Reino Unido, Canadá, Alemanha, China, Japão, França) e terá outra no Brasil. Há dias, lançou uma rede social associada ao Kindle, o seu aparelho para leitura de livros electrónicos. Para aceder basta entrar no “site”, fazer uma inscrição e passamos a ter acesso aos nossos livros, às partes sublinhadas e às notas que fomos fazendo durante a leitura. É possível classificar (até cinco estrelas) e fazer recensões, bloqueando ou tornando públicos estes conteúdos. Podemos seguir outros leitores tal como acontece no Twitter e ser seguidos. Os nossos perfis no Twitter e no Facebook podem ser integrados na rede social do Kindle e assim sabemos o que os nossos “amigos” leram, andam a ler ou esperam ler no Kindle.
E falta a melhor parte: encontrar novos amigos com base nas obras que fazem parte da nossa biblioteca e das deles.
Isabel Coutinho - Publicado no blog Ciberescritas
isabel.coutinho@publico.pt