Insígnia infectada

Nossa cruz interdita

 

Mariana Ianelli

 


 

A suástica que hoje tem seus adeptos não é a mesma que Rudyard Kipling estampava na capa dos seus livros no começo do século 20. Já não representa um amuleto da sorte, representa a corrupção da inteligência que se incorporou a este símbolo desde a sua transformação num slogan nazista.

 

Estamos mais próximos de uma suástica tatuada no peito de um delinquente do que de uma suástica inscrita na cerâmica de um vaso antigo. O que por milênios foi um emblema de felicidade e harmonia em um século tornou-se uma insígnia do horror e do extermínio. Se nos coubesse dar um lugar para este símbolo, dificilmente pensaríamos numa catedral ou num templo budista. Mosaicos, esculturas, altares, portões de uma cidade e páginas de um livro santo já exibiram essa cruz como um signo de bom augúrio, proteção espiritual, equilíbrio. Hoje a suástica é a nossa cruz interdita. Não ousamos mais exibi-la, sob o risco de denúncia, de repúdio, de censura por falta de bom senso.

 

Como reabilitar uma cruz? É a pergunta que fica. Como desinfetá-la de uma representação hedionda, como pregá-la de novo no alto de uma fachada sem que isto seja a apologia de um crime, um insulto à memória de um povo, a extravagância infeliz de um polemista, como lembrar da pré-história de um símbolo e associá-lo antes a um santuário que a um campo de extermínio, como fazemos para girar essa cruz e, condizendo com o seu sentido, progredir.

 

Mariana Ianelli - Publicado em Vida Breve

publicado por ardotempo às 13:27 | Comentar | Adicionar