Um vinho de legenda
Arerunguá
Um tannat potente, pleno de sabores e de saberes, de taninos líricos e protegidos em rolha de cortiça genuína, colorida naturalmente na sua base secreta em vermelho indiano profundo com matizes de violeta.
Vinho sestroso aos corações, de pronunciado aroma em nariz de eloquências elegantes, evocativo aos sons de bandonéons gementes e de cantorias carismáricas, hipnóticas, os perdidos ecos do Prata e dos Andes.
Um tannat muito bom e personal, nem melhor e tampouco pior do que malbecs altaneiros, das prateleiras arenosas das cordilheiras, ou do que bordôs e borgonhas de outro hemisfério. Apenas um vinho singular, raro e inesquecível pelo seu corpo de lágrimas e de luz trespassada, hemorrágica, de grande personalidade e legenda incomum.
Um tango legítimo. O vinho do lugar onde nasceu o cantor, cerros da mina de ouro de Tacuarembó, da extinta mina San Pablo, domínios da antiga Compagnie Française d’Or de l’Uruguay, cenário dourado dos barrocos volteios dançarinos de Mlle. Gardés. Ali cresceu a vinha mítica e inscrustrou suas raízes na busca da água mais pura e das terras minerais marmorizadas em delicados veios de ouro. O ouro que já não se encontra visível em volumes de cobiça e couraça, mas que se cola e recorta com requinte a madeira viva enterrada que frutificará em sedutoras e escuras esferas de sol, para safras de guarda.