Diferenças republicanas
Sexta-feira em Paris e em Porto Alegre
Paris – Um estilista de moda, estrela e milionário, embriagado, num bar no Marais, discute com um casal de judeus. Diz palavras graves e estúpidas, ofende o casal, agride-os com palavras elogiando Adolf Hitler. É gravado numa câmera de celular. Em seguida é denunciado numa delegacia do bairro. Apesar de ser uma celebridade mundial é detido e passa na noite na cadeia. Foi indiciado e possivelmente passará seis meses na prisão. Foi imediatamente demitido do cargo singular que ocupava na célebre Maison Dior, onde era o designer-mestre que assinava as grandes coleções de moda. Passaram-se quatro dias do fato ocorrido em Paris.
Porto Alegre – Um alto funcionário do Banco Central, uma espécie de banqueiro com o dinheiro público, atropela brutalmente quase uma centena de ciclistas, pelas costas, simplesmente porque ficou irritado em esperar alguns minutos para cruzar uma avenida da cidade. Faz uma tentativa de assassinar coletivamente dezenas de pessoas indefesas e foge sem socorrer ninguém. Esmaga e inutliza vinte bicicletas. Fere com fraturas, contusões e prováveis sequelas futuras quase duas dezenas de pessoas. Gera uma demanda e superlotação de ambulâncias e de leitos no Hospital de Pronto Socorro, ocupando equipamentos públicos e ocasionando graves prejuízos com o dinheiro público, dissipando frivolamente valores essenciais para a saúde coletiva.
Procura confundir e dificultar as investigações, ocultando as placas do automóvel e agindo de maneira subrepticia para mascarar as provas na arma utilizada, o seu carro. Esconde-se por três dias e aparece com um história inventada, sem credibilidade alguma. Toda a cena sangrenta e dolosa do atropelamento é gravada numa câmera de celular. Nada acontece. O criminoso aparece, dá entrevistas e some alegremente, protegido pelos seus advogados, sob o olhar leniente da Polícia, que nada faz. O prefeito da cidade sequer aparece para dar uma palavra aos cidadãos aturdidos pela violência urbana e para assegurar um mínimo de segurança para os que utilizam um veículo que tem sido uma solução viária em importantes cidades do mundo (inclusive em Paris). A direção do Banco Central fica em silêncio. Publicamente omissa. A pantomina continua e o ator-criminoso continua seu solo em liberdade, frente à platéia de tolos. Será que mais uma vez em Porto Alegre a história vai se repetir, na qual os heróis negativos, os que matam, os loucos destemperados são tolerados, admirados e recebem discretos e eficientes apoios silenciosos, o tempo passa, tudo fica igual e termina em pizza? Passaram-se quatro dias do fato ocorrido em Porto Alegre.
Publicado no jornal Zero Hora: Motorista que atropelou grupo de ciclistas
é preso em hospital de Porto Alegre
A Polícia Civil prendeu, às 6h30min desta manhã, quarta-feira, 02 de março,
o funcionário do Banco Central Ricardo Neis, 47 anos,
autor do atropelamento, com um automóvel Golf blindado, de um grupo
de cerca de uma centena de ciclistas na última sexta-feira
no bairro Cidade Baixa, em Porto Alegre.
Neis foi localizado em um hospital psiquiátrico
da zona sul da capital, RS, no qual se internara por iniciativa própria.
No local, a polícia aguarda a chegada do médico e do advogado do atropelador
para encaminhá-lo à Delegacia de Delitos de Trânsito da Capital.
A saída do hospital dependerá de alta médica.
Segundo o delegado Rodrigo Garcia, quando o mandado de prisão foi lido,
Neis parecia desorientado (possivelmente em razão dos medicamentos
tranquilizantes tomados). Surpreso, ele teria perguntado à polícia
qual o motivo para a sua prisão.
Na terça-feira, a Justiça acatou o pedido da Polícia Civil e decretou a prisão preventiva
do funcionário do Banco Central.