Chocolate
Palavras mágicas
Maria do Rosário Pedreira
Há muitos anos, fui contactada por uma agência de publicidade para lá ir dizer o que esperava de uma pasta de dentes. Compareci no dia combinado e fiquei eu própria surpreendida com a quantidade de coisas que consegui verbalizar sobre uma matéria aparentemente comezinha como aquela. Não era a única pessoa presente, claro, e essa circunstância acabou por desencadear um diálogo de mais de uma hora à volta do tema "dentífricos", com intervenções memoráveis sobre cor, sabor, textura, embalagem, preço e ecologia. Mais tarde, explicaram-me que aquela reunião era parte daquilo a que se chama um "estudo de mercado" e que, quando uma agência quer lançar um produto, tem de saber o que os clientes exigem e desejam para construir a campanha em consonância.
Ora, o sucesso de um livro é sempre uma incógnita e, para os livros, não há realmente estudos de mercado possíveis (por isso nos zangamos quando chamam "produtos" aos livros). E, no entanto, parecem existir palavras mágicas que conduzem quase sempre ao êxito. A melhor que conheço é "chocolate" e, se um título a inclui, é quase certo que o livro se vai vender bem. O romance Chocolate – que depois deu um filme menor com a admirável Juliette Binoche – tirou Joanne Harris do anonimato e transportou-a para um estrelato que se calhar nem merecia, e o Baunilha e Chocolate de Sveva Casati Modignani pô-la a vender de repente milhares de exemplares num país onde os escritores italianos raramente vingam...
Maria do Rosário Pedreira - Publicado no blog Horas Extraordinárias