Sol de sangue
Os cães latem na aurora
Os cães ladram. Parece que são todos, pelos bairros da cidade, infinitamente. Nos quintais, nas vielas, nos cemitérios. Uivam, latem de maneira ritmada, percussionada, tediosa. Hoje amanheceu de maneira esquisita, diversa do habitual com o canto dos pássaros. Hoje com a novidade desse som espectral, de ecos artificiais, emissões reais superpostas. Sinfonia horizontal, sem comando e sem maestro.
Dura um longo tempo, formatada, a tensão mantida.
Repentinamente, os cães silenciam.
Uma lacuna de terrível abrangência, unanimidade ausente. O silêncio premonitório.
Sol de sangue. Hoje será dia de lobisomem.