No País das Maravilhas não há recato
Mil mortos nas avalanches da chuva
Mil mortos e um morto nas avalanches da chuva.
Não há recato no País das Maravilhas.
Ao mesmo tempo, na cidade ao lado,
a euforia de milhares na festa
pelo jogador de futebol.
Milhares de camisetas, milhares de pessoas
a cantar, a gritar no meio da tarde de trabalho
(de onde vem tanto dinheiro para consumir
tanto tempo, o luxo de tanto ócio?)
Não há recato no País das Maravilhas.
Mil mortos e um morto nas avalanches da chuva,
milhares de tragédias individuais,
que serão para sempre
e na cidade ao lado anunciam-se as festividades
do Carnaval próximo.
Ninguém olha para o lado.
A noticia trágica é adrenalina,
é o prazer do espanto.
A festa continua.
Não há recato no País das Maravilhas.