Dia de futebol
Dia universal da barbárie
É dia de violência desenfreada, de ausência de regras,
da escatologia e dos palavrões recitados coletivamente.
Dia de tiros (eu os escuto no momento) e de balas perdidas.
É o vizinho que dispara para cima
(mas as balas caem em algum lugar).
Sem lei, sem regras, vale tudo.
Ao lado do estádio, milhares vestidos com a camiseta do time
bebem cerveja de maneira incontida.
A arca do dilúvio é de isopor, está inundada de blocos de gelo
e latas de álcool.
Fala-se que é a alegria e a festa – mas será dia de ferimentos e dor.
Os gritos ameaçam e guincham impropérios.
Ônibus trazem as hordas desafiadoras.
Não há polícia, faz-se o que se quer sob a sombra da bandeira do esporte.
Alarido, barbárie, estupidez liberada em nome de algo
que não se sabe bem ao certo.
Fanatismo religioso em tecido desfraldado.
Toda a selvageria possível, no anonimato do comportamento coletivo.
A torcida vem de todos os lugares, carros e ônibus estacionam em qualquer espaço,
na rua, sobre a grama, sobre jardins, sobre as calçadas.
Os mais impróprios, os que perturbam mais são os escolhidos, são os mais desejados.
A polícia que se vê, faz que nada vê.
O dia de futebol é o dia do uivo, é o dia do animal, é o dia da catarse,
é o dia da agressão desmesurada,
da anticivilização.
Estão todos embriagados, tomados pela inconsciência, pela fúria, pela euforia.
Há cantos coletivos, há batuques cardíacos. A violência é um fusível.
Fala-se que é a alegria e a festa.
Tudo estará nos jornais amanhã, em diferentes páginas.