LINHA TORTA

 

 

Poema em linha torta

 


De todos os lados armam-se de teorias

futuristas cansados

tecnologias que cantam

com a ingenuidade

forjada dos pilantras

ou com a estupidez assanhada

dos paspalhos.

 


Debatem o fim da lira por todos os lados

locupletam-se com artigos

em revistas indexadas

descolam um pouco de sexo

entre o furor inerme das

comunicações de 20 minutos

tempo mais que suficiente

para os que esqueceram

Garcilaso.

 


Anunciam eufóricos a descoberta

da interatividade

tão antiga

vejam só

quanto o bom Homero.

 


Alfabetizam-se com histórias

em quadrinhos

rebatizadas com novos

e lustrosos

nomes importados:

romances gráficos

orientais mangás,

alegam ser capazes de ler na tela

300 páginas,

mas não vencem uma quadra

de Quevedo.

 


Estão por toda a parte

e vão vencendo,

falam mais alto

amasiam-se

lubrificam-se à voz procaz

dos suplementos literários.

 


Arre!

estou farto

da maçada de lhes dar combate.

 


Pobre de quem ergue versos e é

classe média

(valha-me a complacência do IBGE),

pois antes poderia ser maldito,

decadentista

amigo de Braque.

 


Hoje,

renderei no máximo

uma monografia,

louvada não por sua coragem

mas por seguir à risca

as normas da ABNT.

 


Pedro Gonzaga

 

Publicado no blog Pedro Gonzaga

publicado por ardotempo às 13:28 | Comentar | Adicionar