José Mário Silva - Efeito Borboleta

Efeito Borboleta e outras histórias - Contos

 

Autor: José Mário Silva

 

ISBN nº 978-85-62984-04-4

 

124 páginas

 

Capa: Mario Castello

 

Valor: R$ 30,00

 

 

 

 

 

Apresentação de Mariana Ianelli, sobre o livro Efeito Borboleta, contos de José Mário Silva:

 

Penso nos contos de José Mário Silva e logo me vem à memória o espelho mágico de M. C. Escher.

 

Há sempre uma dimensão inaudita em suas histórias, uma realidade da ordem do inefável, na qual diferentes mundos se visitam, regidos pela lógica do sonho. Seus personagens são incógnitas dentro de um grande esquema, um grande tabuleiro cosmológico, por assim dizer, em que todo e qualquer movimento “precipita a desistência ou o desastre”.


Um simples bater de asas na Amazônia pode provocar um tornado no Texas. Perplexo diante das infinitas variantes dessa hipótese, um homem teme executar um só gesto. Nesse conto que dá título ao livro, a perplexidade que se anuncia ainda é outra. Este homem pode ser ele mesmo a borboleta enredada na malha do conto, a letra de uma palavra fatal que se vai formando secretamente, enquanto o personagem, no epicentro da narrativa, ignora sua inexistência. Aqui o leitor reconhecerá, sem dúvida, os labirintos borgeanos, os intermináveis elos de uma cadeia, o sonho dentro do sonho, a concentração dos tempos em um único instante, o ponto do espaço que contém todos os espaços. Mas antes interessa lembrar, de Borges, aquela máxima que serve de postulado para todas as artes, a de que “não sabemos se o universo pertence ao gênero realista ou ao gênero fantástico”.

 

A partir daí, ascendemos da literatura, e de suas inevitáveis intersecções temáticas, a um imenso e extraordinário “sonho apócrifo” nos contos de José Mário.


Astros, números e letras se dispersam, se reordenam e assim gira o caleidoscópio a que chamamos, por espanto e maravilha, gênero fantástico. Nessa cópula de mundos, a lente de um microscópio oferece à vista do poeta a imagemdas galáxias. De fato, José Mário é um poeta, um sonhador de insondáveis matemáticas, um encantador do pensamentoque desperta, no espaço da narrativa, este terceiro olho capaz de entrever nas linhas de uma impressão digital uma “topografia do ser”.


A forma breve que aparentemente delimita as histórias de Efeito Borboleta é mais um expediente de prestidigitador, o espetáculo em ato da fração de um minuto em que um homem revê sua vida e pressagia o exorbitante. Há sombras, muitas sombras no livro, há uma “escuridão ardendo atrás de cada porta”, a iminência do caos atrás da ordem dos planos, inclusive o literário. Nada escapa ao colapso da banalidade. O absurdo, quando prorrompe no elemento mais sutil, põe o leitor diante de um acontecimento que lhe é tão sinistro quanto familiar, como um tsunami, um atentado terrorista, ou mais uma estrela emergindo no mundo das celebridades: o surreal de uma época, nossa época, típico de um quadro de Bosch.


Nas 38 Miniaturas, imagens de alta concentração poética que fecham o volume, está a síntese da criação mágicade José Mário. Tal como o “caçador noturno” de um dos textos, dali regressamos admirados, com “meia dúzia de estrelas à cintura”. Uma aventura e uma vertigem, Efeito Borboleta contém o índice de um livro infinito. Para cada história somos transportados, ou melhor, tragados, por aquela força de atração para além da física que sabemos ser o mais simples - e o mais desejável - prazer da boa leitura.


Mariana Ianelli - Escritora, poeta e jornalista

publicado por ardotempo às 12:59 | Adicionar