TEMPO
O deus TEMPO, a verdadeira face que podemos vagamente enxergar da divindade secreta, o que brinca ironicamente com todos, sem exceção, o que manipula as histórias individuais de cada um dos seres humanos, o que nos engana com a miragem da eternidade e do perpétuo, no hipnótico ciclo anoitecer-amanhecer, a treva alvorada da poeta, o deus-prestigitador das esperanças, mas que nos mata docemente ao nos deformar a beleza física e ao nos destruir por dentro, sem aviso prévio - o TEMPO é a nosso favor ou será contra nós?
Quantas felicidades, quantos amores, quantas tragédias e desilusões articuladas por desencontros, mal-entendidos, minutos de avanço ou de atraso, trens, navios e aviões perdidos, desfechos inesperados, colisões, desvios de rotas, pela singela assincronia dos tempos dos indivíduos? A trajetória da bala perdida acionada pelo dedo sem razão, que perde a consciência e a memória do feito no seu preciso instante. O mundo não está parado, o universo está orquestrado em movimento e em expansão, não existe vida simples, o TEMPO é um deus caprichoso, brincalhão, cínico e transgressor.