Poema
Além do Equador
Mariana Ianelli
No soco do vento
Desencontraram-se.
Selvas e rios
Entre dois pontos de um mapa,
Eles perderam contato
Mas não perdiam a saúde
De acreditar
Que nem todos os países
Foram já cartografados.
Em terra queimada de sal
Se queimavam.
Arrendavam o tempo
E com sua paga
Mantinham viva uma língua
Que aos outros nada comunicava,
Um país movediço
Que prendia no estrangeiro
Seus tentáculos.
O quanto pode suportar
Um homem
Uma vez extorquido, seqüestrado,
Eles podiam
No meio de estranhos
Com um corpo amarrado à realidade.
Todo dia era um lapso,
Um hábito
Que não achava mais vontade,
A força se adelgaçando
Na dura queda de braço.
Mas não se dobravam,
Isso não podiam.
Faltava secar um país
E uma língua desaparecer
Debaixo de uns trapos –
Brutal e lentamente,
Como cabe ao ferro da coragem.
Mariana Ianelli - Treva Alvorada - Iluminuras, 2010
Imagem: Paul Klee - Pintura