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Sobre Borges, ao contrário, nós dois cada dia sabíamos mais, eu, sobretudo, que tardara muito em descobri-lo mas agora não parava de lê-lo e de achar idéias em seus textos.
 
O assombroso e criativo parasitismo de Pierre Menard, por exemplo, com sua réplica exata porém distinta do Quixote, que se podia resumir assim: se eu escrevo uma coisa que você já escreveu, é o mesmo, mas já não é o mesmo.

O memorioso Funes, as hábeis falsificações de obras de arte, o ser em outros
(que Pessoa diria), a crença de que “talvez todos saibamos profundamente que somos imortais”, o aleph e a suspeita de que a poesia possa ser o nome esquivo do mundo.

Se até então eu vira fotografias de pessoas ou de lugares que em algumas ocasiões acabava vendo DE VERDADE, esse conto de Borges sobre um aleph significou um avanço em minha visão de mundo, pois vi que não somente se podiam ver DE VERDADE certas pessoas ou lugares como, além do mais, existia a possibilidade – chamemo-la de assombro – de ver mais.


Extraído de Paris não tem fimEnrique Vila-Matas, CosacNaify, 2007
publicado por ardotempo às 19:13 | Comentar | Adicionar