Ave, Lúcia
Duas caipirinhas e a conta… com Lúcia Verissimo
Mauro Ventura
Se você tiver a chance de conhecer o casal Luis Fernando e Lúcia Verissimo, escolha sentar-se ao lado dela. Até porque ele vai passar boa parte da noite calado, pontuando seu silêncio por uma ou outra tirada genial, enquanto ela, dona de um bom humor irresistível, contará histórias, fará observações inteligentes sobre filmes e livros, e deixará todo mundo à vontade.
Aos 65 anos, essa carioca de Botafogo, teve a vida alterada aos 21 anos, quando foi morar na casa dos sogros, em Porto Alegre. Ela tinha 19 anos ao se casarem, pouco antes do golpe militar de 64. Ele se apaixonou num fim de tarde em que tomavam chope, e o sol batia no rosto dela, ressaltando os olhos verdes: “Foi covardia.” Lúcia não perde palestra do marido para saber o que ele pensa. “Faz 46 anos que tento descobrir com quem me casei”, brinca. “Os pais dele (o escritor Erico Verissimo e Mafalda) insistiram para irmos morar com eles no Sul, e Luis Fernando disse: “Quem sabe a gente vai, arruma alguma coisa e volta para o Rio.” Já faz 44 anos isso. Eles eram extremamente afetuosos. Seu Erico sempre que passava por mim dava tapinhas no meu rosto e dizia: “Tão bonitinha. Coitadinha, se meter com aquele cara.” Era uma casa onde os homens não tomam chimarrão, não sabem fazer churrasco e não andam a cavalo. E onde eu, mulher e carioca, é quem assa o churrasco. É a desmoralização do gaúcho.
Mauro Ventura (Jornal O Globo) - Publicado em Verdes Trigos