O poder da fé

Uma aventura de fantasia, com final trágico.

Um padre do Paraná, de nome Adelir de Carli, protagonizou uma maluquice de imprudências continuadas e de altíssimo risco, acompanhado por centenas de pessoas que o incentivaram irresponsavelmente no solo e não impediram sua loucura de final prevísivel.

Deixar-se alçar por mil balões de festa cheios de gás hélio, sem nenhum controle de navegação, sem absolutamente nenhuma tecnologia moderna e alheio a quaisquer orientações meteorológicas e conhecimentos dos ventos. Isso em pleno século XXI, repetindo aventuras rocambolescas e imprudentes de fantasiosas imaginações de contos infantis do século XIX.

Nos quadrinhos e nas histórias infantis essas coisas podem até dar certo.

A intenção do padre maluco era de decolar à deriva, no seu artefato improvisado e amador  desde o litoral, superando o alto obstáculo da grande serra litorânea que cria fortes correntes de vento em direção ao oceano, alcançando o cimo das nuvens, já no espaço aéreo das rotas dos grandes aviões e dali, provavelmente à força de sua fé poderosa e das orações de seus admiradores em terra, seguir direta e precisamente na direção de uma distante cidade a 200 km no oeste do Brasil.

Sem nenhum equipamento de orientação, sem controles tecnológicos, sem máscara e  suprimento de oxigênio, sem roupas térmicas adequadas, sem proteção de paraquedas, vestindo um patético macacão prateado de fantasia de astronauta e um capacete vermelho de motoqueiro, com uma pequena bolsa a tiracolo contendo barrinhas de cereais, uma garrafinha de água e…com um apito pendurado ao pescoço!

Isso num dia de mau tempo, sob chuva, com densas e perigosas nuvens de tempestades, carregadas de água e eletricidade e ventanias de tufão.

O padre partiu em missão aérea com sua poderosa e irremovível fé religiosa, num dia em que os vôos de pequenas aeronaves estavam cancelados. Tudo para apoiar uma improvável Pastoral Rodoviária, em benefício dos caminhoneiros das estradas brasileiras, lastreado numa sua experiência anterior de aventureiro como alpinista nas montanhas!

O padre maluco decolou ao sabor dos intensos ventos que sopravam em direção ao oceano, cruzou a barreira das nuvens, alcançou rapidamente 5.800 metros de altitude, invadiu o espaço aéreo dos jatos, flutuou desembestado em direção ao alto mar, a leste, no Oceano Atlântico e como um ícaro felliniano, precipitou-se tragicamente sobre as águas.

A  natureza, com sua força descomunal, mostrou-se profundamente insensível ao volume impressionante de orações que os fiéis fervorosos e concentrados em terra, dedicaram ao intrépido padre voador.

publicado por ardotempo às 15:17 | Comentar | Adicionar