O gato cinza

Um vento

 

Gato cinza é um vento

Fala seu dialeto apenas com os pássaros.

Vidro.

Chuva, sol, um vento o gato.

 

A pose de esfinge

O silêncio que não lembra os dedos partidos.

Solipsista dos olhos negros e canários,

no  exercicio branco da memória traída.

 

Nada sabe do tigre de Borges

nem do último lobo da Inglaterra.

Sabe o medo de quem chega,

o cheiro, as vozes ou o barulho

dos pés arrastados, dilacerados.

 

Gato cinza é uma ausência

um vento, um vulto. Instante,

a escuridão e um instinto.

Gato cinza é um vento.

Um dia falará,

escolhendo as palavras no dicionário,

seu leito de observação.

 

Gato cinza é um chamado em volutas 

de fumaça azul e seu canto de lamúrias.

Observador de pássaros, argumentativo.

Vidro.

É um vento gris, mistral da poeira 

vulcânica do maciço. 

 

Gato cinza, um dia falará

e contará o mistério que ouviu 

sobre a memória que não se fez.

publicado por ardotempo às 18:57 | Comentar | Adicionar