CAIM é bom

 
O romance CAIM de José Saramago é boa literatura e, simplesmente, como uma obra de literatura, é que deve ser lido. Não como um tratado teológico ou uma bula de atentatória interpretação eclesiástica. Como tudo é inventado, biblia e romance, Saramango tem o direito de criar literariamente o que quiser. Nem estará mentindo ou profanando o quer que seja. Estará estimulando muitas perguntas, multiplicadas reflexões e a imaginação liberta, num exercício maravilhoso de inventividade. O seu texto, de luminosidade contemporânea, é pleno de remissões de hiper-texto em linguagem web, magistralmente incrustradas em barroco e resulta cinematograficamente fascinante em sua esgrima de inflexões passado/futuro, sempre o seu presente metafórico.
 
A construção do entrecho circula em volutas que visualmente resultam em puro cinema: há flash-backs, passagens de tempo, verduras luxuriantes, desertos monocromáticos, salteadores obscuros submetidos a efeitos especiais em que as espadas transformam-se magicamente em serpentes coruscantes a escalarem com agilidade braços petrificados, sexo, muito sexo em contraplanos de secretas luzes filtradas, serial-killers em disputas celestiais, querubins disfarçados sob rústicos tecidos encardidos, uma epifania. Um arraso.

Vale a pena. Leia o livro. Você vai se divertir muito.

publicado por ardotempo às 16:17 | Comentar | Adicionar