O rio, a cidade, o fio

 
 
 
 
Visão
 
Do mar calmo ao Tejo longe
- mais além as sete colinas-
Evoco  o sonho e a alma 
e o corpo abarca o desejo onde
tão intensamente enjeitado parto.
 
Nada prego, senão o paraíso.
 
Temo pelos gestos bruscos
e pelo momento que calo,
mesmo que o cais monte
doloridamente velas mínimas
 
Estrangeiro quando falo
nas tormentas e pontes,
naufrago em colo farto.
 
Senão pátria, que outro rio?
 
O cesto arde em fogo divino,
vime à deriva urdido,
cala outro ciclo de sal.
Desmancha-se o rito.
 
Ao olhar atrás o passado, o fio
precário que sustenta os hinos
nos ventos e marés tardias,
cantam feitos demais.
 
No cal e nos ditos canônicos
para sempre aquém do espírito,
para nunca além do cais.
 
E ainda assim volto
E ainda acinte quero
E ainda pátria, terra.
 
 
© Isolde Bosak
Imagem: Lisboa - © Gilberto Perin, 2009

 

publicado por ardotempo às 17:56 | Comentar | Adicionar