O invisível

O repórter investigativo

 

Com o olhar voltado para a cidade, para o conjunto da sociedade, para a ética, para o interesse público e para os acontecimentos aparentemente triviais, o repórter conta a vida e traz a consciência para a história de uma comunidade. Revela o que todos enxergam sem ver e aponta as luzes sobre as sombras escondidas de uma realidade obscura e mal-disfarçada. Faz a investigação e mostra a todos o comportamento de alguns e os malefícios que se constróem à vista de todos e que, apesar disso, quase ninguém vê. Como afirma o repórter de televisão Daniel Scola, "a reportagem é a vida real".

 

Giovani Grizotti é o repórter televisivo sem imagem. Por razões de qualidade na profissão e por necessidade de proteção, em virtude da contundência e profundidade de suas reportagens, vencedor de mais quarenta prêmios jornalísticos (entre eles vários dos cobiçados Prêmios Esso de Telejornalismo). Ele preserva confidencialmente as suas fontes, a sua autonomia, a sua liberdade de ação e a sua integridade física. Jamais subiu num palco para buscar um prêmio. Não permite fotografias de seu rosto, não aparece no vídeo. Apenas a sua voz em locução off.

 

É necessário. Precisa se disfarçar às vezes, fazer-se passar por outra personagem como se fosse um ator, para obter a noticia real, crua, escancarada, na defesa tácita de uma sociedade que se vê muitas vezes indefesa frente a opacidade de atuação das autoridades responsáveis pela sua defesa. As regras e as leis existem, são boas e suficientes mas não são cumpridas. A imprensa muitas vezes exerce a função fiscalizadora e corrige as falhas que o DNA defeituoso dos seres humanos insiste em impor em ganância e em crimes contra o bom senso e o bem comum.

 

O repórter, temerário, por vezes faz o papel do promotor e do defensor público expondo a realidade e revelando o escândalo do inaceitável, do inimaginável. Começa em algo pequeno, por vezes aparentemente inofensivo e acaba por neutralizar uma grande manobra lesiva à sociedade, em larga escala e em números estratosféricos. Sempre envolvendo o dinheiro público...Casos de desvio de merenda escolar, casos de presídios superlotados e abandonados à própria sorte ou ao azar da gestão dos piores condenados, que administram a ruína carcerária e o crime organizado nos bairros dos cidadãos livres, loteados de dentro das celas desconstruídas, sem grades e sem limites.

 

A sociedade não sabe, o repórter vê e mostra. 

 

Grizotti mostrou o caso do contrabando que atravessava não mais pela grande ponte, na qual a fiscalização se intensificara em métodos policiais de contenção. Aparentemente eficientes. Ele observou que as mercadorias continuavam à venda clandestinamente nas ruas como sempre estiveram. Como isso era possível? Olhou sob a ponte e viu o ir-e-vir dos barcos. O tráfico continuava ali, irremovível, a solução líquida. Filmou os barcos, fez a travessia, entrevistou os próprios contrabandistas, gravou escondido as imagens e as conversas. Esteve no coração da máfia. Revelou tudo, desde as margens das favelas nos dois lados do rio, bem como navegando os riscos inerentes da superfície interfronteiras.

 

A coragem e o destemor de olhar as regras, de ser obediente às leis e mostrar como fazem os que as transgridem e as afrontam como hienas vorazes, quando todos ficam de costas ou apenas um pouco de lado, mas cabisbaixos e calados como se o bem público e o dinheiro público não fossem um coletivo que tem origem transparente no trabalho árduo e honesto de todos.

 

 

Man Ray - Fotografia - Rayograph / Gelatina, sal de prata e ampliação em papel fotográfico

publicado por ardotempo às 17:34 | Comentar | Adicionar