Tintin, agente do Dalai Lama
normal que o Tibet faça o mesmo pela causa de Tintin. Dessa forma justifica-se que o Dalai Lama tenha entregue em 2006 à Fundação Hergé o prêmio Light of Truth da ITC (International Campaign for Tibet), que é uma das parceiras da Fundação Hergé para o centenário do autor.
Georges Remi (inverta as suas iniciais e você formará o seu pseudônimo de autoria para seus álbuns de quadrinhos) estaria sentindo-se muito feliz, certamente. Eu procuro evitar falar pelos mortos,
mas não devemos nos esquecer que o budista belga considerava Tintin no Tibet como sendo o seu álbum predileto e, deliberadamente colocado como um desafio político. Dessa maneira o chefe espiritual do budismo tibetano jamais teve dúvidas: Tintin é o
seu melhor agente de propaganda.
A prova: há cinco anos atrás, quando de seu lançamento em mandarin, o álbum foi abusivamente intitulado como Tintin no Tibet Chinês. A Fundação Hergé desde então apresenta queixas e move ações com o objetivo de retirar a última palavra indevidamente anexada ao título; não se poderia esperar menos por parte de seus dirigentes, Fanny, a viúva de Hergé e de seu atual marido Nick Rodwell, ambos convertidos ao budismo.
Aos olhos do Dalai Lama, que aceitou o convite para inaugurar uma grande exposição Tintin no Tibet tendo ao lado os dois dirigentes da Fundação Hergé, o álbum de Hergé não apenas “revela ao mundo a beleza do Tibet” mas igualmente “promove uma tomada de consciência internacional mais aguçada sobre o Tibet”. Quem poderia imaginar que histórias em quadrinhos poderiam chegar a tanto? O destino reservou a elas algo surpreendente que não poderia ter sido premeditado.
Pierre Assouline - La Republique des Livres, Le Monde – 28.03.2008