O notável simples
obra tão singular.
Artistas tornam-se maiores (maduros, únicos e influentes) quando, por um lance magistral, de seu pensamento de
criação ou de uma iluminação da inteligência sensível,
inventam algo que os especializam no intricado e sutil espaço da Arte. Tornam-se então paradigmáticos, com aquela obra ou obras, que inventaram ou que criaram como outros, talvez, o prefiram.
Apesar dos esforços generalizados, são poucos os que alcançam tal condição. Que resultará quase sempre no reconhecimento, sem palavras, por outros artistas. Sim, porque a conquista normalmente significará que os paradigmáticos inventaram algo que é somente seu, um certificado visual de origem que os identifica imediatamente. Eles não se parecem a ninguém, os outros é que se parecerão a eles, no decorrer do tempo. Ou não terá ocorrido assim em diversos casos?
tão grandioso e tão influente. Com as lascas especulares facetadas em ocres de seu cubismo, com suas sensuais figuras “italianas” ou com sua impressionante Guernica, construída
em desenhos marcados, com matizes de cinzas e negros, que influenciaram centenas de artistas pelo mundo.
Giorgio Morandi com suas naturezas mortas, de garrafas e potes, e o universo infinito das cores “morandianas“ em tons terras, rosas, ocres, grises e amarelos de sua curta e riquíssima paleta, que o fizeram o pintor preferido de tantos outros pintores.
E o Francis Bacon dos corpos que se derretem e se desfazem, apodrecidos e descarnados, em suas telas: outros o repetiram, como num jogral, com incontido entusiasmo. A "feiúra" expressionista de Soutine, de adeptos apaixonados
(e resultados nem tanto). Os volumes acumulados de tintas, espessos e bárbaros, as pastosas tridimenssionais dos movimentos petrificados dos gestos de Karel Appel. Outros artistas também os refizeram, em outras latitudes e noutros tempos, um pouco depois ou bem mais tarde.
milhares de artistas que lhes seguem os passos e os gestos, religiosamente: Paul Klee, Marcel Duchamp, Anselm Kiefer, Henry Moore, Jacometti e Dubuffet.
Há um paradigmático maior no Brasil que se reinventou, pelo menos, três vezes e o fez com originalidade e consistência: Arcangelo Ianelli - quando, ainda figurativo, criou uma gama estupenda de grises coloridos - os matizes sussurrados - e fez de sua cor tão original uma marca pessoal, inconfundível. Posteriormente, inventou os quadrados superpostos em extraordinárias texturas de transparências e celebrizou-se. Recentemente aprofundou radicalmente as pesquisas e revelou-nos as suas séries de Vibrações, sinfonias cromáticas que o singularizam e que nos deixam extasiados frente à qualidade alcançada e à profundidade de seu pensamento pictórico.
Arcangelo Ianelli foi amigo de Alfredo Volpi. Encontravam-se com freqüência, no ateliê de um e do outro, e trocavam idéias sobre a pintura e sobre as técnicas de que se utilizavam. Mostravam um ao outro as suas telas e conversavam, sempre com humor e espírito. Gostavam-se e respeitavam-se, como amigos e como pintores.
Volpi também conquistou a sua própria condição de singularidade. Não se parece a ninguém, também soube se fazer único. Para isso utilizou o módulo sintetizado em formato gráfico de uma bandeira ou de mastro, e as fachadas planas, sem profundidade ou perspectiva, espaços preciosos para os jogos sensíveis da cor. Isso foi bem percebido, estudado e descrito pelo talento de seu principal curador, Olívio Tavares de Araújo, um pensador diligente e preciso no aprofundado conhecimento sobre a obra do pintor italiano-brasileiro.
Pinturas em têmpera sobre tela de Alfredo Volpi.
Fotos de Pierre Yves Refalo