Sábado, 25.06.11

Mar, areia, pedra


Homenagem a Sophia de Mello Breyner Andresen

 
 

 

Em todos os jardins hei-de florir,

Em todos beberei a lua cheia,

Quando enfim no meu fim eu possuir

Todas as praias onde o mar ondeia.

 

Um dia serei eu o mar e a areia,

A tudo quanto existe me hei-de unir,

E o meu sangue arrasta em cada veia

Esse abraço que um dia se há-de abrir.

 

Então receberei no meu desejo

Todo o fogo que habita na floresta

Conhecido por mim como num beijo.

 

Então serei o ritmo das paisagens,

A secreta abundância dessa festa

Que eu via prometida nas imagens.

 

 

 

© Sophia de Mello Breyner Andresen


Enviado por Mariana Ianelli

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publicado por ardotempo às 20:51 | Comentar | Ler Comentários (1) | Adicionar

Uma exposição: uma tela

Arte en medio de la violencia

 

 

 

Nunca una exposición tan pequeña creó tanta expectación. Quizá porque nunca una obra de Pablo Picasso viajó a Palestina. El lienzo Busto de mujer, pintado por el artista en 1943, se encuentra ya en la Academia Internacional de Arte Palestina, con sede en la ciudad cisjordana de Ramala. El cuadro es el primero del pintor malagueño en ser mostrado allí, y su traslado ha costado dos años de arduas negociaciones.

 

Desde ayer, y hasta el próximo 22 de julio, preside Picasso en Palestina, la exposición más pequeña del mundo. Será la única obra ofrecida al público a modo de metáfora de las dificultades sufridas por esa población, que alberga la sede de la Autoridad Nacional Palestina.

 

Busto de mujer es una pintura valorada en cinco millones de euros. Es también una de las estrellas de la colección del museo holandés Van Abbe (Eindhoven), que la ha cedido en nombre de su particular teoría sobre el papel del arte en la sociedad. O como dice Charles Esche, responsable del centro, "para que una colección europea contribuya a buscar una respuesta a las contradicciones de la realidad global en que vivimos".

 

"Nuestro picasso vendrá cambiado de su viaje a Ramala. Y esta peripecia formará parte, para siempre, de la historia del cuadro. Es como si creáramos algo nuevo, preservando al mismo tiempo lo que teníamos", comenta. Khaled Hourani, director artístico de la Academia Internacional de Arte Palestina, ha añadido aún otro acento al insólito viaje picassiano: "Intentamos arrojar luz sobre la realidad contemporánea de Palestina y darle a este proyecto el poder de lo imposible. Picasso en Palestina habla del valor del arte y también de relaciones humanas".

 

La idea de la muestra arrancó en 2009, cuando los alumnos de la Academia palestina escogieron el lienzo de pintor español para colgarlo en el centro. No solo señalaron a uno de los grandes nombres del arte moderno. Relatar los problemas de la mudanza -entre permisos de aduanas y seguridad- serviría para discutir el efecto del conflicto de Oriente Medio en el arte mismo surgido en la zona. Según los responsables del museo Van Abbe, durante el periodo de creación de Busto de mujer, en plena guerra mundial y poco después de la guerra civil española, "Picasso dejó claro su rechazo al conflicto bélico".

 

Verlo en Ramala, por tanto, "ayuda a pensar en otras luchas ocurridas en otros lugares y momentos históricos". Para que la exposición cierre el círculo de compromiso artístico y social que ha dibujado, incluye un programa de conferencias que abordarán las repercusiones del intercambio artístico entre instituciones europeas y de Oriente Medio. Pero tal vez la parte más emotiva de la expedición del cuadro sea su reflejo en el documental dirigido por el cineasta palestino Rashid Masharawi. Hijo de refugiados y nacido en Gaza, en El viaje de Picasso cuenta los detalles de dos años de negociaciones para embarcar la tela en un vuelo entre Ámsterdam y Tel Aviv. También sigue su paso por innumerables controles, y la escolta de agentes de seguridad israelíes que velaron el recorrido hasta Ramala.

 

"Es un momento histórico para nosotros. Es muy importante poder darle al público una obra de este calibre", asegura Tina Sherwell, directora de la Academia Internacional de Arte Palestina. En el museo Van Abbe comparten su opinión. Esche anuncia: "Estamos ampliando las posibilidades de nuestra colección [que suma también varias piezas de Kandinsky con gestos así".

 

Isabel Ferrer - Publicado em El País

publicado por ardotempo às 12:08 | Comentar | Adicionar

Ar entre as colunas

 

 

Sophia de Mello Breyner Andresen

 

Mariana Ianelli

 

Daqui a uma semana haverá festa no bairro da Graça em Lisboa. Haverá festa no Algarve, em Lagos, na Granja, no Porto, em todos os lugares onde viveu Sophia, que desde há sete anos deixou de ser Sophia para ser tudo quanto existe e ela amava, os jardins, a luz, o vento, o mar ao longe. Será mais uma vez aquele frescor de rosas que vem da terra depois de haver chovido, aquele sonho lúcido de ver o mundo nascer de novo como num primeiro dia, de cantar o amor sem ironia e descobrir na palavra o nome das coisas. No mar será aquele friso branco de espuma, no ar um perfume de orégano e alecrim, uma pureza outra vez iluminada nos muros caiados, nas praças, nas casas, será essa festa um esplendor de formas reunidas, um instante de perfeita arquitetura, a presença viva que as imagens prometiam, uma alma de poeta que enfim cumpriu o seu destino de habitar a substância do tempo, florescendo nas tílias, nas camélias, nos rododendros, emergindo nas vagas que levam os barcos.

 

Sophia, íntima do próprio seu nome, sabia que mesmo perdida a infância guarda uma semente, sabia das coisas por amá-las, por olhar a paisagem longamente, sabia que a poesia não tem futuro, tem apenas mistério, que um poema não é uma aventura de linguagem, é um espelho para ver o mundo, um círculo em redor de uma coisa, uma aliança entre os versos e os dias. Sabia também que eram tempos difíceis, de descrença, de negação, de ameaça, e que ser fiel à imanência se tornou uma espécie de pecado. Mas Sophia confiava na unidade, no sentido positivo do universo, eram as coisas que a moviam e não conceitos, eram os livros vivos que lhe falavam, não os prodígios de criação nem os modismos. Para Sophia escrever era relacionar-se com o mundo, e o mundo para ela era sagrado, havia uma moral poética e uma forma de justiça em participar do real e estabelecer com ele uma harmonia. Sophia não separava vida e poesia, não entendia na literatura atual a excessiva preocupação com a linguagem, a contaminação do escritor por teorias, acreditava que era preciso combater com as trevas, escrever a partir do caos, e não de um texto, para chegar à geometria do poema.

 

Em uma de suas viagens à Grécia, diante do Golfo de Corinto, Sophia agradeceu por ter nascido. Nos templos gregos encontrou os seus poemas, na intimidade entre luz e arquitetura, no equilíbrio entre rigor e doçura. Em Roma contemplou maravilhada a regra de ouro na Praça do Capitólio. Nos parques de arvoredos em Berlim sonhou com a antiga Germânia das florestas. Em pleno voo a caminho de Macau, avistando a costa asiática, começou o seu livro Navegações. No México, pelo “dever de ver”, subiu ao topo da Pirâmide do Sol. Quando veio ao Brasil, adorou o cheiro da fruta e da madeira, as montanhas e as praias brasileiras, esteve em Recife, Cabo Frio, Ouro Preto, e quando desceu em Brasília viu a “Cidade de Atena”. Sophia perseguia uma paisagem e suas raízes, perseguia um tempo não dividido, a palavra na sua forma primitiva, o poema que não é literatura mas uma obra da atenção, uma túnica inconsútil, uma oferta dos deuses, uma aliança com a poeira das estradas, o ar entre as colunas, a casa entre o mar e a montanha, os frutos de setembro, as águas verdes de Brindisi.

 

Era amiga dos poetas, Sophia. Não perdia um minuto com “tricas literárias”, procurava apenas silêncio e tempo livre para escrever. Cantava o esplendor de Thasos e Egina, mas não esquecia o horror de Treblinka e Hiroshima. Batalhou dentro da política por uma sociedade em que a poesia fosse a pedra fundamental da educação e a cultura alcançasse o espaço cotidiano, como quando viveu o 25 de abril e as pessoas atravessavam o Rossio feito um bando de gaivotas. Sophia estava mergulhada na vida e sua vida na poesia, bons versos revelavam para ela dias bem vividos. Mãe de Xavier, Miguel, Sofia, Isabel e Maria, ensinou-lhes a ver a pedra, o ouriço, os búzios, as estrelas, ensinou-lhes a poesia no seu canto vivo, recitada em casa, a caminho do mercado, numa loja, num café, em todos os lugares, a poesia além dos livros.

 

Quando pequena, em noites de temporal, na casa do Porto, Sophia rezava para os pescadores conseguirem voltar a terra. Ouvia da mãe a história de uma menina que morava no mar e isso lhe parecia a máxima felicidade. No jardim semiabandonado da casa da avó, na primavera, colhia rosas e as mastigava. Em seu caderno de latim, no colégio, escreveu: “É-me necessário escrever versos, é-me proibido saber por quê”. Todas essas sementes da infância frutificaram. Sophia agora é tudo o que floresce, o que pede para ser visto, a quem possa ver o mar, a areia, a lua, os jardins, o fogo na floresta, o que pede para ser ouvido, a quem possa ouvir o ritmo das paisagens. Sophia é agora a abundância dessa festa.

 


 

Mariana Ianelli - Publicado no blog Vida Breve

publicado por ardotempo às 03:54 | Comentar | Adicionar

Editor: ardotempo / AA

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