Quinta-feira, 23.06.11

Drogas livres: pense nos seus filhos adolescentes

Ronaldo Laranjeira - o que vê o efeito das drogas todos os dias

 

A voz contra a liberação das drogas

 

Mariana Barros

 

Na polêmica sobre a descriminalização da maconha, não faltam argumentos defensáveis tanto do ponto de vista de quem é a favor quanto dos que são contra uma mudança na legislação atual. Essa discussão, que andava adormecida, voltou à cena por causa de manifestações como a Marcha da Maconha, realizada em maio na Avenida Paulista com o apoio de cerca de 700 pessoas, e com a estreia, no início deste mês, do documentário “Quebrando o Tabu”, do cineasta Fernando Grostein Andrade.

 

Quem dá o tom da narrativa é o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, que visita várias cidades do mundo para mostrar boas e más experiências em políticas relacionadas ao tema. O filme conclui que a descriminalização da maconha representaria um passo importante para diminuir o poder dos criminosos do narcotráfico. “Viver num mundo sem drogas é utópico, isso nunca existiu, mas podemos trabalhar para reduzir os danos”, afirma FHC, a certa altura do filme. No debate em torno do tema, o psiquiatra paulistano Ronaldo Laranjeira, de 54 anos, virou um porta-voz dos que não apoiam uma flexibilização na lei. Após mais de três décadas de atividade profissional dedicada ao tratamento de dependentes químicos, experiência que o colocou entre os maiores especialistas do país no assunto, ele está convencido de que, em se tratando de substâncias ilícitas, não há negociação possível: é preciso haver proibição total.

 

Além de conhecer a fundo a política antidrogas de países como Suécia, Estados Unidos e Inglaterra, Laranjeira coordena o atendimento de mais de 100 pessoas adictas todos os dias em sua clínica particular e coordena 180 internações realizadas por sua equipe. É ainda fundador da Uniad, serviço na Vila Mariana especializado em drogas da Universidade Federal de São Paulo e autor do primeiro estudo clínico nacional com usuários de crack. “Mais fácil seria defender o direito de cada um fazer o que bem quiser, mas a saúde pública está em jogo”, diz.

 

Nas oportunidades que encontra para falar sobre o assunto, ele cita uma série de estudos para justificar seus argumentos. Uma dessas pesquisas mostra que uma em cada dez pessoas que experimentam maconha desenvolve algum tipo de transtorno mental. Além disso, uma vez liberada essa droga, Laranjeira avalia que o número de usuários subiria de estimados 5% para 15% dos brasileiros. O baixo preço — um cigarro custa 1 real — faria o consumo incidir sobre a parcela mais vulnerável da população: os adolescentes e as classes mais baixas. “É preciso pensar na sociedade como um todo”, afirma. Para o psiquiatra, o Brasil deveria se mirar no exemplo da Suécia. “A liberação nos anos 60 impulsionou o consumo e fez o país voltar atrás, passando a punir traficantes e usuários para retomar o controle da situação”, afirma.

 

A clareza de suas posições transformou-o numa espécie de estandarte antidrogas. “Virei o chato, o do contra, o careta de plantão”, comenta. Todos os meses ele recebe até sessenta convites para participar de debates, palestras e entrevistas em vários estados brasileiros. Em um dos eventos, organizado pelo jornal Folha de S.Paulo em outubro passado, saiu escoltado por dois seguranças depois de ter se sentido ameaçado de agressão por parte da plateia. Já foi insultado em blogs e fóruns da internet e considerado persona non grata por jovens universitários — hostilizado até mesmo por alunos da faculdade onde leciona, a Escola Paulista de Medicina. Por várias vezes foi minoria nas discussões.

 

O tema até virou piada entre seus familiares. Um de seus três filhos, a caçula Lina, de 8 anos, criou um bordão para iniciar as imitações. “Olá, sou Ronaldo Laranjeira, sou contra as drogas e luto por você”, diz a menina em tom de propaganda eleitoral. Nas décadas anteriores, estudando a dependência de fumantes e alcoólicos, ele enfrentou o lobby das empresas fabricantes de cigarros e bebidas, questionando a atuação delas e defendendo a regulação do consumo de seus produtos. “Era um diálogo difícil, mas eu nunca havia sido tão hostilizado como ocorre agora no debate sobre a liberação da maconha”, afirma. Embora muitas vezes se sinta solitário na discussão, o psiquiatra acredita estar do lado da maioria. Contabiliza a seu favor famílias de viciados, muitos pais de classe média e a maioria dos evangélicos.

 

Se houvesse um plebiscito, a descriminalização jamais seria aprovada”, aposta.

 

Entrevista concedida a Mariana Barros

publicado por ardotempo às 20:21 | Comentar | Adicionar

O pior do presente é o futuro

Esperar trezentos anos

 

Enrique Vila-Matas

 

En el avión de regreso de Dublín, sustituyo las noticias de la prensa por las ideas de Flaubert (Razones y osadías, selección y prólogo de Jordi Llovet) y confirmo la capacidad de percepción de lo que estaba por venir que gobernó al autor de Bouvard et Pecuchet: "Lo que más me asombra es la feroz estupidez de los hombres. Estoy harto de tantos horrores y convencido de que estamos entrando en una época repugnante en la que no habrá lugar para la gente como nosotros. La gente será utilitarista y militar, ahorradora, mezquina, pusilánime, abyecta".

 

Esto lo escribió hace siglo y medio y creo que se quedó corto y que se llevaría un sobresalto si viera cómo es la gente ahora. En nuestras masas, por ejemplo, hay un lógico nivel de dudosa claridad intelectual, porque las masas, por definición, son número, son aglomeración. Pero si el vulgo no tiene claridad, menos aún parecen tenerla las clases dirigentes. Cuando se habla de la ignorancia de las masas, se habla en términos injustos e incompletos, porque a quien sería más urgente educar es a los poderosos. "Conclusión: hay que ilustrar a las clases ilustradas. Empezad por la cabeza, que es la parte más enferma; el resto seguirá", escribió Flaubert.

 

A los poderosos, al tiempo que se les educa, habría que recordarles que leer nos abre a un mundo ancho, es atreverse incluso con el sosegado Spencer, que proponía la abolición del Estado. Hasta no hace mucho, en los días en los que me dedicaba a buscar soluciones para el mundo, me lamentaba de que nuestros dirigentes estuvieran tan pérfidamente interesados en mantener a sus súbditos en un estado de absoluta ignorancia. Pero con el tiempo he comprendido que muchos de esos dirigentes carecen de las más elementales lecturas y sabiduría y ni siquiera son estrategas de la ignorancia de las masas y hoy en día solo son fracasados hombres de negocios, dominados por los famosos mercados; son los mismos que dejan que el mundo se hunda como una barca podrida y que la salvación del espíritu acabe pareciendo quimérica incluso a los más fuertes. Encapsulado en mi espacio mínimo del avión, caigo en la cuenta de que lo peor del presente es el futuro.

 

Ahí abajo me espera el mundo con su feroz estupidez y horrores y voy preguntándome qué sucederá el día en que, tal como resulta cada día más previsible, el mundo se convierta en algo frío y descarnado. ¿Y quién no percibe que ya se está volviendo así el mundo? Qué ocurrirá, creo recordar que se preguntaba Flaubert, el día en que la convivencia que alguna vez conocimos -que todos alguna vez hemos conocido- ya no exista. Y eso lo preguntaba cuando las cosas aún no tenían la extrema ferocidad actual. Pero ya entonces él deseaba apartarse. No creía en la felicidad, pero sí en la tranquilidad. Por eso, al final de su vida seguía la regla indeleble de apartarse de todo lo que le resultara enojoso.

 

Seguramente - me digo cuando busco soluciones - la tranquilidad es de los pocos derechos que aún podemos ejercer con calma, porque nos basta con no perder los nervios y cerrar los ojos y quedarnos con nosotros mismos y pensar, por ejemplo, en el tranquilo anarquismo de Spencer. Pero, bueno, quizás haríamos bien en no estar buscando tantas soluciones al mundo ni preocuparnos tanto y tanto por la verdad y sí, en cambio, buscar aquella verdad con la que, aun no siendo perfecta, al menos podamos vivir. Y es que quizás sea cierto que, como decía la vagabunda de la leyenda, todavía hay una gran diferencia entre tratar de sorber todo el océano o beber de los arroyos.

 

Le preguntaron un día a Borges si pensaba seriamente que el Estado que proponía Spencer era factible.

 

- Por supuesto. Pero eso sí, es cuestión de esperar doscientos o trescientos años.

 

-¿Y mientras tanto?

 

- Mientras tanto, jodernos.

 

Es duro, pero esta es una de esas verdades con la que precisamente podemos vivir.

 

Enrique Vila-Matas

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publicado por ardotempo às 20:09 | Comentar | Adicionar

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