Terça-feira, 28.06.11

Sexta-feira 1º de julho - Dia de CAMISA BRASILEIRA

Lançamento do livro no Museu do Futebol em São Paulo

 

Convite a todos os amigos deste blog e dos autores do livro: Gilberto Perin, Aldyr Garcia Schlee e João Gilberto Noll.

 

 

 

 

 


publicado por ardotempo às 12:24 | Comentar | Adicionar
Sábado, 25.06.11

Mar, areia, pedra


Homenagem a Sophia de Mello Breyner Andresen

 
 

 

Em todos os jardins hei-de florir,

Em todos beberei a lua cheia,

Quando enfim no meu fim eu possuir

Todas as praias onde o mar ondeia.

 

Um dia serei eu o mar e a areia,

A tudo quanto existe me hei-de unir,

E o meu sangue arrasta em cada veia

Esse abraço que um dia se há-de abrir.

 

Então receberei no meu desejo

Todo o fogo que habita na floresta

Conhecido por mim como num beijo.

 

Então serei o ritmo das paisagens,

A secreta abundância dessa festa

Que eu via prometida nas imagens.

 

 

 

© Sophia de Mello Breyner Andresen


Enviado por Mariana Ianelli

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publicado por ardotempo às 20:51 | Comentar | Ler Comentários (1) | Adicionar

Uma exposição: uma tela

Arte en medio de la violencia

 

 

 

Nunca una exposición tan pequeña creó tanta expectación. Quizá porque nunca una obra de Pablo Picasso viajó a Palestina. El lienzo Busto de mujer, pintado por el artista en 1943, se encuentra ya en la Academia Internacional de Arte Palestina, con sede en la ciudad cisjordana de Ramala. El cuadro es el primero del pintor malagueño en ser mostrado allí, y su traslado ha costado dos años de arduas negociaciones.

 

Desde ayer, y hasta el próximo 22 de julio, preside Picasso en Palestina, la exposición más pequeña del mundo. Será la única obra ofrecida al público a modo de metáfora de las dificultades sufridas por esa población, que alberga la sede de la Autoridad Nacional Palestina.

 

Busto de mujer es una pintura valorada en cinco millones de euros. Es también una de las estrellas de la colección del museo holandés Van Abbe (Eindhoven), que la ha cedido en nombre de su particular teoría sobre el papel del arte en la sociedad. O como dice Charles Esche, responsable del centro, "para que una colección europea contribuya a buscar una respuesta a las contradicciones de la realidad global en que vivimos".

 

"Nuestro picasso vendrá cambiado de su viaje a Ramala. Y esta peripecia formará parte, para siempre, de la historia del cuadro. Es como si creáramos algo nuevo, preservando al mismo tiempo lo que teníamos", comenta. Khaled Hourani, director artístico de la Academia Internacional de Arte Palestina, ha añadido aún otro acento al insólito viaje picassiano: "Intentamos arrojar luz sobre la realidad contemporánea de Palestina y darle a este proyecto el poder de lo imposible. Picasso en Palestina habla del valor del arte y también de relaciones humanas".

 

La idea de la muestra arrancó en 2009, cuando los alumnos de la Academia palestina escogieron el lienzo de pintor español para colgarlo en el centro. No solo señalaron a uno de los grandes nombres del arte moderno. Relatar los problemas de la mudanza -entre permisos de aduanas y seguridad- serviría para discutir el efecto del conflicto de Oriente Medio en el arte mismo surgido en la zona. Según los responsables del museo Van Abbe, durante el periodo de creación de Busto de mujer, en plena guerra mundial y poco después de la guerra civil española, "Picasso dejó claro su rechazo al conflicto bélico".

 

Verlo en Ramala, por tanto, "ayuda a pensar en otras luchas ocurridas en otros lugares y momentos históricos". Para que la exposición cierre el círculo de compromiso artístico y social que ha dibujado, incluye un programa de conferencias que abordarán las repercusiones del intercambio artístico entre instituciones europeas y de Oriente Medio. Pero tal vez la parte más emotiva de la expedición del cuadro sea su reflejo en el documental dirigido por el cineasta palestino Rashid Masharawi. Hijo de refugiados y nacido en Gaza, en El viaje de Picasso cuenta los detalles de dos años de negociaciones para embarcar la tela en un vuelo entre Ámsterdam y Tel Aviv. También sigue su paso por innumerables controles, y la escolta de agentes de seguridad israelíes que velaron el recorrido hasta Ramala.

 

"Es un momento histórico para nosotros. Es muy importante poder darle al público una obra de este calibre", asegura Tina Sherwell, directora de la Academia Internacional de Arte Palestina. En el museo Van Abbe comparten su opinión. Esche anuncia: "Estamos ampliando las posibilidades de nuestra colección [que suma también varias piezas de Kandinsky con gestos así".

 

Isabel Ferrer - Publicado em El País

publicado por ardotempo às 12:08 | Comentar | Adicionar

Ar entre as colunas

 

 

Sophia de Mello Breyner Andresen

 

Mariana Ianelli

 

Daqui a uma semana haverá festa no bairro da Graça em Lisboa. Haverá festa no Algarve, em Lagos, na Granja, no Porto, em todos os lugares onde viveu Sophia, que desde há sete anos deixou de ser Sophia para ser tudo quanto existe e ela amava, os jardins, a luz, o vento, o mar ao longe. Será mais uma vez aquele frescor de rosas que vem da terra depois de haver chovido, aquele sonho lúcido de ver o mundo nascer de novo como num primeiro dia, de cantar o amor sem ironia e descobrir na palavra o nome das coisas. No mar será aquele friso branco de espuma, no ar um perfume de orégano e alecrim, uma pureza outra vez iluminada nos muros caiados, nas praças, nas casas, será essa festa um esplendor de formas reunidas, um instante de perfeita arquitetura, a presença viva que as imagens prometiam, uma alma de poeta que enfim cumpriu o seu destino de habitar a substância do tempo, florescendo nas tílias, nas camélias, nos rododendros, emergindo nas vagas que levam os barcos.

 

Sophia, íntima do próprio seu nome, sabia que mesmo perdida a infância guarda uma semente, sabia das coisas por amá-las, por olhar a paisagem longamente, sabia que a poesia não tem futuro, tem apenas mistério, que um poema não é uma aventura de linguagem, é um espelho para ver o mundo, um círculo em redor de uma coisa, uma aliança entre os versos e os dias. Sabia também que eram tempos difíceis, de descrença, de negação, de ameaça, e que ser fiel à imanência se tornou uma espécie de pecado. Mas Sophia confiava na unidade, no sentido positivo do universo, eram as coisas que a moviam e não conceitos, eram os livros vivos que lhe falavam, não os prodígios de criação nem os modismos. Para Sophia escrever era relacionar-se com o mundo, e o mundo para ela era sagrado, havia uma moral poética e uma forma de justiça em participar do real e estabelecer com ele uma harmonia. Sophia não separava vida e poesia, não entendia na literatura atual a excessiva preocupação com a linguagem, a contaminação do escritor por teorias, acreditava que era preciso combater com as trevas, escrever a partir do caos, e não de um texto, para chegar à geometria do poema.

 

Em uma de suas viagens à Grécia, diante do Golfo de Corinto, Sophia agradeceu por ter nascido. Nos templos gregos encontrou os seus poemas, na intimidade entre luz e arquitetura, no equilíbrio entre rigor e doçura. Em Roma contemplou maravilhada a regra de ouro na Praça do Capitólio. Nos parques de arvoredos em Berlim sonhou com a antiga Germânia das florestas. Em pleno voo a caminho de Macau, avistando a costa asiática, começou o seu livro Navegações. No México, pelo “dever de ver”, subiu ao topo da Pirâmide do Sol. Quando veio ao Brasil, adorou o cheiro da fruta e da madeira, as montanhas e as praias brasileiras, esteve em Recife, Cabo Frio, Ouro Preto, e quando desceu em Brasília viu a “Cidade de Atena”. Sophia perseguia uma paisagem e suas raízes, perseguia um tempo não dividido, a palavra na sua forma primitiva, o poema que não é literatura mas uma obra da atenção, uma túnica inconsútil, uma oferta dos deuses, uma aliança com a poeira das estradas, o ar entre as colunas, a casa entre o mar e a montanha, os frutos de setembro, as águas verdes de Brindisi.

 

Era amiga dos poetas, Sophia. Não perdia um minuto com “tricas literárias”, procurava apenas silêncio e tempo livre para escrever. Cantava o esplendor de Thasos e Egina, mas não esquecia o horror de Treblinka e Hiroshima. Batalhou dentro da política por uma sociedade em que a poesia fosse a pedra fundamental da educação e a cultura alcançasse o espaço cotidiano, como quando viveu o 25 de abril e as pessoas atravessavam o Rossio feito um bando de gaivotas. Sophia estava mergulhada na vida e sua vida na poesia, bons versos revelavam para ela dias bem vividos. Mãe de Xavier, Miguel, Sofia, Isabel e Maria, ensinou-lhes a ver a pedra, o ouriço, os búzios, as estrelas, ensinou-lhes a poesia no seu canto vivo, recitada em casa, a caminho do mercado, numa loja, num café, em todos os lugares, a poesia além dos livros.

 

Quando pequena, em noites de temporal, na casa do Porto, Sophia rezava para os pescadores conseguirem voltar a terra. Ouvia da mãe a história de uma menina que morava no mar e isso lhe parecia a máxima felicidade. No jardim semiabandonado da casa da avó, na primavera, colhia rosas e as mastigava. Em seu caderno de latim, no colégio, escreveu: “É-me necessário escrever versos, é-me proibido saber por quê”. Todas essas sementes da infância frutificaram. Sophia agora é tudo o que floresce, o que pede para ser visto, a quem possa ver o mar, a areia, a lua, os jardins, o fogo na floresta, o que pede para ser ouvido, a quem possa ouvir o ritmo das paisagens. Sophia é agora a abundância dessa festa.

 


 

Mariana Ianelli - Publicado no blog Vida Breve

publicado por ardotempo às 03:54 | Comentar | Adicionar
Sexta-feira, 24.06.11

As imagens contam

 

Livro de Arte Fotográfica de Gilberto Perin

 

 

 

  

 

 

publicado por ardotempo às 19:23 | Comentar | Adicionar
Quinta-feira, 23.06.11

Drogas livres: pense nos seus filhos adolescentes

Ronaldo Laranjeira - o que vê o efeito das drogas todos os dias

 

A voz contra a liberação das drogas

 

Mariana Barros

 

Na polêmica sobre a descriminalização da maconha, não faltam argumentos defensáveis tanto do ponto de vista de quem é a favor quanto dos que são contra uma mudança na legislação atual. Essa discussão, que andava adormecida, voltou à cena por causa de manifestações como a Marcha da Maconha, realizada em maio na Avenida Paulista com o apoio de cerca de 700 pessoas, e com a estreia, no início deste mês, do documentário “Quebrando o Tabu”, do cineasta Fernando Grostein Andrade.

 

Quem dá o tom da narrativa é o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, que visita várias cidades do mundo para mostrar boas e más experiências em políticas relacionadas ao tema. O filme conclui que a descriminalização da maconha representaria um passo importante para diminuir o poder dos criminosos do narcotráfico. “Viver num mundo sem drogas é utópico, isso nunca existiu, mas podemos trabalhar para reduzir os danos”, afirma FHC, a certa altura do filme. No debate em torno do tema, o psiquiatra paulistano Ronaldo Laranjeira, de 54 anos, virou um porta-voz dos que não apoiam uma flexibilização na lei. Após mais de três décadas de atividade profissional dedicada ao tratamento de dependentes químicos, experiência que o colocou entre os maiores especialistas do país no assunto, ele está convencido de que, em se tratando de substâncias ilícitas, não há negociação possível: é preciso haver proibição total.

 

Além de conhecer a fundo a política antidrogas de países como Suécia, Estados Unidos e Inglaterra, Laranjeira coordena o atendimento de mais de 100 pessoas adictas todos os dias em sua clínica particular e coordena 180 internações realizadas por sua equipe. É ainda fundador da Uniad, serviço na Vila Mariana especializado em drogas da Universidade Federal de São Paulo e autor do primeiro estudo clínico nacional com usuários de crack. “Mais fácil seria defender o direito de cada um fazer o que bem quiser, mas a saúde pública está em jogo”, diz.

 

Nas oportunidades que encontra para falar sobre o assunto, ele cita uma série de estudos para justificar seus argumentos. Uma dessas pesquisas mostra que uma em cada dez pessoas que experimentam maconha desenvolve algum tipo de transtorno mental. Além disso, uma vez liberada essa droga, Laranjeira avalia que o número de usuários subiria de estimados 5% para 15% dos brasileiros. O baixo preço — um cigarro custa 1 real — faria o consumo incidir sobre a parcela mais vulnerável da população: os adolescentes e as classes mais baixas. “É preciso pensar na sociedade como um todo”, afirma. Para o psiquiatra, o Brasil deveria se mirar no exemplo da Suécia. “A liberação nos anos 60 impulsionou o consumo e fez o país voltar atrás, passando a punir traficantes e usuários para retomar o controle da situação”, afirma.

 

A clareza de suas posições transformou-o numa espécie de estandarte antidrogas. “Virei o chato, o do contra, o careta de plantão”, comenta. Todos os meses ele recebe até sessenta convites para participar de debates, palestras e entrevistas em vários estados brasileiros. Em um dos eventos, organizado pelo jornal Folha de S.Paulo em outubro passado, saiu escoltado por dois seguranças depois de ter se sentido ameaçado de agressão por parte da plateia. Já foi insultado em blogs e fóruns da internet e considerado persona non grata por jovens universitários — hostilizado até mesmo por alunos da faculdade onde leciona, a Escola Paulista de Medicina. Por várias vezes foi minoria nas discussões.

 

O tema até virou piada entre seus familiares. Um de seus três filhos, a caçula Lina, de 8 anos, criou um bordão para iniciar as imitações. “Olá, sou Ronaldo Laranjeira, sou contra as drogas e luto por você”, diz a menina em tom de propaganda eleitoral. Nas décadas anteriores, estudando a dependência de fumantes e alcoólicos, ele enfrentou o lobby das empresas fabricantes de cigarros e bebidas, questionando a atuação delas e defendendo a regulação do consumo de seus produtos. “Era um diálogo difícil, mas eu nunca havia sido tão hostilizado como ocorre agora no debate sobre a liberação da maconha”, afirma. Embora muitas vezes se sinta solitário na discussão, o psiquiatra acredita estar do lado da maioria. Contabiliza a seu favor famílias de viciados, muitos pais de classe média e a maioria dos evangélicos.

 

Se houvesse um plebiscito, a descriminalização jamais seria aprovada”, aposta.

 

Entrevista concedida a Mariana Barros

publicado por ardotempo às 20:21 | Comentar | Adicionar

O pior do presente é o futuro

Esperar trezentos anos

 

Enrique Vila-Matas

 

En el avión de regreso de Dublín, sustituyo las noticias de la prensa por las ideas de Flaubert (Razones y osadías, selección y prólogo de Jordi Llovet) y confirmo la capacidad de percepción de lo que estaba por venir que gobernó al autor de Bouvard et Pecuchet: "Lo que más me asombra es la feroz estupidez de los hombres. Estoy harto de tantos horrores y convencido de que estamos entrando en una época repugnante en la que no habrá lugar para la gente como nosotros. La gente será utilitarista y militar, ahorradora, mezquina, pusilánime, abyecta".

 

Esto lo escribió hace siglo y medio y creo que se quedó corto y que se llevaría un sobresalto si viera cómo es la gente ahora. En nuestras masas, por ejemplo, hay un lógico nivel de dudosa claridad intelectual, porque las masas, por definición, son número, son aglomeración. Pero si el vulgo no tiene claridad, menos aún parecen tenerla las clases dirigentes. Cuando se habla de la ignorancia de las masas, se habla en términos injustos e incompletos, porque a quien sería más urgente educar es a los poderosos. "Conclusión: hay que ilustrar a las clases ilustradas. Empezad por la cabeza, que es la parte más enferma; el resto seguirá", escribió Flaubert.

 

A los poderosos, al tiempo que se les educa, habría que recordarles que leer nos abre a un mundo ancho, es atreverse incluso con el sosegado Spencer, que proponía la abolición del Estado. Hasta no hace mucho, en los días en los que me dedicaba a buscar soluciones para el mundo, me lamentaba de que nuestros dirigentes estuvieran tan pérfidamente interesados en mantener a sus súbditos en un estado de absoluta ignorancia. Pero con el tiempo he comprendido que muchos de esos dirigentes carecen de las más elementales lecturas y sabiduría y ni siquiera son estrategas de la ignorancia de las masas y hoy en día solo son fracasados hombres de negocios, dominados por los famosos mercados; son los mismos que dejan que el mundo se hunda como una barca podrida y que la salvación del espíritu acabe pareciendo quimérica incluso a los más fuertes. Encapsulado en mi espacio mínimo del avión, caigo en la cuenta de que lo peor del presente es el futuro.

 

Ahí abajo me espera el mundo con su feroz estupidez y horrores y voy preguntándome qué sucederá el día en que, tal como resulta cada día más previsible, el mundo se convierta en algo frío y descarnado. ¿Y quién no percibe que ya se está volviendo así el mundo? Qué ocurrirá, creo recordar que se preguntaba Flaubert, el día en que la convivencia que alguna vez conocimos -que todos alguna vez hemos conocido- ya no exista. Y eso lo preguntaba cuando las cosas aún no tenían la extrema ferocidad actual. Pero ya entonces él deseaba apartarse. No creía en la felicidad, pero sí en la tranquilidad. Por eso, al final de su vida seguía la regla indeleble de apartarse de todo lo que le resultara enojoso.

 

Seguramente - me digo cuando busco soluciones - la tranquilidad es de los pocos derechos que aún podemos ejercer con calma, porque nos basta con no perder los nervios y cerrar los ojos y quedarnos con nosotros mismos y pensar, por ejemplo, en el tranquilo anarquismo de Spencer. Pero, bueno, quizás haríamos bien en no estar buscando tantas soluciones al mundo ni preocuparnos tanto y tanto por la verdad y sí, en cambio, buscar aquella verdad con la que, aun no siendo perfecta, al menos podamos vivir. Y es que quizás sea cierto que, como decía la vagabunda de la leyenda, todavía hay una gran diferencia entre tratar de sorber todo el océano o beber de los arroyos.

 

Le preguntaron un día a Borges si pensaba seriamente que el Estado que proponía Spencer era factible.

 

- Por supuesto. Pero eso sí, es cuestión de esperar doscientos o trescientos años.

 

-¿Y mientras tanto?

 

- Mientras tanto, jodernos.

 

Es duro, pero esta es una de esas verdades con la que precisamente podemos vivir.

 

Enrique Vila-Matas

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Terça-feira, 21.06.11

Jogo da bola

A intimidade virou arte

 

Luísa Roig Martins

 

 

 

 

Com as lentes de uma câmera fotográfica, Gilberto Perin pôs seus olhos onde os de mais ninguém já haviam chegado. Registrou, em imagens, um Brasil de Pelotas fora do campo de futebol e da visão comum da torcida. Pois é lá, nos bastidores dos estádios, que os jogadores expressam suas angústias, discutem táticas, comemoram bons resultados e, em um dos momentos mais íntimos e pessoais, rezam.

 

Como um ser invisível, o fotógrafo acompanhou o elenco xavante por quase quatro meses, no ano passado, durante a disputa da Segunda Divisão Gaúcha. O resultado: a exposição e o livro intitulados Brasil – Camisa brasileira, este último com inserções textuais de Aldyr Schlee e João Gilberto Noll. À venda nas livrarias Vanguarda e Mundial (em Pelotas RS), a obra tem o selo da edições ardotempo, a mesma do livro Don Frutos, de Schlee.

 

Em Pelotas, o lançamento será simultâneo à inauguração da mostra, no dia 18 de agosto, no Museu de Arte Leopoldo Gotuzzo (MALG). A curadoria é do escritor e artista plástico Alfredo Aquino. Antes disso, porém, o trabalho será apresentado no Museu de Futebol, em São Paulo, e em Bagé, ainda sem local definido, a partir do dia 13 de julho.

 

 

O projeto foi concebido por Perin como uma forma de resgatar o antigo hábito de documentar o que ocorria nos vestiários – locais aos quais, hoje em dia, nem mesmo a imprensa especializada tem acesso. “Antigamente, no intervalo e ao final das partidas, os repórteres de rádio transmitiam o som dos vestiários. Era direta a emoção expressiva dos jogadores, falando após as vitórias ou derrotas. E poeticamente, esse era um mundo que me interessava: os bastidores, essas coisas que não estão na parte da frente”, comenta o fotógrafo. Perin deu o primeiro passo: garantir a autorização do então presidente do clube rubro-negro, Helder Lopes. “Em função de sua proximidade com Schlee, que fez esse intermédio, ele topou. Eu queria fotografar um time batalhador. E ainda dei a sorte de trabalhar com um clube chamado Brasil, o que deu um significado muito maior ao projeto”, diz. Mas como deixar os atletas à vontade frente a presença de alguém que, mais do que “alheio” à equipe, apontava a ela suas lentes? Antes de qualquer atitude, uma conversa com os jogadores foi fundamental para explicar que ele não era nenhum tipo de espião. “Pois há outros tipos de intimidade além da física. É lá que eles definem estratégias de jogo, por exemplo”, aponta. Depois, fez o alerta: sempre que alguém não se sentisse à vontade com sua presença, era só levantar a mão e ele pararia de clicar. “Mas nenhum deles fez isso, em momento algum”, conta.

 

Durante todos os meses em que acompanhou os vestiários, Perin quase não conversou com os atletas. “Eu não queria interferir na cena. A intimidade foi criada pela não-intimidade”, define. As fotos de nudez, publicadas semana passada em galerias na web, chamaram a atenção dos internautas, mas representam menos de 5% do total de cliques. No total, são 50 fotos na exposição em 110 no livro, distribuídas em 114 páginas. “E a diversidade entre os próprios jogadores engrandeceu o ensaio. Naquele elenco, havia representantes de dez estados brasileiros”.

 


 

Se o vestiário é um mundo com o qual os torcedores fantasiam, Perin buscou expôr a bela natureza de um ser que vibra, sofre e se emociona. Humanizou o futebol de sentimentos que ninguém vê. “Este não é um livro sobre o centenário do clube. É um livro sobre bastidores. E me sinto privilegiado em ter as escritas de Schlee e de Noll. São duas feras. Eles deram consistência à obra”, afirma.

 

Livro Brasil – Camisa Brasileira

edições ardotempo

 


 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Saiba mais

 

Gilberto Perin (fotógrafo, diretor de cena, roteirista e jornalista) – www.gilbertoperin.com

 

 

 

Luísa Roig Martins - Publicado no Diário Popular - Pelotas

 

 

 

 

 

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Segunda-feira, 20.06.11

Contra quem grita o mar?

O mundo como vontade e representação

 

António Lobo Antunes

 

Contra quem gritam os pavões? No Castelo de São Jorge gritavam contra a noite, no Campo de Santana gritavam contra a noite, em casa do meu avô gritavam contra a noite, e não eram gritos de pássaros, eram gritos de pessoas feridas na alma, cujo medo protestava ainda. Contra quem gritam os corvos no leste da Europa, contra quem gritam as gaivotas de Portugal? E os albatrozes? E as andorinhas-do-mar? Contra quem gritam, em silêncio, os móveis e os meninos de África correndo na picada? Contra a noite também, contra o absurdo violento da noite. As catatuas gritam contra si mesmas. Eu grito contra a minha alma pecadora. Por que razão me comove um bebé a chorar? Devo ter vertido muitas lágrimas, ainda verto algumas, invisíveis. Talvez nem eu dê por elas, às vezes. Talvez não queira dar por elas mas outro dia, ao olhar um homem que conheço, senti-as descerem-me sob a pele:

 

- O que se passa consigo?

 

e um trejeito da boca

 

- Não estou bem

 

um trejeito do corpo calado

 

- Não estou bem

 

e não posso tocar-lhe para que não se aperceba da minha tristeza.

 

Um soldado a quem uma anti-pessoal levou a perna:

 

- Não contem ao meu pai

 

e não conto ao teu pai, descansa, fica entre nós.

 

Em lugar da perna um coto que não pára de sangrar.

 

Contra quem grita o coto? Contra quem grita outro soldado, de joelhos ao pé dele?

 

- Matámos as galinhas todas

 

diziam os catangueses pelo rádio, matámos as galinhas todas. Galinhas significavam galinhas e mulheres.

 

Alferes José Luís Henriques, valente como as armas, José Luís Cristóvão Henriques, tu contavas isto a gritar. Como os pavões, os corvos, as gaivotas e as andorinhas-do-mar. Contra quem grita o mar? Dá-me todas as lágrimas do mar, pedia o chileno, irmãzinha dá-me todas as lágrimas do mar. As do Zé Francisco na morte da filha. As dos camponeses da Beira na morte de um bezerro. Contra quem grita o porco que todos os anos matavam no pátio do avô, com um alguidar por baixo? As pestanas transparentes sem descanso, as patas amarradas que se torciam, torciam. Amarram-se as patas de trás, amarram-se as patas da frente e a faca a rasgar o pescoço.

 

O Marciano para mim

 

- Não espreite menino

 

ele que acabava os passarinhos estrangulando-os com dois dedos, primeiro agitados, depois quietos. Contra quem não gritam os passarinhos, Marciano? O seu quarto cheirava a tabaco frio, a comida fria, a demasiada gente sendo ele um só. Foi-se embora, perdi-o.

 

O que não perdi eu, pessoas, casas, amigos? Zé, Ernesto, Eugénio, Acácio. Eugénio de Andrade de manta nos joelhos no seu sofá de Serrúbia, vinho fino e bolinhos. Poesia, poesia, como és simples e tu vens, como nasces da harmonia das formas que nunca tens: foi outro quem disse isto, chorando contra quem? Eu com o Zé no aeroporto e o Ernesto a partir de avião para a América, em busca de uma cura que ele sabia impossível. Arrastava-se do sofá à mesa de jantar, sem uma queixa. Quase não conversávamos. Para quê? E arranjava maneira de sorrir de vez em quando. Fizeram-te uma homenagem anos depois, estive lá. Até disse coisas de ti a um microfone.

 

Hoje almocei com as minhas três filhas e, de súbito, um arrepio de pavor por elas. Ontem jantei com os meus irmãos, e, de súbito, um arrepio de pavor por eles. Há tanta coisa que prefiro não saber. Um bêbado a cantar lá fora. Porque é que o vinho não fica bêbado dentro da garrafa, perguntava não sei quem. E a lembrança dos pavões de novo, dos gritos no Castelo. Os pobres comeram os pavões e os cisnes do Campo de Santana. No escuro, no meio dos passadores de droga e dos rapazes do esticão.

 

O que me tentou assaltar no Jardim D. Pedro V, a fitar-me de banda, ao longe, e eu a fazer-me parvo até que começou a vir e agora, de repente, as mulheres de aluguer que traziam um tijolo dos grandes na carteira: uma volta com a pega e o tijolo, contra as partes, a dobrar o esperto em dois. Nem necessitavam de correr, elas, afastavam-se devagarinho depois, imperiais. Mostravam-me o tijolo

 

- Dou-lhes com isto

 

ou antes

 

- Dou-lhes com isto

 

e trigo limpo, farinha Amparo de maneira que fui aprendendo os truques com os anos.

 

Aposto que o rapaz do esticão demorou tempo a esquecer-me. Encontrei-o outra vez no mesmo Jardim D. Pedro V, à caça. Passou-me o olho e ganhou lume no cu.

 

- Não espreite, menino

 

pedia o Marciano

 

- Não espreite

 

eu, em tantas alturas, um porco a sangrar, um porco não muito grande, não muito gordo, a sangrar:

 

- Não contem ao meu pai

 

e, se quiserem contar, agora nem no cemitério o acham. Onde pára o seu silêncio, senhor? A mão dele a explicar

 

- Bem vês

 

que era um dos seus começos de discurso favoritos. Bem vejo o quê, senhor? Nem nuvens, é tarde, os pavões dormem no Castelo. Corvos de São Vicente a pintarem tudo de negro, andorinhas-do-mar rente à espuma. Sento-me na praia em que luzes de barcos de pesca, distantes, fixas. Como uma aldeia alentejana muito no fim da estrada, como Beja depois do crepúsculo. Ó Beja, terrível Beja, terra da minha desgraça. E, enquanto isto, os meninos de África continuam a correr na picada. Jamais vi alguém a brincar tão a sério. Olhos profundos, graves. Reflectindo o quê? Por favor metam aqui um final feliz.

 

António Lobo Antunes

 

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publicado por ardotempo às 21:01 | Comentar | Adicionar

Coquetel com griffe: Caipirinha do Bar Veloso

Museu do Futebol (SP) Camisa Brasileira - no Estádio do Pacaembu

 

Lançamento nacional: dia 1º de julho.

 

Fotografias dos bastidores de um futebol que ninguém vê Camisa Brasileira é um conjunto de imagens originais que o fotógrafo Gilberto Perin captou ao acompanhar, ao longo de vários meses, o vestiário de um clube de futebol em jogos oficiais da segunda divisão.

 

Os bastidores de um futebol que ninguém vê é o tema do livro que será lançado no Museu do Futebol, no Estádio do Pacaembu (Praça Charles Miller, s/nº fone 55 11 3664-3848), dia 1º de julho, sexta-feira, às 19 horas, com a presença do fotógrafo e do escritor Aldyr Garcia Schlee (também o criador da camisa “canarinho” da seleção brasileira). No auditório do Museu do Futebol ocorrerá uma conversa do fotógrafo e do escritor, com o público presente.

 

Esse projeto de Gilberto Perin é um ensaio com 110 fotografias captadas nos vestiários do futebol da segunda divisão do futebol gaúcho, acompanhando o Grêmio Esportivo Brasil (Pelotas-RS). As fotos revelam a alegria, dor, a religiosidade, o drama dos expulsos e machucados, apresentando imagens que hoje são inacessíveis para torcedores e a Imprensa.

 

Nesse livro não há imagens de craques renomados - diz o escritor Aldyr Garcia Schlee. “Aqui há o anonimato de jogadores de futebol do interior do Brasil que dependem do resultado de cada jogo para a própria sobrevivência.

 

Camisa Brasileira é um lançamento de edições ardotempo. No coquetel de lançamento haverá a inconfundível griffe da caipirinha do Bar Veloso.

 

 

 

 

 


publicado por ardotempo às 17:35 | Comentar | Adicionar

Sorteio no Blog Verdes Trigos

 

 

Lançamento: Livro CAMISA BRASILEIRA, edições ardotempo

 

Sorteio dia 2 de julho

 

 

 

Promoção: Serão sorteados dois exemplares de “CAMISA BRASILEIRA” em 2 de julho: um para os fãs de VerdesTrigos no facebook e um para os seguidores twitter do @VerdesTrigos que derem RT a seguinte frase:

 

“Sigo @VerdesTrigos, quero ganhar “CAMISA BRASILEIRA” (#sorteio), lançamento das edições @ardotempo(http://kingo.to/Gas)”

 

Promoção no Facebook: http://sorteie.me/facebook/compartilhar.php?id=2312

 

Livro de arte em grande formato (22 cm x 28 cm) Edição de luxo - Fotografias de Gilberto Perin – 110 imagens Textos de Aldyr Garcia Schlee e João Gilberto Noll edições ardotempo Fotografias (110 imagens a cores e preto&branco a quatro cores) e textos sobre os bastidores do futebol. Um olhar sobre o futebol que ninguém mais vê. O universo secreto dos trabalhadores do futebol.

 

Verdes Trigos

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Sábado, 18.06.11

Cartas portuguesas

Um Don Juan celestial

 

Mariana Ianelli

 

Eis que no mundo das investigações autorais hoje pairam rumores em torno das famosas Cartas Portuguesas. A suspeita é de que essas cartas de amor ardente desde há séculos atribuídas a Mariana Alcoforado tenham sido na realidade forjadas e que um homem chamado Guilleragues seja o autor dessa façanha literária.

 

Uma vez confirmada a hipótese, ganha a literatura uma das versões mais ousadas de Don Juan na voz de uma freira que troca sua fé pela má fortuna, que se mortifica, sacrifica sua vida e se deleita em morrer de amor num transe que seria um autêntico transe religioso se Deus não tivesse sido solenemente destronado por um homem.

 

Esperando por uma visita, depois por uma carta e então não esperando mais nada, pedindo ao amante que se lembre dela, em seguida o desafiando a esquecê-la, apiedando-se de si mesma e então se gabando de amar com violência, vai esta freira enlouquecendo de amor, enlouquecendo esplendidamente, repetindo o nome de um homem mil vezes por dia, amando um retrato mil vezes mais que sua vida, até chegar à última carta como a última fase de um delírio, quando o fervor começa a se transformar em “qualquer coisa parecida com a tranquilidade”, um amor satisfeito em si, um amor sem amante.

 

Rilke, não por acaso, nutria especial admiração pelas Cartas Portuguesas. Assim como deu conselhos a um jovem poeta, também aconselhou certa vez uma de suas amantes a tomar como exemplo o amor de Mariana Alcoforado. Ele que era um solitário, mas sempre cercado de mulheres, fazia prevalecer esse delírio esplêndido em seus galanteios, e o fazia com tamanha arte que realmente acabava sendo visto por suas amantes como “um arcanjo de terno”, um “Fra Angélico”, “uma aparição”. Registre-se aí uma espécie rara de sedutor, um sedutor de almas. Um Don Juan celestial.

 


 

Mariana Ianelli - Publicado em Vida Breve

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Sexta-feira, 17.06.11

Um recusa, outros reverenciam

 

BRAVO!!! Pinacoteca de São Paulo

 

 

 

 

Um curador de um museu de São Paulo recusou para o seu acervo, juntamente com o seu conselho consultivo, 16 obras do notável artista pintor e escultor Arcangelo Ianelli. Ao mesmo tempo a Pinacoteca de São Paulo reverencia e homenageia o grande artista pelo idêntico gesto generoso de doação de obras ao seu acervo. Bravo, Pinacoteca de São Paulo. Parabéns, Arcangelo Ianelli.

 

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Quarta-feira, 15.06.11

CAMISA BRASILEIRA - 4 de julho - Porto Alegre - Livraria Cultura

 

Convite para o Lançamento do livro CAMISA BRASILEIRA

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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Terça-feira, 14.06.11

Dia para lembrar Jorge Luis Borges

Más allá de "El Sur", de Jorge Luis Borges

 

José Maria Del Rey Morató

 

Veinticinco años han pasado de la muerte del escritor, ocurrida el 14 de junio de 1986 en Suiza.

 

Esta vez lo recordamos con su cuento “El Sur” (Ficciones. 1944). La primera vez que leí “El Sur” me gustó mucho, aunque había cosas que se me escapaban. Más tarde, a medida que iba sabiendo algo más de ese cuento y de su autor, empecé a entender un poco más, como si las sucesivas capas de conocimientos de por aquí y de por allá me fueran aclarando el panorama.

 

Supe que el cuento mechaba cosas inventadas con otras que en efecto le habían sucedido Borges en su vida real. Supe de la convivencia del autor con una tensión interna que derivaba de ascendencias familiares que influían en su personalidad y que también está presente –esa influencia, como conflicto–, en gran parte de su obra literaria y en muchas de sus opiniones públicas sobre sus compatriotas, sus hábitos culturales, su idiosincrasia y demás. “El Sur”, en definitiva, me parece un gran cuento.

 

Su historia comienza en Buenos Aires en 1939. Una tercera persona del singular narra la acción: desembarcó, se llamaba, era, se sentía. El narrador sabe todo del protagonista y de los personajes. El tiempo verbal elegido por el autor es el pasado: tiene que ver con el peso de sus antepasados en su conciencia y en su identidad, con el mito del coraje que también viene del tiempo de antes y, por fin, con ese lugar –“el Sur”– que es el símbolo de esa memoria criolla tan fuerte. 

 

El protagonista es Juan Dahlmann, nieto de un pastor de la iglesia evangélica, Johanes Dahlmann, abuelo paterno que desembarcó en Buenos Aires en 1871. Juan Dahlmann “secretario de una biblioteca municipal en la calle Córdoba” representa al autor, cuyo abuelo materno es Francisco Flores, que murió en la frontera de Buenos Aires “lanceado por indios de Catriel”. El abuelo materno de Borges se llamaba William Haslam y era pastor metodista; y el abuelo paterno fue el coronel Francisco Isidro Borges, montevideano, que murió en combate.

 

Ahí están las dos ascendencias, los dos linajes, las dos fuertes tendencias que se agitan en la mente y el ánimo del autor: por una parte, la civilización, la cultura, el protestantismo, la raíz europea, los libros; y por la otra, el coraje, la violencia, las revoluciones, los militares, los indios, el puñal, el coraje: en otras palabras, la barbarie. Lo notable, en el caso de Borges, es que esa contradicción o dicotomía que se manifiesta como algo familiar y personal de un escritor, no es ajena a tendencias que laten, desde hace siglos, en el seno de las sociedades rioplatenses. Borges las recoge, las obliga a convivir bien o mal y las saca a caminar como se puede por los pagos que siempre quiso tanto.

 

El protagonista del cuento, Juan Dahlmann, es la máscara detrás de la cual está el autor, Jorge Luis Borges.

 

Teniendo presente al Borges real, puede entenderse que las cosas que le suceden a Dahlmann y sus propias decisiones individuales simbolizan algunos rasgos del destino de su país. Ante los dos caminos que sus antepasados le proponen, Dahlmann elige el de la cultura, la civilización, lo europeo, mientras que la circunstancia, el destino, su país le reclaman, le exigen, que se haga cargo también de lo criollo, la barbarie. Al final el protagonista acepta la eventualidad de su muerte trágica en una exhibición de violencia que admira aunque en verdad no le va: una pelea en la campaña, facón en mano, a la manera criolla.

 

No importa que la pelea no sea parte de la realidad de su viaje al Sur, sino en cambio y señaladamente una parte decisiva de su ensoñación, de su memoria, de la memoria de todos los que hacen posible la Argentina de ayer y de siempre. Estas cosas –una pelea criolla en un sueño– suceden, y cuando la responsabilidad de que ellas pasen en los cuentos es de Borges, esas cosas –más allá de «el Sur» de los sueños– siguen viviendo quizá para siempre.

 


 

José María del Rey Morató  - Uruguay

Publicado por Jornalista Vaz

Imagem: El Sur, Desenho de Joaquín Torres Garcia

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Complexa sorte

Digamos que você tenha sorte

 

Pedro Gonzaga

 

 

 

digamos que você tenha sorte

e encontre alguém que goste de você

ainda que as razões para esse gostar

possam parecer mais erradas

do que certas

 

digamos que você tenha essa sorte

e que a ela se conjugue um tempo de paz

permitindo que um queira

o que o outro quer

na hora zero e dez mil horas depois

 

digamos, para exercício da poesia,

que essa sorte possa também pavimentar

uma estrada sem desvios nem rotatórias

que permita a vocês andarem juntos

como andaram as criaturas recém-saídas da arca

 

e que num delírio (dolorosamente necessário)

essa mesma sorte alastre sempre

em vossos corpos imperfeitos

ao mero roçar das peles

o fogo intacto dos deuses

 

digamos que essa sorte descomunal

nos sorria uma vez na vida (sou um otimista)

haverá contudo o problema

de reconhecê-la, aceitá-la, vesti-la

dar-lhe o pão com manteiga matinal

 

por essas e outras

quando alguém diz

- ah, o amor é simples

mal contenho a vontade

de cuspir-lhe na cara.

 


 

Pedro Gonzaga  -  

 

pedrogonzaga.wordpress.com

 

 

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Leonard Cohen

La seducción de la tristeza cínica

 

Ya alcanzada por ventura una provecta edad en la que cuesta esfuerzos épicos recordar nombres, títulos, fechas, personas y cosas que alguna vez creíste inolvidables, la memoria se empeña con motivos racionales o enigmáticos en ser instantánea y selectiva, evocadora y emocionada, ante imágenes, poemas, canciones, rostros, sensaciones, momentos fugaces que van a instalarse a perpetuidad en el consciente y en el subconsciente.

 

Sintiendo aversión por todo lo que huela a impuesta o estratégica moda, a publicitada flor de un día, a los continuos inventos huecos del marketing, a estar en la onda que exige cada momento para que te concedan la prestigiosa etiqueta de enrollado, a veces me muestro ciego o despreciativo sin causa ante artistas nuevos que promociona infatigablemente el esnobismo, que pretenden hacerte sentir como un marciano si muestras tu ignorancia ante su supuesta o evidente trascendencia. Y en esa corte bendecida por el vanguardismo, tan cool ella, por supuesto que conviven el arte y la impostura, la adornada nadería y la futura condición de clasicismo, el fraude y la autenticidad, pero eso no evita la pereza inicial a descubrir y a consumir lo que dicta el mercado pretendidamente exquisito.

 

Disponiendo desde la adolescencia o la temprana juventud de una insustituible galería de directores de cine, músicos, escritores, pintores, cantantes y poetas, difuntos o aún vivos y sin intención de jubilar su arte, gente que mantiene intactas a lo largo del tiempo en tu cerebro y en tu sensibilidad las emociones que te regalaron en el primer encuentro, aunque a veces les abandonara el estado de gracia ("no es humano ni posible ser sublime sin interrupción", certificó alguien muy sabio), cuesta trabajo tener los sentidos permanentemente abiertos ante lo nuevo, dejar de apostar sobre seguro, descuidar lo eternamente amado para embarcarse en aventuras coreadas por la inapelable actualidad.

 

Entre mis dioses sin fecha de caducidad, entre los que además de poseer el don de la poesía también recibieron la capacidad para expresarla a infinita gente con su voz honda y con su envolvente música, mediante discos y conciertos, existe en mi altar un profesional de la seducción llamado Leonard Cohen, transmisor de un mundo que yo comprendería aunque no existiera traducción, hipnótico y profundo, sedoso y dolorido, sensual y perturbador, inmejorable banda sonora de la tristeza y el deseo, oscuro y luminoso.

 

El príncipe judío de Montreal nunca se olvida de las alegrías del cuerpo aunque esté obsesionado con las tormentas y los jirones del alma, es descreído y mordaz, está convencido de que la paradoja y la contradicción son esenciales para explicar la vida. Su música puede alcanzar efecto balsámico cuando el estado emocional anda en horas bajas, se lleva muy bien con la soledad, la pérdida y el fin del amor (Cohen aconseja que este te pille bailando), es ideal para lamerse las heridas y añorar el ni contigo ni sin ti, pero también puede ser exaltante, ejercer de afrodisiaco cuando todavía reina la alegría en los dormitorios compartidos.

 

En cualquier caso, esa voz, esas imágenes, esas palabras, la elegante armonía entre lo que dice y cómo lo dice, esa intensidad emocional, esa carnalidad y ese misticismo, esa estética y esa ética te enamoran. Si entras en el planeta Cohen vas a permanecer en él toda tu existencia, ese campo magnético es inextinguible, las canciones que arañaron tus fibras más íntimas hace tanto tiempo, cuando todavía no habían ocurrido demasiadas cosas en tu vida, mantienen su fascinación al sentir la cercanía del crepúsculo. Fueron deslumbrantes en la primavera, pero también otorgan calor al invierno.

 

La primera vez que escuché esa voz fue en 1971, en la banda sonora de Los vividores, un western insólito, romántico y sombrío dirigido por Robert Altman. Nadie me había hablado de Cohen. Salí flotando de esa experiencia. Creo recordar que su primer disco, Songs of Leonard Cohen, se me rayó en poco tiempo al convertir su escucha en obsesión cotidiana. No me abandonó esa sensación opiácea cuando esas canciones fueron concebidas desde una lacerante habitación, cuando la inundaba el amor y el odio, cuando era necesaria una nueva piel para la vieja ceremonia. Me mosqueé cuando el sonido Spector ambientó la muerte de un mujeriego. Después hubo periodos tibios con joyas aisladas. Pero en 1988 llegó una nueva plenitud con una obra de arte en la que Cohen le recordaba conmovedoramente a una mujer que en todas las circunstancias él era su hombre. Y lamenté que por culpa de Buda y su presunta capacidad para otorgar paz al atormentado y redención al pecador pasaran nueve interminables años entre The future y Ten new songs. La primera vez que observé a este hombre actuando en un escenario no precisaba de nadie. Solo necesitaba un taburete y una guitarra para que el público se sintiera en el cielo durante dos horas.

 

Ocurrió en el teatro Monumental. Hace 37 años. Esa magia ancestral se llena de matices cuando le acompañan grupos que entienden su mundo y esos magníficos coros habitados permanentemente por señoras hermosas, con clase. El hombre del famoso impermeable azul sabe mucho de ellas, de su belleza y su misterio, de los días de vino y rosas y de la desolación, de trajes con rayas y de sombreros. Lo que más me gusta de Cohen es oírle cantar, pero también es muy grata su poesía impresa, la de Vamos a comparar mitologías, La energía de los esclavos, Flores para Hitler, La caja de especias de la Tierra. El narrador de El juego favorito y Los hermosos vencidos me interesa menos. Lo suyo es la lírica.

 

Y, por supuesto, este señor está más allá del elogio, más allá de los premios, incluido el que acaba de concederle la sangre azul. Pero si los premios tienen que existir, él se los merece todos. Incluido el Nobel de Literatura. Con permiso de Dylan, al que también acabarán concediéndoselo si los académicos se operan la miopía. Las canciones de ambos seguirán regalando sensaciones impagables a los receptores en los próximos siglos.

 

Carlos Boyero - Publicado em El País

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Segunda-feira, 13.06.11

Uma estátua no telhado

Fotografia

 

 

 

 

Alexandre Schlee Gomes - Sem título - Fotografia (Pelotas RS Brasil), 2011

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O espaço caloroso dos livros

 

O mistério dos livros

 

 

 

Pierre Yves Refalo - Librairie des Alpes - Paris - Fotografia (Paris)

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Anish Kapoor em Paris

A escultura no Grand Palais

 

 

Leviathan - Anish Kapoor - Escultura monumental de fibra translúcida, colocada no espaço expositivo do Grand Palais, em maio/junho de 2011 (Paris França), 2011

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Domingo, 12.06.11

"O museu está nu!"

Instituição e rebeldia

 

Ferreira Gullar

 

Todos concordam que é muito difícil definir o que é arte. Não obstante, se refletimos sobre o que conhecemos e consideramos expressão artística, verificamos que, em que pese a enorme variedade de estilos e concepções, há ali um traço comum que nos permite englobá-la numa mesma definição: é arte. Houve épocas em que era quase impossível fazê-lo de modo amplo, uma vez que a conceituação estreita reduzia a expressão artística a princípios e normas, fora das quais a arte seria impossível.

 

Foi precisamente o abandono dessas regras que tornou possível a visão abrangente que caracterizou a crítica de arte do século 20, capaz de compreender as mais diversas manifestações artísticas, desde as pinturas parietais do paleolítico até a limpidez da estatuária grega, o delírio barroco e a poética revolucionária do cubismo, do expressionismo, do dadaísmo. Um dos traços mais característicos dessa visão nova da arte era a valorização do fator expressivo e autônomo das formas em detrimento da representação do real: compreendeu-se que, mais que copiar a realidade, a arte a recria e a inventa. Mas o impulso irreverente, que movia os artistas do começo do século 20, ultrapassou não apenas a concepção acadêmica como pôs em questão o próprio conceito de arte.


Quem levou essa atitude a seu ponto extremo foi Marcel Duchamp, ao afirmar: "Será arte tudo o que eu disser que é arte". Essa afirmação, tomada ao pé da letra, significa que nada é arte, ou seja, que o fazer artístico não tem qualquer sentido. Mas nem ele próprio acreditava nisso, tanto que suas obras mais importantes -"O Grande Vidro" (1915-1923) e "Étant Donné" (1946-1966)- demandaram-lhe muitos anos de trabalho e criatividade. De qualquer modo, não foi esse lado de sua personalidade que influiu sobre futuras gerações de artísticas, e sim aquele outro lado, o da antiarte.

 

De uma maneira ou de outra, o que se chama hoje de arte conceitual ou arte contemporânea parte do princípio duchampiano de que tudo é arte ou pode ser dado como tal. Noutras palavras, todos os valores - sejam teóricos, artesanais ou estéticos - que serviam para esse tipo de expressão tornaram-se dispensáveis. Isso não é uma crítica, apenas uma constatação. Qualquer que seja a importância que se atribua a esta ou aquela obra dita "contemporânea" - casais nus no MoMA, por exemplo - não possui aquelas referidas qualidades que constituem as obras de arte: casais nus que se exponham num museu não foram feitos por nenhum artista nem por ninguém. São apenas algo que se mostra como uma expressão, um conceito, qualquer que seja ele -enfim uma "boa ideia". Em face dessa constatação é inevitável concluir que tais manifestações estão fora do campo da arte. No entanto, esses casais nus foram mostrados no Museu de Arte Moderna de Nova York, um dos mais conceituados museus do mundo. Como se explica isso?


A primeira resposta que me ocorre é que, no campo das artes plásticas, o conceito de obra de arte, como produto do trabalho e fruto de uma linguagem elaborada pelo artista, já não vale. Entre os que conceituam, gerem ou decidem sobre o que merece ou não ser exibido e destacado, o que vale é, em vez da obra, o questionamento do que se chama de arte e do próprio museu ou certames nacionais e internacionais, criados para expor obras de arte. Agora, esses espaços tornaram-se locais onde se "nega" a arte.


A palavra "nega" está aí entre aspas porque não é agora uma negação contestadora de fato. Já foi, quando Duchamp expôs o seu famoso urinol, intitulado "Fontaine".

 

Agora, instituição e rebeldia se identificam e uma redime a outra. O museu, as bienais, são hoje locais onde a não arte - seja urinol ou casais nus - vira arte. Trata-se, de fato, de um impasse: a rebeldia que necessita da instituição para ser rebelde é a negação da rebeldia. Não por acaso, o artista escolhido para representar o Brasil na Bienal de Veneza, este ano, se declara contra salões, premiações e a própria Bienal onde vai expor. Claro, porque, se se mostrar contente de expor ali, deixará de ser rebelde e, como sua obra é a não obra, tudo o que lhe resta é o espaço institucional, onde ela é aceita como rebeldia. Fora de lá, não é.

 


 

Ferreira Gullar

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Sábado, 11.06.11

Amores impossíveis

Sete mil vidas

 

Mariana Ianelli

 

 

 

Amores impossíveis começam dentro de uma biblioteca. Podem ser confrarias, reuniões secretas, pactos de revolução, exércitos de utópicas ideias. Mas nem sempre o que une é a afinidade ou o afeto. Também os opostos se atraem e sugerem estranhos casamentos.

 

Tudo depende de como os livros se organizam, de como este demiurgo incidental que monta sua biblioteca decide agrupar seus exemplares. O que a vida afastou uma biblioteca reconcilia, de modo que Sartre pode agora dividir pacificamente o espaço de alguns centímetros com Merleau-Ponty e Camus, García Márquez pode topar com Vargas Llosa, e Saramago ter Lobo Antunes como um bom vizinho. Aqueles que a vida uniu de repente se desligam e vão morar a muitos livros de distância, Hannah Arendt na ala norte, Heidegger na ala oeste, Henry Miller três andares acima de Anaïs Nin. E há os duetos tanto em vida como numa biblioteca, Goethe e Schiller, Claudel e Gide, Faulkner e Steinbeck, Sophia de Mello Andresen e Jorge de Sena.

 

São tantas as combinações e tão intimamente divertido jogar com elas que pode acontecer de I-Juca Pirama acabar aconchegado entre a Ilíada e a Eneida. Ou então, num canto da estante, lugar ideal para um ninho de fênix, podem se encontrar Alejandra Pizarnik, Sylvia Plath e Anne Sexton. Também não falta a ironia da sorte, que, por uma emergencial economia de espaço, põe lado a lado Ezra Pound e Brecht. Do estado de repouso ao livro de páginas abertas, os encontros variam, traem metódicos critérios, vencem a distância de oceanos e séculos, produzem aqui e ali uma mistura qualquer muito peculiar de essências.

 

Entre chegadas e partidas, os destinos são tão incertos e fortuitos quanto os de uma existência. São as muitas vidas de cada livro. Uma das razões, talvez, por que os gatos gostam tanto de uma biblioteca...

 

Mariana Ianelli - Publicado em Vida Breve

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Quarta-feira, 08.06.11

CAMISA BRASILEIRA - 1º de julho - São Paulo - Lançamento de livro

 

Museu do Futebol - São Paulo - 1º de Julho - 19h

 

 

 

 

 

Lançamento do Livro de fotografias sobre os bastidores do futebol, de Gilberto Perin - Textos de Aldyr Garcia Schlee e João Gilberto Noll

No evento de lançamento, um encontro e uma conversa entre Gilberto Perin e Aldyr Garcia Schlee, no Museu do Futebol, no Estádio do Pacaembu, em São Paulo - 1º de julho de 2011 (sexta-feira) - 19 horas / edições ardotempo

 

 

 

 

 

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Terça-feira, 07.06.11

Sobre o escritor Aldyr Garcia Schlee

O escritor no pampa

 

Don Aldyr Garcia Schlee  é um dos escritores e romancistas mais importantes do Brasil na atualidade. Vive de sua literatura. Isolado, fronteiriço, mora num sítio no meio do pampa, quase na divisa com o Uruguai. Escreve metodicamente todos os dias, habita no interior de uma magnífica biblioteca e dali faz suas incursões e pesquisas pelas cidades e regiões do pampa – escuta seus habitantes, ouve as lendas, as verdades e as mentiras, observa as planuras no relógio das estações e no vôo pontual das aves migratórias. Inventou, delimitou e transita em seu próprio mundo literário. Escreve em português e no castelhano modulado da voz da fronteira. É o autor que nos traz as riquissimas histórias de suas personagens imbricadas numa linguagem ousada, contemporânea e transversal de um mundo paralelo à mimetização da linguagem das grandes metrópoles.

 

Autor de mais de 30 livros entre os quais Uma Terra Só, Linha Divisória, Contos de Verdades, Contos de Futebol, O dia em que o Papa foi a Melo, Camisa Brasileira, Os limites do Impossível – Contos Gardelianos e Don Frutos. É o tradutor premiado de Facundo – Civilização e Barbárie, de Domingo Faustino Sarmiento (Prêmio Açorianos de Tradução, 1997); e o prestigiado autor da última edição crítica de Contos Gauchesco e Lendas do Sul, de João Simões Lopes Neto – publicada em 2006, com registro de variantes e estabelecimento do texto, além de estudo paratextual, análise textual, notas, glossário e cronologia. Tradutor de Dom Segundo Sombra, de Ricardo Güiraldes em nova edição comentada e com elucidário de sua autoria, em publicação por edições ardotempo.

 

Foi o ganhador de duas Bienais Brasileiras Nestlé de Literatura (1992 e 1994), vencedor de quatro prêmios Açorianos (1997, 1998, 2001 e 2010) e consagrado com o Prêmio Fato Literário de 2010, no Rio Grande do Sul. Os limites do Impossível – Contos gardelianos foi considerado o Livro do Ano 2009 pelo jornal Zero Hora. Prêmio Açorianos de Literatura em 2010. Prêmio Fato Literário 2010 RBS

 

Don Frutos – O romance foi considerado o Livro do Ano 2010 pelo jornal Zero Hora.

 

É finalista do Prêmio Portugal Telecom 2011, com o romance Don Frutos.

 

O livro CAMISA BRASILEIRA será lançado no dia 1º de julho no Museu do Futebol – São Paulo.

 

Aldyr Garcia Schlee é o criador do uniforme canarinho da Seleção Brasileira de Futebol, escolhido em concurso nacional em 1953.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Aldyr Garcia Schlee - Retrato por Gilberto Perin (Jaguarão RS Brasil), 2011

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Segunda-feira, 06.06.11

A árvore de Mondrian

 

Fotografia

 

 

 

 

 

 

 

Alexandre Schlee Gomes - Sem título - Fotografia (Pelotas RS Brasil), 2011

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Um gato no telhado

Fotografia

 

 

 

 

 

 

Alexandre Schlee Gomes - Sem título - Fotografia (Pelotas RS Brasil), 2011

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Domingo, 05.06.11

Os que escrevem e os que desenham

Livros em pintura

 

Enrique Vila-Matas

 

 

 

En el principio fue el dibujo y luego las letras, después todo se invirtió. Ahora esta fórmula de los libros clásicos ilustrados vuelve como una de las estrategias para fomentar la lectura y reducir la crisis del sector. A los dibujos de Doré o Beardsley se suman los de artistas actuales que iluminan el ingenio de Hawthorne, Wilde, Brecht, Kipling o Schnitzler. Existe la creencia de que en las novelas que van ilustradas los grabados, los dibujos, se basaron siempre en los textos escritos. Y, sin embargo, no siempre fue así.

 

Hubo una época en la que los narradores que escribían novelas por entregas para los periódicos se ponían al servicio de famosos y prestigiosos dibujantes; primero, entregaban éstos sus ilustraciones, y después venían los narradores y se acoplaban a los dibujos de las estrellas de los grabados. Es el caso célebre del periódico londinense Evening Chronicle, que en 1836 le encargó al joven Dickens de 24 años que escribiese una serie de textos de carácter costumbrista para las ilustraciones del famoso dibujante Robert Seymour, gran estrella del momento. O sea que Seymour hacía las ilustraciones y a éstas las acompañaba posteriormente un texto adicional. La trama de las historias, por tanto, se subordinaba al dibujo. En el caso que nos ocupa, pronto surgieron las desavenencias entre la estrella Seymour y el genio - entonces desconocido - de Dickens. La obra concebida por el dibujante proponía, a través de sus grabados, un relato acerca de un club de cazadores llamado Nimrod, una sociedad de perdigueros cómicamente inexpertos...

 

Pero sucedió que el texto no tardó en imponerse a su ilustración, es decir, que el escritor desconocido se impuso al afamado dibujante. Leer el siguiente capítulo de Los papeles póstumos del Club Pickwick, la brillante y divertidísima historia de Dickens, se convirtió en una pasión tan grande en Londres que en unos meses provocó el aumento de la tirada del periódico desde los 400 ejemplares a los 400.000. Tras la quinta entrega, Seymour se suicidó. Nunca se había ilustrado de esa forma tan trágica la derrota de un ilustrador. A partir de ese momento, fue Hablot Knight Browne, alias Phiz, quien se encargó de los dibujos y quien permitió que Los papeles... se invirtieran y pasara Dickens a escribir el texto y, a partir de lo que dictaba la trama del narrador, se hacía la ilustración. Hace unos años, Jordi Llovet cedió por unas semanas los grabados de su ejemplar de 1837 de la edición original de Los papeles póstumos del Club Pickwick para que Mondadori, en su colección de Grandes Clásicos, traducción de José María Valverde (2004), remedara aquella primera edición en la que la unión entre Dickens y Phiz configuró uno de los libros ilustrados más extraordinarios de la literatura inglesa y también de la universal de todos los tiempos. Esa edición original de Los papeles... es uno de los faros que todavía hoy guían el espíritu de los esforzados impresores y empresarios de vocación literaria que tratan de hacer brillantes libros ilustrados, concentrándose, últimamente más que nunca, en la edición de clásicos de la literatura, lo que de algún modo facilita la lectura de algunos libros que absurdamente imponen respeto cuando en realidad los clásicos son los libros más contemporáneos que existen, quiero decir que son una fiesta de lo moderno, como se ve perfectamente en algunos de los libros que he seleccionado para estas páginas. Un día tendremos que ocuparnos del divertido tema de los escritores que dibujan.

 

Como es sabido, con el romanticismo, en Francia, los escritores empezaron a dibujar. La pluma corría por la hoja, se detenía, vacilaba, distraída o nerviosamente... A comienzos del XIX, comenzaron a aparecer escritores como Victor Hugo que demostraron ser, encima de grandes narradores, buenos pintores. Pero es que Victor Hugo era excesivo en todo y de hecho fue la excepción en la malévola regla que dice que los malos escritores dibujan bien, y viceversa. Me acuerdo ahora de los casos de Stendhal o de Balzac, que lo intentaron, pero se vio que eran dibujantes ridículos, infantiles, patéticos. El caso más interesante, que quedó al descubierto ante la nueva moda, fue el de los escritores que sabían dibujar demasiado bien (Mérimée, Alfred de Vigny, Théophile Gautier, los Goncourt, siempre los Goncourt) y que precisamente a causa de esto escribían rematadamente mal.

 

De esa época llama la atención especialmente Alfred de Musset, precursor de los cómics; componía para diversión suya y de amigos y familiares, historietas con conocidos personajes caricaturizados... Pero para terminar volvamos ya a los inefables hermanos Goncourt, los reyes del dibujo. De ellos son estas sabias palabras: "¡Dichoso oficio el del pintor comparado con el del hombre de letras! A la actividad feliz de la mano y del ojo en el primero, corresponde el suplicio del cerebro en el segundo. Y el trabajo que para uno es un goce para el otro es un completo sufrimiento...". Ni qué decir tiene que los Goncourt sufrieron toda la vida y todavía hoy su cerebro padece en la eternidad.

 

Enrique Vila-Matas

Imagem: Gustave Doré - Ilustração para a Divina Comédia - de Dante Alighieri

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"Viver sempre como pobre, mesmo tendo muito dinheiro"

Kahnweiler: uma mina de ouro en Paris

 

Manuel Vicent

 

Guiado por su olfato extraordinario y su deseo de ser marchante, compraba cuadros de pintores que empezaban: Picasso, Gris, Braque. En secreto les iba adelantando el dinero preciso hasta verlos salir de la miseria y adquirir la fama universal.

 

 Un joven judío alemán, de nombre Daniel-Henry Kahnweiler, nacido en 1884 en Mannheim, a la edad de 23 años alquiló un local de 16 metros cuadrados a un sastre polaco en la calle de Vignon, número 28, de París, pintó con sus propias manos el techo de blanco, cubrió las paredes con tela de sacos, colgó unos cuadros recién adquiridos en el Salón de los Independientes y esperó a que entrara el primer cliente en la tienda.

 

No tenía ninguna experiencia en el mundo del arte. Pudo haber sido agente de Bolsa, como su padre, o heredero de los negocios de minas de oro y diamantes en Sudáfrica, propiedad de uno de sus tíos, Sigmund Neumann, en cuya empresa radicada en Londres libró este vástago sus primeras armas financieras apenas abandonó la adolescencia. La noticia en otros webs webs en español en otros idiomas Con Picasso iba a las tabernas que le recordaban los burdeles de Barcelona. Atendía todas las necesidades de Juan Gris, de Braque...

 

Corría el año 1907. El dilema se le planteó cuando decidieron enviarle de representante del negocio a Johannesburgo. No le atraía en absoluto esa clase de riqueza que consiste en extraer un tesoro del fondo de la tierra con un trabajo de esclavos para volver a guardarlo a continuación en una cámara acorazada de los bancos bajo las pistolas de unos guardias. El oro nunca aflora. Siempre está enterrado, de una tumba a otra. Se sentía artista.

 

Abandonó las finanzas y la explotación de las minas de oro para ser músico, pero viéndose sin un talento extraordinario, un día se forjó una idea que no tuvo el valor de confesarla a sus padres y al principio la realizó de forma clandestina. Quería ser marchante de cuadros en París, con un propósito semejante al de director de orquesta. "Actuar como intermediario entre los artistas y el público, abrirles camino a los pintores jóvenes y evitarles las preocupaciones materiales. Si el oficio de marchante de cuadros tenía una justificación moral, sólo podía ser esa", dijo medio siglo después en la cima de la gloria. En 1904 la gente aún se burlaba o se crispaba antes los cuadros de los impresionistas.

 

El joven Kahnweiler cruzó un día el Faubourg de Saint Honoré cuando unos cocheros detenidos ante el escaparate de la galería de Durand-Ruel, donde se exhibía un Monet, gritaban: "Hay que quemar esta tienda que expone semejante porquería". No obstante los impresionistas ya comenzaban a ser caros, por eso decidió dedicarse a los pintores de su edad, objeto de toda clase de burlas. La gente iba al Salón de los Independientes a desternillarse de risa y a dar gritos de furor. En medio de aquel escarnio compró unos lienzos de Derain y de Vlaminck, pintores entonces desconocidos, que vivían en la miseria y poco después de colgarlos en las paredes de su tienda ambos artistas pasaron a saludarle. Fueron los primeros a quienes dio la mano. Pronto se corrió la voz por París de que había un jovenzuelo alemán que compraba cuadros de pintores que estaban empezando, un judío muy raro al que le gustaban las locuras de la última vanguardia.

 

Un día entró en su tienda un tipo con un aire poco común que le llamó la atención. Iba mal vestido, con los zapatos empolvados, era pequeño y rechoncho, con el pelo negro como un ala de cuervo volcada hasta la mejilla, pero tenía unos ojos que al marchante le parecieron magníficos. El visitante se puso a mirar los cuadros en silencio y se fue sin decir nada. Al día siguiente el joven misterioso volvió a la tienda de Kahnweiler acompañado de un señor mayor, gordo y barbudo. Miraron los cuadros y se fueron sin despedirse. El joven era Picasso y el viejo se llamaba Ambroise Vollard.

 

"Para que unos cuadros se vendan caros, han tenido que venderse muy baratos al principio", decía Picasso. Un historiador y crítico alemán, Wilhelm Uhde, amigo de Kahnweiler, le habló de aquel pintor y de un cuadro muy extraño que estaba pintando. Guiado por su olfato extraordinario este marchante novato dio muy pronto con la guarida que tenía en Montmartre. Había allí un tinglado de madera, que los artistas llamaban el Bateau Lavoir, por su semejanza con los barcos lavaderos de las riberas del Sena, que se extendía por la colina de la Rue de Ravignan, número 13. Estaba compuesto de compartimentos ocupados por pintores, que vivían en un grado de pobreza colindante ya de la miseria.

 

Por una de las ventanas Kahnweiler vio a un joven moreno que estaba comiendo una sopa hecha con huesos de aceituna triturados. Se llamaba Juan Gris y después hasta el final de su vida sería uno de sus mejores amigos. En otro habitáculo pintaba otro joven muy atractivo, que en el futuro llevaría de calle a las mujeres y a los coleccionistas. Se llamaba Georges Braque. En el camino por aquel infecto tinglado pasó junto a las ratoneras de Van Dongen y de un joven judío italiano, de nombre Modigliani, del escultor Brancusi, de Léger, del aduanero Rousseau y otros artistas desarrapados hasta llegar a la madriguera que le indicó una portera que vivía en la casa de al lado. La puerta estaba llena de papeles de avisos clavados con chinchetas: Eva te estera en Le Rat Mort... Derain ha pasado por aquí.

 

Le abrió Picasso en mangas de camisa, despechugado y con las piernas al aire. Estaba en compañía de una mujer muy hermosa, Fernande, y de un perro enorme llamado Frika. Al ver a aquel joven Picasso recordó lo que le había dicho Vollard aquel día en que visitaron su tienda. "Pablo, a este chico sus papás le han regalado una galería de arte por su primera comunión".

 

En el estudio de Picasso estaba un gran lienzo del que le habían hablado con escándalo. Era el cuadro Las señoritas de Aviñón. Kahnweiler observó el infecto desorden del estudio, no exento de ratas, y los papeles amontonados de dibujos que servían para encender la cocina y calentar la estufa en invierno. Derain le había comentado: "Cualquier día aparecerá Picasso ahorcado con una soga detrás de ese cuadro".

 

 

 

No obstante Kahnweiler veía que algunos lienzos estaban firmados con un je t'aime o ma jolie sobre bizcocho en forma de corazón, dedicado a su amante de turno. No le pareció que fuera tan desgraciado. Los pintores del Bateau Lavoir vivían en plena bohemia, se intercambiaban las amantes y modelos en aquel tinglado de madera donde reinaba una fiesta perenne de creación después de haber roto todas las reglas del arte.

 

Kahnweiler tuvo una inspiración.

 

De pronto le vino a la mente que aquel barco lavadero de Montmartre era una mina de oro y diamantes mucho más productiva que las de Sudáfrica y él tenía que ponerse al frente de esta empresa para sacar de la pobreza a aquellos mineros. Kahnweiler fue el que la descubrió bajo la razón social del cubismo y la hizo bendecir por los poetas Apollinaire o Max Jacob para darle prestigio. Allí en 1908 se celebró el famoso banquete, entre la burla y la admiración, en homenaje al ingenuo aduanero Rousseau, para resarcirle de la broma con que le impulsaron a robar una estatuilla egipcia del Louvre, que le costó la cárcel. Allí se celebró también el hecho de que a Max Jacob se le hubiera aparecido Cristo en un vagón de tren.

 

"Vivir siempre como un pobre teniendo mucho dinero". Esta fue siempre la divisa de Picasso. Con él iba Kahnweiler a las tabernas que le recordaban los burdeles de Barcelona. Con Vlaminck compartía una barca en el Sena. Les compraba cuadros. Atendía todas las necesidades de Juan Gris, de Braque, de sus mujeres y amantes para que pudieran pintar en libertad. No había contratos, ni publicidad, ni exposiciones al público. En secreto les iba adelantando el dinero preciso hasta verlos salir de la miseria y adquirir la fama universal. Como en las minas de oro y diamantes de Sudáfrica este descubridor de Picasso, de Braque y de Juan Gris se hizo también famoso. Escondió su tesoro durante la Primera Guerra Mundial y luego sobrevivió a la persecución de los nazis. Aquella tienda de la calle de Vignon evolucionó hasta transformarse en la galería Louise Leiris. Sin Kahnweiler no se podría entender la moderna historia del arte.

 

Manuel Vicent - Publicado em El País

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Todas as vozes

Todas as vozes

 

Autoras brasileiras, como Mariana Ianelli, Carola Saavedra, Adriana Lisboa, Ana Paula Maia e Verônica Stigger, adotam estilos variados, conquistam visibilidade em premiações e desmancham os clichês de gênero. 

 

Carola Saavedra conjuga histórias de desamor, que revelam seus jogos de poder no ato sexual, a estratégias de narrativa inesperadas, e incorpora o debate sobre arte contemporânea a seu livro mais recente, Paisagem com Dromedário, finalista dos prêmios São Paulo de Literatura e Portugal Telecom.

 

Ana Paula Maia retrata sem rodeios o cotidiano brutal de homens cujo ofício os põe diante da vida reduzida a pó, no recém-lançado Carvão Animal. Verônica Stigger experimenta formas literárias e se apropria do readymade nos contos de Anões (também finalista do Portugal Telecom), que extrapolam a violência espetacularizada.

 

Adriana Lisboa se enveredou na memória da guerrilha do Araguaia para construir o pano de fundo dos solitários imigrantes que formam um trio improvável de amigos em solo americano, no livro Azul-Corvo, outro concorrente ao Prêmio São Paulo de Literatura.

 

Há tantos estilos quanto há escritoras”, resume Carola.

 

Os esquecidos

 

Adriana Lisboa (de Azul-Corvo) e todos os demais autores da Rocco ficaram de fora da lista de finalistas do Prêmio Portugal Telecom de Literatura Portuguesa, antes de qualquer demérito, por um motivo simples: a editora se esqueceu de inscrever os livros publicados em 2010. Ao perceber, já tarde demais, pediu desculpas.

 

A investigação de um outro sujeito Contra qualquer possibilidade de estereótipo, a escritora carioca Ana Paula Maia destrincha universos masculinos marginais em sua prosa seca, desde sua estréia literária, em 2003, com O Habitante das Falhas Subterrâneas, quando ainda escrevia sob o impacto da leitura de O Apanhador dos Campos de Centeio, de J. D. Salinger.

 

Uma proposta de enigma Carola Saavedra é a única mulher finalista das duas principais premiações literárias em curso. Paisagem com Dromedário, seu terceiro romance, concorre entre os dez indicados a melhor livro pelo Prêmio São Paulo de Literatura e entre os 50 do Prêmio Portugal Telecom de Literatura Portuguesa. É o reconhecimento à obra na qual a escritora aprofunda temas e experiências formais que já vinha testando. Ao olhar amplamente para as prateleiras de literatura brasileira, vê-se que as vozes das escritoras se multiplicaram.

 

Há mil assinaturas distintas, e não só no texto: o jeito como cada autora lida com sua identidade como profissional da escrita é bem distinto também”, afirma o crítico literário Antonio Marcos Pereira, professor da Universidade Federal da Bahia e colaborador do caderno “Prosa e Verso”, do jornal O Globo. E elas têm encontrado mais espaço para ressoar. “O que eu identifico é que, a partir da minha geração, começa a haver maior visibilidade para as mulheres na literatura. Me parece uma consequência lógica das mudanças na sociedade. Por que isso não aconteceria na literatura também?”, constata Carola. A consequência dessa pluralidade há de ser o alargamento do imaginário sobre a mulher escritora. “Isso possibilita a associação da escritora como capaz de abordar assuntos diversos, com estilos e linguagem e temas também diversos”, diz Ana Paula Maia. “Penso que a grande variedade de experiências literárias realizadas por escritoras ajuda a desmanchar todos os clichês que se costumam lançar sobre a imagem da mulher que escreve literatura”, completa Verônica Stigger.

 


 

A poeta Mariana Ianelli, outra entre os 50 finalistas do Prêmio Portugal Telecom, pelo livro Treva Alvorada, identifica, sobretudo, duas linhas de força: “Há variações em torno de uma linguagem que absorve do mundo o que nele há de convulsivo, que estetiza a violência, o tempo fragmentado, a crueza da realidade, uma cotidianidade que muito raramente se deixar tocar pelo sublime. Por outro lado, existem vozes que se aproximam num sentido inverso, ascendente, realçando a sutileza, o inefável, o que acrescenta à realidade cotidiana, brutal, fragmentada, uma outra realidade possível”, diz.

 

Implodem-se, diante desse panorama, as expectativas mais restritas sobre o universo da escrita da mulher. Nada mais coerente com as últimas décadas, que abandonaram a coesão em nome da heterogeneidade não somente na literatura feita por uns ou outras, mas nas artes como um todo. É um caminho aberto.

 

Destaques

 

Provocado pela reportagem, Pereira destaca aquelas autoras cuja obra despertam seu maior interesse. “A Carola Saavedra é, acho, a que ainda vai ter um grande livro: penso que ela está reelaborando mais ou menos as mesmas coisas, e que uma hora vai sair um ‘uau’ dali. A leio desde que ela apareceu, num conto em O Globo, temos a mesma idade, já resenhei livros dela e, com ela, tenho uma coisa de parceiro geracional”, prediz. “A Stigger me fascina porque a ficção (cabendo aí lembrar que os textos dela são meio sem lugar, o que também é interessante) dela tem muita astúcia e graça, é ao mesmo tempo leve e incisiva, e agrada algo em mim que gosta de dadaísmo: a cocada-mole, a Baleia-sem-cu, as coisas que ela faz com partículas de um vernáculo que reconhece a fala do presente. E graça, em literatura, é raro pacas.

 

Para completar, o crítico cita Simone Campos, que não publica desde o livro de contos Amostragem Complexa, de 2009, mas se tornou respeitada precocemente, aos 17 anos, quando estreou com No Shopping, com uma literatura ligada a blog, na qual oferecia um retrato geracional. “Ela se descolou disso e tem buscado inventar uma tradição pra si mesma, explorando gêneros supostamente menores – ficção científica, melodrama etc”, argumenta.

 

Matemática

 

Na ponta do lápis, porém, a matemática ainda é descompensada. Há nove mulheres entre os 50 finalistas do Portugal Telecom e duas entre os dez que concorrem a melhor livro do ano no Prêmio São Paulo de Literatura. Que essa pluralidade de vozes, cada vê mais, se traduza em qualidade e não deixe de ser notada pelos leitores e críticos literários – inclusive aqueles que, procurados pela reportagem do Caderno G Ideias, se abstiveram de comentar essa geração, justificando ter lido poucas ou nenhuma delas. “Se formos fazer essa distinção dentro da literatura, não será difícil encontrar uma certa discrepância nos critérios utilizados pela crítica. A começar por esse mesmo enquadramento de escritoras em ‘literatura feminina’ ou ‘literatura feita por mulheres’, algo sobre o qual se discute e se polemiza, sem haver o equivalente de uma ‘literatura feita por homens’”, pondera Mariana Ianelli.Essa é uma discrepância de tal modo instituída que, muitas vezes, nem se caracteriza como tratamento injusto ou pejorativo, a exemplo das inúmeras coletâneas de mulheres escritoras.

 

 

 

Publicado na Gazeta do Povo

publicado por ardotempo às 16:07 | Comentar | Adicionar
Sábado, 04.06.11

Pacto de honestidade

Um pássaro sujo de neve

 

Mariana Ianelli

 

 

 

Assim o roteirista Tonino Guerra definiu certa vez o seu amigo de alma russa, filho de poeta, o cineasta Andrei Tarkovski. Os dois trabalharam juntos em Nostalgia, primeiro filme que Tarkovski realizou fora da Rússia, inspirado por uma saudade tão profunda do seu país que os campos abertos do interior da Itália nesse filme se converteram em campos de névoa iguais aos do vilarejo a trezentos quilômetros de Moscou onde o cineasta e sua mulher tinham uma casinha. Para a elaboração do roteiro de Nostalgia, Tarkovski visitou com Tonino Guerra o grande portal de pedra que saúda a chegada dos barcos às areias de Flore, a arquitetura barroca das igrejas de Lecce, os paraísos turísticos de Amalfi e Sorrento.

 

Tarkovski se inquietava com uma beleza tão explícita. Eram lugares excessivamente bonitos para o seu filme, radiantes demais para uma paisagem que devia ser a emanação das sombras do seu personagem, um poeta de nome Andrei, que viaja para a Itália em busca de material para biografia de um músico russo do final do século 18 que teria estudado em um conservatório de Bolonha.

 

Nem a pedra ricamente trabalhada nem os cinematográficos espetáculos da natureza interessam a Tarkovski. Tampouco lhe interessam enredos engenhosos, rebuscados, monumentais. Interessa-lhe o detalhe sublime, a força de uma pintura, de uma música, de um poema, o mínimo que poderá fazer do seu filme “um todo metafísico”. Interessa a Tarkovski realçar os interiores, o interior de uma casa, de um quarto de hotel, de uma igreja, e uma planície a perder de vista, um campo a céu aberto que é também um interior, o interior de um homem doente de nostalgia, exilado de sua história, desgarrado de sua pátria e sua família, um homem apaixonado pelo cadáver de sua infância, um solitário que se deixa engolir pela neblina.

 

Escapando da censura, Tarkovski partiu da Rússia para recriá-la na Itália. Acusado de “ter se afastado da realidade” em seus filmes, não podia estar mais profundamente inserido em seu tempo, na angústia do vazio espiritual de seu tempo. Tarkovski acreditava na dignidade e na verdade da arte quando já esses critérios eram molestados pelos próprios artistas.

 

Acreditava na liberdade nos termos de Púchkin, uma liberdade enquanto pacto de honestidade consigo mesmo, sem esperar agradar ou ter sucesso, sem motivações propagandísticas. Considerava-se filho do seu país, preso à sua vocação, e era livre. Era um pássaro seduzido pelo adágio que sobe das ruínas. Um artista que descobriu no seu passado o seu destino.

 

Mariana Ianelli - Publicado em Vida Breve

publicado por ardotempo às 03:34 | Comentar | Adicionar

Editor: ardotempo / AA

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