Quinta-feira, 19.05.11

A língua é um instrumento de libertação

Que língua a escola deve ensinar?

 

Cláudio Moreno

 

Um grupo de estudantes de Letras veio me visitar: faziam um trabalho para a faculdade e queriam a minha opinião sobre o papel do professor de Português “neste novo milênio, frente às novas teorias linguísticas e aos novos meios eletrônicos de comunicação”. Não pude deixar de sorrir diante de tanta novidade numa frase só; olhei-os com simpatia — todos vão ser meus colegas, em breve — e respondi que o nosso papel continua a ser o mesmo de sempre: transmitir ao aluno a língua da nossa cultura e ensiná-lo a se expressar em prosa articulada. Talvez tenham ficado espantados com a resposta, mas eu não estranhei a pergunta deles.

 

Sei que o avanço da Linguística, com tudo o que nos trouxe de bom, provocou também essa curiosa insegurança da escola quanto aos objetivos do ensino do nosso idioma. No entanto, faço questão de repetir que esses objetivos não mudaram e não devem mudar, por mais que os argumentos em sentido contrário pareçam engenhosos. Um linguista, por exemplo, convidava seus leitores a imaginar um documentário de TV em que o narrador informasse que a canção de acasalamento da baleia azul continha vários erros grosseiros, ou que os gritos dos chimpanzés da Malásia vinham degenerando progressivamente. Seria absurdo? Ora, se não podemos falar em erros da baleia azul, perguntava ele, triunfante, como podemos falar em erros na fala humana? Como pode a escola tentar impingir uma variedade do idioma, tachando as demais de inadequadas? — e por aí ia a valsa.

 

A este tipo de raciocínio engraçadinho, que obteve grande sucesso nos anos 70, contraponho uma verdade que todos nós conhecemos: os linguistas sabem que nosso idioma é muito mais amplo do que a língua escrita culta que é ensinada na escola — mas a escola sabe, mais que os linguistas, que essa é a língua que ela deve ensinar. O que a escola faz, e tem a obrigação de fazer — porque só ela pode fazê-lo de maneira progressiva e sistemática — é ensinar o futuro cidadão a se utilizar dessa forma tão especial de língua que é a língua escrita culta, cujas potencialidades espantosas aparecem na obra de nossos grandes autores.

 

Machado de Assis, Vieira, Eça de Queirós, Nelson Rodrigues, Gilberto Freyre, cada um à sua maneira, são ótimos exemplos. É nesta língua que se cria e organiza a maior parte de nosso pensamentos e sentimentos, seja escrevendo, seja falando (pode parecer paradoxal a inclusão da fala, mas não é; há muito se distingue a língua que o indivíduo fala antes do seu letramento e a língua que ele fala depois). Todas as demais variedades são respeitáveis como fenômeno cultural e antropológico, mas não é nelas que a escola deve concentrar seus esforços. Nosso aluno espera que ensinemos a ele a usar essa língua que constitui a modalidade do Português que todas as pessoas articuladas aceitam como a mais efetiva para expressar seu pensamento. Dizendo de um jeito mais rude: se houvesse forma melhor, ela estaria sendo usada.

 

Todas as sociedades reconhecem isso; o velho Bloomfield, um dos linguistas “duros” do estruturalismo americano, ressaltou que a comunidade, em várias tribos de nativos por ele estudadas, sabia apontar muito bem aqueles que falavam melhor do que os outros. Na sua sabedoria, o público maciçamente tem repelido as tentativas desastradas de fazer a escola aceitar como válida toda e qualquer forma de expressão. Quem não lembra a triste moda dos anos pós-Woodstock, em que defendíamos com entusiasmo a valorização da linguagem do vileiro como algo digno de ser preservado? Hoje sabemos que nada mais era do que uma alegre fantasia da classe média acadêmica, que terminava cristalizando uma categoria de excluídos, contra a vontade de seus pobres falantes.

 

Não é para isso que a gente estuda”, dizem eles — e chamá-los de conservadores é o mesmo que dizer, com arrogância, que nós é que sabemos o que é bom para a sua vida. Já vimos isso na política, em que alguns têm a petulância de dizer que o povo não soube escolher …

 

Agora, por que a prosa? Porque escrever prosa nos torna homens mais exatos, como percebeu Francis Bacon. Escrever é disciplinar o pensamento; o domínio da prosa impõe rigorosa disciplina à nossa mente. Ao escrever, vamos deixando uma trilha do nosso pensamento, permitindo que voltemos sobre nossos próprios passos para encontrar o ponto em que nos desviamos da rota certa e onde nos enganamos. Além disso, precisamos seguir uma série de convenções que permitam que as outras mentes acompanhem o caminho descrito pelo nosso raciocínio. Não vou exagerar, mas acredito que o pensamento articulado é impossível para uma pessoa que não consiga construir um texto coerente e também articulado — e não tenho certeza do que aqui é causa, o que é efeito.

 

Uma escola que não ensine o aluno a escrever com clareza e coerência está comprometendo algo muito mais profundo que aquilo que os antigos chamavam de uma “boa redação”. Muitos alegam que essas regras são mantidas apenas porque é assim se afirma o poder da elite, dividindo a população entre os que conseguem e os que não conseguem entendê-las. Em parte, é verdade: quem as domina consegue expressar-se melhor e argumentar melhor, o que resulta inevitavelmente em maior poder sobre os outros. Mas não são regras estabelecidas por capricho ou por acaso; nasceram da experiência acumulada em milhares de tentativas de expressar-se articuladamente no Português, ao longo dos últimos oito ou nove séculos, num esforço gigantesco que produziu esse magnífico instrumento de expressão e de argumentação.

 

Se essa língua é usada para dominar e submeter, pode, com muito mais razão, ser usada para libertar. Em nome da igualdade social, essa é a missão da escola; agora, como fazer isso, em escala universal e democrática, é uma questão que deve ser resolvida estrutural e politicamente pelos governos e pela sociedade, não pelos professores de Português.

 

Prof. Cláudio Moreno (Artigo publicado na revista Arquipélago, do IEL-RS, em 2005)

publicado por ardotempo às 19:26 | Comentar | Adicionar

Tumbas, pinheiros e o mar

 

Para nunca esquecer, a liberdade

 

 

 

 

Cemitério Americano da Normandia - Omaha Beach - Normandia - França

publicado por ardotempo às 01:36 | Comentar | Adicionar

O muro do músico

A fachada da Maison Noire, de Serge Gainsbourg

 

 

 

 

5 bis, rue de Verneuil - Saint-Germain-de-Près - Paris - França / O muro colorido, grafitado e faiscante da casa do compositor, poeta, músico e cantor Serge Gainsbourg, motivo de peregrinação constante de fãs de todo o mundo. Acenda o seu gauloise brune... 

publicado por ardotempo às 01:06 | Comentar | Adicionar

A rua do escritor

 

O nome da rua: Uma terra só

 

 

 

 

Uma magnifica homenagem ao livro premiado e à obra do escritor Aldyr Garcia Schlee.

 

A mensagem:

 

Caro Jornalista Luiz Carlos Vaz,

 

É com grande satisfação que informo que ocorreu nesta segunda-feira (16.05.2011), na Câmara dos Vereadores de Jaguarão, a aprovação do projeto que intitula a rua ao lado do Mercado Público de Jaguarão - Uma terra sóMerecida homenagem ao escritor Aldyr Garcia Schlee e sua obra.

 

Andréa Lima

Secretaria de Cultura e Turismo de Jaguarão

 

Enviado pelo Jornalista Vaz, de Luiz Carlos Vaz

 

 

publicado por ardotempo às 00:48 | Comentar | Adicionar

A casa do poeta

 

Oscar Wilde, 13 rue des Beaux Arts

 

 

 

 

A lembrança da placa de mámore, o número e cabeça de carneiro em prata

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publicado por ardotempo às 00:35 | Comentar | Adicionar

A cidade tombada

Jaguarão: Patrimônio Histórico e Artístico Nacional

 

Alan Dutra de Melo

 

Reveste-se de grande comemoração o anúncio realizado no último dia 03 de maio pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, IPHAN, sobre o tombamento do conjunto histórico e paisagístico do centro urbano da cidade de Jaguarão. É o maior tombamento em número de exemplares protegidos do Estado do Rio Grande do Sul, e este momento é a consagração de um trabalho iniciado na década de 1980, com pessoas da cidade que participaram do Projeto Jaguar em conjunto com professores da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal de Pelotas, dentre tantos é necessário destacar a contribuição da Professora Ana Lucia de Oliveira com as conclusões editadas no Programa de Revitalização Integrada de Jaguarão – PRIJ.

 

 

 Convém lembrar também dos primeiros bens tombados na cidade pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Estadual – IPHAE no começo da década de 1990, quando da proteção do Teatro Esperança, Mercado Público, Antigo Fórum e Ruínas da Enfermaria Militar. Mais recentemente o Plano Diretor Participativo da cidade incorporou ao plano uma legislação bastante responsiva com seu patrimônio tanto no eixo da proteção como no estimulo para a preservação através de incentivos fiscais, fruto também dos acúmulos do PRIJ e da compreensão coletiva do sentido da proteção patrimonial para o futuro da cidade.

 

Em Jaguarão contra o patrimônio só ouço falar da falta que fazem poucos exemplares perdidos no centro da cidade utilizados em maior parte para instalação de agências bancárias, assim a população é contra o desaparecimento de seus bens culturais.

 

Mais recentemente o aporte do IPHAN e do Poder Público Municipal tem projetado o patrimônio cultural como fator de desenvolvimento econômico e social, isto começando pela restauração da primeira etapa do Teatro Esperança, e ainda a contratação de projetos de restauros para o Mercado Público e Ruínas da Enfermaria Militar onde será erguido o Centro de Interpretação do Pampa, foram investimentos em obras realizados pelo Governo Federal e em projetos os realizados pela Municipalidade, com aportes próprios e parcerias com o Governo do Estado do Rio Grande do Sul e também da Universidade Federal do Pampa. Aliás, a cidade ocupa a primeira presidência da Associação das Cidades Históricas do RS.

 

 

 

Tal como em Ouro Preto, que de capital do Estado abandonada em Minas Gerais, e após a sua patrimonialização mudou a sua condição com o passar das décadas de investimentos até tornar-se referência cultural, e este hoje é um caminho que se aponta muito claramente para Jaguarão, pois a amálgama entre o turismo de compras existente na cidade vizinha de Río Branco no Uruguai, combinada com atrativos singulares no Brasil como o acervo do Museu Carlos Barbosa, aliados aos projetos contemporâneos projetos pelo Arquiteto Marcelo Ferraz, tanto no Centro de Interpretação como no Mercado e ainda com o aporte gerado pela Unipampa projetam a cidade para o desafio apontado na aula Magna do Curso de Turismo UFPel realizado no último dia 04 de maio no Teatro Guarany, proferida pelo Dr. Mario Beni quando sentenciou: “A Costa Doce tem muitos atrativos e um deles é o patrimônio cultural, mas a questão do patrimônio é que ele tem de ser resignificado”.

 

É neste caminho que Jaguarão avança resignificando seus bens e suas práticas e apostando muito especialmente no poder indutor do patrimônio para o turismo e a cultura, sobretudo quando se aposta e investe todo o seu potencial em novos usos.

 

Alan Dutra de Melo

Mestre em Memória Social e Patrimônio Cultural UNIPAMPA/Jaguarão - RS Brasil

 

Publicado no blog do Jornalista Vaz

publicado por ardotempo às 00:30 | Comentar | Adicionar

Editor: ardotempo / AA

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