Sábado, 30.04.11

Uma ideia incomum, um livro luxuoso

 

Imagens desveladas, embebidas de vida

 

 

 

 

 

 O fotógrafo Gilberto Perin, numa de suas jornadas solitárias, com sua máquina fotográfica peregrina, cruzando as estradas do Brasil teve uma ideia extraordinária. Ele pesquisou e localizou uma foto antiga, do início dos anos sessenta e constatou um fenômeno de presente impossibilidade.

 

A imagem, em preto e branco envelhecido, mostra dois jogadores de futebol célebres no passado, dentro de um vestiário, nus e ensaboados, com um sorriso levemente divertido, sendo abraçados por um torcedor em estado de êxtase, de risada aberta em euforia, com óculos de grandes lentes, vestido em terno e gravata, sob a água corrente de um chuveiro a encharcar os três protagonistas. Na fotografia sente-se a presença da quarta personagem, invisível, o fotógrafo que captou aquela imagem. No pensamento de Perin, hoje essa fotografia já não pode ser obtida, pela ausência de dois de seus atores naquele cenário: o torcedor infiltrado no vestiário e o fotógrafo, cuja presença está ali interditada por regras que determinam o comportamento dos jogadores e as rotinas de suas atividades.

 

Gilberto Perin realizou sua ideia. Fotografar apenas os bastidores dos estádios de futebol, os vestiários e seus segredos, os dramas ocultos, individuais e coletivos e expor os seus se-gredos. Nada do jogo, nenhuma notícia visual do campo de futebol, do palco do espetáculo. Apenas os segredos dos bastidores, desglamurizados. Resgatou os fantasmas, a aura, o sopro de vida, de esperança e efemeridade, a energia vital que reveste os espaços que também são os de uma paixão coletiva. O universo do futebol que ninguém mais vê, fora os próprios jogadores, os funcionários envolvidos e os dirigentes do clubes. Esse é o conjunto de imagens originais que fotógrafo Gilberto Perin capturou ao acompanhar o Grêmio Esportivo Brasil ao longo de meses, em jogos oficiais. Uma parte dele está presente neste livro.

 

 

 

 

 

 Para conquistar a sua invisibilidade naquele teatro, o fotógrafo propôs exatamente isso a seus fotografados, a sua transformação na impessoalidade da lente da câmera, a sua mimetização ao objeto, a sua não presença como ser humano, o seu não engajamento de amizade. Ele propôs ser apenas um instrumento silencioso que não lhes dirigiria a palavra, nem solicitaria uma pose ou um enquadramento especial. Propôs aos jogadores uma ausência e eles aceitaram o fato e o seu silêncio, convertendo-o em invisível dentro dos vestiários.

 

Dessa maneira Gilberto Perin pôde apreendê-los em sua essência, na profundidade de seus dramas, na dinâmica de sua atividade fora dos gramados. Praticamente não se vê a bola nesse jogo da bola, em que o que está presente é a intensidade da vida, suas estranhezas e seus desvelamentos. Nessas imagens permeiam as transcendências especulares em que os reflexos não são os das coisas e sim o que permanece intangível e secreto – como na fotografia do grito no espelho, na lassidão abandonada do cansaço pós-competição ou na passagem fantasmagórica de uma inesperada máscara ritual africana, de passado imemorial.

 

A letra que nos conta a verdadeira história das verdades que aqui vemos é de Aldyr Garcia Schlee, o grande escritor que além de torcedor apaixonado do Grêmio Esportivo Brasil, foi também um dia o criador do mítico uniforme da seleção brasileira de futebol. E é também a palavra reveladora das penumbras da alma humana, de João Gilberto Noll. O que vemos neste livro está antes do apito inicial e logo após o apito final, ou seja, sem a competição, sem a luta e sem o lúdico, porém intensamente embebido de vida.

 

 

 

 

 

publicado por ardotempo às 19:28 | Comentar | Adicionar

Uma nota de elegância

Quem é Leonard Cohen

 

Mariana Ianelli

 

Leonard Cohen era ainda um menino quando foi seduzido por essa mulher mítica, de sensualidade litúrgica, pestanas orvalhadas e perfume de vinhas floridas. Devia ter oito ou nove anos quando isso aconteceu, quando a poesia desabou sobre ele dentro de uma sinagoga em Montreal. Desde muito cedo pensou que podia ser escritor, mas nunca esteve completamente seguro disso. Foi assim que se mudou para a torre da Música, duvidando sempre. Foi assim que se viu atado a uma mesa, fadado a esperar por anos a fio até encontrar a palavra certa, o verso perfeito, porque essa era a sua religião.

 

Poeta, monge, cantor, amante são títulos que dizem pouco sobre Leonard Cohen. Melhor dizer que ele já abdicou de muitas coisas, que elegeu um país solitário e içou uma bandeira branca, que discutiu com a Eternidade e uma vez se deitou com uma mulher de ancas infantis em um quarto em Los Angeles. Que adormeceu a meio de um salmo, jejuou em segredo e foi um dos filhos da neve, esse mesmo filho que depois dos cinquenta teve saudades da mãe e desejou levá-la para a Índia e vê-la maravilhar-se com a cinza do Mar Arábico.

 

Leonard Cohen é esse homem pouco nostálgico, que não pode ser confortado nem guarda remorsos, o que teve o coração desfeito e ficou acordado a noite inteira pensando em alguma forma de beleza. É esse homem que afundou feito uma rocha, que raspou a cabeça, envergou uma túnica e agiu generosamente mesmo remoendo de ódio por dentro. É esse admirador das belas mulheres de Bombaim, o que espera que haja música no Paraíso, o pequeno judeu com sua Bíblia, que escreve sobre as sombras do Holocausto e sobre uma nuvem em forma de cogumelo, aquele que ama Joana d’Arc como uma de suas últimas mulheres.

 

Leonard Cohen é o peregrino que navega numa barca de asas decepadas, o que compõe um longo poema chamado Isaías, o apaixonado que, mesmo tendo esquecido metade da sua vida, ainda se lembra das coxas de uma mulher escapando das suas mãos como um cardume de peixes assustadiços. É esse homem que uma vez sentiu o seu corpo tão cheio de ternura que se dispôs a perdoar a toda gente. Esse poeta que escreveu durante anos poemas em uma mesa entre ervas daninhas e margaridas no fundo de uma casa em uma ilha do mar Egeu. Esse amante da lua que já tentou remover com seus óleos o feitiço do rival sobre a memória da namorada.

 

Leonard Cohen canta para o vento porque o vento é amigo do seu espírito de pluma. Ele sabe que os insetos são como os místicos por mal distinguirem entre vida e morte. Sabe que as possibilidades estão aí para serem derrotadas. Sabe também que o seu tempo está se esgotando e que nunca entenderá completamente esse vale de lágrimas. Não espera vitória nem honrarias. Conhece muito pouco do seu próprio nome. Um dia reuniu suas partes todas em torno de uma súplica, desejou morrer na cruz por um amigo, hesitou entre abandonar um amor e acompanhar os peregrinos, deixou sua túnica pendurada no gancho de uma velha cabana de um mosteiro e levou uma mulher até a beira do rio para amá-la, como qualquer outro homem teria feito.

 

Leonard Cohen está sentado debaixo de uma janela onde a luz é intensa. Está muito perto das coisas que perdeu e sabe que não terá de perdê-las novamente. É esse homem que melhor se sente quanto menos sabe quem é. Esse que agora sobe ao palco para cantar, no auge dos seus setenta e seis anos, com seu chapéu de feltro e seu terno impecável, provando que ainda existe neste mundo uma nota de elegância. Que ainda existe alguém que sente e pensa com elegância. Isso ele nos diz sem palavras, com um sorriso de doçura, apenas.

 

 

 

 

 

Mariana Ianelli - Publicado em Vida Breve

publicado por ardotempo às 16:55 | Comentar | Ler Comentários (1) | Adicionar

99 anos de vida

Ernesto Sábato

 

O escritor argentino Ernesto Sábato morreu esta madrugada na sua casa na cidade de Santos Lugares, Argentina. Um dos últimos grandes autores da língua castelhana, que conquistou o prémio Cervantes em 1984, morreu aos 99 anos depois de dias com problemas de saúde.

 

A morte foi anunciada pela sua companheira Elvira González Fraga. “Há quinze dias que teve uma bronquite”, disse citada pelo diário espanhol “El País”. O escritor nasceu em 1911, em Rojas, Buenos Aires. A 24 de Junho ia completar o centenário. O escritor estava há muito tempo recluso em casa devido à visão cada vez mais comprometida, mas iria amanhã ser homenageado na Feira do Livro, pelo Instituto Cultural da província de Buenos Aires.

 

Sábato não iniciou a sua vida profissional na literatura. Tirou o doutoramento em física, e trabalhou posteriormente no Laboratório Curie, em Paris. É aqui, durante as décadas de 1930 e 1940, a sua vida muda. Abandona o comunismo depois de ter conhecimento, em 1935, das perseguições estalinistas aos dissidentes do regime soviético. Mais tarde, conhece os surrealistas da capital francesa e, influenciado por eles, larga o trabalho da ciência para em 1945, já na Argentina e no final da segunda guerra mundial, passar a dedicar-se exclusivamente à literatura.

 

O existencialismo está patente no seu trabalho, através da exploração da crise do homem no nosso tempo. Há também nas suas obras uma reflexão sobre a própria literatura. Publica em 1948 o romance “O Túnel”, traduzido para português, que terá continuidade na trilogia, “Sobre héroes y tumbas”, de 1961, que lhe deu o reconhecimento internacional e em 1974, o terceiro volume, “Abaddón el exterminador”, que o consagrou. Em 1984 ganha o prémio Cervantes. Recebe ainda os prémios Gabriela Mistral em 1983, e Menéndez Pelayo, em 1997. Em 2007, a Sociedade de Autores e Editores de Espanha propõe-no como candidato ao Prémio Nobel da Literatura, que não acontece.

 

Em 1985, presidiu à Comissão Nacional que publicou o relatório “Nunca Más” sobre a repressão dos governos militares na Argentina de 1976 a 1983. O último romance de Sábato, editado em 2004, chama-se “España en los diários de mi vejez”. Foi escrito depois das viagens que fez a Espanha em 2002, enquanto a Argentina estava presa a mais forte crise económica da sua História.

 

Publicado em Ciberescritas

publicado por ardotempo às 16:46 | Comentar | Adicionar
Sexta-feira, 29.04.11

O professor encontra com o escritor

 

Revelações de Aldyr Garcia Schlee

 

 

Abrindo a temporada do projeto itinerante de 2011, a caravana do Encontros com o Professor viajou - pela primeira vez - para Pelotas para a entrevista com o escritor e jornalista Aldyr Garcia Schlee.

 

O mais recente romance de Aldyr Schlee, Don Frutos, lançado em novembro do ano passado, foi o primeiro assunto da conversa entre Ostermann e o entrevistado diante do público que lotou o auditório do Instituto Simões Lopes Neto, em Pelotas. Segundo o autor, o livro foi rejeitado por duas das maiores editoras brasileiras antes de ser publicado pela edições ardotempo. "Meu orgulho é de quem tem a consciência de que os argumentos utilizados pela editoras eram mais do que falsos", declarou. Mas isso não foi motivo para desencorajá-lo. "Minha mulher acha que se o cara não escreve um romance, ele não é bom. Por isso que eu dediquei esse livro a ela. Mas continuo achando que o bom conto é mais difícil de fazer do que o romance", brincou.

 

A obra utiliza o linguajar fronteiriço e narra os derradeiros meses de vida do caudilho uruguaio Don Fructuoso Rivera. No livro, o personagem estacionado por meses em Jaguarão, em regresso à sua pátria depois de prisioneiro em duro exílio no Brasil, assume pela terceira vez o mandato de Presidente da República. "O meu mundo é muito pequeno, ele gira todo em torno de Jaguarão e da fronteira com o Uruguai".

 

Bem-humorado e ácido nas críticas, Schlee comentou as contradições que percebe no Movimento Tradicionalista Gaúcho que, segundo ele, baseia-se numa "tradição que não nasce, que tem que ser criada. O mate [chimarrão] é um traço rico e verdadeiro da cultura pampeana, mas ele não distingue, ele revela a identidade dos que vivem no pampa. Os descendentes os colonos que saíram do pampa e foram para Santa Catarina, Paraná e mesmo outras partes do Rio Grande do Sul, levam o mate e vão nos CTGs. O MTG extrapolou o espaço onde estava sendo desenvolvido e cultivado. O Paixão [Côrtes] e o Barbosa [Lessa] se atiraram como tigres em busca de outros traços além dos que dizem respeito ao pampa".

 

A conversa entre Ostermann, Schlee e o público ainda versou sobre a literatura gaúcha, a camiseta canarinho da Seleção Brasileira de Futebol - da qual Schlee é o criador -, João Simões Lopes Neto, Nelson Rodrigues e sobre as vivências jornalísticas de Schlee nas décadas de 1960 e 1970 . Encerrando o evento, entrevistado e entrevistador tiraram fotos com o público e distribuíram autógrafos.

 

 

 

 

Publicado pelo blog Encontros com o Professor -

Imagem: Divulgacão Album Encontros com o Professor  - Ruy Carlos Ostermann, Marlene R. Schlee e Aldyr G. Schlee

 

 

 

 

 

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Petrechos de pintura

Saber fazer - Maquinaria da Arte

 

Utllizar sapatos de primeira qualidade, tintas de primeira qualidade, uma tela de primeira qualidade e caminhar com estes sapatos, embebidos nas tintas sobre a tela não é garantia de um resultado de idêntica qualidade. Não se pode intuir por princípio, a obra-prima. Antes, é preciso saber andar e saber até onde se deseja ir.

 

 

 

 

 

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Quinta-feira, 28.04.11

Fragmentos visuais de um poema - I

 

As vozes, de novo, as vozes

 

 

 

 

 

 

 

© Mariana Ianelli,  2006

publicado por ardotempo às 16:19 | Comentar | Adicionar

Fragmentos visuais de um poema - II

 

Haja fome, haja fúria!

 

 

 

 

 

 

 

© Mariana Ianelli,  2006

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Fragmentos visuais de um poema - III

 

 

Esposas entrelaçadas, virgínias

 

 

 

 

 

 

© Mariana Ianelli,  2006

 

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Fragmentos visuais de um poema - IV

 

Venham pequenos e grandes,

venham graves e agudos

 

 

 

 

 

 

© Mariana Ianelli,  2006

 

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Fragmentos visuais de um poema - V

 

Dentes e membros e fendas e cicatrizes

 

 

 

 

 

© Mariana Ianelli,  2006

 

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Fragmentos visuais de um poema - VI

 

Cantem por medo e sorriam

 

 

 


 

 

© Mariana Ianelli,  2006

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Fragmentos visuais de um poema - VII

 

 

Cubram-se de moedas, esquartejem a música!

 

 

 

 

 

 

© Mariana Ianelli,  2006

 

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Fragmentos visuais de um poema - VIII

 

 

Seda, escarlate, marfim e ouro, muito ouro

 

 

 

 

 

© Mariana Ianelli,  2006

 

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Fragmentos visuais de um poema - IX

 

 

Dissimulem qualquer resquício de alma

 

 

 

 

 

 

© Mariana Ianelli,  2006

publicado por ardotempo às 05:01 | Comentar | Adicionar

Fragmentos visuais de um poema - X

 

 

Não se sintam culpados

 

 

 

 

 

 

© Mariana Ianelli,  2006

 

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Fragmentos visuais de um poema - XI

 

 

Não chorem

 

 

 

 

 

 

© Mariana Ianelli,  2006

 

publicado por ardotempo às 01:08 | Comentar | Adicionar

Fragmentos visuais de um poema - XII

 

 

Dói a falta de recato?

 

 

 

 


 

 

 

© Mariana Ianelli,  2006

publicado por ardotempo às 00:54 | Comentar | Adicionar

Fragmentos visuais de um poema - XIII

 

 

Vai subindo a fumaça do riso

 

 

 

 

 

 

 

© Mariana Ianelli,  2006

publicado por ardotempo às 00:51 | Comentar | Adicionar

Fragmentos visuais de um poema - XIV

 

 

As vozes, de novo, as vozes

 

 

 

 

 

© Mariana Ianelli,  2006

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Quarta-feira, 27.04.11

A mostra e o livro

Camisa Brasileira estreia na França

 

A mostra do ensaio fotográfico vai inaugurar no dia 6 de maio, no Hôtel des Isles, em Barneville-Carteret, Normandia, França, balneário localizado perto de Cherbourg, na costa da Mancha que faz frente à ilha de Jersey, já no percurso em direçãao ao Mont Saint-Michel. Ali também ocorrerá o primeiro lançamento do livro Camisa Brasileira, de Gilberto Perin (fotografias) e Aldyr Garcia Schlee (texto).

 

 

 

© Gilberto Perin/ Aldyr Garcia Schlee - Camisa Brasileira, edições ardotempo, 2011

 

publicado por ardotempo às 22:53 | Comentar | Adicionar
Terça-feira, 26.04.11

Um vinho de legenda

Arerunguá

 

Um tannat potente, pleno de sabores e de saberes, de taninos líricos e protegidos em rolha de cortiça genuína, colorida naturalmente na sua base secreta em vermelho indiano profundo com matizes de violeta.

 

Vinho sestroso aos corações, de pronunciado aroma em nariz de eloquências elegantes, evocativo aos sons de bandonéons gementes e de cantorias carismáricas, hipnóticas, os perdidos ecos do Prata e dos Andes.

 

Um tannat muito bom e personal, nem melhor e tampouco pior do que malbecs altaneiros, das prateleiras arenosas das cordilheiras, ou do que bordôs e borgonhas de outro hemisfério. Apenas um vinho singular, raro e inesquecível pelo seu corpo de lágrimas e de luz trespassada, hemorrágica, de grande personalidade e legenda incomum.

 

Um tango legítimo. O vinho do lugar onde nasceu o cantor, cerros da mina de ouro de Tacuarembó, da extinta mina San Pablo, domínios da antiga Compagnie Française d’Or de l’Uruguay, cenário dourado dos barrocos volteios dançarinos de Mlle. Gardés. Ali cresceu a vinha mítica e inscrustrou suas raízes na busca da água mais pura e das terras minerais marmorizadas em delicados veios de ouro. O ouro que já não se encontra visível em volumes de cobiça e couraça, mas que se cola e recorta com requinte a madeira viva enterrada que frutificará em sedutoras e escuras esferas de sol, para safras de guarda.

 

 

 

 

publicado por ardotempo às 01:33 | Comentar | Adicionar
Segunda-feira, 25.04.11

O terceiro homem

Las firmas son tímidas

 

Enrique Vila-Matas

 

1 Se cuenta que a la gran actriz francesa Sarah Bernhardt la detuvo una mañana un señor por la calle para preguntarle si era la ilustre Sarah Bernhardt.

 

- Sí, lo seré esta noche - dijo ella.

2  La impresión de que como escritor voy contra natura cuando aparezco en público y más cuando, a causa de la lógica perversa de la aparición misma, me veo de golpe haciendo teatro, transformado en otro, convertido en alguien distinto del que escribe y también distinto del que vive y que en mí al menos nunca se confunde con el que escribe, por mucho que algunos crean lo contrario.

 

La impresión de que en esas ocasiones aparece siempre "el tercer hombre", el actor que sabe que esas intervenciones en público nada tienen que ver con la actividad de escribir y sí en cambio con el reposo, son manifestaciones puras y duras de esa "sociedad del espectáculo" que Guy Debord diagnosticó con lucidez de primera hora. Vistas desde un ángulo nada piadoso, esos shows ligados aparentemente al mundo de los libros niegan nada menos que la actividad estricta de escribir y son capaces de convertir a un narrador o un poeta en una simple Sarah Bernhardt de noche. Eso no quita que en esos modernos espectáculos de la escritura puedan surgir de pronto ideas para aquel escritor que, a la caza de inéditos hilos narrativos, sepa utilizar el escenario como si estuviera de reposo en una playa, de vacaciones: en aparente descanso, pero anotando como un loco imágenes o ideas para cuando regrese a casa.

 

3 Dramático o no, el hecho es que para esas intervenciones en público he tenido con el tiempo que ir creándome un personaje tan distinto del que soy en mi vida corriente como del que soy cuando, en la soledad de mi gabinete, escribo. En esas apariciones me convierto en esa especie de "tercer hombre", y eso me ocurre tanto si subo a un escenario como si firmo tímidamente libros en la calle. Es una sensación rara porque, a diferencia del personaje que escribe en su casa y también a diferencia del personaje que vive su vida, ese tercer hombre es tímido de tanto teatro que hace o, al revés, hace tanto teatro porque es tímido. Cuando en el día de las firmas se acerca alguien y me pregunta si soy yo, no puedo evitarlo, quisiera decirle que lo seré más tarde. Esa respuesta es la esencia de mi pulsión tímida en cualquier Día del Libro en el que me encuentre por el mundo.

 

- He venido desde Bendinat para saludarle y para que me firme este libro.

 

Suele ocurrir que ante el bondadoso lector que se acerca con su inocencia de viajero llegado de lejos, el "tercer hombre" no pueda evitar sentirme un farsante antes ya de hablar, antes ya de preguntar con sincera cordialidad al viajero cómo se llama para así poder estampar su nombre en la dedicatoria. Ante cada nuevo lector bondadoso que se planta ante él, se pregunta enseguida el "tercer hombre" qué personaje piensa ahora representar, puede elegir entre una gran variedad de personalidades. "Mi nombre es Legión, porque somos muchos", se lee en la nada tímida Biblia.

 

4 Qué diferencia con el sentimiento de autenticidad que llega a tener uno cuando está en casa enfrentado a sus textos y no a merced de un público que, confundiéndole con el dependiente de unos grandes almacenes, pueda preguntarle el precio de la mesa en la que está firmando. Sé que a veces el escritor, tratando de huir de la gran comedia del día de las firmas, decide ser auténtico y parecerse al que escribe y dar algo de sí mismo, y opta entonces por confesarle al bondadoso lector de Bendinat que se siente "otro" siempre que se ve de repente ante seres humanos, y más en los últimos tiempos en los que lleva una vida retirada y una voluntad de alejarse del personaje literario que en otros días, sin pretenderlo, forjó fatalmente. Mire usted, acaba diciéndole al lector de Bendinat, debido a que hace años que paso hasta semanas enteras sin apenas contacto con el público, a veces sin contacto con ningún extraño a lo largo de mucho tiempo, me sucede que cuando aparezco de repente un día en un escenario como éste, me quedo flotando como en un sueño, tímido total, como un libro, o como una firma.

 

 

 

 

 

 5 Lo peor viene después de firmar, porque uno se queda con la impresión de haber decepcionado a la persona que viajó de tan lejos para verle y, además, con la mala conciencia de haberse explicado demasiado cuando lo mejor habría sido firmar y no darle tantas vueltas al asunto. Siempre después de firmar un libro, uno quiere volver a casa. O desea ir a ver a colegas para que le firmen su libro y pueda de este modo volver a ser él mismo y no el otro, el rufián, el tercer hombre, el actor, el personaje inventado, el no escritor, el tortuoso farsante, el odiador del mundo de las fiestas de los libros.

 

Libros que recomendé a los lectores que deseaban que les firmara un libro mío: Cosas que ya no existen (Cristina Fernández Cubas), Romance en París (Franz Hessel), Adéu a la universitat (Jordi Llovet) Memorias (Arthur Koestler), El día de mañana (Ignacio Martínez de Pisón), Constatación brutal del presente (Javier Avilés), La mujer de Rapallo (Sònia Hernández), El pozo y las ruinas (Jimena Néspolo) Los libros son tímidos (Giulia Alberico).

 

6 Poder volver a casa, solo eso desea al final del día de las firmas. Volver despacio mientras va pensando que en los primeros libros que escribió se liberó de sus obsesiones, pero solo con los primeros, porque después lo que fue creciendo en él fue el interés por el estilo, por la depuración de la forma y la palabra, por intentar que cada palabra lograda fuera una fiesta, todo eso que uno sabe perfectamente que solo lo puede hacer en casa, bien que imaginándose apocado bajo la lluvia, a la intemperie.

 

Enrique Vila-Matas

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Domingo, 24.04.11

O livro das imagens de futebol que ninguém vê

Camisa Brasileira

 

 

 

 

 

Trata-se de um livro de arte, de fotografias de autoria de Gilberto Perin, com o texto de Aldyr Garcia Schlee (e de João Gilberto Noll) – um majestoso ensaio fotográfico sobre um universo pouco conhecido acerca das atividades e do comportamento dos milhares de trabalhadores do futebol, os que jogam e os que os apóiam. Não é o do espaço dos astros televisivos do super-espetáculo regido pelo rico mercado dos clubes-empresas, dos formidáveis anunciantes, dos empresários e dos artistas a quem a fortuna sorriu. É outra gente, mais numerosa, mais frágil, para quem os dramas humanos estão evidenciados e que são capazes de nos emocionar e comover com a sua humildade e de sua humanidade. É outro espaço, é outro o tempo, são grandes as carências, as limitações materiais – mas talvez seja mais genuína a paixão que o esporte, distanciado dos holofotes do negócio-futebol, desperte em torcedores desses times e clubes espalhados pelo Brasil inteiro.

 

 

 

 

 

Projeto Camisa Brasileira - 2011

 

GILBERTO PERIN

ALDYR GARCIA SCHLEE

JOÃO GILBERTO NOLL

 

Livro de Arte de Fotografias,

Textos de Autoria e Exposição de Fotografias

110 imagens, em cores e p&b a quatro cores

Formato: 22 cm x 28 cm

Capa dura com sobrecapa debruada - Miolo em Couchê Fosco 170g

Edição bilíngue - Português / Inglês

Apoio Cultural: Construtora Ricardo Ramos

 

ISBN nº 978-85-62984-08-2

 

 

 

Copyright © 2011 Gilberto Perin - Fotografias © 2011 Aldyr Garcia Schlee

 

edições ardotempo ardotempo@gmail.com

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Tempos de Páscoa

 

 

Ressurreição

 

 

 

 

 

Alexandre Schlee Gomes - Fotografia

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Yes, nós temos umbigos

O formato do umbigo

 

Luis Fernando Verissimo

 

Aquela "pasta" curta e oca que os italianos chamam de "pene" tem este nome porque lembra o pênis, mas não deve ser verdade que a inspiração para o nome veio do pinto pequeno do Davi de Michelangelo. Os mesmos italianos dizem que os "tortellini" têm o formato do umbigo de Vênus, mas este parâmetro, como o pinto do Davi, também não é universal, felizmente.

 

A variedade de umbigos - côncavos, convexos, redondos, alongados, etc. - é, mesmo, uma das coisas que nos diferenciam um dos outros. Muitas coisas nos unem. Somos todos bípedes mamíferos. Todos os nossos antepassados, sem exceção, eram férteis. Todos sobreviveram até no mínimo a puberdade e todos tiveram ao menos uma relação sexual, digamos, convencional, e procriaram.

 

Somos portadores de uma linha ininterrupta de DNAs triunfantes, portanto, e essa ascendência idêntica nos permite não só um sentimento de família como um certo orgulho do que conquistamos como espécie. A Natureza e os germes têm feito o possível para interromper nossa linhagem, mas perseveramos e prevalecemos. Pelo menos até agora. Nossas diferenças estão nos detalhes.

 

Machos e fêmeas, para começar pela diferença mais óbvia. A cor da pele, a diferença mais superficial e sem importância que existe. E detalhes mínimos, como o formato do umbigo. Sabe-se que há muito mais destros do que canhotos no mundo, mas que tipo de umbigo tem a maioria? E que porcentagem lembra um "tortellini"? O umbigo tem causado controvérsias há gerações.

 

 

 

 Discutiam se nas imagens do Paraíso, Adão e Eva deveriam aparecer com ou sem umbigo, já que não tinham nascido de partos normais e sim feitos por Deus. Uma corrente justificava a presença de umbigos no primeiro casal como uma espécie e "imprimatur" do Criador, um carimbo bem no centro do corpo garantindo o equilíbrio da imagem e a autenticidade da obra. Outros encerravam a questão argumentando que, como Deus tinha criado o Homem à sua imagem, apenas reproduzira em Adão e Eva seu próprio umbigo, e quem ousava especular sobre a origem do umbigo de Deus? Na arte religiosa, os umbigos de Adão e Eva permaneceram. Como símbolo, ao mesmo tempo a marca da nossa ligação vital com o ventre materno e através dele com a nossa ascendência comum, com o cordão metafórico que atravessa os séculos e nos conecta todos ao começo da espécie, e à marca da nossa individualidade.

 

O formato do umbigo é uma das pequenas coisas que determinam se somos minoria ou maioria na nossa própria espécie. Podemos pertencer a categorias dominantes ou a pequenas dissidências, sem nunca saber. Quantos homens botam as mãos na cintura quando fazem xixi? Ou uma mão na cintura enquanto a outra garante a pontaria? Somos multidões ou uma confraria que não se conhece? É mais comum abotoar a camisa de cima para baixo ou de baixo para cima? E comer a casca do queijo? Ou gostar de bife de fígado? Você pode se achar meio esquisito sem suspeitar que a maioria das pessoas tem a mesma esquisitice, ou achar perfeitamente normal mastigar a gravata e não entender a estranheza dos outros.

 

O importante é, minoria ou maioria, nunca perder a consciência de que somos todos descendentes da mesma linhagem, a dos que venceram tudo o que conspirava contra sua reprodução. E temos os umbigos para provar.

 

Luis Fernando Verissimo

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Encarcerado na poderosa China, o artista sobreviverá?

Onde está Ai Weiwei?

 

Ai Weiwei é o artista da imensa instalação das sementes de girassol na Tate Modern e do desenho do Estádio Ninho de Pássaro das Olimpíadas de Pequim.

 

"Ser artista hoy en China me expone a la realidad de las condiciones actuales y exijo mi derecho a discutir abiertamente y dar mi opinión sobre la cultura, la sociedad y la política, e intentar expresar mis sentimientos personales, por ejemplo en Internet. La sociedad china actual no tiene moral, juicio propio, y la gente no está acostumbrada a asumir su responsabilidad. No está acostumbrada porque el mayor éxito de las sociedades totalitarias es hacer pensar a la gente que no es nada, que haga lo que haga nada va a cambiar".

 

 

 

 

 

 

Así hablaba Ai Weiwei, uno de los artistas de vanguardia chinos más prominentes y acerado crítico del régimen de Pekín, en una extensa entrevista con este diario en mayo de 2009, en la que hacía un repaso a su trayectoria artística y su defensa de la democracia, y lanzaba sus dardos contra el Gobierno único del Partido Comunista Chino (PCCh), del que decía que "está asustado" y "tiene miedo a mostrar la verdad" como evidenció, continuaba, "el viejo juego de propaganda" que fueron los Juegos Olímpicos de Pekín, en 2008. Ante la pregunta de si no temía que sus continuas críticas al poder le llevaran a la cárcel, Ai respondió con decisión: "No. Quiero hablar todo lo que pueda antes de que esto ocurra. Cuando esté en prisión, no podré decir nada y me dedicaré a dormir".

 

El pasado 3 de abril, algo menos de dos años después de aquella conversación, Ai Weiwei fue detenido, en medio de una de las mayores campañas de represión contra la disidencia llevadas a cabo por Pekín desde las manifestaciones de Tiananmen en 1989, y su futuro es incierto. Gao Zhen, de 54 años, y Gao Qiang, de 48, conocidos como Los hermanos Gao, amigos de Ai y también entre los más internacionales y renombrados artistas chinos, no creen, sin embargo, que Ai pueda dormir tan fácilmente. "La policía no le dejará. Suele someter (al detenido) a interrogatorios interminables con luces muy fuertes para destruirlo mentalmente", dice Zhen, mientras Qiang asiente, en su estudio en Pekín, situado en 798, un complejo de antiguas fábricas de electrónica transformadas en galerías de arte, cafés y tiendas. Los hermanos Gao trabajan a dúo, y dicen que hablan con una sola voz. "Con su detención, están intentando aterrorizar a otra gente. La situación, ahora, es más difícil, no solo para los artistas sino para cualquiera que pretenda expresar su opinión frente al Gobierno".

 

Ai Weiwei, de 53 años, fue bloqueado en el aeropuerto de Pekín cuando se disponía a abordar un avión con destino a Hong Kong, desde donde iba a viajar a Taiwan para organizar una futura exposición. Durante cuatro días, no se supo nada de este artista que tiene actualmente una gran instalación en la Sala de Turbinas de la Tate Modern de Londres, uno de los templos del arte en Europa. El Gobierno se negó a reconocer que lo tenía en su poder, hasta que el 7 de abril, en medio de la inquietud y la ira provocadas por su desaparición en Occidente, un editorial en el periódico en inglés Global Times -ligado al PCCh- reconoció indirectamente su detención y le calificó de "inconformista de la sociedad china", al que le gusta "bordear la línea roja de la ley" y "hacer cosas a las que otros no se atreven".

 

El diario acusó a Occidente de "ignorar la complejidad del entorno judicial chino" por haber etiquetado el caso de Ai Weiwei de "supresión de los derechos humanos" y de querer minar la estabilidad social en China. La agencia oficial Xinhua afirmó que estaba siendo investigado por "delitos económicos" que no detalló. Hong Lei, portavoz de Exteriores, lo confirmó al día siguiente, y añadió: "China es un país que se rige por la ley, y las autoridades pertinentes trabajarán de acuerdo con la ley".

 

El Gobierno de Pekín silencia habitualmente las voces críticas con acusaciones de "subversión del poder del Estado", pero en algunas ocasiones utiliza cargos como evasión de impuestos y otros delitos no políticos. El viernes de la semana pasada, el periódico de Hong Kong Wen Wei Po -controlado por Pekín- aseguró, citando fuentes sin identificar, que los investigadores habían reunido "gran cantidad de pruebas de que Ai Weiwei es sospechoso de evadir impuestos, y las sumas son bastante grandes". "Nadie está por encima de la ley. Cualquiera que incumpla la ley será llevado ante la justicia. No importa la reputación que pueda haber tenido en el pasado", insistió Hong Lei. "El pueblo chino también se siente confundido. ¿Por qué alguna gente en algunos países considera un héroe a un sospechoso de ser un delincuente? El pueblo chino está descontento con esto".

 

La familia de Ai ha afirmado que la acusación no es más que un pretexto para vengarse de él por su activismo. "Es un artista sin igual en China, que tiene un cerebro de político, y a quien admiro. Este caso marcará un hito. En los próximos cinco o 10 años, habrá cada vez menos gente con capacidad de decir la verdad", asegura Zuoxiao Zuzhou, músico y artista, amigo de Ai Weiwei desde hace 18 años. "La mayoría de sus amigos famosos, o aquellos a quienes ha ayudado, no han movido aún un dedo por él".

 

Ai Weiwei es el más conocido entre las decenas de activistas, abogados de derechos humanos, artistas e intelectuales detenidos, o recluidos bajo custodia secreta desde mediados de febrero, cuando el miedo al contagio de las revoluciones del norte de África y Oriente Medio desencadenó una dura campaña de represión contra la disidencia por parte del aparato de seguridad del Estado, que, según algunas informaciones, se ha visto reforzado en los últimos años como consecuencia de las protestas étnicas en Tíbet (2008) y en la región musulmana china de Xinjiang (2009). Más de 50 personas han sido detenidas, enviadas a campos de trabajos forzados o están en paradero desconocido, según la organización de derechos humanos Chinese Human Rights Defenders (CHRD), que tiene miembros tanto dentro como fuera de China.

 

La detención de este artista ha causado sorpresa. Muchos pensaban que su fama internacional le protegía, por no hablar de su estatus como hijo de Ai Qing, uno de los mejores poetas chinos del siglo XX. Ai, artista visionario, contribuyó a diseñar el estadio olímpico de Pekín, conocido como El Nido de Pájaro. Pensó que era "una buena oportunidad para mostrar al mundo que China quiere cambiar de forma sincera su historia". Más adelante, según confesión propia, se dio cuenta de que el Gobierno había utilizado el estadio como un elemento de propaganda del partido, y rechazó cualquier conexión con el edificio y con los Juegos Olímpicos.

 

Desde entonces, su activismo ha ido en aumento. El terremoto de Sichuan, en mayo de 2008, en el que murieron miles de niños porque sus escuelas se desplomaron -muchas de ellas por construcción defectuosa, debido a la corrupción-, le afectó profundamente. Registró los nombres de los chicos fallecidos, para enojo de las autoridades, y llegó a realizar una instalación con 9.000 mochilas colegiales, en recuerdo de la catástrofe.

 

En agosto de 2009, fue golpeado en un hotel de Chengdu (capital de Sichuan), supuestamente por agentes de paisano, la víspera del juicio de Tan Zuoren -un activista que investigaba las malas prácticas seguidas en la edificación de las escuelas-, y le impidieron asistir a la vista. Pekín temía que las investigaciones desembocaran en protestas de los padres de los niños fallecidos y que se produjera un estallido de violencia. El mes siguiente, mientras se encontraba en Alemania, Ai tuvo que ser intervenido de urgencia por una hemorragia cerebral, posiblemente consecuencia de la agresión policial.

 

En noviembre del año pasado, fue puesto bajo arresto domiciliario para impedirle asistir a la fiesta organizada en protesta por la decisión de las autoridades de demoler su estudio en Shanghai. Semanas después, la policía le impidió viajar a Corea del Sur, ante el temor de que pudiera acudir el 10 de diciembre a la ceremonia de entrega del Premio Nobel de la Paz al disidente chino encarcelado Liu Xiaobo.

 

Aunque inicialmente no se interesó por los recientes levantamientos en Túnez y otros países musulmanes, luego comenzó a registrar en su cuenta de mensajes cortos en Twitter las detenciones de activistas, abogados y escritores. Este puede haber sido un factor clave en su arresto. A pesar de que Twitter está bloqueado en China y que para utilizarlo es necesario un programa que evite la censura, Ai tenía más de 80.000 seguidores, probablemente la mayoría dentro de China, ya que escribe en chino. El artista, para quien su trabajo creativo y su activismo están íntimamente unidos, había cobrado mucha relevancia, y Pekín no quiere agitadores ni otros líderes que la cúpula del PCCh.

 

Además, el Gobierno envía con este arresto un claro mensaje: nadie es inmune. "Antes de lo ocurrido, algunos (incluidos artistas) decían que nos habíamos hecho famosos en Occidente porque utilizamos la política en nuestro arte y que esto nos protegía. La detención de Ai Weiwei prueba que se equivocaban", asegura Gao Zhen. "Los artistas que se mantienen alejados de lo que ocurre en la sociedad lo hacen por dos motivos. Para no tener que cuestionarse a sí mismos y para proteger sus beneficios". Según el diario Wen Wei Po, además de evasión de impuestos, Ai está siendo investigado por bigamia, porque tiene un hijo con una mujer que no es su esposa, y por "difundir pornografía en Internet".

 

Su mujer, Lu Qing, ha calificado las acusaciones de puro chiste. Asegura que Fake Design, la empresa que gestiona el estudio de Ai, está a nombre de ella y es de su propiedad. Respecto a la supuesta bigamia, dice que su marido solo se ha casado una vez. "Cualquier otra cosa que haya pasado en su vida es asunto privado nuestro", declaró a la agencia Associated Press. La hermana del artista ha asegurado que Ai y Lu se casaron en Estados Unidos y no registraron la unión en China, y que tiene un hijo con otra mujer, pero que el acuerdo es abierto y amigable. La acusación de pornografía probablemente tenga que ver con un retrato del artista semidesnudo, en el que se cubre el sexo con un muñeco de peluche blanco, que representa un animal de ficción inventado por los internautas chinos para insultar a la censura. El animal se parece a una alpaca. Su nombre chino -cao ni ma (hierba barro caballo)- y su colocación evocan la frase "jode a tu madre, comité central del partido". Según el diario de Hong Kong South China Morning Post, Ai recibió al menos dos visitas de la policía poco antes de su detención; la última, el 31 de marzo. Aparentemente, le propusieron entrar en la Conferencia Consultiva Política, un órgano de asesoramiento del Parlamento. También pudo tratarse de una oferta para que se uniera a la Academia de Arte Contemporáneo de China, creada a finales de 2009.

 

La detención de Ai Weiwei fue acompañada de registros en su estudio. La policía se incautó de ordenadores e interrogó a sus colaboradores, incluidos voluntarios extranjeros. En una carta abierta al Ministerio de Seguridad Pública y a la policía de Pekín, su esposa, Lu Qing, parientes del artista y empleados y voluntarios del estudio denunciaron la desaparición no solo de Ai, sino también de Wen Tao, de 38 años, amigo del artista; Zhang Jingsong (43), chófer; Liu Zhanggang (49), diseñador del estudio, y Hu Mingfen (55), la contable. Cuando se escribió la carta, 15 de abril, las personas citadas llevaban entre seis y 12 días ilocalizables. "Todas desaparecieron o fueron secuestradas en un corto periodo de tiempo. Pedimos a la policía que lo investigue", señala el documento. "Secuestrar o hacer desaparecer a personas es un crimen muy grave (...) Creemos que solo puede haber justicia si se siguen los procedimientos administrativos de acuerdo con la ley". La ley china establece que la policía debe informar a la familia cuando retiene a un sospechoso más de 24 horas, aunque las autoridades a menudo hacen excepciones, especialmente en casos de tinte político.

 

Ai parecía intuir que iba a ser arrestado. "Tres días antes de que le detuvieran, me llevó a ver la tumba que se había comprado. Señaló la cárcel de Qincheng (en la que el Gobierno interna a los presos políticos) no lejana y me dijo: 'No me suicidaré en la cárcel", cuenta Zuoxiao Zuzhou. Ai Weiwei no ha sido el único creador en el punto de mira del Gobierno. El 20 de marzo, docenas de artistas participaron en una exhibición en el Museo de Arte Contemporáneo de Pekín, en la que algunas de las obras aludían a la falta de libertad de expresión y a las manifestaciones jazmín (en referencia a las revoluciones árabes). Días después, tres de ellos -Huang Xiang, Zhui Hun y Cheng Li- fueron detenidos por "provocar alboroto" y un cuarto, Guo Gai, lo fue probablemente por haber tomado fotos durante la exhibición. Liu Xiaoyuan, un abogado que había asesorado a la familia de Ai Weiwei y había dicho que "por supuesto" le representaría si se lo pedían, desapareció también el 14 de abril. El martes pasado fue liberado. "Todo artista tiene que hacer frente a sus responsabilidades y no olvidar los problemas sociales. Me gusta el arte de Ai Weiwei y lo respeto. Pienso que es honesto y ha ayudado a mejorar el arte en China. Pero el Gobierno quiere que las cosas cambien poco a poco, y no quiere que nadie le señale. Las actividades de Ai Weiwei son radicales, y esto hace sentirse inseguro al Gobierno. Le preocupa que Ai pueda encender la mecha y provocar disturbios sociales", dice un artista, que cobra un salario de las autoridades por pintar óleos y pide que no se cite su nombre.

 

Los llamamientos, en febrero pasado, a realizar en China concentraciones jazmín, efectuados por una página web en Estados Unidos, fueron recibidos con un refuerzo de la censura en Internet y una contundente respuesta policial. Las convocatorias instaban a los chinos a pasear sin pronunciarse ni identificarse en lugares céntricos de ciudades de todo el país. Pocos se atrevieron, aunque el carácter invisible de la protesta hizo imposible saber el grado real de participación.

 

La detención de Ai ha provocado un profundo rechazo entre la comunidad artística tanto dentro como fuera de China, y podría ser contraproducente para el partido. La mayoría de los artistas en el país asiático han vivido hasta ahora de espaldas a la realidad social, más interesados en ganar dinero que en la política. Los seguidores de Ai han difundido decenas de miles de mensajes en Internet pidiendo su liberación, a pesar de que su nombre está bloqueado en microblogs (servicios de mensajes cortos) como Sina Weibo. La alternativa utilizada para su nombre -ai weilai (amo el futuro), que suena también como 'quiero que Ai Weiwei vuelva'- ha sido censurada igualmente. "Ahora, más artistas se han vuelto hacia él y le han mostrado un fuerte apoyo", asegura Gao Zhen.

 

"Como artista, no es posible encerrarte únicamente en tu estudio. Tienes que prestar atención a la sociedad", dicen los dos hermanos, cuya obra está marcada por la crítica y la ironía, como revelan su serie de esculturas llamadas Miss Mao -bustos de rostro redondo, con el pelo característico del fundador de la República Popular China, grandes pechos y nariz de Pinocho- o sus cuadros sobre arrestos de prostitutas. "Los artistas somos parte de la sociedad, y tenemos un deber como ciudadanos", afirma Gao Zhen. Wang Jiabin, un diseñador gráfico de 26 años y guitarrista de rock, coincide."Todo es abierto en China, todo es libre, puedes hacer lo que quieras, mientras gire alrededor del renminbi (la moneda china).

 

Pero los jóvenes nos sentimos muy deprimidos por la falta de libertad de expresión. ¿Por qué en China no se permiten las protestas? Me gustaría organizar un concierto para decir a los jóvenes que tienen que mostrar su conciencia ciudadana, como hace Ai Weiwei. Hay que actuar, no basta sólo con mostrar enojo en Internet. Si Ai Weiwei ha sido detenido por evadir impuestos y bigamia, la mitad de los funcionarios del Gobierno debería estar en la cárcel", dice durante una visita a una galería de 798. Quienes han intentado movilizarse se han dado de bruces con la policía. Según los hermanos Gao, la cantante Wu Hongfei intentó organizar una fiesta llamada ai weilai, pero fue citada por la policía, quien le advirtió que la cancelara.

 

Otro artista fue detenido un par de días por convocar a través de Internet una concentración de apoyo a Ai en 798. "Los artistas y otra gente en China trabajamos en el filo de la navaja. ¿Hará la detención de Ai Weiwei a los artistas más valientes o más débiles? No lo sé", afirma Gao Zhen. "Aquellos que tienen un pensamiento sólido como Ai Weiwei no se asustarán.

 

Pero el mercado del arte no está ahora en buen momento, y los artistas están preocupados por la economía", dice el pintor que trabaja para el Gobierno. La fundación Guggenheim, el Museo de Arte Moderno de Nueva York (MOMA), la Tate Modern, la Asociación de Directores de Museos de Arte y otras instituciones de todo el mundo han lanzado una campaña de apoyo a Ai, que hasta el miércoles pasado había recogido cerca de 94.000 firmas. El domingo pasado, se produjeron protestas ante embajadas y consulados de China en Europa, Estados Unidos y Australia para pedir su liberación.

 

Ai Weiwei es hijo de Ai Qing, poeta que se unió a la revolución de Mao Zedong, aunque más tarde fue acusado de derechista y fue desterrado a la región occidental de Xinjiang. Weiwei permaneció en Xinjiang hasta que finalizó la escuela. De regreso en Pekín, realizó estudios en el Instituto de Cinematografía, y en 1979 fue uno de los fundadores del colectivo de artistas Stars (Xingxing). Dos años después, se fue a Estados Unidos. Allí, se empapó de arte occidental. Le interesaron especialmente el dadaísmo y el minimalismo.

 

En 1993, regresó a Pekín, donde actuó como catalizador de la comunidad artística. Es uno de los pocos creadores en China que se atrevían a elevar la voz contra el partido, lo que, según algunos críticos, incluidos artistas, le granjeaba las simpatías de Occidente y elevaba su cotización en el mercado. Cuando se les pregunta a los hermanos Gao cómo se sienten por la detención de Ai, contestan: "Su situación y la nuestra eran similares. Nuestro trabajo artístico es incluso más crítico que el suyo, pero su activismo lo ha colocado en una posición peor. Nunca sabes lo que puede ocurrir. El otro día nos llamó un amigo y nos preguntó si aún estábamos en Pekín. Pensó que, como habían detenido a Ai Weiwei, también nos habían detenido a nosotros. Nunca hemos escondido nuestras opiniones. Y tenemos que estar preparados. Porque aunque la Revolución Cultural sólo ocurrió una vez, el Gobierno está en continuo modo de revolución, arrestando activistas", dice este dúo, cuyas exposiciones han sido censuradas con frecuencia. "En China, puedes criticar todo, menos al partido comunista", asegura Gao Zhen. "No puedes tocarle el culo al tigre", añade Gao Qiang.

 

Varios países, incluidos Alemania, Reino Unido y Estados Unidos han pedido la liberación de Ai Weiwei, que ha acusado en el pasado a Occidente de tolerar la falta de derechos humanos en China. Catherine Ashton, responsable de política Exterior de la Unión Europea, se ha mostrado "profundamente alarmada" por el arresto del artista y otros activistas y por "el deterioro de los derechos humanos" en el país asiático.

 

El presidente del Gobierno español, José Luis Rodríguez Zapatero, eludió el tema en sus encuentros con mandatarios de Pekín durante su reciente viaje a China. Preguntado por qué no había mencionado los derechos humanos o por qué no se había interesado por Ai Weiwei, quien ha expuesto su obra tanto en Madrid como Barcelona, Zapatero se limitó a decir que ese no era el motivo de su visita. Responsables del Gobierno volvieron a utilizar el argumento habitual de que en esos asuntos es mejor que haya "una sola voz", la de la Unión Europea. ( A presidente do Brasil Sra. Dilma Roussef também esteve na China recentemente e esquivou-se de tocar em assuntos de presos políticos, direitos humanos e sequer interessou-se pelas situações de Ai Weiwei e do Prêmio Nobel da Paz também encarcerado, Liu Xiaobo - NE)

 

Ai ha ligado su obra a la situación en su país, en un intento de animar a la gente a que se implique más en la sociedad. Defiende que todo artista tiene una responsabilidad, y que asumirla es la única posibilidad de "traer la democracia a China". Pero, para ello, es necesario, asegura, "ser capaz de cuestionarse, colocarse en una posición difícil y quedarse con las manos completamente vacías". Él lo ha hecho. -

 

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Sábado, 23.04.11

Queimadas numa profecia

 

 

Depois do último dia

 

Mariana Ianelli

 

Quando as chaves giravam nas portas era a mesma pergunta para El Djohar Akrour e suas companheiras de cela: “Hoje somos nós?”. Da pequena janela dava para ouvir a guilhotina sendo montada lá fora. Isso foi há mais de cinquenta anos e El Djohar ainda se lembra das correntes nas mãos e nos pés. Como ela, muitos outros que participaram da guerra pela libertação da Argélia passaram pelo corredor da morte. Alá Akbar, gritavam os que iam para a guilhotina, Alá Akbar respondiam os condenados de dentro das celas. Os que receberam indulto agora se lembram.

 

Lembram das noites sem dormir, das orações, das canções, dos lamentos, lembram de jejuar um dia depois da execução de um condenado que poderia ter sido qualquer um deles. Não estavam mais sendo punidos por um crime, estavam levando sua resistência até o cúmulo do sacrifício. Tinham já cruzado o limite das intrincadas questões, das circunstâncias delicadas, dos pequenos problemas a serem resolvidos. Chegaram tão perto do último dia que foi como terem se queimado numa profecia.

 

Lembram de subir nos ombros uns dos outros até a janela engradada no alto da cela porque o que era feito lá fora era feito por eles, a montagem da máquina de calar os insurgentes. Lembram do peso do silêncio, horas longas para cumprir gestos mínimos, aqueles gestos de todos os dias, cegos, repetitivos, gestos de que ninguém normalmente se dá conta porque são mecanismos de rotina, absolutamente insignificantes se desta vez não tivessem a consistência de uma vida. Isso aconteceu durante os anos de terrorismo que encarniçaram a luta entre argelinos e franceses.

 

Quando uma cidade acordava às quatro horas da manhã para acompanhar um dos condenados, quando uma lâmina bem oleada trespassava uma cabeça e as mulheres da casbá respondiam com preces e cantos. Isso aconteceu mais de um século depois de Victor Hugo ter publicado O Último Dia de um Condenado, seu manifesto literário contra a pena de morte, “esse direito exorbitante que a sociedade se outorga, de poder subtrair o que não deu”.

 

 

 

 

Mariana Ianelli - Publicado em Vida Breve

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Sexta-feira, 22.04.11

Telúrica

 

Força contemporânea e de sangue primevo, sagrado, de sacrifício ancestral


 

 

 

 

Esboços aquarelados, do natural - as cabeças dos animais, os cortes da carne e o sangue - desenhos espontâneos, com anotações descritivas em apontamentos velozes, em caderno de trabalho/desenho, aquarelados, da preparação da Série Charqueadas - por Danúbio Gonçalves (cadernos de esboços - aquarelas) - Pelotas, 1953 

Aquarelas originais reproduzidas no livro Sitio Charqueador Pelotense, Pelotas 2011

 

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O medo está aí - sem livrarias será a barbárie

O que será das livrarias?

 

Juan Cruz

 

La librería es un centro cultural. En muchos lugares son los únicos centros en los que sirven de altavoz a las inquietudes de la sociedad a la que sirven.

 

En algún tiempo, en España, las librerías tuvieron tanta importancia social (y política) que resultaron objeto del odio de los que, como Goebbels, veían en la cultura una amenaza. En la revista Texturas (marzo 2011) Lola Larumbe, de la Librería Rafael Alberti (Madrid), recuerda cuando su establecimiento fue asaltado por terroristas que entonces, en el inmediato posfranquismo, tenían los libros en el punto de mira de su odio nostálgico. Ahora los problemas de las librerías no son esos, dice Larumbe. Ahora el problema de las librerías se encierra en una pregunta: ¿Resistirán?

 

Los libreros dicen que sí, pero tienen muchos problemas, y en primera fila está el que afecta a la edición de libros, a la música, al cine y a la prensa: ¿resistirán el desafío tecnológíco? ¿Resistirán, sobre todo, a la piratería? Los datos no animan al optimismo. Actualmente quedan en en España 4.500 librerías. Desde 2005 el sector vive una cierta estabilidad (los años anteriores cerraban 90 por cada 60 que abrían), pero se espera que su número vuelva a bajar.

 

En la Feria Internacional de Guadalajara dijo el escritor Fernando Vallejo, autor de La virgen de los sicarios: "Cuando cunda en serio el libro electrónico esta profesión tan honorable [la de editor] que empezó algo después de Gütenberg hace 500 años va a quedar más descontinuada que la de relojero o la de deshollinador". Para los libreros no es menos preocupante la situación. Por lo menos, dice Paco Goyanes, de la librería Cálamo (Zaragoza), es "enrevesada". Dice Goyanes, en cuya librería se juntaron 125 libreros, editores y distribuidores para hablar de estos asuntos: "Sufrimos (literalmente: casi nadie subraya la carga de dolor que supone la crisis para la mayoría de la población) la crisis económica y social que soportamos todos los españoles, aderezada con algunos elementos propios del sector". Esos elementos son preocupación común de los libreros: la fuerte caída de las compras institucionales (bibliotecas, centros de enseñanza, Ayuntamientos); un mercado sobredimensionado, con un exceso de oferta que estrangula las librerías y que, dice Goyanes, "recuerda la crisis inmobiliaria". Tampoco las cifras de lectores son buenas. Un 91,1% de la población declara leer, pero de ellos solo el 55% dice que libros. Eso sí, de estos, el 41,3% afirma que lo hace a diario.

 

Goyanes ve la situación "enrevesada". Pere Duch, de Babel (Castellón), la ve "mal, muy mal". "Nunca habíamos vivido una situación tan crítica". Los bajos índices de lectura, la progresiva implantación de las nuevas teconologías y su incidencia en el mundo de las librerías, los sistemas de venta de libros de texto impuestos por la Administración, la "desmesurada" competencia en una ciudad pequeña, y la crisis económica son los que convierten en "muy mala" esta situación "enrevesada". Ese es el presente. ¿Y el futuro? Duch cree que "es muy incierto"; para seguir, "las librerías habrán de dar cabida al libro de papel y a los contenidos digitales" y "deberán buscar la fuerza del asociacionismo, librerías interconectadas que serán capaces de proporcionar mayores ventajas y servicios a sus clientes". Para sobrevivir, dice Concha Quirós (Cervantes, Oviedo), lo que han de hacer los libros es "ejercer su función, que no es otra que ejercer de asesor e intermediario entre el autor y el lector. Las librerías independientes, las que quedamos, tenemos asegurada nuestra pervivencia si somos capaces de ejercer como libreros". Rodrigo Rivero (Lé, Madrid) añade un sustantivo a la lista de adjetivos fatales: la situación actual, dice, es "de incertidumbre". Pero él es optimista.

 

En primer lugar, "el libro en papel seguirá teniendo durante un gran plazo de tiempo un papel preponderante con respecto al libro electrónico". Pero, para que se cumpla esa versión optimista, "lo que tendríamos que hacer las librerías es adecuarnos a los tiempos, reformar nuestros sistemas informáticos, tener potentes webs de venta para todos los formatos, aparecer en las redes sociales, ofertarnos como espacios culturales para dinamizar las zonas geográficas donde nos ubicamos..." Y, además, "maridar el libro con otros componentes culturales como la gastronomía, la fotografía, la pintura, los viajes... Y, por supuesto, estar muy pendientes del desarrollo e incoporación a la demanda del libro electrónico".

 

 

 

 

 

 Juan Manuel Cruz, de la librería Rayuela (Málaga), dice que "la situación es bastante complicada". El libro ha perdido mercado, al menos "en un 30%" en los últimos tres años, lo cual ha puesto en riesgo "la viabilidad de las empresas". Las librerías han sido dañadas por "políticas demagógicas" como las que hablan de "la gratuidad de los libros de texto que han convertido a estos libros en mercado de votos electorales". Hace aún más complicada esta situación lo que Cruz llama "cruzada contra el libro papel y la alabanza al libro digital". Dice que "lo que durante siglos ha sido un valioso objeto social, se ve degradado a un objeto obsoleto que hay que sustituir con urgencia"; esa prisa para sustituir el libro tradicional deja "como marginales" los problemas de la piratería y la pérdida de derechos de autor. El presente es, afirma Cruz, "tan tormentoso como atractivo". Ya se ve por qué es tormentoso, "pero también supone un reto. Hasta hoy, el mundo de la librería independiente ha sido capaz de superar las amenazas de muerte que han significado los distintos cambios tecnológicos (como el CD-ROM)".

 

Fernando Valverde, presidente de la Confederación de Gremios y Asociaciones de Libreros (Cegal), considera que "el impacto de la crisis ha tardado algo más en llegar" al mundo del libro que a otros sectores. Pero la crisis convierte la situación "en un momento complicado a la vez que interesante". Se nota "el descenso en las adquisiciones de libros para las redes bibliotecarias" y "ha descendido la venta directa en las librerías".

 

"La alarma" ante la llegada de los formatos digitales es como una gota malaya; se ha suavizado a medida que ha habido más información sobre los dispositivos de lectura. Valverde cree que las pequeñas y medianas librerías "están soportando mejor estos momentos que las cadenas y las grandes tiendas". Según él, "tienen una mayor capacidad de adaptación a los momentos duros"; saben, además, "que no es posible crecer siempre y a cualquier precio"; cree que "las dificultades de grandes cadenas en Estados Unidos e Inglaterra, caso de Borders; el cierre de las librerías Crisol en España, y la reciente absorción de la cadena Bertrand por Casa del Libro, hablan por sí solo de las dificultades de soportar estructuras gigantescas, en donde el elemento humano, la calidez del trato, la integración con los entornos es más complicada que en la red de librerías independientes". Esas sombras no le hacen perder el optimismo. "Nunca como ahora se ha leído tanto. Abren nuevas librerías, con gente joven al frente... En la última década también han irrumpido en el mercado nuevos editores, jóvenes, haciendo apuestas por literatura de calidad, haciendo objetos bellos y apetecibles".

 

El miedo está ahí. Paraliza, dice. "Pero no debemos perder energías en intentar enfrentar los soportes. No son excluyentes porque la experiencia de leer en papel y la de hacerlo en pantalla son esencialmente distintas. Y las dos son buenas. Y las dos pueden y deben y creo que convivirán mucho tiempo". "La peor amenaza", afirma, "es no hacer nada. Es resistirse numantinamente a los cambios que se están produciendo. Junto a esto es obvio que el anuncio de la llegada de plataformas como Amazon, o la irrupción en el mercado digital de operadores ajenos hasta ahora al sector del libro suponen nervios y expectación, y, por qué no decirlo, algo de miedo.

 

Es imprescindible que la actitud de la Administración y de los editores sea inequívoca a la hora de buscarse los mejores aliados". Y él cree que los mejores aliados "son los libreros". Montse Moragas, de Laie (Barcelona), pone énfasis en los peligros que trae la piratería al mundo del libro, "ese es el problema más grave", pero avisa de otra amenaza: "La desintermediación", que el librero "se quede fuera de juego, que no sepa evolucionar para seguir jugando un papel determinante en el mundo de la cultura; que adopte una actitud defensiva y victimista y deje pasar la oportunidad de posicionarse claramente en el mundo digital". Según ella, esa oportunidad llevará al librero "a nuevos públicos, que hasta ahora no frecuentaban las librerías. Las librerías tienen que vender libros en todos los formatos, y además de la presencia física tienen que vender virtualmente". ¿Y qué puede hacer la Administración?

 

La respuesta es unánime: tomarse en serio las librerías como centros de agitación cultural, como otra forma de bibliotecas, algo así como lo que dice Luis Landero: recuperar las librerías "como centro del mundo". A eso apunta Lola Larumbe: "Creo que la salud de las ciudades, de los barrios, de los pueblos de un país se debería estimar por el número de librerías que alberga y por la calidad de éstas. Parece que no ha habido mucha gente con capacidad de decidir que haya visto esto, que le haya importado el empobrecimiento paulatino que han sufrido los barrios de una ciudad tan importante como Madrid con el despojamiento de sus librerías. Librería y biblioteca, formando un núcleo duro de actividad, deberían estar siempre en el horizonte de los gestores culturales públicos". "Ir a la librería", concluye Larumbe, "es un signo de humanismo, de humanidad, y es la pérdida de ésta la gran amenaza".

 

Juan Cruz - Publicado em El País

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"A vida é curta demais para se ler livros ruins"

 

 

O organismo vivo

 

Maria do Rosário Pedreira

 

Conhecem-se mal os editores de outros países, mas muitos têm fama internacional e construíram catálogos e editoras que fizeram ou estão a fazer história. Embora nunca tenha tido grandes relações com editores de língua alemã, sempre ouvi falar de Michael Krüger, poeta, romancista e editor da Hanser, uma das editoras mais literárias em toda a Europa. Num dos seus poemas, sobre a memória, Krüger diz: “Às vezes, a infância manda-me postais”. 

 

Recentemente, li uma entrevista sua e fiquei tocada por este verso e muito do que ali afirmava. Entre outras coisas, que o texto tem vida própria, na medida em que pode ser lido de formas completamente distintas por gente culta, inteligente, burra e ignorante, e pelo facto de os livros durarem para além da vida do autor, com o qual se relacionam apenas porque o seu nome figura na capa. Acrescenta que, como organismos vivos que são, não podemos deixá-los morrer – e que os editores são os únicos que podem velar pela sua vida depois da morte do autor. Mais adiante, depois de confessar nunca publicar um livro com o qual nada aprenda, remata: “A vida de um ser humano é demasiado curta e, por isso, devíamos ler os bons livros que existem”. Confesso que às vezes sinto o mesmo.

 

 

 

 

 

 

Maria do Rosário Pedreira - Publicado em Horas Extraordinárias

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Editor: ardotempo / AA

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