Sábado, 19.03.11

Escondidos atrás da arte

Palimpsestos

 

Mariana Ianelli

 

Uma grande mulher por trás de um grande homem foi o que descobriu recentemente um restaurador do Museu de Belas Artes de Astúrias, na cidade espanhola de Oviedo. Trata-se de uma figura feminina pintada sob El Retrato de Jovellanos en el arenal de San Lorenzo, de Francisco Goya. Embora a identidade da mulher seja desconhecida, a radiografia de seu porte e seu vestido dá pistas de alguém pertencente à nobreza.

 

Gaspar Melchor de Jovellanos, o homem retratado, cujo braço apoiado à cintura enlaça invisivelmente o braço da jovem escondida atrás dele, foi um personagem eminente de sua época, acadêmico, jurista, filósofo, ávido leitor dos clássicos latinos, ele mesmo autor de vários poemas, peças teatrais e romances.

 

 

Impossível resumir a atuação de Jovellanos nos assuntos políticos, econômicos e sociais que rodearam sua intensa jornada de vida pública. Membro da Academia da História, da Sociedade Econômica de Madri e da Academia de Cânones, Liturgia, História e Disciplina Eclesiástica, além de ministro da Graça e da Justiça, foi um homem coerente com sua ideia de que só falta tempo a quem não sabe aproveitá-lo. Seu espírito audacioso e de embaraçosas virtudes para a época lhe rendeu, além de amigos ilustres, como Goya, inimigos digníssimos, como a rainha María Luisa.

 

¡Oh vilipendio! ¡Oh siglo!/

Faltó el apoyo de las leyes.

Todo/ se precipita: el más humilde cieno/

fermenta y brota espíritus altivos,/

que hasta los tronos del Olimpo se alzan.

 

Versos como estes ilustram bem não só a postura de Jovellanos contra uma aristocracia degenerada como fazem presumir os motivos que o levaram para a prisão em Palma de Mallorca em 1801.

 

Jovellanos era também colecionador de livros e quadros. Corre que suas ideias exerceram grande influência sobre Goya, que chegou a usar o verso de uma de suas sátiras no segundo Capricho.

 

Quinze anos depois de El Retrato de Jovellanos en el arenal de San Lorenzo, Goya retratou mais uma vez o amigo, agora em uma obra com atmosfera algo melancólica, Jovellanos sentado, rosto apoiado na mão esquerda, o olhar pensativo de quem vê e não vê. Um retrato muito diferente daquele primeiro, em que se esconde sob as tintas de um homem altivo e confiante o corpo de uma mulher, que, embora não se saiba ao certo quem é, poderia ser a Enarda de um poema do próprio Jovellanos, um amor de juventude que ele fez questão de preservar na sombra:

 

Quiero que mi pasión ¡oh Enarda! sea,/

menos de tí, de todo ignorada;/

que ande en silencio y sombra sepultada,/

y ningún necio mofador la vea/ (…)/

Amor es un afecto misterioso/

que nace entre secretas confianzas/

y muere al filo de mordaz censura.

 

Curiosamente, Jovellanos era também amigo de Antonio de Porcel e sua esposa, ambos retratados por Goya. O quadro de Don Antonio de Porcel, de 1806, teve o destino trágico de cento e cinquenta anos depois ter sido destruído em um incêndio no Jockey Club de Buenos Aires. Já o faustoso retrato em negro de Doña Isabel de Porcel guarda uma misteriosa cumplicidade com El Retrato de Jovellanos en el arenal de San Lorenzo. Também sob esse quadro existe uma outra pintura oculta: a figura de um homem.

 

Palimpsestos em pintura não são raros, como tem revelado a tecnologia avançada no trabalho de pesquisa de restauradores, que já desvendaram pela técnica de raios-X obras inteiras debaixo de quadros Edvard Munch, Jean-Baptiste Camille Corot, Hieronymus Bosch. Casos assim podem dizer muito sobre uma composição desde o seu primeiro esboço, sobre os caminhos incertos e mutáveis de um processo de criação. Dizem também mais do que isso, mais do que propõem as especulações no campo da ciência e da teoria da arte.

 

Palimpsestos falam de histórias recônditas, de um rosto debaixo de outro rosto, de uma página sobreposta a outra, tudo aquilo que existe subterraneamente e sobrevive, como a própria essência do pensamento, mantido em zona de penumbra, gravado porém com letras de fogo, guardando-se para o momento certo de ser revelado. Segredos da vida por trás da arte.

 

Mariana Ianelli - Publicado em Vida Breve

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Sexta-feira, 18.03.11

Torre

Black Babel

 

 

 

 

Giacomo Favretto - Sem título - Fotografia I Phone (São Paulo SP Brasil), 2011

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Quinta-feira, 17.03.11

Modo de fazer

Passo a passo de uma pintura

Primeiro fez-se um desenho em tinta china e aguadas a pincel japonês de ideogramas sobre papel de gravura. Posteriormente utilizou-se a pena caligráfica e, em determinados instantes, os dedos para estruturar a mancha nervosa e arriscada do desenho. A figura, realizada em rápidos gestos transversais, de poucos segundos de duração, estava finalmente pronta, num desenho de fatura veloz.

 
 
Este desenho serviu de base a uma pintura que, por sua arquitetura particular, será diferente e estrutrurada cumulativamente em tempo muito mais extenso que o exigido pelo desenho. Linguagens, técnicas, materiais e tempo são específicos à pintura e ao desenho. A tinta a óleo exige um período mais longo de tempo físico para sua secagem e assim vários dias serão necessários para o desenvolvimento pleno da pintura, como foi originalmente pensada. A pintura é sempre fruto de uma reflexão, apurada pelas condições do material.
 
Melhor que seja assim, o óleo que se faz perene e estável, propõe esse tempo de observação e de reflexão. Será importante, no entanto, conservar o frescor do gesto ágil e espontâneo presentes naquela primeira obra do esboço. Entrava agora em cena uma nova protagonista, a cor da pintura - valor artístico fundamental para a linguagem pictórica, especialmente as cores que, ocultas, estruturarão o fundo da tela e que estão ali presentes, mesmo que aparentemente não sejam percebidas imediatamente.
 
 
Num primeiro momento ao olhar o resultado da tela pronta, não se vêem as cores da base, mas são essas as camadas que compõem a cor final - a cor que não quase podemos definir com tanta precisão qual seja na realidade, em razão de seus muitos matizes.
 
Constróem o fundo e fazem a alma invisível da tela. Serão seis, sete ou mais camadas totais, de tintas e pigmentos superpostos na tela, mesmo que a aparência final denote apenas uma tela em negro. Mas não é apenas isso, será uma cor bastante trabalhada. Ali estão vários tons de azuis de intensidades diferentes, brancos, violetas e grises, antes das diferentes colorações em texturas finais de negro. Este passo a passo revela essas camadas escondidas e recobertas por outras camadas, que se fazem  mais aparentes pela superposição do acabamento. Todos os matizes estão lá e podem ser redescobertos por observação mais detida.
 
 
Como se pode ver uma tela assim? O que isso significa de fato, a mesmo tempo e valor que seu andaime e esqueleto de cores? A pintura, na verdade é essa arte em progresso, é essemomento em que se realiza, em mutação dinâmica durante algum tempo e que ali está carregada de significados, de segredos, de alternativas, de alterações de percurso, de acidentes e correções. A pintura é um pequeno simulacro da vida, com um objetivo definido a ser alcançado. E intensa no provisório de sua realização, como a riqueza da vida constitui-se desse mesmo modo, na verdade. O resultado é apenas o final, pintura pronta e acabada. É o tempo crucial da realização da cirurgia e quando vemos o resultado algum tempo depois, constatamos que o paciente foi salvo.
 
Nessa pintura utilizou-se uma tela de 100 cm x 130 cm, em lona de algodão estendida e fixada em bastidor de madeira retangular com cravelhas em cunha, mais uma estrutura simples de apoio horizontal sobre uma parede, como poderia ter sido um cavalete tradicional, uma mesa ampla ou a própria superfície do chão. Isso não é nada importante, apenas apontam ser o suporte e sua base de apoio para pintar. Foram utilizados para pintar pincéis, papéis, tecidos, as mãos e os dedos para a aplicação da tinta a óleo.
 
Apenas uma pintura.
 

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Quarta-feira, 16.03.11

Uma exposição de pintura

APENAS PINTURA

 

 

 

 

 

 

A mostra de 26 telas propõe-se a apresentar APENAS PINTURA.


O que significa isso, na realidade? Vamos pensar inicialmente sobre o que a mostra não é. O conjunto de pinturas contemporâneas e recentes não tem a pretensão de desencadear revoluções tampouco mudar o mundo. Se isso aconteceu com a arte em algum momento, ocorreu minimamente e por acaso, por acidente improvável, em tempos muito antigos e em circunstâncias especialíssimas. Não é um manifesto, nem um discurso ideológico sobre a atividade de pintar.

Nas pinturas apresentadas não estão representadas figuras simbólicas, nem a imaginária de guerras, de sagas, de ações, não há representações visuais históricas, de paisagens, de naturezas mortas ou de objetos. Não há semelhanças imagéticas à realidade,  não há busca da verossimilhança à fotografia, não há narrativa visual, portanto não está a fonte formal da semelhança literária,  do descritivo, da anedota, do remissivo histórico ou o jornalístico do cotidiano.

Também não está a função. Não está concebida para cumprir um papel de decoração, de edulcorar e colorir convenientemente os espaços. Não se propõe à finalidade da beleza apaziguada, domesticada e estéril. Não se pretende decorativa a cumprir o papel de paisagem harmônica em cenários. 

Igualmente a mostra APENAS PINTURA não está engajada ao modismo da Não-Arte. Não se propõe ao choque mediático, ao escândalo, a chamar a atenção pelo inusitado, ao movimento derrisório da destruição dos valores constitutivos da arte nem ao suícido do artista. Não apresenta a temporalidade da oxidação ferruginosa dos pregos, não mancha a tela com café ou chocolate, não utiliza excrementos como matéria pictórica, não se faz com lixo ou restos apodrecidos, nem utiliza os fluídos animais ou humanos (como o sangue e a água dos cadáveres) para tentar agregar os pigmentos e fazer a notícia.  

O conjunto dessas telas pintadas não traz mensagens pré-concebidas ao bizarro ou ao espetáculo feérico, pontificando alaridos estranhos ao seu intrínseco conteúdo visual. 

É apenas algo bem mais singelo, absolutamente silencioso: sustenta-se na atitude de pensar a pintura e realizá-la tão somente como pintura enquanto linguagem da pintura.

É simplesmente APENAS PINTURA. Nem se pretende pura ou sequer impura, porque a pintura é uma mistura complexa, que agrega tintas, pigmentos, solventes e outros materiais estáveis diversos sobre um tecido. E é dessa mistura ampliada condicionada pelo trabalho árduo e pela reflexão corretiva do artista, ao longo do tempo de sua execução, que se alcança o resultado. Afirmar a “pureza” da pintura seria um preconceito e um fetiche.

APENAS PINTURA revela o trabalho e a reflexão pictórica de um artista. Que apresenta um conjunto de obras em pintura contemporânea, nas quais está apontada a busca estrita de uma linguagem própria ao universo da pintura, utilizando-se apenas os valores artísticos.  Isso se apresenta na busca da cor, na construção de um espaço pictórico que acolhe alguns elementos sugeridos: um contorno de cabeça, algumas silhuetas, a sugestão de segmentos de uma linha de horizonte, uma caligrafia pictórica em que não se vêem signos identificados (não existem letras ou números nessa caligrafia). Com esses poucos elementos constrói-se um espaço de pintura onde a cor buscada, trabalhada com afinco, na superposição de cores, tonalidade e transparências se faz por mimetização e acréscimo. Uma cor que não existe crua e una, industrializada como estivesse intacta em seus tubos de origem e que se formará em progresso, na visão e na percepção de quem a observa: o próprio artista e o observador da pintura - o protagonista principal desta cena.

Para essa construção de linguagem estão os gestos do pintor, a atitude frente à tela, o jeito de fazer a pintura, a caligrafia pictórica, as tintas, os pigmentos, os objetos para a aplicação das cores (os pincéis, as hastes, as espátulas, as próprias mãos), as cores que se fazem por mistura, a cor misturada que “conversa” com outras cores igualmente misturadas e daí resulta a busca intensiva de um sentido, uma justificativa para si mesma enquanto pintura, que poderá ser a harmonia ou o contraste, o equilíbrio formal, a sutileza, a estruturação de um espaço cromático em cores profusamente trabalhadas, cores diferentes que ao olhar descuidado parecem ser idênticas. Estão ali para serem vistas e percebidas se o observador assim o quiser. 

A verdadeira razão dessa pintura e dessa linguagem será sempre a sensibilidade e a percepção desses observadores, que multiplicarão a condição  e o sentido de existência dessa pintura. Não fosse isso, o que justificaria a existência dos museus contemporâneos e dos centros culturais abertos ao público em todas as cidades do mundo?

APENAS PINTURA é uma mostra que apresenta um proposta de linguagem pictórica lastreada e apontada aos valores artísticos intrínsecos à pintura, apenas à pintura e endereçada aos observadores dessa pintura. Existirá como linguagem da pintura e de comunicação na medida em que for vista, percebida e sentida por seus observadores.

 

 

 

 

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Terça-feira, 15.03.11

Sítio Charqueador Pelotense

Lançamento de livro, com fotografias e desenhos - 24 de março

 

 

 

 

Desenhos, esboços de época aquarelados e xilogravuras de As Charqueadas, de Danúbio Gonçalves - com a presença e autógrafos do artista

 

Instituto João Simões Lopes Neto - Realização ATO Produção Cultural

 

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A sombra e o sol

Retrato do escritor Aldyr Garcia Schlee

 

 


 

Gilberto Perin - Retrato de Aldyr Garcia Schlee - Fotografia (Jaguarão RS Brasil), 2011

 

Aldyr Garcia Schlee é autor de notáveis livros: Os limites do impossível / Contos Gardelianos; Don Frutos; Uma terra só; Contos de verdades; O dia em que o Papa foi a Melo; Contos de futebol; Linha Divisória; e muitos outros.

publicado por ardotempo às 11:56 | Comentar | Adicionar
Segunda-feira, 14.03.11

Para fazer dinheiro verdadeiro

Luiz Ruffato, Curador Editorial - Quem é o leitor comum?

 

É no Brasil que a Babel se apresentará única e exclusivamente por si mesma, Paulo Teixeira Pinto, seu dono e presidente, não acredita em cut & paste na vida real:

 

Cada problema tem uma solução diferente, cada oportunidade tem uma fisionomia distinta, – observa ele, que mergulhou a tal ponto na nova profissão que é, hoje, presidente da Associação Portuguesa de Editores e Livreiros.

 

– A Guimarães é uma coisa, a Verbo é outra. Mas essas são marcas ligadas à vida portuguesa. No Brasil começamos do zero, e não faria sentido criar, do zero, uma editora com divisões. Costumo dizer que a Babel é uma editora de língua portuguesa, mas não uma editora portuguesa. A Babel não será, no Brasil, a filial de uma editora portuguesa, mas uma editora brasileira, com personalidade própria.

 

A festa de debutante já tem data marcada. Acontece no próximo dia 14, no Museu da Língua Portuguesa, em São Paulo, com a apresentação de uma das especialidades da casa: a edição clonada de um clássico.

 

Edição clonada” é aquilo que, antigamente, se chamava edição facsimilar. O novo nome se fez necessário porque chega a ser covardia comparar os velhos facsímiles com os clones que a tecnologia de impressão permite produzir hoje: pude ver lado a lado a edição da Babel de “Mensagem”, de Fernando Pessoa, com o original que está na Biblioteca Nacional em Lisboa, e a semelhança entre os dois livrinhos dá um arrepio na espinha.

 

Não há porque fazer menos do que isso, – diz Paulo Teixeira Pinto. – Se há quem consiga produzir dinheiro falso em oficinas clandestinas, por que não podemos reproduzir um livro com a mesma fidelidade?

 

 


 

Ele obviamente ama os livros também como objetos, e faz questão que todos os títulos publicados pela Babel tenham sempre a melhor qualidade possível: “Fazer bons livros que sejam livros bons” é um dos seus lemas.

 

Sabe que tão cedo ela não será a maior editora brasileira, mas vai fazer todo o possível para que seja a melhor.

– O que nasce grande acaba monstruoso, – observa. – Não podemos começar pelo fim; precisamos ter um crescimento sustentável. A previsão é que, em velocidade de cruzeiro, a Babel, que publicou no ano passado mais de 300 títulos em Portugal (entre eles alguns dos brasileiros Ferreira Gullar e Eucanaã Ferraz), publique cerca de cem títulos no Brasil. Mas não quaisquer cem títulos: ela pretende tornar-se referência cultural, a editora pela qual os melhores autores queiram ser publicados.

 

Curadoria Editorial

 

Para chegar a esse ponto, conta com a curadoria editorial de Luiz Ruffato – o premiado autor de “Eles eram muitos cavalos” e “Estive em Lisboa e lembrei de você” – secundado por um vasto Conselho Editorial que, a exemplo do que acontece em Portugal, reunirá cabeças pensantes dos mais variados matizes e áreas de atividade, de Alberto Costa e Silva e Antonio Cicero, por exemplo, muito bem conhecidos na área literária, a Roberta Medina, do Rock in Rio.

 

A idéia de uma curadoria editorial, "cargo" inédito no mercado brasileiro, é de servir como uma espécie de literary scout para a Babel, – explica Ruffato.

 

– A minha proposta para a editora é a de publicar não livros, mas autores, apostando em nomes inéditos e outros que, embora já lançados, não estejam ligados a nenhuma casa editorial, para formar um catálogo nacional, com ênfase na qualidade. É um trabalho de médio a longo prazo, buscando uma consolidação progressiva e segura, que irá tornar a Babel uma editora de referência no mercado brasileiro, tanto na área de ficção e poesia quanto na de não-ficção.

 

Ruffato concorda plenamente com as diretrizes de qualidade estabelecidas em Lisboa:

 

Os livros vão primar pelo apuro gráfico e rigor editorial, com a certeza de agradar tanto a um leitor especializado quanto ao leitor comum.

 

Publicado em InternETC

publicado por ardotempo às 23:23 | Comentar | Adicionar

O escritor e o rio

Retrato do escritor João Gilberto Noll

 

 

 

 

Gilberto Perin - Retrato de João Gilberto Noll - Fotografia (Rio Guaíba Porto Alegre RS Brasil), 2011

publicado por ardotempo às 21:23 | Comentar | Adicionar
Domingo, 13.03.11

"Escrever não é difícil, difícil é não escrever"

O conselho de Tolstói

 

Ricardo Piglia 

 

Lunes

 

Últimamente han aparecido lo que podríamos llamar las utopías defensivas. ¿Cómo podríamos escapar del control?

 

Había dejado de tomar alcohol y tenía pequeñas perturbaciones que me producían efectos extraños. No lograba dormir y en las noches de insomnio salía a caminar por las calles vacías. El pueblo parecía deshabitado y yo me internaba en los barrios oscuros, como un espectro. Veía las casas en la claridad de la noche, los jardines iguales; oía el rumor del viento entre los árboles.

 

Martes

 

Salgo de esos estados medio encandilado como quien ha pasado demasiado tiempo mirando la luz de una lámpara. Me despierto con una rara sensación de lucidez, recuerdo vividamente algunos detalles aislados - una cadena rota en la vereda, un pájaro congelado en la nieve, la frase de un libro -.

 

Es lo contrario de la amnesia: las imágenes están fijas con la claridad de una fotografía. Sólo mi médico en Buenos Aires sabe lo que está pasando y, de hecho, en diciembre, me prohibió viajar. Imposible, voy a dar clase. Si me seguían los síntomas tenía que hacerme ver. Es un gran clínico y un hombre afable; siempre está sereno. Según él, yo padecía una rara dolencia llamada Cristalización arborecente. El cansancio acumulado y un leve disturbio neurológico me producían pequeñas alucinaciones.

 

Jueves

 

Hay un mendigo que pasa la noche en el estacionamiento del restaurant Blue Point, al fondo de Nassau Street. Tiene un cartel en el pecho que dice: "Soy de Orión" y viste un piloto blanco abotonado hasta el cuello. De lejos parece un enfermero o un científico en su laboratorio. Ayer, cuando volvía de una de mis caminatas nocturnas, me detuve a conversar con él. Ha escrito que es de Orión por si aparece alguien que también es de Orión. Necesita compañía, pero no cualquier compañía. "Sólo personas de Orión, Monsieur", me dice. Cree que soy francés y no lo he desmentido para no cambiar el curso de la conversación. Al rato se queda en silencio y después se recuesta en el alero y se duerme. Tiene un carrito de supermercado en el que lleva todas sus pertenencias.

 

Viernes

 

Cuando me siento encerrado voy a Nueva York y paso un par de días en medio de la multitud de la ciudad, sin llamar a nadie, sin hacerme ver, visitando lugares anónimos y evitando los bares. Paro en Leo House, una residencia católica, atendida por monjas. Fue creada como hospedaje para los familiares que visitaban a los enfermos de un hospital cercano pero ahora es un pequeño hotel abierto al público (aunque tienen prioridad los sacerdotes y los seminaristas).

 

En Chelsea, encontré un videoclub Films Noir especializado en películas policiales. El dueño es bastante simpático; lo llaman Dutch porque es hijo de holandeses. Tiene algunas joyas inhallables, por ejemplo Detour de Edgar Ulmer, una película extraordinaria, superserie B, filmada en una semana, casi sin plata; largos primeros planos de un viaje en auto, conversaciones en off, luces en la noche. Cuenta la historia de un hombre desesperado que hace autostop y se pierde en los desvíos del camino. Parece una versión psicótica de On the road de Kerouac. Todo lo que encuentra por azar en la ruta es destructivo y mortal. En realidad estoy buscando Sección: Desaparecidos del director francés Pierre Chenal, basada en la novela de David Goodis, y filmada en Buenos Aires en los años cuarenta. Un film mítico que nadie ha visto. El Holandés me aseguró que puede localizarlo pero tengo que darle tiempo, cree que hay una copia en uno de los sitios piratas del Perú, Polvos azules, donde se encuentran las réplicas de todas las películas que se han filmado en el mundo.

 

Lunes

 

Ayer cuando llegué de vuelta a casa era cerca de la medianoche. Encontré correspondencia atrasada en el buzón, pero nada importante, facturas sin pagar, folletos de publicidad. Miré un rato televisión, los Lakers vencían a los Celtics, Obama sonreía con su aire artificial y campechano, un auto se hundía en el mar en un aviso de Toyota, en un canal estaban proyectando Possessed de Curtis Bernhardt, una de mis películas favoritas. Joan Crawford aparece en medio de la noche en un barrio de Los Ángeles y deambula por las calles extrañamente iluminadas. Creo que me adormecí porque me despertó el teléfono y alguien que conocía mi nombre y me llamaba Profesor con demasiada insistencia, se ofreció a venderme cocaína. Al sonar el teléfono creí que era un amigo que me llamaba desde Buenos Aires y bajé el sonido del televisor. Cuando el dealer se dio a conocer, pensé que todo era tan insólito que seguro era cierto. Me negué y corté la comunicación. Podía ser un chistoso, un imbécil o un agente de la DEA que estaba controlando la vida privada de los académicos de las Ivy League. ¿Cómo conocía mi apellido?

 

En la pantalla las figuras silenciosas de Geraldine Brooks y de Van Heflin se abrazaban bajo la claridad pálida. Del otro lado de la ventana, vi la casa iluminada de mi vecino y, en la sala de abajo, una mujer con jogging que hacía ejercicios de Tai Chi, lentos y armoniosos, como si flotara en el aire.

 

Miércoles

 

Últimamente han aparecido lo que podríamos llamar las utopías defensivas. ¿Cómo podemos escapar del control? Una estrategia de huida imposible porque no hay lugar de llegada. Hace unos meses hicimos una antología en Buenos Aires y le pedimos a veinte narradores de distintas generaciones que escribieran un relato situado en el futuro. Los textos, más que apocalípticos, eran ficciones defensivas, definidas por la soledad y la fuga. Son utopías que tienden a la invisibilidad, intentan producir un sujeto fuera de control.

 

Sábado

 

Las mujeres que salen a fumar a los portales de los edificios de Nueva York tienen un aspecto furtivo, me dice ella, son inquietantes. Se ven pocos hombres, cada vez menos, fumando en la calle. Las mujeres salen de sus empleos y encienden un cigarrillo bajo el aire helado, determinadas por la urgencia y la gracia seductora de la adicción. Un vicio débil, si se puede llamar así. Los yonquis todavía se esconden. Siento haber dejado de fumar, al verlas, me dice. Luego, como si continuara lo que ha dicho antes, dice: En esta época, por primera vez en la historia, hay más escritores que lectores de literatura.

 

Jueves

 

Después de tantos años de escribir en estos cuadernos he empezado a preguntarme en qué tiempo de verbo hay que situar los acontecimientos. Un Diario registra los hechos mientras suceden, no los recuerda, ni los organiza narrativamente. Tiende al lenguaje privado, al ideolecto. Por eso cuando uno lee un Diario, encuentra bloques de existencia, siempre en presente, y sólo la lectura permite reconstruir la historia que se despliega invisible a lo largo de los años. Los Diarios aspiran al relato y en ese sentido están escritos para ser leídos (aunque nadie los lea).

 

Martes

 

Trabajo en el prólogo a una edición de los últimos relatos de Tolstói. Los escribía en secreto, escondido de sí mismo, y son, desde luego, excelentes, mucho mejores que los cuentos de Chéjov. Luego de la conversión que lo ha llevado a abandonar la literatura, Tolstói decide dedicar su vida a los campesinos, convertirse en otro, ser más puro y más sencillo. Renuncia a sus propiedades, quiere vivir del trabajo manual. Resuelve aprender a hacer zapatos, porque un par de botas bien hechas son, según dice, más útiles que Anna Karenina. El zapatero del pueblo le enseña - con temor ante las incomprensibles excentricidades del conde - su viejo oficio. Tolstói anotó en su diario. Escribir no es difícil, lo difícil es no escribir. Esa frase tendría que ser la consigna de la literatura contemporánea.

 

Ricardo Piglia 

publicado por ardotempo às 23:18 | Comentar | Adicionar

Tesouros saqueados por colonizadores

Histórias ocultas de grandes museus

 

Fietta Jarque

 

El Louvre, el Metropolitan o el British Museum poseen piezas monumentales y grandes colecciones de diversas civilizaciones que sus países de origen reclaman. El libro Saqueo, el arte de robar arte realiza una inmersión en ese conflicto.

 

El sombrero que suele (o solía) llevar Zahi Hawass recuerda inmediatamente al de Indiana Jones. Su actitud también es semejante en muchos aspectos a la del arqueólogo aventurero. Hawass ha sido, hasta su dimisión el pasado día 3, secretario general del Consejo Superior de Antigüedades de Egipto durante una década y ministro unas semanas. Y el azote de autoridades y directores de museos a los que denunció repetidamente por posesión ilegítima de algunos de los grandes tesoros de la civilización de los faraones, reclamando su devolución.

 

Respaldado por el depuesto gobernante Hosni Mubarak, el mediático y controvertido arqueólogo parece haber abandonado de momento la enardecida misión que lideró con golpes de efecto que hicieron temblar a más de uno. Museos tan prestigiosos como el Louvre de París, el Metropolitan de Nueva York, el British Museum de Londres o el J. Paul Getty de California tienen un oscuro historial en la adquisición de piezas procedentes de saqueos, robos y compras ilegales. Desde hace más de tres décadas se suceden reclamaciones de los países de origen de las antigüedades que se exhiben en las salas de estos y otros centros de conocimiento universal. La polémica no deja de avivarse y los argumentos de unos y otros se enfrentan con sus razones y sinrazones.

 

La periodista norteamericana Sharon Waxman ha realizado una investigación que la ha llevado no solo a entrevistarse con los directivos y expertos de estos museos, sino también con algunos de los defensores de la tesis de la devolución de piezas significativas a los países de origen, anticuarios y policías. Detrás de muchas de las obras reclamadas hay fabulosas historias, escandalosas maniobras, venganzas, injusticias y también argumentos de peso de ambas partes. Todo parte de preguntas como las que se puede hacer casi cualquier visitante cuando ve, por ejemplo, la piedra de Rosetta en las salas egipcias o los monumentales frisos del Partenón griego en el Museo Británico; el busto de Nefertiti en Berlín o el zodiaco de Dendera en el Louvre, ¿qué hace esto aquí y cómo llegó? Los museos no suelen facilitar esa información.

 

Hay capítulos que a los ojos de hoy resultan siniestros o escandalosamente trágicos. Uno de ellos es el caso del zodiaco de Dendera, un bajorrelieve único en su especie que posee la clave de los conocimientos astronómicos del antiguo Egipto, extraído del techo del templo en la década de 1820 mediante explosiones que dañaron otras estatuas cercanas, remolcado sobre rodillos que no evitaron que cayera a un lodazal, transportado a París y comprado por Luis XVIII. El templo original luce un oneroso techo negro. A la pregunta de Waxman sobre este tema, la conservadora del Louvre responde simplemente: "¿De qué otro modo desprendería usted un techo de piedra?".

 

Es cierto que, sin la participación de los franceses, la egiptología moderna no existiría. Fueron las expediciones napoleónicas las que desataron la fiebre por la civilización de los faraones y quienes hicieron los primeros estudios serios. Se hicieron todo tipo de excavaciones sin los más rudimentarios criterios arqueológicos, como los actuales, que priman el estudio del conjunto de los hallazgos para establecer relaciones entre los objetos y deducir sus nexos. La dispersión de miles de objetos extraídos de las tumbas y templos ha destruido para siempre valiosos datos. Y eso vale para piezas de todas las culturas. Otra portavoz del museo parisino explicaba a la autora: "Puede que los griegos estén indignados ahora por la procedencia de esta o aquella estatua, pero ¿a quién le interesaría la escultura griega si toda ella estuviera en Grecia? Estas piezas son grandes porque están en el Louvre".

 

 


 

 Tampoco es desdeñable el papel de preservación, estudio y difusión de otros de los grandes museos enciclopédicos. Después de que el Partenón fuera usado como polvorín por los turcos en el siglo XVII y volara en pedazos por bombas venecianas, el embajador británico en Constantinopla, lord Elgin, decidió en el siglo XIX desmontar buena parte de los frisos decorativos y vendérselos al British Museum. Hay que tener en cuenta que en esa época si encontrabas algún objeto antiguo, simplemente te lo llevabas o lo comprabas a intermediarios de dudosa reputación. No existía miramiento alguno hacia la población local y en muchas ocasiones eran los propios gobernantes los que facilitaban dichos desplazamientos a cambio de algún beneficio. Las reclamaciones de los mármoles de Elgin llevan cerca de dos siglos, pero la respuesta ha sido siempre negativa. Sería catastrófico sentar un precedente que podría cuestionar por completo el patrimonio y la función de los museos. ¿Habría que restituir cada pieza al lugar donde fue extraída? ¿Quién lo cuidaría? ¿Habría que viajar por todo el mundo para hacerse una idea de las diferentes culturas?

 

Hay ideas que se podrían desarrollar hasta el absurdo. Waxman no pierde de vista las luces y sombras de las historias y personajes que aborda. Señala que "la batalla por los tesoros de la antigüedad tiene como base un conflicto acerca de la identidad y al derecho de reclamar aquellos objetos que son sus símbolos tangibles", por un lado. Por el otro, está el papel que han cumplido estas instituciones, surgidas a la luz de la Ilustración y que han logrado crear un asombroso mosaico de diversas culturas para ponerlas al alcance de millones de visitantes. Además, por supuesto, del trabajo historiográfico y científico que se desarrolla en estos centros.

 

Uno de los argumentos que suelen usar es que en los países de origen normalmente no serían capaces de preservar y conservar ese patrimonio. O que el número de visitantes sería ínfimo. Algo que, si bien es cierto en muchos casos, hoy está cambiando. Como también esa perspectiva paternalista y eurocentrista. No obstante, casos de depredación reciente, como la destrucción de los budas de Bamiyan, los saqueos en los museos de Irak y de Egipto en las recientes revueltas, hacen pensar en qué es lo más conveniente.

 

De todas formas, hoy las cosas están mucho más complicadas para los grandes museos y cada objeto que se ofrece a estas instituciones requiere un informe prístino sobre sus antecedentes y procedencia desde que en 1970 la Unesco dictó una resolución que prohibía la exportación y traspaso ilegal de la propiedad cultural. Algunos países también han actualizado su legislación en ese sentido. El conflicto no es nuevo ni tiene visos de resolverse de manera sencilla. Pero lo que propone Waxman en sus conclusiones sí podría servir de base a un código de comportamiento que sería beneficioso para todos. Para empezar, es deseable mayor transparencia.

 

"La historia del saqueo y la apropiación debe ser admitida, y debe salir a la luz para que la gente comprenda los verdaderos orígenes de estas grandes obras de la antigüedad", escribe. "Constituiría un gran gesto de integridad y humildad que desde hace tiempo viene faltando en nuestros grandes templos culturales". En cuanto a la restitución, una de las posibles fórmulas que se podrían estudiar es la colaboración entre los países ricos y los más pobres o diversas fórmulas de préstamo o alquiler. Hay quienes sostienen, por otro lado, que la posibilidad tecnológica actual permite hacer reproducciones perfectas de todo tipo de obras, casi indistinguibles del original. Una posibilidad abierta a los sitios arqueológicos, donde la cantidad de visitantes daña con su presencia el estado de conservación.

 

Si bien Saqueo. El arte de robar arte empieza con un capítulo dedicado a la gesta de Hawass, su salida de escena no le resta a este libro toda su actualidad. Casi el mismo día de su dimisión, en otro extremo del mundo, se confirmaba un triunfo contra la posesión ilegal de objetos de patrimonio histórico tras un largo litigio. La Universidad de Yale, que tenía en custodia desde hace un siglo un gran número de piezas extraídas por el descubridor oficial de la ciudadela inca de Machu Picchu, Hiram Bingham, ha accedido finalmente a devolver 363 de ellas en las próximas semanas. Se ha anunciado ya que serán transportadas con todos los honores en el avión presidencial peruano. En ese sentido, el libro de Waxman tiene sus limitaciones.

 

Su investigación abarca los cuatro museos citados. En torno a ellos construye una serie de relatos, muy documentados y de escritura ágil, que abarcan a algunos de los más relevantes -y elegantes- saqueadores de la historia. También las historias de héroes menores que, si bien lograron desentrañar misterios, desenmascarar engaños y rescatar con los tesoros parte del orgullo por la historia de su país, terminaron por verse envueltos en venganzas y enrevesadas acusaciones. El tráfico ilícito de obras de arte se da en todo el planeta.

 

En América Latina (territorio no contemplado en el libro de Waxman) hay peligrosas mafias que saquean a diario yacimientos, templos, palacios y museos. Solo en México, de los 35.000 sitios arqueológicos registrados, han sido expoliados 10.485. Según Fernando Báez, autor de El saqueo cultural de América Latina (Debate, 2009), se ha perdido el 60% del patrimonio tangible e intangible de la región. Una depredación que se agudizó a lo largo del siglo XX. Él mismo sufrió graves amenazas por parte de los traficantes durante su investigación. Detrás de la plácida contemplación de obras de arte en las vitrinas de los museos suele haber historias, personas y pasiones. También hay héroes y villanos, pero no siempre es fácil distinguirlos.

 

Publicado em El País

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Todos os carros deveriam ser elétricos

O futuro é elétrico

 

Sem poluição, sem ruídos, sem queimar insensatamente o finito petróleo, que é importante para a petroquímica e para a sobrevivência da Humanidade.

 

Sem agredir o ambiente, sem pressionar a atmosfera com bilhões de toneladas gás carbônico, o que acarreta as mudanças climáticas "inexplicáveis", os furacões, os terremotos, os tsunamis. Falta apenas a vontade política, condicionada pelos interesses das grandes empresas petrolíferas e os sistemas econômicos atrelados a matriz energética petróleo. Porquê se está gastando loucamente as reservas de petróleo? Trens, metrôs, táxis, camionetes de serviço, caminhões e carros de passeio já deveriam ser todos elétricos. A miniatuarização e a expansão da potência das baterias já tem tecnologia conquistada pela evolução dos telefones celulares.

 

Quando um grande país estabelecer exigência única de carros elétricos em todo o seu território, a matriz energética mudará e ocorrerá o que aconteceu com as máquinas de escrever com relação aos computadores pessoais - em um mês o paradigma mudou, as pessoas compreenderam a mudança e ninguém mais comprou ou voltou a utilizar máquinas de escrever, que estavam presentes em todos os escritórios e casas das cidades (você se lembra de como se utilizava a fita de corretivo das máquinas elétricas? E quando acabava a fita e a gente tinha que utilizar o pincel com o fluído branco corretivo?)

 

Existem muitos interesses poderosos segurando a loucura de queimar petróleo, mas o futuro é elétrico.

 

 

 

 

 

Automóvel elétrico Tata (indiano) apresentado em Londres.

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publicado por ardotempo às 21:55 | Comentar | Adicionar
Sábado, 12.03.11

Vislumbre do infinito

Ciclópico, desmesurado, fenomenal

 

Mariana Ianelli

 

Folhear um dicionário analógico é, de partida, entrar na palavra cosmurgia. Usando uma expressão de Gonçalo Tavares, é algo assim como ingressar num “armazém metafísico” e perder-se numa baralhada de reflexões com energia para gerar muitas vidas.

 

Uma única palavra tem o efeito do grão que faltava para precipitar o sal dos mares, centenas, milhares de possibilidades e aproximações que estavam ali, no fundo do silêncio, só esperando o mote para ser glosado, o primeiro sopro que desperta e põe a máquina do mundo em movimento. Um luxo no passeio dos contemplativos, um dicionário como esse pode levar a um estado de excitação mental a ponto de ocupar o lugar da maior e melhor oficina de poesia.

 

Um bom medidor da intensidade dessa experiência poética é quanta tentação o livro nos inspira a elaborarmos nós mesmos a nossa galáxia pessoal de analogias, em dimensões proporcionais ao universo da nossa linguagem, uma espécie de cubo mágico de palavras que se ligassem umas às outras de acordo com a nossa própria astronomia. Pinçar, por exemplo, a palavra esquecimento e indagar o que ela nos atiça. Esquecer, redimir, desatentar, perder para o escuro, deitar uma pedra em cima – e assim é dada a largada para uma série potencialmente interminável de associações e diferentes matizes que uma palavra suscita dentro da nossa vida. Amar, abraçar sem a restrição da despedida, celebrar que o outro exista, alegrar-se com o pão, o quarto escuro, a fome e tudo o mais que seja repartido.

 

Pensando, então, em uma oficina poética, vale imaginar o dicionário analógico de Borges, algo possivelmente muito próximo do seu Livro de Areia. E que maravilhoso verbete dedicado a Deus no dicionário de Hilda Hilst – Sem Nome, sutilíssimo amado, relinho do Infinito, Cara Escura, Pássaro-Poesia, brusco Inamovível, cavalo de ferro colado à futilidade das alturas, Aquele Outro decantado surdo, O Grande Rosto Vivo, Grande Obscuro, Máscara do Nojo, Cão de Pedra, Grande Incorruptível, Cara Cavada, Sorvete Almiscarado, Tríplice Acrobata, Lúteo-Rajado, Querubim Gozoso, O Mudo-Sempre, Porco-Poeta, Grande Corpo Rajado, O Sumidouro, superfície de gelo ancorada no riso, Coisa incomensurável, Grande Perseguidor e Grande Perseguido, Caracol de Fogo, Grande-Olho, Obscura Cara, O Inteiro Desejado – e outros nomes mais, que, honrando o nome primeiro, inspiram uma lista sem fim.

 

No texto introdutório do dicionário analógico da língua portuguesa de Francisco Ferreira dos Santos Azevedo, Chico Buarque diz que recebeu esse livro de seu pai como um bastão, e com essa herança escreveu muitas canções e decifrou enigmas. Obcecado pelo dicionário, chegou a correr os sebos para tentar deter o monopólio dos raros exemplares que na época existiam. Com a nova edição, publicada no ano passado, Chico sentiu-se espoliado do seu tesouro particular. É compreensível. Um livro assim guarda um vislumbre do infinito.

 

 

 

 


 

 

Mariana Ianelli - Publicado em Vida Breve

publicado por ardotempo às 06:22 | Comentar | Adicionar

Vidas espionadas

Do sumo de limão ao código criptografado

 

Yoani Sanchéz


En el último capítulo de la saga orwelliana que ponen en la tele, vimos un joven de rostro atemorizado contando cómo un turista le regaló unos programas de encriptación de datos. Probablemente, muchos de ellos se pueden descargar de manera abierta y gratuita en centenares de sitios webs y son usados por ciudadanos y empresas - de todo el mundo – para salvaguardar sus datos de los curiosos.

 

Sin embargo, en esta Isla, donde cada gesto de privacidad es interpretado como la prueba de una conspiración, el tomar medidas para que un mensaje o la información de nuestro ordenador estén protegidos se convierte en algo obsceno e ilegal. Bajo esa misma premisa, muchos de los albergues en las escuelas al campo tenían duchas sin cortinas porque cubrirse era contrario al colectivo. La reserva pasó a ser profundamente contestataria y llevar un diario secreto – donde narrar las incidencias personales – se convirtió en una actitud aburguesada que concluía cuando el jefe de destacamento tomaba tus escritos y los leía públicamente frente al aula. Todavía hoy, pocos de mis compatriotas tocan la puerta de una habitación antes de entrar y el deporte de husmear en la vida de otros no es exclusivo de los Comités de Defensa de la Revolución sino de todo el vecindario.

 

Vulnerar el círculo íntimo del ciudadano se hizo práctica tan frecuente que a nadie le asombra que en nuestra pantalla chica salgan grabaciones telefónicas de clientes de ETECSA o fotos del interior de la vivienda de algún individuo crítico.

 

 

 

 

Ahora, la nueva “bestia negra” son los softwares de encriptación. Los militares, que se han pasado la vida creando códigos para salvaguardar su información, deben estar muy molestos porque similares tecnologías ya estén al acceso de todos. Sin embargo, esta nueva campaña contra la discreción desatada en los medios oficiales choca con algunos pasajes de la epopeya oficial. Si mal no recuerdo, desde que era niña me contaron que Fidel Castro escribió con zumo de limón – en la cárcel – fragmentos del alegato conocido como La Historia me absolverá.

 

No veo una real diferencia entre burlar a los carceleros de Isla de Pinos con una caligrafía invisible – que al contacto con el calor brotaba de las páginas – y el acto de utilizar TrueCrypt para alejar a los fisgones. En ambos casos, el individuo sabe que el cerco represivo no permitirá que su voz viaje lejos si no está camuflada; está convencido que un estado autoritario hurgará sin pudor en su vida para arrancarle el último reducto de intimidad y misterio que aún le queda.

 

Yoani Sanchéz

publicado por ardotempo às 06:17 | Comentar | Adicionar

O pescador e o rio

"Não-é-uma-estátua-de-bronze-polido-sobre-uma-rocha,-junto-ao-mar"

 

 

 

 

 

Gilberto Perin - Rio Guaíba - Fotografia (Rio Guaíba Porto Alegre RS Brasil), 2011

publicado por ardotempo às 05:38 | Comentar | Adicionar
Quarta-feira, 09.03.11

Os Correios no País das Maravilhas

"O seu SEDEX será entregue amanhã, sem falta"

 

Algum tempo atrás, os Correios no Brasil estiveram ótimos. Eram eficazes e entregavam as cartas e encomendas leves em apenas um dia entre as capitais brasileiras. Funcionava bem e detinha a simpatia e a confiança da população. Nem precisava fazer publicidade e tampouco desviar quantias amazônicas em suspeitos e desnessários patrocínios ao esporte. Funcionava bem e era bastante respeitado. As quantias cobradas pelos serviços era adequadas e até consideradas módicas. Os brasileiros, de maneira generalizada, gostavam dos Correios.

 

Os tempos são outros. Os Correios terceirizaram-se em franquias. Os custos subiram consideravelmente e tudo piorou de maneira cubana. Um dia, um executivo ladino inventou o SEDEX, artimanha que consistia em aumentar em dez vezes os custos para prestar o mesmo serviço que já se fazia, de entregar cartas e encomendas leves em um dia e, repentinamente, transformaram-se as cartas simples e registradas num serviço de terceira classe, que leva de cinco a seis dias para serem entregues, às vezes cerca de um mês.

 

Genial, cobrar bem mais pelo que já se fazia e piorar uma parte de seus próprios serviços, pelo mesmo valor que já se cobrava anteriormente num serviço de excelência, agora por um serviço mais demorado e deficiente. Começou paralelamente a folia da publicidade.

 

Agora o serviço de SEDEX, que já é bastante caro - uma carta em envelope de peso mínimo chega a custar mais de R$ 40,00 para ir de Porto Alegre a Brasília - e já não é mais entregue em apenas um dia como, infelizmente, continuam apregoando os funcionários nos balcões dos Correios (agora é entregue em média, em cinco dias, no mínimo, como aconteceu recentemente).

 

Sim, porque ocorreu uma nova invenção de transformação do existente - a transformação valiosa do que já existe simplesmente em algo bem mais caro para se prestar o mesmíssimo serviço. A perfeição para o País da Maravilhas, no qual não se reclama de nada simplesmente porque não se tem a quem reclamar (e jamais se é atendido por tal reclamação).

 

Surgiu o SEDEX 10, que custa o dobro do SEDEX, ou seja, de vinte a cinquenta vezes o que custava anteriormente o porte simples, que era e podia ser entregue da mesma forma, em apenas um dia. Agora com o SEDEX 10, pratica-se uma chantagem de balcão - sua carta pode ser entregue em um dia, mas o mais seguro será enviar por SEDEX 10. E a carta urgente, um envelope simples com peso mínimo, que partindo na quinta-feira deveria ser entregue na sexta feira, ao custo de R$ 24,00 (Porto Alegre - São Paulo), simplesmente não foi entregue na sexta-feira por algum motivo secreto (“eu bem que falei ao Sr. para enviar por SEDEX 10 ao custo de pouco mais de R$ 50,00 - cerca de 23 euros - afinal era urgente, não?”) não foi entregue no dia previsto e até agora passados já 6 dias ainda não chegou às mãos do destinatário. Apesar da promessa enfeitada da publicidade de televisão, a proclamar a excelência dos serviços dos Correios do rico País das Maravilhas, do Carnaval e do Futebol.

 

 

 

 

Repare que no dia em que deveria ser entregue (sexta-feira), a carta, que já estava em São Paulo desde a noite anterior (quinta-feira), sequer foi tocada e a informação da tentativa de entrega para uma empresa comercial de serviços de computação gráfica “teria” ocorrido após o meio dia de sábado de Carnaval... Correios, Correios...

 

PS: Experimente enviar um livro de Portugal para o Brasil...a encomenda certamente será extraviada nos Correios do País das Maravilhas e jamais chegará ao seu destino final.

publicado por ardotempo às 17:59 | Comentar | Adicionar

“A poesia não tem público, tem leitores”

O 'big bang' da poesia moderna

 

Javier Rodríguez Marcos

 

Como en la Biblia, también en la historia de la literatura la piedra que un día desecharon los arquitectos termina a veces convertida en piedra angular. En 1948, el mismo año que obtuvo el Premio Nobel, T. S. Eliot resumió con crudeza en una conferencia la idea que por entonces tenía de Edgard Allan Poe, muerto un siglo atrás, "cualquier lector culto" anglosajón: "Es el autor de unos pocos poemas breves que le cautivaron cuando era niño, y que de algún modo se le han quedado grabados en la memoria. No creo que relea estos poemas, a menos que los encuentre en una antología. Su placer es la memoria de un placer". Y añadía: "Consideramos a Poe como un hombre que jugueteó con el verso y con algunas formas de prosa sin llegar a hacer realmente un gran trabajo en ninguno de estos géneros". Eliot no dudaba de la influencia de su compatriota en "algunos tipos de ficción popular", pero el canon no parecía estar al alcance de aquella "suerte de europeo desplazado" que no pasó de arrastrar su mala vida por la Costa Este. Es decir, un "provinciano".

 

Afirmaciones así sorprenderían hoy a cualquiera que hace solo dos años asistiera al bicentenario del autor de El cuervo, beatificado, antes que por Lou Reed, por el fervor que le tuvo Kafka y, en español, por la traducción que Julio Cortázar hizo de sus cuentos.

 

En la misma conferencia, Eliot subrayaba la paradoja de que aquel escritor juguetón fuera a la vez el maestro de los maestros de la poesía moderna. Más de medio siglo después, aquella paradoja ha quedado, si no resuelta sí esclarecida en Matemática tiniebla (Galaxia Gutenberg / Círculo de Lectores), un volumen en el que el poeta y filósofo Antoni Marí ha recopilado los ensayos sobre poesía que, en efecto dominó, publicaron tanto Poe como aquellos que entendieron que su obra era el big bang de la lírica moderna: Charles Baudelaire, Stéphane Mallarmé, Paul Valéry y, casi a su pesar, el propio Eliot.

 

El resultado es un libro de título nerudiano que, recuerda Marí, hasta hoy no existía más que en aquella sugerencia del autor de La tierra baldía: "Ni en inglés ni en francés hay una recopilación similar". Traducido por los poetas Miguel Casado y Jordi Doce, Matemática tiniebla describe el modo en que leyó a Poe cada uno de sus fervientes, e influyentes, seguidores franceses. Así, Baudelaire vio en él tanto la encarnación del poeta maldito en un país que olía "a comercio" como un maestro de la brevedad, la intensidad y la búsqueda consciente del efecto poético. Nada de desahogos sentimentales.

 

Por su parte, Mallarmé, devoto a su vez de Baudelaire, aprendió en el estadounidense la importancia de la técnica del verso: más decisivo que el propio sentido de las palabras es lo que sugiere su sonido y la asociación entre ellas. A Valéry, finalmente, le interesó de Poe la teoría de la poesía hasta el punto de defender que el proceso de escritura era tan importante como el resultado. Según él, la producción de una obra de arte también puede ser arte, una pequeña revolución cuyo éxito puede comprobarse menos en las bibliotecas que en los museos contemporáneos.

 

Como recuerda Antoni Marí, desde la perspectiva moderna de los hijos de Poe, la poesía "es autosuficiente y no necesita referencia exterior a sí misma". Un poema moderno "no debe significar sino ser": "Lo importante no es el contenido de la forma sino la forma del contenido". Aunque Matemática tiniebla termina en Eliot, Antoni Marí afirma que el hilo rojo del libro sigue su camino. "Por centrarnos en la tradición hispánica reciente, Valente surge de ahí dentro. Lo mismo que, aunque parezca paradójico, Gil de Biedma, por la parte menos trascendental. ¿Entre los vivos? Antonio Gamoneda, que ha traducido a Mallarmé. Le mandé el libro y me dijo: 'has hecho mi autorretrato: estoy ahí en todas partes".

 

Desde su casa de León, y mientras corrige "una montaña" de poemas inacabados y trabaja en 30 folios de "garabatos" destinados a continuar sus memorias, Gamoneda reconoce sentirse "más cerca de las enseñanzas de los simbolistas franceses y sus afines" que de la tradición hispánica: "La poesía no está en el tema ni en las palabras usadas como ornamento. El lenguaje poético tiene una naturaleza musical propia. Yo no sé lo que sé hasta que no me lo dicen mis propias palabras", afirma el premio Cervantes de 2006. Y para los lectores, ¿cuál es hoy el lugar de la poesía? "La gran poesía", dice Marí, "es una mezcla de pensamiento, sentimiento e imaginación que exige una disposición especial, un ejercicio mental que muy pocos están dispuestos a hacer porque la satisfacción que produce no se mide en utilidad. Por eso, como dice Francisco Brines, la poesía no tiene público, tiene lectores".

 

Javier Rodríguez Marcos - Publicado em El País

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Terça-feira, 08.03.11

Cenário em preto e branco

Jogos diferentes

 

Cláudio Moreno

 

 


 

 

De algum lugar do Oriente – Índia, Pérsia ou China, não importa –, os árabes que invadiram a Espanha no século 18 trouxeram consigo o jogo de xadrez, que logo se difundiu por todo o continente e terminou conquistando até jogadores improváveis como os truculentos viquingues. Houve mudanças mínimas nas regras originais, mas, na sua essência, nunca deixou de ser o mesmo jogo: no território representado pelo tabuleiro de sessenta e quatro casas, dois exércitos completos, com seus reis, rainhas, cavaleiros e peões, começam a se enfrentar a cada nova partida.

 

Por volta do século 12, surgiu na Espanha o jogo de damas, que alguns enxadristas da época chamaram desdenhosamente de “xadrez das mulheres”, cometendo um preconceituoso erro de avaliação: o jogo de damas jamais tentou ser um substituto ou uma simplificação do xadrez. As peças são diferentes, seus movimentos são diferentes, as regras são muito diferentes – apenas o tabuleiro é o mesmo, certamente adotado por ser mais prático e econômico. Isso criou um inevitável vínculo entre os dois jogos, inclusive na maneira de comercializá-los: nos natais da minha infância, eles sempre vinham juntos, numa espécie de dois-em-um compulsório, com as peças de xadrez e as pedras do jogo de damas misturadas na mesma caixa.

 

Eu era apenas uma criança e achava isso um misterioso desperdício. Só agora, muitos natais depois, eu começo a desconfiar que essa pode ser uma esclarecedora imagem de como o homem e a mulher se relacionam: os dois se encontram frente a frente, diante do mesmo tabuleiro, mas ele está jogando xadrez, enquanto ela joga damas! Enquanto o casal não se der conta desta verdade tão simples, pouco vai adiantar que ambos se esforcem e se empenhem para que a vida em comum dê certo.

 

Tudo será em vão; como pensam que estão jogando o mesmo jogo, nenhum dos dois consegue compreender os movimentos que o outro faz – em questões de dinheiro, na educação dos filhos, nos assuntos de cama ou de trabalho. Ela então o acusa de não saber jogar, ele lamenta que ela jogue tão mal, e a vida deles passa a ser aquele inferno das pequenas queixas e incriminações. A solução é simples e fácil de pôr em prática: todos os casais felizes que conheço procuram se observar com interesse e respeito mútuo, estudando o jogo do parceiro e divertindo-se com as diferenças. Entregues à curiosidade, um procura aprender as regras do outro, não para segui-las ou imitá-las, mas para entender, finalmente, que é natural que existam muitos pontos importantes sobre os quais os dois nunca irão concordar, e que, sendo jogos distintos, nunca haverá vencedor – apenas o prazer de jogar.

 

Cláudio Moreno - Publicado em Zero Hora

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Segunda-feira, 07.03.11

Escrever e pintar

"La pintura, como Drácula, nunca muere"

 

Miquel Barceló e Alberto Manguel

 

Entrevista a Javier Rodríguez Marcos 

 

"¿Me visto de civil?". Miquel Barceló saluda con un abrazo a Alberto Manguel y, al ver al fotógrafo, pregunta si se quita la ropa de trabajo, salpicada de pintura. En la antesala de su estudio parisiense, una cabeza de rinoceronte convive con varios ordenadores, una mesa repleta de libros y una butaca de cuero en la que, como en el sillón de un director de cine, alguien ha escrito: Masaccio. Barceló (Felanitx, Mallorca, 1957) se mueve y habla a toda velocidad, pero no parece tener la menor prisa.

 

Se demora, por ejemplo, en la cocina en la que manipula los pigmentos. "Parece el atelier de un alquimista", apunta el escritor Manguel (Buenos Aires, 1948). "Algunos son muy venenosos", añade el pintor. Ahora trabaja en una serie de retratos - de Patrick Modiano, Pere Gimferrer, Alberto García-Alix...- pintados con lejía sobre lienzo negro, en negativo: "Como la lejía actúa lentamente, no veo lo que pinto: tengo la fe, no la certidumbre". Habitaciones, escaleras, libros, discos y, por fin, el estudio mayor, un espacio de triple altura en el que guarda dos retratos de Manguel: "¿Te reconoces?".

 

Allí señala las manchas que han ido colonizando el pavimento: "un cuadro nunca será mejor que el suelo. Hay que resignarse". Manguel lleva en la mano el cuaderno africano de Barceló. "Es un gran escritor. Y lee más que yo", apunta el autor de Una historia de la lectura, que bromea con el relato de las enfermedades del artista. "¡Es que solo escribo cuando estoy enfermo, cuando estoy sano pinto!", responde este. "En África la muerte está muy cerca y el remedio, muy lejos. Lo contrario que aquí. En Europa pintas porque la vida no basta. En África sí basta, por eso te preguntas qué sentido tiene pintar". De vuelta en el estudio pequeño, Miquel Barceló repasa el último número de la revista Matador, en el que ha hecho de director. No incluye ninguna obra suya, pero es una "galaxia Barceló" con colaboraciones de Rafael Sánchez Ferlosio, Jonathan Franzen, Rodrigo Rey Rosa o el propio Manguel.

 

Pregunta. Ustedes representan dos disciplinas, la pintura y los libros, cuya pervivencia parece siempre amenazada.

 

Miquel Barceló. La muerte de la pintura se decretó hace más de 200 años. La pintura es como Drácula, nunca muere. La invención de la fotografía iba a matar la pintura, y ahora es una técnica pictórica más. Ha dejado de ser un documento de lo real.

 

Alberto Manguel. Tus nuevos retratos tienen algo de fotográfico.

 

M. B. Cuando se ponía una pintura sobre un cadáver era como hacer que no estuviera muerto de verdad.

 

A. M. Porque exorciza la muerte.

 

M. B. Y funciona. Cuando vas al Prado nunca piensas: esta gente está muerta. En cambio, como dice Susan Sontag, ante una fotografía es imposible no pensar en que el retratado está muerto, o que lo estará.

 

A. M. En tu pintura siempre está presente el tiempo. A veces actúan sobre ella las termitas, las goteras...

 

M. B. El tiempo también pinta, decía Goya. Intento pensar cómo serán los cuadros dentro de 10, 100 o 1.000 años. Me gusta la idea geológica de la pintura.

 

P. ¿Se debe restaurar una obra que ha nacido así?

 

M. B. No. El tiempo forma parte de la obra. Yo huyo de los restauradores. Hay que restaurar las cosas que se han añadido independientemente de la voluntad del artista. Durante un tiempo se puso de moda limpiar los cuadros y quitarles los barnices, y terminaron quitándoles las veladuras del pintor. Dejaron secos los murillos. ¿Quién sabe dónde acaba la suciedad y empieza la veladura?

 

A. M. Joyce hablaba de dejar que el azar colaborase. Una vez estaba dictándole a Beckett y alguien llamó a la puerta. Él dijo: "entre" y Beckett lo anotó. Joyce le dijo que lo dejara. P. El ejemplo clásico es el burro de Sancho, que desaparece en el Quijote y Cervantes lo olvida.

 

M. B. Todo estaba ya en el Quijote. Como en Velázquez. Me pasa ahora con las pinturas de Chauvet. Todo está en Chauvet, incluso Velázquez. Lo extraordinario allí no es solo la técnica, sino que se acercasen tanto a los animales como para pintar una leona con ese detalle. Animales peligrosos que nosotros hemos visto de cerca por los documentales de la BBC.

 

P. ¿Ha estado en la cueva?

 

M. B. Varias veces. Está cerrada al público y es una gran suerte, porque no está enferma.

 

A. M. ¿Qué sentido tienen esas pinturas? ¿Se sabe?

 

M. B. Yo no teorizo, pero las imágenes de animales tienen más importancia que las humanas (solo hay una, de mujer). Me he preguntado por qué pinto tantos animales y veo que en mi vida la jerarquía animal ha ido modificándose. Ya no pongo al hombre arriba del todo. Lo mismo pasa en Chauvet. Los animales no son dioses, como en Egipto, pero tampoco víctimas, ni comida. Tal vez no seamos capaces de percibir su relación.

 

P. ¿Enseguida convertimos a los animales en símbolos?

 

A. M. Las explicaciones vienen siempre después. Como si dentro de miles de años alguien entrara en el atelier de Miquel y dijera: "Esto debió ser un lugar de culto".

 

P. ¿La pintura sigue más cerca de su origen que la literatura?

 

A. M. La palabra viene mucho después, claro. Quizás sea porque la imaginación se debilita con el tiempo. Cuando las imágenes no bastan necesitamos aclararlas a través del lenguaje, que en el fondo es un instrumento muchísimo más débil. Al tratar de ser más preciso es menos ambiguo y, por tanto, menos rico. Se reduce lo que podemos ver porque tenemos el ansia de la interpretación. No podemos simplemente mirar una pintura, inmediatamente tenemos que contarle una historia. Por eso me gusta que Miquel quiera pintar algo donde hay un eco de Chauvet. Con un pequeño intervalo de 32.000 años. M. B. En pintura, 32.000 años no son nada. A. M. Desde la eternidad serán contemporáneos.

 

M. B. Toda pintura es contemporánea. Y al leer el Quijote ves que toda la literatura también lo es. Las diferencias de lenguaje son menos importantes que aquello que tenemos en común. En 32.000 años nadie ha inventado nada mejor que el carbón para dibujar.

 

P. ¿La modernidad va contra eso?

 

A. M. Siempre está presente la amenaza de una tecnología que va a matar a la precedente, cuando lo que hace es tomar su lenguaje para transformarlo.

 

M. B. Yo acabo de viajar por el Himalaya con un iPad lleno de libros. Emite su propia luz, es perfecto en lugares donde no hay electricidad.

 

Entrevista a Javier Rodríguez Marcos - Publicada em El País

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Pintar e escrever

Pintura

 

 

 

 

Verão - Pintura - Óleo sobre tela - 1995

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Domingo, 06.03.11

A cultura é seleção e escolha

Abstracciones, historias

 

Cees Nooteboom

 

Un día recibo una petición para escribir un texto sobre la cultura. La cultura es una abstracción hasta que se cuenta una historia y cada cultura tiene su propia historia. Entonces, ¿por dónde empezar? Puedo citar miles de cosas que en mayor o menor medida tienen una relación con la cultura: un cuarteto de cuerda, una lección de latín, una pila bautismal barroca, una máscara de teatro griego, un Alfa Romeo, una muñeca wayang, un traje de Brioni, un bar mitzvá, una estatuilla votiva de piedra de Jizo, un manuscrito de la Edad Media, una reverencia, una mezquita, un aguafuerte, un ordenador...

 

La inyección que produce la muerte a un condenado de una cárcel norteamericana ¿también es cultura? Y por tanto, ¿forma parte de la cultura norteamericana? ¿Y la sharia? ¿La campana que suena en la Bolsa? ¿El Gran Hermano? ¿El carnaval? ¿Un festival de la canción? ¿La ablación femenina? ¿Un duelo? ¿El himno vasco que suena cuando se entierra a un terrorista? ¿Los informes de la Segunda Cámara del Parlamento holandés? ¿La película sobre el Corán de Wilders? ¿Hay alguna cosa que no sea cultura? La "mala" cultura, ¿se inscribe igualmente en la cultura? Y la cultura que es radicalmente distinta, la que se siente como hostil, ¿es cultura a pesar de todo?

 

Si se quiere, se puede definir cultura, por analogía con la agricultura, como algo que ha crecido lentamente. O bien, si se observa el resultado, como algo que ha surgido así y por tanto de ningún otro modo.

 

Me gusta visitar los museos arqueológicos dondequiera que estén. Gracias a ello he constatado que el origen siempre está en el sílex, ya sea germano, coreano, azteca o de Kirguizistán. Me gusta mirar esos fragmentos de piedra que están en las vitrinas porque sé que nunca los reconocería si me los encontrara en un camino lleno de fósiles o en un sendero cubierto de grava y de piedras. Algo mucho peor les ocurre a los cuencos. Lo más probable es que al sílex y a las hachas le sucedieran los cuencos. El efecto que produce en mí el cuenco es el mismo que la impresión que le causó a Heidegger la jarra, un objeto ancho por abajo que se estrecha ligeramente en la parte superior y donde se puede guardar aceite, agua o vino. Pero eso está en el paso siguiente, en la próxima sala. Ahora, jarras y vasos están decorados con personajes, lo que les convierte en objetos más refinados y elegantes. Presentan historias mitológicas con sus dioses y sus héroes que han sobrevivido a los siglos posteriores, cuando ya ni creíamos en ellos y que son el cuadro de referencia de la cultura occidental. Musas, la Esfinge, Ulises, el dios Apolo, el Edipo en el que más tarde Freud encontraría su complejo, la Antígona que mucho tiempo después de Sófocles inspiraría a los pintores y escritores del Renacimiento, una fascinación que dura hasta nuestra época.

 

Los cuadros de Rubens y de De Chirico, las óperas de Haendel, la Ifigenia en Tauride de Goethe, las tragedias de Anouilh y Cocteau, el Orfeo de Monteverdi, las novelas de Vestdijk y de Joyce, todo ello está repleto de historias de hace cinco mil años. De igual modo cuentan las historias del Antiguo y el Nuevo Testamento. Job, Sansón y Dalila, Daniel en la fosa de los leones, la resurrección de Lázaro, la milagrosa multiplicación de los panes, las murallas de Jericó, la expulsión de Adán y Eva del Paraíso, el combate con el ángel, todo ello pertenece desde hace siglos y en todas sus formas a la colección del arte occidental. El libro Movotapes, de A. F. Th., es impensable sin Apolo, de quien los cines y teatros toman su nombre y por eso ya nadie le conoce.

 

Aquel que presintió que el mismo fenómeno se produciría con el Dios de los cristianos era un hereje y a pesar de ello, desde hace tiempo se pueden ver los síntomas de ese declive, al menos en Holanda, donde las mezquitas están llenas pero, en cambio, las iglesias vacías. En todo caso, ¿qué va a ocurrir con el marco de referencia de nuestra cultura? La mayoría de la gente deambula por iglesias y museos como si fueran ciegos y todos necesitan una explicación de igual forma que se necesita leer el programa de una ópera para entender la historia.

 

A todo esto se puede objetar alegando que el marco de referencia de la cultura ha sido siempre privilegio de una élite, pero aquellos que en la Edad Media no sabían leer, sí sabían lo que significaban y representaban los retablos y los capiteles de las iglesias y de los claustros romanos, porque la gente normal conocía las representaciones que se utilizaban para contar la historia de su cultura. Mientras tanto, nosotros perdemos nuestras propias representaciones porque no conocemos la historia que les dio origen y, debido a la globalización, nos encontramos inmersos en las imágenes y en los símbolos de otros. A nuestro alrededor se construyen mezquitas y templos hindúes. En los escaparates de los anticuarios y en las casas de nuestros amigos vemos barcos funerarios y dioses con múltiples brazos y cabezas que tienen un sentido totalmente distinto en su país de origen que en el nuestro. A decir verdad, tendríamos que saber cuál es la diferencia entre suníes y chiíes y por qué en el arte islámico no se representa al ser humano.

 

Cuando vamos de vacaciones visitamos las ruinas mayas o los santuarios budistas y nos preguntamos qué significado tienen todas esas representaciones que para el habitante medio de Tailandia o de Japón se han convertido en algo tan extraño como para nosotros la mayoría de las historias sobre la mitología griega. Cuando paseamos por España, por Italia o incluso por el sur de Alemania, oímos sonar las campanas a mediodía y a las seis de la tarde sin saber, la mayoría de las veces, que están sonando a la hora del "ángelus", en el mismo instante en que el ángel llegó para anunciar a María que iba a ser la madre de Dios. Naturalmente que es posible vivir sin información, pero entonces no sabríamos por qué suenan las campanas. ¿Es importante?

 

Puede que no, pero da igual. ¿Qué ocurre cuando una cultura se aleja lenta y profundamente de sus raíces? ¿Tendría que ser obligatoria la lectura de la Biblia para los que nunca van a la iglesia? ¿Hay que obligar a los que no hacen gimnasia a conocer la historia de la Antigüedad? ¿O simplemente tenemos que aceptar que solo un grupo minoritario de personas todavía mantiene contacto con lo que en otro tiempo era el núcleo de nuestra cultura y por esa razón se convierte en un extraño en la sociedad? ¿Necesita el arte viejos impulsos? ¿O puede valérselas por sí mismo creando nuevas representaciones válidas? Por ejemplo, ¿las exposiciones con vídeos? ¿La Documenta de Kassel? ¿La Bienal de Venecia? Pero ¿para quién son válidas?

 

¿Para el millonario que compra el cráneo incrustado de diamantes de Damien Hirst por cien millones? ¿O para anestesiar a la sociedad a través del interés comercial de los nuevos medios de comunicación con el pretexto de mantener un contacto mínimo con otras culturas?

 

El arte como mercancía está muy lejos de un capitel romano o de una cantata de Bach. Tras haber perdido su interés por la Iglesia, ¿se desinteresará la sociedad también por el arte? No hay razón para creerlo y sin embargo podría ser así. Cuadros que se compran a precio de oro, subvenciones para animar a la gente a ir a la ópera, becas para escritores, patrocinio de conciertos, traducciones de todas las lenguas, best sellers con tiradas asombrosas, iPods capaces de grabar la obra entera de Couperin, ¿no es maravilloso?

 

En otro tiempo había que vivir prácticamente en una corte para poder oír música y ahora todo el mundo tiene su propia corte en casa... Erasmo tenía una biblioteca de quinientos libros. Hoy día "todo el mundo" ha tirado a lo largo de su vida al menos cien libros de bolsillo. Todo eso está muy bien, pero ¿cuál es el otro lado de la moneda?

 

Por ejemplo, el hecho de que en Estados Unidos solamente el 3% de la literatura que se publica son libros traducidos. Obviamente, así no podemos hablar de globalización. Y si observamos en detalle la inflación de los precios del arte, con mucha frecuencia oiremos hablar de proyectos abortados por "falta de presupuesto". En la televisión resulta imposible producir un programa literario de calidad. Bajo la norma del sentimentalismo, la dictadura del proletariado espiritual ha golpeado eficazmente algo que ciertamente no hubieran querido Henriette Roland Holst ni Domela Nieuwenhuis.

 

Todos estos fenómenos contradictorios se traducen en un deterioro y un empobrecimiento en paralelo a una burocratización del arte que gangrena su propia esencia, como si abandonar nuestras viejas historias no haya hecho más que anunciar el gran adiós o, por si este pensamiento resulta demasiado pesimista, un gran cambio del que es imposible prever las consecuencias. Desde los primeros cuencos hasta nuestros días ha habido una revolución continua y llegará el momento en que cada uno mirará con nostalgia al pasado y sentirá que la evolución le sobrepasa. Sin embargo, no me siento pesimista. Como he vivido el tiempo suficiente para darme cuenta de que he llegado a un punto en el que puedo mirar al pasado con lucidez, por eso soy más consciente de lo que ha desaparecido y de lo que desaparece que de lo que va a suceder. No hay motivo para entristecerse, al contrario, hay que ser consciente. Y esta conciencia también forma parte de la cultura.

 

En 1825, al final de su vida, Goethe escribió una carta a Carl Friedrich Zelter, que moriría antes que él. "Mi querido amigo, en el presente todo es ultra, todo tiene una trascendencia continua tanto en la forma de pensar como en la de actuar. Nadie se conoce a sí mismo, nadie conoce el elemento en el que trabaja y evoluciona o la materia en la que se ocupa... se ejerce demasiado pronto una gran presión sobre los jóvenes que luego son arrastrados por la vorágine del tiempo; lo que todo el mundo admira y cada uno busca es la riqueza y la velocidad; el ferrocarril, el correo urgente, los barcos de vapor y los servicios de comunicación son los medios que el mundo desarrollado utiliza para avanzar y lo que hace que se atasque en la mediocridad. Este fenómeno es además el resultado de la generalidad, de la banalización de una cultura media, intentemos, en la medida de lo posible, mantener nuestro estado de ánimo y entonces, tal vez con algunos otros, seremos los últimos de una época que no volverá pronto".

 

Su ferrocarril es nuestros aviones y su correo urgente, nuestros ordenadores. Las grandes historias que Goethe creó para el teatro están aún de actualidad. Mil años después de la caída del Imperio Romano comenzó el Renacimiento. En el mundo turbulento en el que me ha tocado vivir, la guerra, la guerra fría, la amenaza nuclear, la descolonización han sido siempre una constante así como el aprendizaje que recibí durante los años que pasé en el instituto siguiendo una formación clásica y las historias que han acompañado mi vida. Yo sé, y también comprendo, que todo esto no les sirve a la mayoría de mis contemporáneos. También sé que mis palabras se las llevará el viento cuando digo que sus vidas serán más ricas gracias a esta herencia. Pero al menos las he dicho.

 

Cees Nooteboom - Publicado em Babelia

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A arte que se afirma necessária

A obra necessária

 

Ferreira Gullar

 

 


 

Se é verdade, como tenho dito, que a arte só revela a realidade inventando-a, devo logicamente admitir que as pessoas podem se sentir instigadas, para inventá-la, a lançar mãos de recursos expressivos novos. Por isso, seria um contrassenso afirmar que só as linguagens artísticas consagradas - pintura, escultura, gravura - podem servir à expressão dos artistas. Na verdade, eles podem se valer de todo e qualquer recurso para se exprimirem e se inventarem. Logo, não há por que rejeitar, in limine, as manifestações do que se chama de arte conceitual ou contemporânea.

 

Tal afirmação, vinda de mim, pode surpreender os que me têm como crítico implacável dessas manifestações, mas a verdade é que, mais de uma vez, escrevi textos elogiosos sobre algumas delas. A questão, portanto, não é esta. De qualquer modo, como na maioria dos casos não me identifico com esse tipo de manifestação, procuro também rever minhas opiniões e tentar compatibilizá-las com aquela necessidade de invenção que define toda arte.

 

Não resta dúvida de que o mundo de hoje pôs nas mãos das pessoas novos recursos tecnológicos, meios outros de comunicação e criação de formas, tanto no espaço como no tempo, e tudo isso gera novas possibilidades de inventar mensagens e imagens inusitadas. É natural, portanto, que os artistas se sintam tentados a abandonar as técnicas de expressão tradicionais e busquem criar, com os novos meios, um inesperado universo de relacionamentos semânticos.

 

Essas novas experimentações diferem, no entanto, de outras que, de fato, visam negar a arte mais do que propor novos caminhos. Por exemplo, Marcel Duchamp, ao eleger um urinol como obra de arte, está afirmando que o objeto dito artístico pode ser feito sem o propósito de produzir arte. Essa visão negativa alcança um limite quando um cara põe merda numa lata e a envia a um museu. Não é difícil perceber o que o autor da proeza pensa da criação artística.

 

Numerosos são os exemplos de manifestações, como essa, que não passam de "boutades" niilistas, cujo propósito é negar sentido ao trabalho do artista. Noutro plano, situam-se as instalações e performances que nos mostram a realidade, em vez de inventá-la ou reinventá-la, através da linguagem da arte. São os exemplos de Marina Abramovic - que pôs casais nus no MoMA - ou de Tunga, que leva as pessoas a observarem larvas de moscas pelo microscópio.

 

O exemplo mais abjeto desse tipo de manifestação foi o do sujeito que prendeu um cão numa galeria de arte e o deixou lá até morrer de fome e sede.

 

Ainda que diversas em seu propósito, tais manifestações resultam do fato de que, sem linguagem, o artista apenas mostra coisas reais em lugar de recriá-las, como a arte sempre fez. Isso não significa que, fora das linguagens artísticas consagradas, não se possam realizar obras expressivas, de indiscutível força, beleza e senso de humor.

 

O problema talvez esteja no fato de que, não tendo uma linguagem própria, o artista se encontra a braços com uma experiência sem limites, que o leva, com frequência, a perder-se na gratuidade do que concebe. A tendência, por isso, é entregar-se ao exótico ou à extravagância, ao invés de buscar o rigor e os limites necessários à realização estética, qualquer que seja o meio que utilize.

 

A obra tem que, por sua qualidade, afirmar-se necessária a quem a aprecia. Aí reside o xis da questão. Porque toda obra de arte é uma invenção, o artista, ao começá-la, nunca sabe como ela será quando concluída. É que, em sua elaboração, os fatores casuais têm papel decisivo: realizá-la é tornar necessário o que surgiu por acaso.

 

Isso explica por que a maioria das obras de arte dita contemporânea - carentes de qualquer rigor na sua realização, já que não nasceram de uma linguagem - mostram-se como algo gratuito: falta-lhes esse traço de expressão "necessária" que define a criação artística.

 

Exemplo: na "Monalisa", de Da Vinci, como na "Noite Estrelada", de Van Gogh, nada excede nem falta - tudo é necessário, isto é, tornou-se necessário.

 

Ferreira Gullar - Publicado na Folha de São Paulo / UOL

Imagem: Pintura de Giorgio Morandi

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Retrato

Bande Dessinée

 

 

 

 

 

Cezar Almeida - Pintura, Colagens e Fotografia Digital (São Paulo SP Brasil), 2011

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O rosto limpo

Como se chegasse a nossa hora vespertina

 

Mariana Ianelli

 

É um momento de raro equilíbrio, quando não esbanjamos mais tantas oportunidades e ainda não temos as mãos vazias. Os caminhos continuam abertos, mas alguma história já foi escrita e essa história nos acautela, pesamos o risco de estradas desconhecidas. Não temos muito nem pouco tempo, temos tempo suficiente. O corpo fica mais lento, experimenta a noção de volúpia, é um corpo que se perdoa por não ser mais tão cheio de energia.

 

É um momento de trégua de velhas disputas, a esperança volta, sem ingenuidade, agora um sentimento novo, cruento, difícil. Podemos ficar sentados à mesa entretidos com um pensamento por horas e horas, como um enxadrista. Exploramos pequenos prazeres, nossa fluência na língua dos gestos, aos poucos vamos nos tornando mestres na arte de falar em silêncio. Conhecemos bem aquela sala penumbrosa, com cheiro nauseante de gérberas e lírios, candelabros nos quatro cantos, estivemos ali muitas vezes, com a nossa cara compungida. Ficamos atentos aos indícios. 

 

Deitamos no escuro e conversamos conosco, vem a centelha, a grande solução, depois caímos no sono e esquecemos tudo. Já blasfemamos, arremetemos, amealhamos alguns desafetos, pecamos por ingratidão, chegamos ao excelente desempenho do nosso ódio. Agora queremos um pouco de delicadeza, ter a quem confiar a nossa parte humana dada à embriaguez e ao desastre. Sabemos melhor e mais fundo quais os nossos pontos fracos, aprendemos a rir das nossas rabugices, a nos reconhecer na dor alheia quando colocamos os nossos olhos nos olhos de um outro e o que vemos é dança involuntária e cor de bronze de lacraia torturada pelo fogo.

 

É como se chegasse a nossa hora vespertina, um ritmo moderado de meio de expediente, um sentido de geração parecido a uma vaga sensação de desperdício, o pressentimento de uma fábula moderna do incêndio de muitas outras bibliotecas alexandrinas, mas, na aritmética de desencantos e alegrias, provando do livrinho da vida, sentimos ainda um gosto doce, nosso saldo ainda é positivo. Daqui para amanhã é cuidar para que não nos aconteça aquele “sabor de promessa falhada” de um dos mais belos e tristes poemas de Mario de Andrade. Cuidar que seja um rosto limpo, sem rancor e sem vexame, o rosto que vier, oráculo do nosso passado.

 

 

 

Mariana Ianelli - Publicado em Pernambuco - Diário Oficial do Estado

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Sábado, 05.03.11

Manda mosca

Inverno

 

António Lobo Antunes

 

Dias gelados, tristes e feios, que apesar de curtos me parecem intermináveis. A luz acesa muito cedo sobre os móveis melancólicos, nos quais a chuva lá de fora dá ideia de tombar. Acabei um livro no mês passado e a minha cabeça, oca, demora-se no tecto. Nem uma memória nem um presságio: vazio, junto a um calorífero que frita mais do que aquece. O telefone de vez em quando: as pessoas dizem coisas. Não me dizem grande coisa.

 

Leio, sem vontade, não importa o quê. A humidade enche-me os ossos de água parada: sinto-me uma espécie de charco com folhas podres à tona. Se chego à varanda gente apressada, automóveis a garantirem que não com os limpa-vidros, distinguem-se mal as pessoas nos carros.

 

- Se ao menos penso eu,

 

e depois penso

 

- Se ao menos o quê?

 

A agência de viagens em frente sem clientes, a merceariazinha dos paquistaneses, que mal me entendem, vazia. Os paquistaneses escuros, secretos. Conheci uma outra mercearia mais acima, de outro paquistanês, que presidia ao balcão com as suas duas mulheres. A última tarde que lá fui segredou-me

 

- Não se vende nada, vou fechar.

 

Perguntei-lhe

 

- Para trabalhar onde?

 

e a cara caiu-lhe ao comprido dos ossos:

 

- Não sei.

 

A loja desapareceu, ele e as mulheres também: mudaram-se não faço ideia para onde. Um sujeito gordo, bem disposto, de barba. Gostava de conversar com ele, gostava de saber o que lhe aconteceu. E às duas mulheres, sempre impassíveis, misteriosas.

 

Interessei-me

 

- Dão-se bem uma com a outra?

 

e o sujeito gordo

 

- Têm de dar

 

enquanto elas me fitavam para além de mim, uma mais velha, outra mais nova, quase tão feias como este dia, chinelando em silêncio.

 

O sujeito gordo uma barba grisalha:

 

- Têm de dar

 

e elas plantadas à espera não se percebia de quê, de lenço, opacas.

 

Veio-me à ideia a frase de Oscar Wilde, bigamia é ter uma mulher a mais; monogamia também, e passou na rua a senhora de boina, reformada dos seguros, a morar com a mãe paralítica. Muito gorda, move-se numa majestade de navio de carga, quase deixando um rastro de gaivotas no passeio: quer dizer, onde os outros notam pombos eu noto gaivotas, que bicam não gasóleo, pontas de cigarro, caricas, papéis, porcaria.

 

A senhora sorri-me dentro de uns óculos enormes, cheios de dioptrias benevolentes. Deve ter uma vida de inferno e sorri.

 

- A gente habitua-se a tudo

 

esclarece ela

 

- A gente habitua-se a tudo

 

e a gente habitua-se a tudo, de facto, só eu é que não me habituo ao inverno.

 

Compra revistas cor de rosa no quiosque, cochicha com a dona. Acerca da mãe? Da vida? Do facto de a gente se habituar a tudo?

 

Em Vila Praia de Âncora as gaivotas poisam na varanda do Licínio, que andou comigo em África e tem um quase museu referente à guerra na garagem. Livros, fotografias, granadas, um ror de objectos. Sabe tocar acordeão. Eu não sei tocar nada: Uma boa parte sua continua em Angola, fala da tropa no presente, conserva tanto material, para ele precioso, e para mim dores passadas que, de longe em longe, tornam. Mas há gaivotas poisadas na varanda e, na minha, nem um pardal para amostra.

 

Vila Praia de Âncora, o mar, tão lindo, meu Deus. Não esqueço o jantar na casa dele, a ternura e a fidalguia com que me trataram, estava eu a ser feliz ali perto, em Caminha. Quase em Caminha, no meio do campo, a tirar o saco do pão da maçaneta da porta: há lá país mais bonito do que o meu, há lá língua mais bonita.

 

Se lhe tirassem a televisão e os políticos era um sítio perfeito. E os jornais, já que estamos com a mão na massa.

 

No jantar do Licínio o Costa, rádio também:

 

- Manda mosca, manda mosca

 

gritavam eles para os aparelhos. Alfa, Beta, Charlie, Delta, Eco, Fox-Trot, Golfe, Hotel, etc., olha, nem sabia que me recordava disto e, com isto, aluvião de nódoas negras.

 

Em que sítio estará o paquistanês das duas mulheres? Nunca as vi contentes: mudas e graves, sempre. Pequeninas.

 

- Manda mosca

 

e lá chegava o helicóptero. Pequeninas, com roupas que se me afiguravam sobrepostas. E se eu vivesse com elas? Dormem os três na mesma cama? Não arranjei coragem para me informar. O meu pai contou-me que em Benfica havia um homem com duas mulheres também, todos muito satisfeitos, e que lhe chamavam o Zé do Meio. Tinha uma carroça. Mal o Zé do Meio morreu começaram as discussões entre as esposas. Para andar com aquilo tudo na ordem o Zé do Meio devia ser um sujeito e pêras. E não uma carroça de burro, uma carroça de mula, que exige mais autoridade. Segundo o meu pai, e jamais lhe escutei uma mentira, o Zé do Meio bebia que se fartava e ao entrar em casa malhava logo na família. As bofetadas, distribuídas, custam menos. A mula recebia também a sua parte e, por conseguinte, a harmonia era total. Comia a mula e comiam elas, que mais se pode desejar? Isto no topo da Travessa dos Arneiros, quase ao pé do cemitério, uma zona de respeito, que eu evitava no pavor que um esqueleto me perseguisse. Até hoje nenhum me aborreceu, a cochichar atrás de mim

 

- Chega aqui, menino

 

mas dá azar afirmar isto porque a regata ainda não acabou. Um dia, estou eu descansado da silva, e começa um agitar de ossos no corredor. Se tivesse as paquistanesas pedia-lhes que averiguassem o que se passava:

 

- Cheguem ali ao corredor a ver o que se passa

 

e elas iam, que remédio, mudas e graves, de maneira que em vez de me comer a mim o esqueleto as comia a ambas.

 

Dias gelados, tristes e frios.

 

Peço ao Licínio

 

- Manda vir a mosca

 

o Licínio agarra-se às manivelas

 

- Manda mosca manda mosca

 

subo para o helicóptero, explico ao piloto

 

- Leve-me a Agosto

 

e dali a nada estou de papo para o ar, na praia, a olhar sorvetes e a lamber biquinis, perdão, ao contrário, a olhar biquinis e a lamber sorvetes. Pensando bem, a primeira frase fica melhor.

 

 

 

 

 

António Lobo Antunes

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O norte de nós mesmos

Glenn Gould

 

Mariana Ianelli

 

Ele conta que começou a ler partituras antes mesmo de ler as palavras, por volta dos quatro anos de idade. Aos treze já tocava Bach e submergia nos seus primeiros surtos musicais de madrugada, enquanto os pais dormiam. Revendo os indícios de trás para frente, talvez se reconheça aí não somente a precocidade do gênio mas a exaltação daqueles que vivem, por assim dizer, ionizados, num estado de hipersensibilidade que precipita muitas coisas, entre elas, a intuição de uma vida curta.

 

Em 1955, com então vinte e dois anos, tornou-se o Glenn Gould das Variações Goldberg, o jovem de cabelos esvoaçantes e maneiras excêntricas que transformava uma plateia numa multidão de testemunhas da sua intimidade com o piano, alguém de tal modo possuído pela música que as teclas lhe serviam de repositório de um transbordamento, o lugar para onde manavam prelúdios, tocatas, adágios e fugas que não podiam ficar contidos dentro de um só corpo. Mas Glenn Gould detestava plateias. Era, na realidade, um morcego solitário.

 

Em 1967, quando já havia abandonado as audições públicas pelas gravações em estúdio, produziu um documentário de rádio chamado A Ideia do Norte. O programa falava das paisagens geladas e desérticas de um lugar apartado de tudo. Era ao mesmo tempo a sugestão de um poema e uma pintura. Sim, é um programa sobre o Norte só porque se passa no Norte, mas na verdade é sobre o Norte de nós mesmos, sobre a essência de conviver consigo mesmo quando não há mais nada em volta. Glenn Gould colocava dessa forma em palavras a sensação de um solo intenso, de uma pausa entre as notas que evoca o deserto para onde cada um deve partir sozinho.

 

Foi na maior igreja de Toronto, em 1982, que a plateia de Glenn Gould se reuniu pela última vez. No meio do silêncio de três mil pessoas, ele, que não gostava de multidões, ressurge, inteiro feito música, na ária das Variações Goldberg. Mais do que uma despedida, estava ali o princípio de tudo. Um piano invisível tocando o poema do Norte.

 

 

 

Mariana Ianelli - Publicado em Vida Breve

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Sexta-feira, 04.03.11

Um livro

La caseta libia

 

Enrique Vila-Matas

 

Buenos Aires ha sido invitada al Salón del Libro de París que se celebra este mes. Tradicionalmente, el invitado a esta feria es un país. Este año invitan por primera vez a una ciudad. Y la literatura porteña iniciará esta nueva tradición. Acuden Alan Pauls, Oliverio Coelho, Eduardo Berti, María Kodama, Andrés Neuman, Damián Tabarovsky. Quizá vaya Ricardo Piglia, quizá Rodrigo Fresán, que es un crack en Francia.

 

Argentina fue el país invitado el año pasado en la feria de Fráncfort. Los actos oficiales fueron bochornosos. Parecía que lo mejor de la literatura argentina fueran el Che Guevara y Maradona. Al igual que cuando fue Cataluña la invitada, la pompa política lo acaparó todo y los escritores y editores quedaron en un segundo plano. Pero los argentinos parece que tuvieron al menos un sentido de futuro, de continuidad, y no se detuvieron en "la gran cita de Fráncfort" y miraron más allá: el próximo 18 de marzo estarán en París. En este sentido, no han perdido el tiempo. Me pregunto si alguien en Cataluña se ha movido, ha dado algún paso para situar a Barcelona en una próxima edición del salón parisino. Y si ese paso se ha dado, ¿se ha pensado en llevar allí a la Barcelona que se asomó, pero también a la que no se asomó en Fráncfort 2007?

 

Quizá nadie se haya movido, pero supongamos que se ha actuado. Cabría entonces preguntarle a quien le correspondiera si percibe, entre otras, una literatura trasnacional en Barcelona. Mis recuerdos de Fráncfort se remontan a una sola incursión, hace 20 años, con la delegación española, que también desplegó pompa y boato político y hasta arena taurina. Si bien la experiencia fue amarga, pronto comprendí que asistir a aquella monstruosa feria nos convenía a los que escribimos, pues era el modo más rápido de comprender nuestro insignificante papel en el mundo.

 

De aquella incursión en un decorado difícil me queda la decisión de no volver más y el recuerdo de un estand de Libia difícil de olvidar, una caseta de pensamiento único para la que hoy, cuando pienso en ella, parece que no haya pasado el tiempo. En cualquier caso, para un escritor el Salón del Libro de París puede ser menos deprimente que Fráncfort, quizá porque se descubren o intuyen en el salón francés destellos todavía de ciertos entusiasmos reales por la gran literatura. En Fráncfort, en cambio, se encuentra uno con la soledad de 10.000 estands y 200 restaurantes. Recuerdo que, cuando estuve allí, posiblemente porque estaba aburrido o desesperado, decidí ir a ver quiénes eran los vecinos de las modestas casetas de las empresas españolas, y fui a parar a una extraña periferia de la periferia editorial, a un circuito de estands de países del entonces llamado "tercer mundo".

 

Me paseé por Macao, Tanzania, Argel, Madagascar, Burundi, Vietnam.

 

 

 

 

Y al fondo del pasillo encontré el extraño estand de Libia, completamente verde, sin atisbo de cualquier otro color. En Libia hay escritores como el exiliado Ibrahim al Koni, narrador poderoso, educado en la tradición oral de los tuaregs. Pero en aquel estand libio solo había ejemplares de El libro verde, del coronel Gadafi, ese catecismo contra el marxismo y el capitalismo. No había otro título en ese impresionante estand de libro único. Uno de los libreros, viéndome interesado, me ofreció el catálogo de la caseta y vi con horror que el catálogo también era verde y de un solo libro. Así cualquiera, pensé. Desde luego, con tan pocos rivales no era raro que el libro de Gadafi fuera el mejor de su país, pero tampoco iba a resultar extraño si con un juego tan sucio tenía a muchos lectores sublevados.

 

Enrique Vila-Matas

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Quinta-feira, 03.03.11

Sombras atrás das árvores

Telenovela protegida 

 
Me encuentro con una vecina en el ascensor, intercambiamos saludos, 
comentarios sobre el clima, preguntas acerca de si llegaron o no los huevos a la bodega de la esquina. 
Todavía vamos por el piso seis, cuando amparada en la momentánea privacidad de la cabina, me dice 
que gracias a mí ha podido ver una telenovela colombiana. No entiendo nada. 

Qué relación podría tener esta blogger escéptica de los culebrones dramáticos con el arte de sacarle las 
lágrimas a la gente frente a la pantalla. Pero la mujer insiste. Comienzo a evocar los guiones del viejo Félix B. Cañet 
cuando todavía faltan cuatro pisos para llegar a planta baja. 

La respuesta me alcanza por el camino más inaudito. Mientras la pizarra del elevador marca el número 3, ella me 
cuenta que el miedo a la oscuridad del parque –a un lado del edificio– era el impedimento para llegar hasta la casa 
de una amiga donde cada noche proyectan un capítulo de la telenovela, captada por una ilegal antena parabólica. 
Pero ahora, afirma con gratitud, esa franja de concreto y vegetación está custodiada las 24 horas. 
Hago como que no entiendo, sin embargo, me subraya que los miembros del MININT que rondan mi casa han vuelto 
más segura la barriada. Preferiría creer que esas sombras que veo desde mi balcón son fantasías de alguien que 
consume demasiadas ficciones, pero la mujer vuelve a la carga. No me deja evadirme detrás de una sonrisa, 
más bien quiere subrayar que me debe el llegar hasta el otro edificio sana y salva. 

Sin esperármelo, me veo retribuida por el horror, alguien acaba de agradecerme por ser carne de vigilancia, 
objetivo de centinelas. Nunca había visto una manera más ligera de entender la represión, pero me río con la vecina, 
¡qué remedio me queda! En aras de no parecer distante, le pregunto cuál es la temática de la telenovela que yo le 
he “ayudado” a disfrutar. Se relame gustosa. Es una recreación del siglo dieciocho, con esclavos que huyen, 
matronas que tienen hijos ilegítimos que esconden de sus esposos, látigos que suenan sobre las espaldas, 
guardarrayas a oscuras que en la noche son custodiadas por mayorales y por perros.

Yoani Sanchéz
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Llvros andando pelo mundo

Moacyr

 

Luis Fernando Verissimo

 

Eu brincava com o Moacyr Scliar e dizia que ele era a vergonha da classe literária: um escritor que não bebia. Ou, pior, só bebia Malzbier. Ele também tinha horror a peixe, contava com muito humor seu martírio diante de sushis e sashimis quando visitou o Japão. Viajamos juntos algumas vezes, mas ele me ganhava em matéria de trotear pelo globo.

 

Certa vez nos encontramos em Carlos Barbosa, no interior do Rio Grande do Sul, mas foi um encontro muito rápido, ele estava indo dali a minutos para Tocantins! O Moacyr vivia assim, de Carlos Barbosa para Tocantins, com escalas em Nova York e Paris, sem perder os chás da Academia nas quintas. Eu invejava seu talento e sua estampa de príncipe russo, mas invejava, acima de tudo, suas milhas acumuladas.

 

Era uma pessoa extremamente generosa e solidária. Quando um leitor me chamou de antissemita no jornal, o primeiro telefonema que recebi foi do Moacyr dizendo para não dar bola, ele mesmo já tinha sido chamado de antissemita várias vezes pela sua posição no conflito de Israel com os palestinos. Sua preocupação com saúde pública e com a questão social vinha dos seus tempos de estudante de Medicina e se refletiu desde o começo na sua obra literária. Que nunca foi panfletária, mas sim encharcada de humanismo e compaixão – mesmo quando tratava de personagens em guerra com o mundo.

 

Nenhum outro escritor brasileiro, que me ocorra, dominou, como o Moacyr, aquela estreita faixa da imaginação entre o cômico e o trágico também frequentada por Kafka, Vonegut e alguns poucos outros. E ele foi o único praticante, no Brasil, do melhor humor judaico, com suas narrativas urbanas e modernas que nunca deixavam de evocar arquétipos e mitos antigos, como se dispensadas por um xamã tribal num bar do Bom Fim, o bairro judeu de Porto Alegre.

 

Sua obra foi extensa, mas meus Scliars favoritos são A guerra no Bonfim, O exército de um homem só e Os voluntários, talvez por serem dos seus primeiros livros, os que revelaram sua originalidade. Nos enchíamos de orgulho, um pouco por bairrismo gaúcho e muito pela nossa velha amizade, sempre que em qualquer livraria da Europa ou dos Estados Unidos víamos os livros traduzidos do Moacyr numa prateleira. Os livros, pelo menos, vão continuar a andar pelo mundo.

 

Luis Fernando Verissimo

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publicado por ardotempo às 20:52 | Comentar | Ler Comentários (1) | Adicionar

Noite Mundial do Livro - 5 de março

 

Nós somos o que lemos

 

 

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publicado por ardotempo às 02:18 | Comentar | Adicionar
Quarta-feira, 02.03.11

Respeitável público, vai começar a função...

 
Enrolando, enrolando... 

O carro do serial killer utilizado para atacar os ciclistas é blindado
Agora ele está traumatizado e deve permanecer na luxuosa clínica de repouso 
que ele mesmo escolheu. Provavelmente até a expedição de uma liminar pela justiça
que conjure a sua prisão e o mantenha em liberdade.
Se ele não fosse alto funcionário do Banco Central,(e fosse um cidadão comum e igual 
a todos os outros cidadãos brasileiros) isso tudo estaria acontecendo assim? 

Acusado de atropelar ciclistas permanecerá 
hospitalizado sob custódia 

O delegado Gilberto Montenegro, responsável pela investigação do atropelamento de 
um grupo de ciclistas na Capital, informou que o autor do crime, o funcionário do 
Banco Central, Ricardo Neis, 47 anos, permanecerá  por mais alguns dias na 
instituição hospitalar em que ele mesmo se internou na noite de terça-feira.
Isso vai ocorrer pois o laudo do psiquiatra Hugo Alberto Horlle, responsável pelos 
cuidados a Neis, pede que ele fique hospitalizado por mais alguns dias. 
Não foi revelado por quanto tempo o acusado deve continuar internado.

 Segundo Horlle, Neis não tem condições de deixar o hospital pois está muito abalado 
emocionalmente e há a preocupação de que ele possa atentar contra a própria vida.
Após um novo laudo que autorize a alta de Neis, ele deve ser conduzido 
ao Presídio Central. 
Por enquanto, uma escolta do Grupamento de Operações Especiais (GOE) 
ficará no local fazendo a custódia de Neis.
 Conforme o delegado Rodrigo Garcia, a Polícia Civil tentará transferir o paciente 
para o Instituto Psiquiátrico Forense, onde será mais fácil fazer a sua escolta.

 Publicado em Zero Hora
publicado por ardotempo às 15:43 | Comentar | Adicionar

Editor: ardotempo / AA

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