Domingo, 27.03.11

A quase usina nuclear do Caribe

 

Adiós para siempre, Juraguá!

 

Yoani Sánchez

 

 

 


 

 

En nuestra pequeña salita, nos contó aquella madrugada sobre el tiempo que había pasado en la URSS.

 

Llevaba apenas unas horas en la Habana, después que un avión de Aeroflot lo había regresado de su larga estancia por la tierra de Gorbachov. Venía con su título universitario de letras góticas, graduado de una ingeniería que mi mente infantil no podía entender. Fue la primera vez que escuché hablar de la central nuclear de Juraguá, que se construía en Cienfuegos desde 1983.

 

La voz del recién llegado describía al enorme reactor VVER 440 enclavado en el centro de Cuba como si fuera un dragón vivo que lanzaría sus bocanadas de aliento sobre nosotros. Allí irían a trabajar, como científicos del átomo, cientos de jóvenes formados en centros de estudio a más de 9 mil kilómetros de distancia de sus hogares. Millones y millones de rublos llegados desde el Kremlin ayudaban a levantar la que sería la obra cumbre de nuestro “socialismo tropical”, el pilar fundamental de nuestra autonomía energética.

 

Después supe que aquel joven entusiasta nunca llegó a ejercer como ingeniero nuclear. La Unión Soviética se desmembró justo cuando la primera de las dos unidades que se planeaban construir estaba terminada en un 97 % de su estructura. La hierba cubrió una buena parte del lugar y a la intemperie quedaron trozos del núcleo, los generadores de vapor, las bombas de enfriamiento y hasta las válvulas de aislamiento. Juraguá se convirtió en una ruina nueva, en un monumento a los delirios de grandeza que nos había legado el imperialismo soviético. Con las sienes encanecidas y mientras corta metales en su nueva profesión de tornero, el otrora experto me dice ahora: “Fue una suerte que no se echara a andar”.

 

Según calculó junto a otros colegas, las posibilidades de un accidente nuclear en Juraguá eran de un 15 % más que en cualquier otra planta nuclear del mundo. “Hubiéramos terminado con la Isla partida a la mitad” me dice sin dramatismo. Yo delineo en mi mente un trozo de nación por aquí y otro por allá, mientras un hoyo humeante se empecina en cambiarnos la geografía nacional.

 

Ahora que la planta de Fukushima lanza sus residuos y con ellos expande también el miedo, no puedo dejar de alegrarme de que en Cienfuegos ese reactor no haya despertado, que bajo ese sarcófago de concreto la reacción nuclear no haya comenzado a efectuarse. Presiento que de haber sucedido, todos nuestros problemas actuales nos parecerían pequeños, menudas insignificancias ante el avance pavoroso de la radioactividad.

 

Yoani Sánchez - Publicado no blog Generación Y

 

http://www.desdecuba.com/generaciony/

 

(N.E.: Se a segurança dos japoneses fracassou tragicamente em Fukushima e alertou ao limite do pânico as autoridades alemãs e os habitantes da Alemanha (!), sobre o futuro de suas próprias instalações de usinas nucleares na Europa, o que podemos esperar sobre as condições de segurança nas já idosas usinas de Angra dos Reis? Terão procedimentos melhores do que no Japão e na Alemanha? E que futuro podemos esperar das lúgubres, sinistras e pouco controladas nucleares instaladas na Rússia, depois da falência e desmanche da antiga União Soviética, que foi justamente a causa do destino à sucata e à oxidação da central do Caribe?)

 

 


publicado por ardotempo às 20:39 | Comentar | Adicionar

Lâmina atômica

A espada de Dámocles

 

Ferreira Gullar

 

 


 

Esta minha mania de dizer que a vida é inventada pode nos ajudar a ver mais claro algumas coisas. Por exemplo, a energia atômica sempre existiu, mas era como se não existisse, até que cientistas a descobriram e inventaram meios de utilizá-la. Isso poderia não ter acontecido, ou ainda não ter acontecido, dependendo de uma série de fatores. Tanto assim que, durante milênios, o homem viveu sem se valer desse tipo de energia.

 

Afora a força de seus braços, recorreu à tração animal, à força dos ventos e das águas, até que inventou modos de utilizar o vapor e a eletricidade. Mas lá um dia descobriu-se que a desintegração dos átomos poderia gerar uma energia muito mais poderosa do que todas as energias conhecidas. E poderia ser usada tanto bélica quanto pacificamente.

 

O uso bélico teve precedência: construíram-se bombas que, em Hiroshima e Nagasaki, mataram centenas de milhares de pessoas. Isso foi em 1945, no final da Segunda Guerra Mundial. Aí começou a Guerra Fria e o equilíbrio de terror determinado pelos arsenais atômicos norte-americanos e soviéticos. O mundo viveu, então, décadas de pânico permanente, temendo todos os dias que algum fato aleatório provocasse a guerra nuclear e, com ela, o fim da humanidade, uma vez que aquelas duas potências militares dispunham de poder atômico capaz de liquidar várias vezes a vida no planeta. Bastaria que um foguete extraviasse, acidentalmente, e tomasse a direção de um daqueles países. Por sorte, isso não aconteceu, a Guerra Fria acabou e com ela a corrida atômica. Não obstante, os arsenais nucleares não foram inteiramente destruídos.

 

Além disso, outros países também possuem esse tipo de arma, e há ainda os que trabalharam para tê-la. De qualquer modo, a possibilidade de uma guerra atômica mundial parece descartada. Mas não a ameaça nuclear em si mesma.

 

Paradoxalmente, hoje, a ameaça maior, que restou e se mantém, está no uso pacífico da energia atômica, isto é, nas usinas nucleares espalhadas pelo mundo.

 

É evidente que o que me leva a escrever sobre esse tema, agora, é o terremoto que atingiu o Japão. Dele decorreu um tsunami devastador que atingiu a usina nuclear de Fukushima, a cerca de 240 quilômetros de Tóquio. Em poucas horas, o grau de radiação, provocada pela explosão de um dos reatores, subia mil vezes acima do nível normal. Duzentas e dez mil pessoas tiveram que ser, imediatamente, evacuadas da região.

 

Depois disso, apesar das providências tomadas pelos técnicos, mais três reatores explodiram, vazando vapor, cujas consequências, até o momento em que escrevo, ameaçavam contaminar a população da capital japonesa. Esse fato trouxe, inevitavelmente, à memória de todos, a explosão do reator central da usina de Tchernobil, em 1986, na antiga URSS, tido como o maior desastre nuclear já ocorrido. O total de mortos, ao logo dos anos, calcula-se entre 30 e 50 mil. Se no caso atual da usina japonesa, a causa foi natural, o acidente de Tchernobil, segundo os técnicos, foi provocado por erros humanos.

 

Como afirmar que não voltarão a ocorrer em qualquer outra usina?

 

A alta tecnologia das usinas japonesas não impediu o desastre, cujas consequências últimas ninguém pode prever. Tudo isso prova que não há garantia de segurança. E o lixo atômico, onde iremos sepultá-lo? Já se fala em pô-lo na órbita da Terra! Já pensou?

 

A pergunta que, inevitavelmente, as pessoas se fazem é: por que manter funcionando tais usinas, que são um risco permanente para todos os seres vivos do planeta? Não está escrito em nenhum livro sagrado que a energia atômica tem que ser mantida, a qualquer preço. Há outros tipos de energia no mundo, cuja produção é inofensiva.

 

Se a utilização das energias solar e eólica, em escala capaz de atender as necessidades atuais da humanidade, terá alto custo, não será maior que o das usinas nucleares, não apenas com sua segurança e manutenção, mas, sobretudo, com a perda de vidas humanas, a destruição do meio ambiente e os desastres econômicos, como o que agora atinge o Japão: cerca de US$ 250 bilhões.

 

Por que teremos que viver com essa espada sobre nossa cabeça?

 

 

Ferreira Gullar

Imagem: Piscina, de Eloar Guazzelli

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publicado por ardotempo às 19:29 | Comentar | Ler Comentários (1) | Adicionar

Ordem e progresso

Preconceito e racismo

 

O racismo convencional, permanente, atávico e silencioso que está presente no cotidiano feroz e aparentemente pacato, no Brasil. O preconceito contra as pessoas mais pobres e especialmente contra os negros, que vem disfarçado de costume cultural arraigado (oculto sob basalto) sobre o qual quase todos se calam (ou fazem anedotas sulfúricas em círculos fechados, em incontidos alaridos etílicos).

 

O policial branco, armado, protegido e bem equipado exerce seu poder de opressão contra crianças indefesas, cruel e sadicamente, agredindo-as com spray de pimenta nos olhos. Não são as primeiras nem serão as últimas. Não é ocasional, acontece a cada instante pelas vilas, favelas e esquinas de todas as cidades brasileiras há mais de cem anos.

 

Certa vez foram os frágeis pés descalços pisados e esmagados pelas botas do soldado, noutras, os esquálidos corpinhos atingidos com precisão pela pontaria dos fuzis dos atiradores de elite, chumbo sistemático, grafado pelas elegantes cartilhas de redação dos jornais como incontornáveis e acidentais “balas perdidas”...Treinamento para conter a população durante os próximos espetáculos esportivos internacionais?

 

 

 

 

publicado por ardotempo às 19:08 | Comentar | Ler Comentários (1) | Adicionar

Editor: ardotempo / AA

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