Atropelamento múltiplo de ciclistas em Porto Alegre
Na noite de sexta-feira dia 25 de fevereiro, no bairro Cidade Baixa em Porto Alegre, um automóvel Golf preto, novo, atropelou e derrubou cerca de 200 ciclistas do grupo Massa Crítica, ferindo com gravidade 15 ciclistas, removidos com urgência ao Hospital de Pronto Socorro, destruindo totalmente 20 bicicletas e danificando dezenas de outras. Na sequência, em alta velocidade, fugiu do local do crime, abandonando dezenas de feridos graves no asfalto da avenida. A Polícia de Porto Alegre mostrou-se incapaz de identificar e prender o agressor, apesar de ter localizado o carro danificado na madrugada de sábado no bairro Partenon, abandonado e com a placas de licença removidas. A Polícia já sabe que o carro pertence a um morador do Centro de Porto Alegre, que tem a idade de 47 anos, porém não consegue informar sua identificação, localizá-lo fisicamente e tampouco esclarecer o motivo que o levou a "a participar do acidente".
Aparentemente o proprietário, talvez o motorista, chama-se Ricardo José Neif, 47 anos, e seria morador no centro de Porto Alegre.
Carta aberta de repúdio ao Delegado Gilberto Almeida Montenegro e à Polícia Civil do RS
Em primeiro lugar, Sr. Delegado de Polícia Gilberto Montenegro, nós os ciclistas não cometemos erro nenhum, estávamos utilizando as vias públicas de Porto Alegre com meios de transporte autorizados e legais, o que inclusive deveriam ser incentivados para que não ocorram congestionamentos e poluição ambiental.
O “erro” que o Sr, afirma, muito menos foi um ”erro grave”, pois legalmente não se necessita pedir autorização para nenhuma entidade para pedalar bicicletas em conjunto, repito, em vias públicas de Porto Alegre ou em qualquer cidade brasileira. Além disso, a EPTC sabia dos eventos da Massa Crítica.
Outro equivoco do Sr. – ninguém impediu o direito de ir e vir de ninguém – estávamos andando nas vias como meios de transporte legítimos, bicicletas, conhece o Sr. uma bicicleta, sabe o que é? Um veiculo aceito e autorizado ao trânsito urbano pelo Código Nacional de Trânsito?
Não era uma manifestação e sim um deslocamento para uma festividade, com muitas pessoas utilizando o mesmo meio de transporte. Eram 200 carros, Sr. Delegado? Não, eram singelas bicicletas, pois se todos fossemos de carro ficariamos congestionados na via pública. Isso sim seria um transtorno para muitos.
Os automóveis frequentemente são os que obstruem a minha passagem de bicicleta pelas vias, pois normalmente ando mais rápido que um carro para ir da perimetral até a Olavo Bilac, pela José do Patrocínio.
Sr. Delegado, responda-me uma coisa somente: porque nos dias de futebol várias ruas são legalmente fechadas e o fluxo de carros é totalmente impedido para que torcedores, apenas torcedores pedestres, passem? Estas manifestações são consideradas mais “legítimas” pela polícia? Elas podem impedir o direito de ir e vir de todos os outros que nada têm a ver com futebol, e que às vezes muitas vezes, por questões urgentes, até de saúde e de risco de vida, necessitariam passar por aquelas vias bloqueadas?
Com mais 100 ciclistas derrubados, 20 bicicletas, eu disse 20 bicicletas totalmente destruídas, além das dezenas de feridos graves e um carro bastante avariado, como o Sr acha que “ainda não é possível afirmar que o motorista teve alguma intenção de matar”? As testemunhas, e são várias, e o Sr. já deve tê-las ouvido como delegado de polícia que é, disseram que o carro acelerou deliberadamente, com intensidade e não parou mesmo com pessoas sobre o capô e bicicletas amontoadas embaixo do carro. E o Sr. afirma publicamente que não foi com intenção de matar? Em nome do que e de quem o Sr. defende esse agressor que não conhecemos?
Por favor, só posso interpretar esta declaração como tendenciosa, defendendo, protegendo e ocultando o criminoso. Ainda por cima está esperando ouvir o motorista para que ele confirme ou não que teve a intenção de matar ou ferir alguém? Ora, me desculpe, isso não é polícia investigativa, Sr. Delegado Gilberto Almeida Montenegro. Por acaso, vocês já conhecem o motorista? Ele é policial? É alguém de nome importante na cidade ou filho desse alguém considerado importante? A polícia está ganhando tempo e acobertando alguma coisa? Esperando o tempo passar para evitar o flagrante ou extinguir os resíduos do álcool ou das drogas?
Se o proprietário do carro não deu queixa nenhuma, não informou roubo do veículo, não foi para sua casa, não atende ao telefone e abandonou o carro num bairro popular, distante da sua residência no centro ou em algum bairro sofisticado da cidade, logo depois da tentativa de assassinato coletivo, retirando ardilosamente as placas do carro, o que significa isso? Quem poderia estar dirigindo o carro, anonimamente?
A perícia tirou ao menos, impressões digitais no carro, no volante, no espaço do carro em que estavam as placas que foram removidas? Ou nem isso fizeram?
Com tudo isso que eu argumentei, qualquer pessoa de mínima inteligência ligaria todos fatos, informando imediatamente a população quem é o culpado, quem dirigia o carro naquele momento de intensa agressão. Espero que a Polícia Civil tenha o mínimo respeito à população, que merece ser informada.
Sr. Delegado Gilberto Montenegro, espero que o Sr. também peça desculpas publicamente por suas declarações infelizes, pois o Sr. criminalizou um movimento de ciclistas em paz, lutando apenas por dignidade e respeito no trânsito, ao tentar justificar e amenizar o procedimento do agressivo atropelador.
Continuaremos com muito mais bicicletas nas ruas, pois é nosso direito, é o nosso meio de transporte, sem poluição, sem alarido, sem agressão ao meio ambiente e aos outros cidadãos.
Mais amor, menos motor!
Guilherme Schröder