Quarta-feira, 09.02.11

Espaço recluso

Figuras pasolinianas


João Gilberto Nöll

 


 

 

 

 

Uma das emoções estéticas mais verticais que tive nesses últimos tempos no Rio Grande do Sul deu-se no encontro com o trabalho fotográfico de Gilberto Perin. É inacreditável que, de dentro desse cidadão de expressão costumeiramente serena, possa irromper uma arte de toques metafísicos acompanhados de um gozo tão eloquente e avassalador, característica assombrosamente presente já em sua penúltima exposição. Na ocasião dessa primeira mostra, o que poderíamos acrescentar diante de uma fotografia a revelar um homem negro em algum ponto da África, de costas contemplando o mar? Em frenesi de cores, sentimos a nudez pagã entre o eu e o mundo, mais nada. Talvez um arrepio. Contemplamos a atual exposição um pouco de soslaio, tal um certo pudor em face do impacto frente a corpos masculinos periféricos, um tanto esquecidos pelos jornais de grande circulação. Vemos jogadores em um campeonato de segunda divisão  num intimismo viril, nos toscos vestiários, alguns ensaboados debaixo dos chuveiros, entre confidências discretas, surdos palpites talvez. Parecem as figuras populares pasolinianas, encenando a sua autenticidade singela. E as cores, sempre as cores, vivíssimas, tão vivas que sentimos nelas um santo laivo narcísico.


Gilberto Perin é um dos mais marcantes fotógrafos brasileiros em ação. Entre suas fotos, há uma expondo como que um túnel improvisado entre  o campo do jogo e o vestiário. Ninguém. Existe tal densidade em sua luz erma, entre o claro e o sombrio, que esse instante tem a qualificação de um mistério. Trata-se da pausa entre as múltiplas insinuações eróticas da exposição. As coisas sem a presença humana nos fazem descansar um pouco da força carnal, mesmo que essa força venha um tanto dissimulada no bojo de certa placidez do pós-futebol, no desfecho do trabalho-lazer, antes de os atores se dissolverem novamente na prática do cotidiano.


No fundo dessa fotografia, as sombras da entrada do vestiário não deixam nada tomar forma. Mas os atletas de um arrabalde distante podem ainda estar ali, dormitando, esboçando o sonho de uma nova partida, quando serão, aí sim, os herois...

 

 

 

 

© João Gilberto Noll

© Brasil - Camisa Brasileira - Livro de Fotografias de Gilberto Perin

Texto de Aldyr Garcia Schlee

Projeto Camisa Brasileira PRONAC nº 10 4301

Imagens de © Gilberto Perin - Edições ARdoTEmpo

publicado por ardotempo às 20:00 | Comentar | Adicionar

Charutos negros

Negócios com nicotina


Yoani Sánchez


As manos se mueven seguras, veloces, apenas tienen 30 segundos para colocar en la parte inferior de la mesa los tabacos que irán hacia el mercado negro. Dos cámaras panean el salón donde las olorosas hojas se enrollan y terminan en cajas con el nombre de Cohiba, Partagás, H. Upmann. Cada ojo de vidrio gira 180 grados, dejando –por muy breve tiempo– una zona ciega, una estrecha franja de torcedores sin vigilancia. Buen momento para poner fuera de las vista de los supervisores aquel lancero o ese robusto, que después será vendido al margen del mercado oficial. Otro empleado se encarga de pagar a los custodios para lograr sacarlo del recinto y en veinticuatro horas su fuerte aroma ya estará en las calles.

 

 

Cuando mis estudiantes de español me preguntan sobre la calidad de los tabacos que se venden “por fuera”, bromeo diciéndoles que en el interior de dichas cajas bien podrían encontrarse el periódico Granma enrollado. Sin embargo, también sé que una buena parte de esa oferta clandestina es sacada de los mismos lugares institucionales donde se confeccionan los que se exhiben en las tiendas legales. Tres de cada cinco habaneros, en caso de ser interpelados, se vanagloriarán de conocer a un verdadero torcedor que consigue puros auténticos y frescos. El negocio de la nicotina involucra a miles de personas en esta ciudad y genera una red de corrupción y ganancias de incalculable tamaño. Su reto es que el producto final se parezca al que comercia el Estado, pero cueste tres o cuatro veces menos.


Entre las proposiciones más comunes que reciben aquí los turistas se escuchan aquellas de “¡Mister, cigars!”, “¡Lady, habanos!”que les lanzan en cada esquina. Al menos, no resulta tan chocante como cuando el proxeneta les susurra un catálogo que incluye “Chicas, Chicos, Chicas con Chicos”. Así la secuencia que comienza en la fábrica, en esos 30 segundos en que el lente de la cámara mira hacia otro lado, termina en un extranjero pagando por veinticinco tabacos lo que de otra manera sólo le alcanzaría para comprarse un par. Todos salen felices: el torcedor, el custodio, el vendedor ilegal y … ¿el estado? bueno… ¿a quién le importa?

 

Yoani Sánchez - Publicado em Generación Y

yoani.sanchez@gmail.com

publicado por ardotempo às 16:26 | Comentar | Adicionar

Editor: ardotempo / AA

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