Sexta-feira, 31.12.10

Bom Novo Ano 2011

Obrigado a todos

 

Pela visitação constante ao blog ARdoTEmpo durante os últimos três anos.

Pela colaboração com textos, apoios, obras de arte, fotografias e livros.

Pelo bom gosto, pela inteligência e pela elegância das palavras.

Pela alegria da presença e pelo bom humor.

 

Um bom novo ano, cheio de livros, obras de arte, descobertas, curiosidade e invenção.

 

Sejamos mais felizes em 2011, com saúde inoxidável, com bons livros, bons livros, bons livros, bons textos, boas obras de arte, boas fotografias, intensa amizade, mais leveza e mais poesia. Mais solidariedade, alimentos, viagens, afetos e vida para todos.

(Menos violência, menos corrupção, menos futebol, menos política, menos demagogia e menos país das maravilhas...)

 

Tudo de bom a todos em 2011

 

 

publicado por ardotempo às 18:18 | Comentar | Adicionar
Quinta-feira, 30.12.10

A esperança é a vida

Esperança

 

 

 

 

Gilberto Perin - Cartão de Ano Novo 2011

publicado por ardotempo às 23:41 | Comentar | Adicionar

Táxis vermelhos

Vermillion - Vermelho Granada


Cidades caracterizam-se por alguns detalhes triviais, corriqueiros, intensamente convencionais, porém reconhecíveis no seu conjunto e no seu tecido urbano móvel. Nos seus táxis, por exemplo.

 

Em São Paulo os táxis são brancos. Fato que, durante algum tempo fez com que a cor fosse praticamente dedicada, com incômoda exclusividade aos taxistas, uma vez que a população evitava a todo custo, comprar carros brancos. Isso durou até a chegada maciça de carros importados e entre eles, que representavam os sonhos de desejo dessa mesma população, ávida pelo conforto e pela tecnologia avançada, estavam muitos automóveis brancos, o que acabou por eliminar o preconceito que já se ia solidificando. Felizmente isso deixou de existir e agora lá estão os carros brancos e os táxis igualmente brancos, por todo o lado. Democratica e elegantemente brancos.

 

No Rio de Janeiro, os táxis populares e de frotas são amarelos-cítricos e com faixas azuis. Também eles são reconhecidos à distância, o que é um facilitador visual importante para seus usuários. Em Londres os táxis são pretos, em Nova York, os cable cars são amarelos gema com quadriculados negros, em Paris as voitures são, em grande maioria, Mercedes Benz.

 

Em Porto Alegre, os táxis são vermelhos. Uma cor que se tornou uma exclusividade da função. Um vermelho com um toque levemente alaranjado que se chamava, por volta de 1973 - vermelho-granada - era uma cor de moda no catálogo dos fuscas do ano e tornou-se uma paixão fervorosa entre os taxistas, que, naquele mesmo ano, através de seu sindicato, adotaram a cor como oficial para todos táxis da cidade.

 

Passaram-se cerca de quarenta anos e a cor é uma marca registrada indelével na cidade. Somente em Porto Alegre os táxis ostentam essa cor saliente, enfática, indiscreta, esse vermelho alaranjado que se faz notar na grande massa de veículos de serviço na estação rodoviária, nas filas nas horas engarrafadas dos finais de expedientes de trabalho, nas grandes avenidas do centro da capital e nas pequenas filas dos pontos-de-táxi dos bairros. Vermelho alaranjado, o vermillion das cores a óleo dos tubos de pintura, o vermelho-granada da antiga tabela de cores de alguns veículos Volkswagen de 1973.


Na foto recente, um táxi de Porto Alegre, na esquina da Av. Borges de Medeiros com a rua Jerônimo Coelho, em frente ao Savoy Hotel. Defronte e ao lado, em primeiro plano, um Prêmio Nobel.

 

 

 

 

Fotografia de Gilberto Perin - Mario Vargas Llosa (Porto Alegre RS Brasil), 2010

publicado por ardotempo às 22:31 | Comentar | Adicionar

O verdadeiro mais verdadeiro

El retrato de Felipe IV es un 'velázquez', 37 años después

 

La colección del Museo Metropolitan de Nueva York cuenta con seis (y no con cinco) lienzos de Velázquez.

 

El conservador de pintura europea, Keith Christiansen, y el restaurador jefe, Michael Gallagher, hicieron públicas sus averiguaciones en torno al retrato de Felipe IV que durante más de tres décadas había sido atribuido al taller del maestro sevillano, pero no a su magistral pincel.

El cuadro, realizado en 1624 cuando el monarca contaba con 19 años, fue donado como un velázquez a la colección del Metropolitan en 1913 por el prominente comerciante neoyorquino y destacado coleccionista Benjamin Altman. En 1973 el museo decidió atribuirlo a su taller. La pintura había sido mal restaurada en 1913 por encargo del marchante Joseph Duveen, famoso por su afición a alentar a los restauradores a repintar y suavizar los tonos para que los cuadros parecieran más serios, y fueran de este modo más del gusto del mercado, más vendibles. Los añadidos que hicieron al retrato de Felipe IV antes de que fuese donado al Metropolitan alejaban la obra del estilo de Velázquez. Tanto, que arrojaban serias dudas sobre su autoría.


Casi un siglo después, desde principios del otoño de 2009, Michael Gallagher ha retirado con sumo cuidado esas capas de barniz amarillento, así como los añadidos. "El cuadro estaba especialmente dañado", explica en conversación telefónica. "Fue restaurado en el siglo XVIII y luego a principios del siglo XX. Los negros estaban especialmente en mal estado". El trabajo de limpieza y restauración ha logrado convencer a los expertos, incluido al reconocido especialista Jonathan Brown, que declaró a The New York Times que aunque el cuadro ha sufrido pérdidas "lo que queda es de Velázquez".


Gallagher terminó de limpiar el lienzo el pasado mes de enero y fue entonces cuando comenzaron los estudios que han logrado determinar la autoría de la obra. La similitud de las formas del cuadro del Metropolitan con un retrato de busto del rey perteneciente al Museo Meadows de Dallas fue el primer signo alentador en un arduo proceso en el que el entusiasmo se dosificó con precaución.


La prueba definitiva llegó tras un viaje a Madrid para llevar a cabo un minucioso estudio del retrato oficial del rey perteneciente a la colección del Museo del Prado. El estudio de rayos X al que se sometió a este cuadro mostraba que había otro retrato anterior del monarca en el mismo lienzo. Ese retrato oculto coincide con el del Metropolitan. Los expertos del museo aseguran que el retrato de Felipe IV que se encuentra en Nueva York es una copia que realizó, firmó y cobró el propio Velázquez - existe un recibo del pintor por esta obra - a partir del retrato original sobre el que repintó. El retrato del Prado procede de la colección real y por lo tanto fue el retrato oficial del rey. El pintor usó un estilo más fluido y logrado en la última versión.


"La atribución de este cuadro a Velázquez plantea nuevas preguntas y abre una nueva ventana a los métodos de trabajo del pintor y el funcionamiento de su taller", explica Gallagher. El año pasado el Metropolitan también atribuyó a Velázquez otra de las obras de su colección, Retrato de un hombre. Aún quedan al menos dos lienzos más en la colección que parecen proceder del taller de Velázquez. Cabre preguntarse si habrá nuevos descubrimientos. "El museo ha aclarado dos incógnitas y por el momento no hay planes de estudiar el resto de los cuadros del taller", concluye Michael Gallagher.

 

 

 

Publicado em El País

publicado por ardotempo às 20:48 | Comentar | Adicionar

Livro do Ano - DON FRUTOS

Livro do Ano 2010 - Zero Hora Retrospectiva 2010


DON FRUTOS


Depois de anos como um autor que se definia “à margem”, Aldyr Garcia Schlee tornou-se um dos nomes mais comentados de 2010. Recebeu o prêmio Fato Literário e o Açorianos na categoria Conto com o livro Os Limites do Impossível e, durante a Feira deste ano, lançou o mais interessante romance gaúcho da temporada: Don Frutos, elaborada reconstituição histórica da trajetória do caudilho uruguaio Don Fructuoso Rivera. Schlee reconstrói os últimos dias de Rivera, moribundo e encalacrado em Jaguarão (o caudilho viajava para tomar posse como governante do Uruguai, mas morreu sem conseguir cruzar a fronteira).

 

 


Publicado no jornal Zero Hora RS Brasil- 30 de dezembro 2010

publicado por ardotempo às 20:36 | Comentar | Adicionar
Terça-feira, 28.12.10

Homenagem ao fotógrafo Gilberto Perin

O casal se comunica, à distância

 

 


 

 

Gilberto Perin - Comunicação - Fotografia (Paris França), 2009

publicado por ardotempo às 22:48 | Comentar | Ler Comentários (1) | Adicionar

O labirinto

Primeiro mês (8):

Preparação do livro de fotografias dos bastidores do futebol

Trabalho Apenas Pintura

Imagens do livro do piquenique

Fotografias dos lagos

Preparação do romance do autor português

Semana: Projeto Brinquedos e Desenho Aerodinâmico

Fotografias dos brinquedos

Preparação do livro do roteiro do filme

 

Segundo mês (8):

Preparação do livro de poesias dos lagos

Trabalho Apenas Pintura

Preparação do livro do piquenique

Edição do livro do roteiro de filme

Preparação do livro de contos (segunda edição)

Preparação do livro do papa (segunda edição)

Edição do livro do piquenique

Edição do livro do autor português

 

Terceiro mês (6):

Lançamento do romance do autor português

Lançamento do livro do roteiro do filme

Trabalho Apenas Pintura

Preparação do livro das cartas

Edição do livro de fotografias dos bastidores do futebol

Fotografias dos brinquedos

 

Quarto mês (8):

Trabalho Apenas Pintura

Lançamento do livro de fotografias dos bastidores do futebol

Lançamento do livro de contos (segunda edição)

Edição do livro de poesias dos lagos

Preparação do primeiro livro das cidades

Preparação do segundo livro das cidades

Preparação do terceiro livro das cidades

Fotografias dos brinquedos

 

Quinto mês (8):

Preparação do livro de poesias urbanas

Lançamento do livro do papa (segunda edição)

Trabalho Apenas Pintura

Lançamento do livro de poesias dos lagos

Edição do primeiro livro das cidades

Edição do segundo livro das cidades

Edição do terceiro livro das cidades

Edição do livro das cartas

 

Sexto mês (4):

Preparação do livro de contos do autor jaguarense

Trabalho Apenas Pintura

Edição do livro de poesias urbanas

Lançamento do primeiro livro das cidades

 

Sétimo mês (5):

Lançamento do livro de poesias urbanas

Trabalho Apenas Pintura

Edição do livro das cartas

Edição do livro de contos do autor jaguarense

Mostra de fotografias dos bastidores do futebol

 

Oitavo mês (5):

Lançamento do livro das cartas

Lançamento do livro do autor jaguarense

Lançamento do segundo livro das cidades

Trabalho Apenas Pintura

Preparação do livro dos brinquedos

 

Nono mês (5):

Preparação do livro dos brinquedos

Preparação do livro das crônicas

Preparação da mostra dos brinquedos

Trabalho Apenas Pintura

Edição do livro das crônicas

 

Décimo mês (5):

Lançamento do terceiro livro das cidades

Lançamento do livro de crônicas

Edição do livro dos brinquedos

Preparação do livro Apenas Pintura

Preparação da mostra Apenas Pintura

 

Décimo primeiro mês (3):

Mostra dos brinquedos/ Montagem

Lançamento do livro dos brinquedos

Edição do livro Apenas Pintura

 

Décimo segundo mês (2):

Mostra Apenas Pintura / Montagem

Lançamento do livro Apenas Pintura

 


 

publicado por ardotempo às 20:42 | Comentar | Adicionar
Segunda-feira, 27.12.10

A língua e a bolsa

Criar Lusofonia 2011

 

A Direção Geral do Livro e das Bibliotecas (DGLB) de Portugal irá atribuir bolsas para investigação no domínio da escrita para escritores e pesquisadores de língua oficial portuguesa. A bolsa será gerida pelo Centro Nacional de Cultura (CNC) e tem como objetivo a produção de uma obra literária para divulgação nos países lusófonos: Brasil, Angola, Moçambique, Timor, São Tomé e Príncipe, Cabo-Verde e Guiné-Bissau.


A bolsa inclui viagem e estadia num dos países lusófonos durante quatro meses. Pretende-se, assim, aprofundar contactos entre os pesquisadores/escritores e o país de acolhimento de forma divulgar o seu trabalho.


Os candidatos deverão ter obra publicada e divulgada, pelo menos, nos seus países e apresentar um projeto a desenvolver, bem como o motivo pelo qual se candidatam.


O programa Criar Lusofonia foi estabelecido em 1995 e tem por objetivo a atribuição de bolsas no domínio da escrita para estadas em países da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP).


Na última edição 2009/2011, os contemplados foram: Carlos Alberto Machado, português, com o projeto Mal nascido, a desenvolver em Moçambique, e Alice Goretti Pina, sãotomense, com o projeto No dia de São Lourenço, a desenvolver em São Tomé e Portugal.


O prazo de recepção das candidaturas termina a 19 de fevereiro de 2011.

 

Publicado na Revista Pessoa

publicado por ardotempo às 13:28 | Comentar | Adicionar
Domingo, 26.12.10

A torre de ferro

Um "martelinho" de Claudionor no Mercado Público, junto à Torre de Ferro

 

 

 

 

 

 

 

Camafunga - Marcelo Freda Soares Comemoração - Fotografia - Blog do Camafunga (Mercado Público - Pelotas RS Brasil), 2010

 

(N.E.: ...e no céu, um gato amarelo)

publicado por ardotempo às 19:46 | Comentar | Adicionar

O exíguo livro de versos

Formigas do Colorado


Pedro Gonzaga

 

 

 


À luz de um sol branco

- dezembro arde em Porto Alegre -

busco abrigo às cegas

na fachada do antigo sebo

tantas vezes percorrida

em horas mais cálidas.

 

Mergulho na penumbra,

e um cheiro doce

que sabe a mofo

brota dos cadáveres,

silenciosos e encadernados faraós

desprovidos de pirâmides.


Enquanto meus olhos

se acostumam à noite ali dentro

meus dedos percorremcom vaga cautela

as estantes empenadas em que

livros de fantasiosas ciências,

roucos,

apelam da escuridão:

um compêndio de biologia,

um tratado de química orgânica em espanhol

que cansou de dizer a realidade em 1940,

tantos carbonos e hidrogênios

inutilmente

desperdiçados.


Pouco depois,

uma grossa lombada diz

em inglês

Fomigas do Colorado.


Assusta-me o fato de que um homem

perdido entre longínquas montanhas

tenha dedicado sua vida às

formigas do Colorado.


Que promessa de felicidade terrena

ou eterna

pode levar alguém

a dedicar a força de seus membros

a usina de seu cérebro

o combustível limitado das gônadas

às formigas do Colorado?


Quase posso vê-lo,

senhor das formigas,

circunspecto

lustroso de autoridade,

garboso na sala decorada com esmero

madeiras escuras

e envernizadas

o feltro verde sob o tampo

o digno gabinete

do digno autor de

Formigas do Colorado.


Você não tem seriedade,

mr. Gonzaga,

você se farta na galhofa.

Onde está sua obra,

mr. Gonzaga,

onde está o seu legado?


A custo

penso nos dois volumes de contos

e no exíguo livro de versos

à espera de publicação.


Uma coisa, no entanto, me consola,

senhor Formigas do Colorado,

e a você dedico este semi-sorriso frouxo

que meus lábios não labutam para manter:

eu estou aqui,

vivo,

meu sangue ferve,

posso ser fera esta noite,

meus músculos vibram

e tenho uma mulher

que me espera.


Tudo isso passa, eu sei,

mas, ah,

que se fodam

as formigas do Colorado.

 

 

 


Pedro Gonzaga

publicado por ardotempo às 17:44 | Comentar | Adicionar

Dois

Metade


Dividi em dois o que era inteiro,

escolhi uma das partes,

a outra joguei fora.


Quitei dívidas, virei metade,

com a verdade de quem

pega o melhor.


Como quem não tem certezas,

agora procuro o pedaço,

que de mim quer inteira.

 

 

 

 

 

 


Isolde Bosak

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publicado por ardotempo às 17:12 | Comentar | Adicionar

Bacana para aprender

Aprender línguas


Maria do Rosário Pedreira


Quando era professora de Português nos anos 80, zangava-me muito quando os alunos absorviam como esponjas e utilizavam até à náusea palavras e expressões brasileiras – em vez das equivalentes portuguesas – por passarem demasiadas horas a ver telenovelas. Claro que muitas destas expressões eram tão deliciosas e certeiras que era difícil recusá-las («mentira tem perna curta» é obviamente mais redondo e eficaz do que «mais depressa se apanha um mentiroso que um coxo»); mas eu, que passara a infância a ler o Tio Patinhas em traduções feitas no Brasil, com balõezinhos cheios de «grama» (relva), «bala» (rebuçado), «Oba!» e «bacana», nem por isso passara a utilizá-las no meu discurso (suponho que era por não as ouvir, e que isso muda tudo).

 

Preferia, por isso, que os alunos lessem quadradinhos a que vissem telenovelas, até porque a banda desenhada é um excelente veículo de aprendizagem do mundo, ao contrário do que muita gente pensa e diz. Uma vez, em conversa com o Fernando Pinto do Amaral, hoje a dirigir o Plano Nacional de Leitura, chegámos inclusivamente à conclusão de que muito do francês que sabíamos o aprendêramos nos livros maravilhosos do Tintin, do Astérix e de muitas outras BD que, ao tempo, não estavam traduzidas (ou talvez nós nos recusássemos a esperar pela tradução). É pena que hoje, apesar das reedições destes clássicos, muita gente não faça a mais pequena ideia da sua profundidade e ache que são apenas livros para meninos preguiçosos que não gostam de ler...

 

 



Maria do Rosário Pedreira - Publicado no blog Horas Extraordinárias

 

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publicado por ardotempo às 16:46 | Comentar | Adicionar

Ruínas da Enfermaria, de Jaguarão

Futuro Museu do Pampa (CIP)

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Futuro Museu do Pampa, CIP - Projeto de Marcelo Ferraz, Isa Ferraz e Marcelo Macca -  Jaguarão RS Brasil

publicado por ardotempo às 13:55 | Comentar | Adicionar

A vidente

E continua chovendo...


Ferreira Gullar


Em 1975, em Buenos Aires, dei a Vinicius de Moraes um quadro pintado por mim. Mas foi o de menos, tantas outras coisas que aconteceram naquela época. Embora já conhecesse Vinicius de antes, em Buenos Aires, quase dez anos depois, é que nos tornamos amigos.E a amizade se consolidou mesmo depois da manjada leitura do "Poema Sujo", que fiz, a pedido dele, na casa de Augusto Boal. Como se sabe, me fez gravar o poema numa fita e o trouxe para o Brasil.

 

Naquela ocasião, Vinícius começava a namorar uma argentina, bem mais jovem que ele e, por causa disso, mudou-se provisoriamente para Buenos Aires, instalando-se num apart-hotel, no centro da cidade. Desse modo, mantinha-se a salvo de qualquer reação da outra namorada, uma bela mulata baiana, com quem vivia em Salvador.

 

Essa permanência do poetinha na Argentina tornou frequentes nossos encontros e, mais ainda, porque recebeu a encomenda de uma editora francesa para fazer o texto de um álbum fotográfico do Rio de Janeiro. Sabendo de minha situação financeira periclitante, convidou-me para escrever o livro com ele.Foi então que os militares derrubaram o governo de Isabelita Perón e instauraram mais uma ditadura na América Latina.

 

Dias depois, Tenório Júnior, o pianista do show que Vinicius apresentava ali, desapareceu.

 

Embora casado, Tenório Júnior viera com uma namoradinha, que conheci no apart-hotel de Vinicius, naquele dia em que me falou do sumiço do pianista.

 

Pedira a ajuda do ex-genro, alto funcionário da embaixada brasileira, que nada conseguira. É que a ditadura militar recém instaurada prendera e executara muita gente e mantinha esses fatos em sigilo.Diante disso, ofereci a ajuda que estava a meu alcance: consultar uma vidente que havia localizado um filho meu, desaparecido, um ano atrás. Como o telefone da vidente não estava comigo, teria que ir a meu apartamento e, de lá, ligar para ela. Assim, acompanhado de Maria Julieta, filha do poeta Carlos Drummond, que naquela época trabalhava na Argentina, e da namoradinha de Tenório Júnior, segui para lá e liguei para dona Haydé, a vidente.

 

Após dizer-lhe o nome completo do desaparecido, ela me informou que o pianista deveria estar inconsciente ou morto, uma vez que não conseguia contatá-lo . (É que esse tipo de comunicação se faz de mente a mente).

 

Em seguida, para meu espanto, advertiu: "Diga a essa mocinha, namorada dele, que está aí com o senhor, que trate de ir embora para o Brasil, enquanto é tempo".

 

Como ela podia saber da moça? Mistério que a razão não explica. No dia seguinte, me deu a notícia final: Tenório Júnior tinha sido espancado até a morte por policiais, numa boca de fumo, onde fora comprar cocaína. Disse isso a Vinicius, que chorou.

 

Enquanto isso, sua namorada baiana recorria às entidades do candomblé para ver se o separava da rival argentina. Como os pais de santo não conseguiram resolver o problema, viajou para o Rio, entrou no apartamento do poeta e, lá, sobre a cama de casal, fez rezas e depositou fetiches, que também de nada adiantaram.Vinícius trouxe a argentina para o Rio e com ela viveu um intenso, ainda que efêmero, romance.

 

Mas foi numa visita que me fez, ainda em Buenos Aires, que lhe mostrei o autorretrato e, como ele disse ter gostado, dei-lhe de presente. Nunca mais vi o quadro, que ele trouxe para o Brasil. Se o deu alguém, não sei.A verdade é que, recentemente, minha amiga Guguta Brandão me informou que o cineasta Ruy Solberg era o atual proprietário do quadro e decidira dá-lo a mim de presente. E o fez num almoço com muitos amigos, na casa de Vera e Zelito Viana, há umas três semanas.

 

Quase uma solenidade, que me comoveu. Foi como se uma estrela, que se extraviara, voltasse do fundo da vida e me pousasse nas mãos. "Ao ouvir você na Flip, pensei: tenho que devolver o quadro ao Gullar, que é seu legítimo dono", disse-me ele. Gente fina, esse Ruy Solberg. E Zelito, de gozação: "Se fosse eu, não devolvia".

 

Outro dia foi a revista de Artaud, que voltou a minhas mãos, agora o autorretrato. Continua a chover na minha horta...


Ferreira Gullar - Publicado na Folha de São Paulo / UOL

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publicado por ardotempo às 12:56 | Comentar | Adicionar
Sábado, 25.12.10

Receitas para ganhar muito dinheiro em 2011

Fórmulas infalíveis para se ganhar dinheiro no País das Maravilhas

 

Ser jovem e saber jogar futebol... (é necessário ter alguma sorte)

Ser dirigente de clube de futebol, ter participação na compra e venda de jogadores de futebol (o grande mercado do neo-tráfico de seres humanos)

Negociar jogadores de futebol

Saber jogar na Bolsa de Valores ... (é necessário ter alguma sorte)

Ser deputado federal ou ser deputado estadual

Negociar armas, leves e pesadas

Negociar com drogas, leves e pesadas

Ser publicitário... (é necessário ter alguma sorte)

Jogar na loteria... (é necessário ter alguma sorte)

 

 

 

 

publicado por ardotempo às 14:12 | Comentar | Adicionar

Natal sem luz

Chuva apaga a luz

 

 

 

 

Em Porto Alegre RS, Brasil, qualquer chuvinha acaba com o fornecimento de energia elétrica por horas a fio. Durante a noite de Natal de 2011 choveu, acabou a luz transtornando a vida dos cidadãos e estragando a festa de milhares de pessoas. Falta energia elétrica há doze horas na cidade. País das maravilhas.

O tempo está bom, ensolarado e quente desde que o dia amanheceu.

publicado por ardotempo às 14:08 | Comentar | Adicionar

Pêndulo do destempo

Ausentes da festa


Mariana Ianelli

 

 



O talento inimitável que tinha o avô para reunir quatro gerações da família ao redor de uma travessa de spaguetti ao pesto. A casa era a coxia do mundo, uma zoeira de vozes, de copos se entrechocando, um vagalumear de crianças numa patuscada italiana.

 

Agora é como se voltassem todos. A bisavó aninhada no sofá, tão bonita no seu casaquinho roxo, o tio-avô sentado à mesa com aquele jeito de Capitão Tornado, teatral, delirante, sempre gesticulando, a tia-avó chegando aos poucos, preparando o seu radar para os assuntos de alcova, preferencialmente os mais embaraçosos, os mais picantes, e o avô, nosso Don Corleone, com sua batuta de olhos verdes regendo à distância a órbita dos filhos e dos netos sem dizer uma palavra. É como se voltassem todos, alguém abrisse o velho piano e a música recompusesse nosso caminho entre as estátuas, e o arco da folhagem até o portão de entrada fizesse sombra ao nosso passo, como se tudo se erguesse de novo dentro daquela sala, o relógio de pêndulo do destempo da infância, a fileira embaçada dos retratos, o bandolim na parede, o cocar azul e branco, como se o chão crepitasse, e a injustiça fosse nossa, de pensar que agora é tarde, que estão todos mortos, que a casa está vazia, pronta para ser demolida, e ali pode crescer um prédio de vinte, trinta andares, com balaústres enfeitando os terraços, e que será apenas mais um prédio monstruoso na cidade, não a erupção do nosso columbário.


A verdade é que um ciclo se fecha, outro se abre, e assim a casa vai ficando cada vez mais animada, agora já vêm os parentes distantes, os amigos que há muito não davam notícias e estavam devendo uma visita, vão chegando também as mulheres e até mesmo uma criança, todos ali esperando, esperando ansiosamente, como se os ausentes da festa, por enquanto, fôssemos nós.


Mariana Ianelli - Publicado em Vida Breve

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Sexta-feira, 24.12.10

Um ano mais doce e solidário

2011 - com mais livros, mais amizade e mais criação

 

 

 

 

 

 

Imagem de Giacomo Favretto

Mensagem de José Saramago

 

publicado por ardotempo às 16:55 | Comentar | Ler Comentários (1) | Adicionar
Quinta-feira, 23.12.10

A luta que nunca cessa

Homenagem à Palavraria, à Sapere Aude!, à Bamboletras, à Livraria da Travessa (Rio), à Livraria da Vila (São Paulo), à Contexto (Jaguarão), à Vanguarda e à Mundial (Pelotas) - A luta que nunca cessa

 

Libreros con vocación

 

Enrique Vila-Matas

 

En Barcelona, una optimista librería de barrio, la Bernat, en la calle Buenos Aires, ha duplicado su espacio a costa del local vecino, un sex shop que se ha hundido. Parece una noticia espectacular, pero solo lo parece, porque detrás de ella está únicamente la soledad de una librería independiente en su lucha dura del día a día, en su combate por la supervivencia, por una manera de ser, por una manera de relacionarse con la literatura. La Bernat de la calle Buenos Aires es un activo paradigma de tantas librerías de este país que, con sus historias de ánimo y coraje, desafían la lógica de los negocios y la rutina de la incultura. Me gustaría que estas líneas fueran un homenaje a nuestras librerías independientes, de cuyas angustias y alegrías me siento aún más cerca cuando entro en el blog El Llibreter (llibreter.blogspot.com), que describe atmósferas de un mundo que camina bajo la pólvora, el mundo de los libreros de vocación. Precisamente, hace unos días, el anónimo redactor de El Llibreter viajó a Nueva York y, una vez más, tras darse una vuelta por los lugares de costumbre, tuvo que levantar acta del cierre de otra librería, Central Booking en esta ocasión.

En Lima es noticia siniestra de estos últimos días que la especulación inmobiliaria va a cerrar El Virrey, legendaria librería. Hace tres años, sin haberla visitado nunca, escribí un texto de añoranza por lo no vivido, hablé de mi melancolía por no haber pisado esa librería peruana, lugar al que una fuerza enigmática me arrastraba. Pero este verano, por fin, la conocí. Fui una noche con Enrique Prochazka y Gabriel Ruiz Ortega y descubrí que, como en un juego de cajas chinas, en el interior de El Virrey había otra librería, llamada Sur, una librería de viejo, y en ella encontré una primera edición de la siempre para mí entrañable Antología negra, de Blaise Cendrars, "traducida del francés por Manuel Azaña" (Cenit, 1930)


Al poco de haber vuelto a Barcelona con el antiguo ejemplar, me encontré con la sorpresa de que acababa de salir en Madrid, manteniendo la traducción de Azaña, una documentadísima edición crítica de Jesús Cañete de Antología negra (Árdora). Hablo de sorpresa porque hasta pisar El Virrey nunca antes había visto la Antología en ninguna otra edición que no fuera la original francesa, y ahora de golpe tenía ante mí dos ediciones españolas del libro, la más vieja y la más nueva. La más nueva llegaba con aportaciones de Tomás Segovia, el apoyo entusiasta de Emilio Sola, y con una conferencia, Sobre la literatura de los negros, que Cendrars dio en 1925 en la Residencia de Estudiantes, con notable éxito entre los jóvenes artistas madrileños que vieron en él a un tipo "rápido, desenfadado, entusiasta y seco, rítmico y entrecortado, o roto como música de jazz band".


Desde este verano, Antología negra me evoca a El Virrey y desde hace unos días también su tragedia, comentada por Ariel Segal en La República: "La librería fundada por la pareja Sanseviero en 1973, y ampliada por sus hijos con anexos que incluyen la librería anticuaria Sur - con anaqueles repletos de obras antiguas, grabados, mapas y manuscritos-, es una institución que, por definición, debería ser preservada en el lugar en el que fue instituida".

 

 

 

 


Para Segal, El Virrey debería pasar a ser "patrimonio cultural de la nación peruana" y esta sería una forma de salvar un lugar que supo entroncar con la tradición de las antiguas librerías de la vieja Lima. Pero nada indica que la sensata idea de Segal vaya a prosperar. El drama de El Virrey es, a este otro lado del Atlántico, el de tantas de nuestras librerías de la vieja escuela, que día a día se van convirtiendo en símbolos de una lucha por la supervivencia de ciertas formas y estilos. El combate es duro en medio de un panorama severo, pero es una lucha que, como el rayo, nunca cesa.

 

Enrique Vila-Matas - Publicado em El País

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publicado por ardotempo às 20:34 | Comentar | Adicionar

O aquário ardente

Uma tequila eloquente

 

 


 

 

Confesso que não queria continuar a escrever sobre éteres mexicanos, para não atribuirem à tequila, que raramente consumo, os estímulos espirituosos para as páginas deste diário que aqui vou destilando. E a prová-lo, a circunstância de em cada uma das duas garrafas de Herradura que trouxe do México, restar ainda metade do seu líquido dourado; e do mescal, apenas conhecer aquele que bebi com o «cônsul da embriaguez» em cantinas decadentes debaixo do vulcão. É que nisto das bebidas - que não na literatura -, embora não abstémio, assemelho-me a um sóbrio.

 

Mas uma crónica do escritor mexicano Juan Villoro - também ele um sóbrio, mas só no que respeita a tequilas e outros álcoois - que encontro por acaso na net, convida-me, agora, para uma tequila eloquente. Uma tequila culto cujo nome, El Diablo, propõe o inferno sincero aos paraísos artificiais; e que, no verso do rótulo, para ser lido através da transparência dourada do líquido, como um peixe embriagado num «aquário ardente», oferece um poema de Eduardo Hurtado que nos recorda as irregulares qualidades etéreas da tequila:

 

«El Diablo inventó los sueños/

la lujuria y el tequila,/

al fondo de esta botella/

duermen dourada pasiones y asombros,/

mil años de amor punzante,/

las nubes en las cañadas/

y otras cosas intranquilas».

 

Onde guardar, então, esta garrafa? Na garrafeira ou na livraria?

 

João Ventura - Publicado no blog O leitor sem qualidades

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Quarta-feira, 22.12.10

Ralf Schinke - Designer

Pedras Fabulosas

 

Ralf Schinke - Anel em ouro rosé 18k com pedra quartzo fumê em lapidação assimétrica (Porto Alegre RS Brasil), 2010

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publicado por ardotempo às 08:27 | Comentar | Adicionar

Manual de Instruções para ler Gonçalo

Gonçalo M. Tavares


Isabel Coutinho


Quem é?


Gonçalo M. Tavares (M. de Manuel) é um escritor português, tem 40 anos, é considerado o melhor da sua geração. Nasceu em Luanda, em 1970, porque os seus pais (a mãe matemática, o pai engenheiro) estavam em Angola, nessa época. Veio para Portugal aos 3 anos. De Luanda não tem recordações: só o que viu em fotografias. Passou a infância em Aveiro e, aos 18 anos, foi estudar para Lisboa. Formou-se em Educação Física e Desporto (na adolescência, jogou futebol nos juniores do Beira-Mar). É professor de Epistemologia na Faculdade de Motricidade Humana, em Lisboa.


Escreveu todos os dias durante doze anos (gosta de escrever em cafés) mas só começou a publicar livros em 2001. Foi bolseiro do Ministério da Cultura – IPLB com uma bolsa de Criação Literária para o ano 2000, na área de poesia. E em Dezembro de 2001 publicou a sua primeira obra: “Livro da dança”, na Assírio & Alvim. Nos últimos nove anos, já publicou 29 livros.


“Jerusalém” (Caminho) foi o romance mais escolhido pelos críticos do jornal PÚBLICO para Livro da Década. “Um Kafka português”, chamou-lhe nas páginas da “Le Figaro” magazine, a escritora francesa Elisabeth Barillé. “Vai Gonçalo M. Tavares tornar-se um produto de exportação tal como o vinho do Porto e a saudade?”, perguntava ela. A resposta só pode ser: sim.


O que fez?


“No panorama actual da literatura portuguesa não há ninguém tão aplicado na construção daquilo a que, com muitas suspeitas, chamamos “obra” – mobilizando a ideia de autor, de projecto e de sistema – como Gonçalo M. Tavares”, escrevia o crítico literário António Guerreiro no “Expresso”, em 2004. Os anos passam, a análise torna-se mais pertinente. Quando começou a publicar (às vezes, vários livros por ano em diferentes editoras), M. Tavares foi considerado “a maior revelação literária dos últimos tempos”. Veio depois a consagração com os prémios literários. Entre outros, em Portugal: Prémio LER/Millennium BCP 2004 e o Prémio José Saramago 2005. No estrangeiro: Prémio Portugal Telecom 2007, Prémio Internazionale Trieste 2008 e Prémio do Melhor Livro Estrangeiro 2010 em França.


Quem nunca leu a obra de Gonçalo M. Tavares pode começar pela série “O Bairro”, cadernos dedicados aos Senhores, que iniciou em 2002 com “O Senhor Valéry e a lógica”. É “uma espécie da história da literatura em ficção”, uma utopia que vai no décimo volume. Permite uma leitura mais lúdica. Do lado oposto está a tetralogia “O Reino”, que reflecte sobre o mal, a violência e o medo: “Um Homem: Klaus Klump” (2003), “A Máquina de Joseph Walser” (2004), “Jerusalém” (2004) e “Aprender a Rezar na Era da Técnica”. Cerca de 160 traduções dos seus livros estão a ser feitas em 35 países.


Porque o escolhemos?


O romance “Aprender a Rezar na Era da Técnica”, numa tradução de Dominique Nédelle, recebeu em França o Prémio do Melhor Livro Estrangeiro 2010. Até agora, António Lobo Antunes era o único português a quem tinha sido atribuído. Musil, García Márquez, Elias Canetti, Kawabata, Bioy Casares, Vargas Llosa, Durrell, Günter Grass, Rushdie, Pamuk, também receberam este prémio.


O escritor e jornalista francês Pierre Assouline escreveu dia 1 de Dezembro no blogue La République des Livres, no “Le Monde”, que a atribuição deste prémio é só o começo. “O seu projecto literário, que consiste em repovoar, à sua maneira, um bairro que inventou – com silhuetas consagradas da história literária -, é tão fascinante pela lógica interna que o anima que quase reagimos como José Saramago quando lhe disse que escrever tão bem, quando se é tão jovem, “só dá vontade de lhe bater”!


Este ano, em Portugal, Gonçalo M. Tavares lançou três livros: “O Senhor Eliot e as conferências” (Caminho), “Matteo perdeu o emprego” (Porto Editora) e “Uma Viagem à Índia” (Caminho), uma epopeia do século XXI que narra a viagem de Bloom até à Índia, partindo de Lisboa, escrita com os mesmos cantos e estrofes d”Os Lusíadas. O livro tem um prefácio de Eduardo Lourenço. Vasco Graça Moura considerou-o “um livro extraordinário”, que vai marcar “não apenas a História da Literatura Portuguesa, mas provavelmente a cultura europeia”. Dentro de cem anos, haverá teses de doutoramento sobre passagens e fragmentos de Uma Viagem à Índia, afirmou o editor Zeferino Coelho.


O que podemos esperar dele?


Quando se comemoravam os 12 anos da atribuição do Prémio Nobel da Literatura a José Saramago, o seu editor, Zeferino Coelho – também editor de M. Tavares -, lembrava que o prémio elevou a nossa literatura. Dizia acreditar que nos próximos anos haverá outro editor português a acompanhar até Estocolmo outro autor português. E brincava: “Até estou convencido que serei eu outra vez!” Saramago já o tinha dito e a mesma opinião tem Graça Moura: “Prevejo que ele virá a ganhar o Prémio Nobel…”

 


 

Várias peças de teatro vão ser feitas em Portugal, França e no Brasil, em 2011, a partir dos seus livros. A actriz Jeanne Moreau tem o projecto de fazer uma leitura teatral do livro “O Senhor Kraus” em Paris. Se isso se confirmar Gonçalo M. Tavares irá a França, sem dúvida. Apesar de ter recuperado o gosto pela viagem, o escritor tenta “concentrar as viagens, fazer apenas uma ou duas viagens maiores, aquelas viagens mais marcantes”, por isso não irá no próximo ano a muitos dos países onde irão ser publicados os seus livros. “Preciso muito de Lisboa para escrever, e portanto tento estar o mais tempo possível aqui”, explica ao PÚBLICO. “Para o próximo ano, de 2011, para já não tenho nada terminado. Há várias coisas em matéria bruta, logo se verá. O que quero agora é regressar de novo para o meu canto, trabalhar, e fazer muitas coisas que ainda não fiz e quero fazer.

 

 

Isabel Coutinho - Publicado em Ciberescritas

publicado por ardotempo às 08:07 | Comentar | Adicionar
Terça-feira, 21.12.10

“Não sei nada do México e tenho uma mochila.”

Um espelho de obsidiana


Viva México

Autora: Alexandra Lucas Coelho

Editora: Tinta da China

 

 


 


No verão passado, a jornalista Alexandra Lucas Coelho (ALC), do Público, desembarcou na Cidade do México como quem enfrenta uma página em branco. Três semanas depois estava de regresso à Europa, ao Velho Mundo, com material suficiente para desenvolver os textos publicados no jornal e juntá-los em mais um espantoso livro-reportagem, tão bom como os anteriores Oriente Próximo (2007) e Diário Afegão (2009). Mas se nesses livros ALC abordava realidades que conhecia bem (Israel, Palestina, Afeganistão), neste assumiu logo na primeira frase a sua virgindade: “Não sei nada do México e tenho uma mochila.” O “não sei nada” é relativo. Na mochila levava alguns livros orientadores (Octavio Paz, J.M.G. Le Clézio, o catálogo de uma exposição no Museu Britânico, uma antologia de poesia azteca organizada por José Agostinho Baptista), além de muitos contactos preciosos trazidos de Lisboa. Pouca coisa, ainda assim, para quem chega pela primeira vez a um país vinte vezes maior do que Portugal.

 

Em ano de bicentenário da Independência e centenário da Revolução, com o Campeonato do Mundo de futebol por todo o lado (nas conversas e nos ecrãs gigantes), ALC estava ali para saber que país é aquele, gigantesco e contraditório, agressivo e acolhedor, formoso e horrível, complexo e comovente:"O México dá vontade de chorar, um choro de séculos em que não percebemos porque choramos, se somos nós que choramos, se não seremos nós já eles. Nunca, em lugar algum, me pareceu que tudo coexiste, tempos e espaços, cimento e natureza, homens e animais, até aceitarmos que o nosso próprio corpo faz parte daquela amálgama acre, ligeiramente ácida, de pele suada com muito chile."

 

A viagem começa na Cidade do México, o monstro urbano, a cidade que não acaba. Numa escavação arqueológica, evoca-se o momento fundador em que Cortés subjugou Moctezuma, precipitando o declínio azteca: "Este Novo Mundo começa no extermínio, e isso há-de significar qualquer coisa. No tempo indígena significa que o extermínio histórico faz parte do presente." A violência sente-se no ar, é uma espécie de vibração que tolda a paisagem. Mas a beleza também irrompe quando menos se espera.

 

Uma flor, um céu violeta, cactos na berma da estrada, a Casa Azul de Frida Kahlo em Coyoacán (onde ALC se demora em páginas magníficas). E vejam como a Cidade do México mostra o seu rosto escuro, sujo, cheio de cicatrizes, no «bairro bravo» de Tepito, berço de pugilistas famosos e esconderijo de traficantes, contrabandistas e outros marginais. A repórter também visita museus e livrarias, também conversa com escritores, mas o que lhe interessa é a a pulsação frenética das ruas. E as ruas agradecem, oferecendo-lhe histórias daquelas que não vêm ter connosco (é preciso ir ter com elas). Este é um livro de lugares.

 

 

 

 

 

Depois da capital, entramos de chofre no epicentro da violência associada ao narcotráfico (Ciudad Juárez), escancaram-se as portas do inferno na terra, onde a morte anda à solta e o capitalismo exibe a sua face mais odiosa (paisagens de lixo e pobreza extrema, entre as maquiladoras que alimentam a globalização do baixo custo), descemos depois até paragens mais acolhedoras (Oaxaca), cruzamo-nos com os muxes de Juchitán («A mulher está aqui, o homem está ali, e o muxe está no meio») e com os imigrantes clandestinos de vários países da América Central em trânsito para os EUA (à espera em Ixtepec), trepamos as serras para chegar a San Cristobal de las Casas (no coração de Chiapas, encruzilhada do zapatismo) e fechamos o périplo no Yucatán, a península que é mais do que a pontinha do México em que se amontoam, em resorts todos iguais, os turistas da praia e do bilhete-postal.

 

Os lugares são importantes, mas o que nos fica na memória são as pessoas com as quais ALC se cruza e demora, em longas sessões de platica (a conversa à mexicana, sem pressas). As pessoas que procura e as pessoas que encontra por acaso. Os artistas, os padres, os antropólogos, os conhecidos que indicam outros conhecidos que também conhecem não sei quem, o casal que inventou uma «utopia a dois» no meio da natureza deslumbrante e agreste, um taxista chamado Adolfo ou as raparigas da banda Batallones Femininos, que dizem coisas como esta: «Quando te sentes mal, vomitas e sentes-te melhor. O rap é esse vómito.»

 

Alexandra Lucas Coelho sabe contar histórias, encadeá-las, fazer os saltos de uma para outra no momento certo. A escrita é rápida, muito nítida, às vezes lírica, sempre de uma extraordinária atenção aos detalhes e capaz de maravilhosos achados verbais. Por exemplo, certa mulher de 76 anos «parece uma rapariga que simplesmente envelheceu». E vejam este parágrafo: «Como se os deuses quisessem provar que um museu só volta à vida quando eles decidem, a estação das chuvas está a cair no pátio toda de uma vez. A água desaba em lençóis e acendem-se relâmpagos que depois ribombam. Começa a subir um cheiro intenso a terra. As árvores brilham. As copas agitam-se. O céu ruge. Os turistas correm

 

 

 

 

 

Mais à frente, a obsidiana transforma-se em arte poética: “Afiada, corta. Polida, faz de espelho. Nela se miraram imperadores, perscrutando o futuro. Pode servir para tudo e para nada, só a acumular energia séculos fora.” Se tivesse que resumir numa frase a experiência de ler Viva México, diria que esta é uma prosa que não descreve, ilumina. E assim a viagem de quem narra torna-se, quase sem nos darmos conta, a viagem de quem lê. Sorte a nossa.

 

José Mário Silva - Publicado no blog Bibliotecário de Babel

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publicado por ardotempo às 19:55 | Comentar | Adicionar

Cabeça boa

Fotografia

 

 

 

 

 

 

Cezar Almeida - Intervenções fotográficas - Fotografia (São Paulo SP Brasil), 2010

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publicado por ardotempo às 19:36 | Comentar | Adicionar

Coisa estranha

Catamarã Hummer

 

 

 

Muito estranho o desenho do barco - falta tudo: leveza, aerodinâmica e estética no design desta embarcação. No-Streamlined Design. Tosco e primitivo, parece o jipe militar Hummer - basta ver a esquisitice das caixas de ar-condicionado adaptadas de maneira aparentemente improvisada no teto do barco. E que história é essa de POA - Guaíba? Não seria bem mais simpático e preciso se fosse a linha Porto Alegre - Guaíba (é sempre bom pensar nos turistas, nos próprios sul-riograndenses e nos brasileiros em geral)? Afinal, não é Porto Alegre o nome da cidade? Economia de letras no adesivo vinílico de recorte?

 

As duas pequenas e solitárias bóias vermelhas da proa têm alguma finalidade real de segurança para as dezenas de passageiros do barco ou são apenas decorativas? Elas parecem ser de comédia... 120 passageiros, 4 tripulantes e 2 bóias salva-vidas...

 

(N.E: Um bom nome para esse barco seria BOI-TATÁ...)

publicado por ardotempo às 00:48 | Comentar | Ler Comentários (2) | Adicionar
Segunda-feira, 20.12.10

Homens de preto

Caminhando

 

 

 

 

 

Camafunga - Marcelo Freda Soares Homens de preto em Rio Branco - Fotografia - Blog do Camafunga (Rio Branco - Uruguai), 2010

publicado por ardotempo às 17:26 | Comentar | Adicionar

Longe do alarido, fora da loucura

Uma ideia de vida renovada

 

Inscrições até 23 de dezembro

 

Réveillon no Rincão Gaia


Passar a entrada do ano em um local de rara beleza, longe do barulho e da queima de fogos é a oportunidade oferecida pela Fundação Gaia para o próximo réveillon. A proposta de lazer que integra o ser humano com a natureza e com ele mesmo desenvolve-se entre 31 de dezembro e dois de janeiro, no Rincão Gaia, sede rural da Fundação Gaia - Legado Lutzenberger, localizado a 120 km de Porto Alegre junto ao município de Pantano Grande.


Além do ar puro, da natureza revigorante, da água livre de cloro e de flúor, o cardápio conta com alimentos vitalizantes e saudáveis. Para os que quiserem aproveitar um pouco mais o silêncio repousante, o desjejum matinal será servido até às 10h. Já aqueles que gostam de acordar cedo, podem aproveitar as caminhadas e os exercícios matinais que servem como inspiração para o amanhecer de 2011.


Entre as atrações oferecidas está a travessia do Lago das Estrelas e a possibilidade de banhar-se nas suas águas cristalinas. Uma caminhada noturna encanta pelo brilho do céu estrelado e pelas silhuetas de árvores e arbustos, que lembram os traços a nanquim dos primeiros naturalistas quando descreviam a vegetação dos pampas.

As inscrições para o “Réveillon no Rincão Gaia” devem ser confirmadas até o dia 23 de dezembro, quinta-feira. O pagamento pode ser parcelado em três vezes e inclui as atividades, todas as refeições e pernoites. Confira, logo abaixo, ou em www.fgaia.org.br, a programação completa e os valores do investimento.

 


 


Programação Completa


Réveillon no Rincão Gaia

Sexta-feira,  31 de dezembro


09h30min – Recepção dos participantes  e encaminhamento às acomodações.

10h – Confraternização com lanche e apresentação do grupo.

10h30min – Trilha ecológica pelo Rincão Gaia - primeira parte

12h30min – Almoço

15h30min – Trilha ecológica pelo Rincão Gaia - segunda parte

16h30 – Lanche.

17h – Atividades junto ao Lago das Estrelas

20h – Jantar de Réveillon.

21h – Caminhada noturna para  apreciar a paisagem e a Via Láctea


Sábado, 01 de janeiro


07h às 08h – Passeio matinal e exercícios para o bem estar físico e mental.

09h às 10h – Café da manhã

11h – Oficina de sucos vitalizantes

12h30min – Almoço

14h às 16h – Tempo livre

16h30min –  Lanche da tarde

17h – Atividades junto ao Lago das Estrelas

20h – Jantar

21h – Contação de causos


Domingo, 02 de janeiro


07h às 08h – Passeio matinal e exercícios para o bem estar físico e mental.

09h às 10h – Café da manhã

10h30 – Oficina de identificação e reconhecimento de plantas bioativas

12h30min – Almoço

14h às 16h – Tempo livre

16h30min – Lanche da tarde e encerramento das atividades

 


 


Investimento


O investimento total no evento, incluindo atividades, pernoites e todas as refeições fornecidas pelo Rincão, pode ser pago em até três vezes. Uma entrada de R$ 81,00, mais duas parcelas de R$ 94,00 (com cheques para 30 e 60 dias a serem entregues no Rincão Gaia). Para os interessados em pagar à vista, a parcela única é de R$ 268,50.

O valor da entrada ou o total, conforme a escolha, deve ser depositado na conta da Fundação Gaia: Agência 0752 / CC 06.021.719/01 / Banrisul Pantano Grande. Após o depósito, a inscrição deve ser confirmada pelos e-mails sede@fgaia.org.br e comunicação@fgaia.org.br ou pelo telefone  9725 3685. Inscreva-se para garantir sua reserva e um réveillon inesquecível.

 


 

publicado por ardotempo às 14:14 | Comentar | Adicionar

O cão de Favretto

Chão geométrico, olhar arguto

 

 

 

 

 

"Sobre uma plataforma claro-escura, o olhar curioso do cão captura para sempre o gesto de seu dono."

 

Giacomo Favretto - Cão - Fotografia I-Phone (São Paulo SP Brasil), 2010

publicado por ardotempo às 13:26 | Comentar | Adicionar

Uma constelação no Jantar

Na Livraria da Vila Itaim, celebridades em O JANTAR

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Naira Scavone e alguns dos vários amigos que participaram do lançamento de seu livro em São Paulo. (Emmanuel Bassoleil, José Dias, Aires Scavone, Mauro Holanda, Marcos Magaldi, Giacomo Favretto, Martha Dias entre tantos outros que compareceram e compraram o livro sobre gastronomia brasileira).

Estrela entre estrelas e estrelados.

Fotografias de Mario Castello

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publicado por ardotempo às 12:38 | Comentar | Adicionar
Domingo, 19.12.10

A volta

Reencontro com Antonin Artaud


Ferreira Gullar


Nos meus primeiros anos no Rio de Janeiro, tornei-me rato de livraria, não apenas porque gostava de livros, mas também porque, muitas vezes, necessitava encher o dia.


Meu emprego era na "Revista do IAPC", que ficava na rua Alcino Guanabara, quase em frente ao bar Amarelinho. Se nenhum amigo passava em minha sala para bater papo nem me ocorria nenhuma ideia para um poema, começava a me sentir ansioso e saía a andar pelas ruas.


Ia parar em alguma livraria ou numa loja de aves, rua Sete de Setembro, quase esquina com rua Primeiro de Março. Essa loja fedia muito, tantas eram as aves que havia ali, presas em grande gaiolas. Havia de tudo, de canários-da-terra e araras coloridas até aves estranhas, como um nhambu, pernalta e meditativo. Voltei várias vezes só para vê-lo e tomar um caldo de cana gelado num boteco que havia perto.


Mas, afinal, o que me atraía àquela loja de aves? É que algo ali me lembrava "Les Chants de Maldoror" ("Os Cantos de Maldoror"), de Lautréamont, que lera recentemente na Biblioteca Nacional e, por mais que fuçasse, não o achava em nenhuma livraria.


Mas achei uma coisa inesperada: um exemplar da revista "Les Cahiers de la Pléiade" (primavera de 1949), que me deixou maravilhado: é que uma parte dela era dedicada a Antonin Artaud, incluindo um poema inédito e um testemunho de Claude Nerguy, contando a visita que lhe fizera, poucos dias antes de sua morte, numa casa de repouso, em Ivry, para onde tinham-no transferido depois de várias internações em manicômios. Nerguy e sua companheira ficaram chocados ao encontrá-lo tão magro, de camisa suja e olhar alucinado.


Durante aquela visita, Artaud tomou de um martelo e começou a bater violentamente num bloco de madeira, enquanto declamava exasperado um poema incompreensível: "É assim que marco o ritmo de meus versos", berrava.No final da visita, quando Nerguy lhe pediu que autografasse um livro, escreveu: "Para Claude, sob a condição de manter-se só, uma vez que sou inimigo da sexualidade". Quando deixam aquele quarto opressivo, a moça diz: "Em lugar de olhos, ele tem relâmpagos".


Na revista, havia um poema inédito de Artaud em que ele se dizia "um puro espírito" e insultava Deus. Era um poema estranho, impactante e belo. Foi então que decidi datilografá-lo em várias cópias e distribuí-las entre meus amigos. Certo dia, um deles pediu-me a revista emprestada, alegando estar escrevendo um artigo sobre Artaud para um suplemento literário. Hesitei em emprestá-la, mas ele jurou que a devolveria em quatro dias, no máximo. Terminei cedendo. Ele pegou a revista e sumiu.


Passados os quatro dias, tentei localizá-lo em vão. Meses depois, deparo-me com ele na rua. Desculpa-se, alegando que viajara inesperadamente porque sua mãe adoecera, acabava de voltar e ia me procurar para devolver a revista. "Vou buscá-la agora", disse, e sumiu de novo.


"Livro não se empresta" -advertiu minha amiga Lucy Teixeira-, "ainda mais uma preciosidade como essa". Tinha razão. Mesmo assim, ao longo dos anos, não me emendei, continuei a emprestar livros preciosos ou raros, que nunca me devolveram.


E, ao longo desses anos -mais de 50-, de vez em quando, se lia ou ouvia algo sobre Artaud, sofria de novo a perda da revista e maldizia o caráter daquele sujeito que descarada e insensivelmente se apropriara de uma coisa que, para mim, tinha valor inestimável.


Faz pouco, falei disso com Kaira Cabañas - crítica de arte e curadora de importantes mostras internacionais-, que prepara uma exposição sobre Antonin Artaud, a se realizar no Museu Reina Sofía, de Madri.


Ela deseja expor ali alguns exemplares daquela edição pirata que fiz do poema de Artaud, em 1954. Só que aqueles a quem dei os exemplares já se foram e nem mesmo a que guardei comigo existe mais. Nem poderia imaginar que teriam importância no futuro. Em compensação - pasmem vocês -, Kaira Cabañas acaba de me enviar um exemplar daquela revista, de cuja perda jamais me refizera. Ao abrir o pacote e me deparar com ela, de capa amarelo-ocre, pensei estar vivendo um sonho. E, como se sonhasse, procurei nela o texto sobre Artaud, o poema que copiara... estava tudo lá. Maravilha! É, de uns tempos para cá, deu para chover na minha horta.


Ferreira Gullar - Publicado na Folha de São Paulo / UOL

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Editor: ardotempo / AA

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