Domingo, 25.07.10

Objeto escultórico

Utilitário

 

 

 

Wim Delvoye - Crucifixo - Objeto escultórico, fundido em metal (Paris França), 2010

publicado por ardotempo às 22:41 | Comentar | Adicionar

Anjos

Fotografia

 

 

 

Gilberto Perin - Anjos - Fotografia (Pelotas RS Brasil), 2009

publicado por ardotempo às 22:34 | Comentar | Adicionar

Significados mutantes

Símbolos


Luis Fernando Verissimo


Outro dia escrevi sobre a campanha em curso na Africa do Sul pós-apartheid para apagar os vestígios do seu passado colonial, inclusive mudando nomes de lugares públicos que homenageavam colonizadores e seus magnatas e monarcas.


Não vai ser uma tarefa fácil, e não apenas porque mexe com a geografia pessoal de cada um. É difícil imaginar que conseguirão desmontar, ou colocar num lugar menos conspícuo, a estátua da rainha Vitória erguida em frente à Biblioteca Pública de Port Elizabeth.


A baixinha está lá, bem no centrão da cidade, olhando para o infinito com empáfia imperial. Em Port Elizabeth ficamos hospedados no que seria a Zona Sul, ou a Barra no que ela tem de mais Miami. Mas fomos visitar o Centro, onde éramos os únicos brancos nas suas ruas movimentadas, e onde a figura da rainha, apesar de não ser muito grande, domina os arredores.


O desmantelamento de estátuas como as de Lenin e Saddam Hussein significou um rompimento radical com o passado. Desmantelar a estátua da Vitória simbolizaria, talvez, uma emancipação definitiva da sua História para os negros sul-africanos.


Não vai acontecer, mas se acontecesse daria para imaginar a rainha dizendo, quando as picaretas começassem a destruí-la, o que disse quando lhe trouxeram a notícia da rebelião dos boxers na China: "We are not amused." Sua frase mais famosa cuja tradução aproximada seria "Não estamos achando a menor graça".


Esse negócio de corrigir o passado se complica quando o que simbolizava uma coisa passa a simbolizar outra. Por exemplo: Penny Lane, em Liverpool, na Inglaterra. O nome original da rua foi em homenagem a James Penny, um rico proprietário de navios negreiros, com tanto prestígio entre seus pares que foi o escalado para defender o tráfego de escravos no Parlamento, quando a prática começou a ser questionada.


No século 18 mais de um milhão e meio de negros africanos atravessaram o Atlântico como escravos em navios cujo porto de origem era Liverpool. A cidade chegou a dominar 40 por cento do tráfego mundial de escravos e percentagem quase igual do comércio marítimo em geral, e enriqueceu com isso a ponto de rivalizar com Londres.


Tinha toda razão, portanto, em homenagear Mr. Penny e similares. Mas em 2006 o conselho municipal resolveu que os nomes de ruas que lembravam a escravatura deveriam ser substituídos por nomes de abolicionistas, inclusive Penny Lane — que a esta altura era uma das ruas mais famosas do mundo e uma atração turística, graças à música dos Beatles.


A reação foi grande e deixaram que Penny Lane continuasse sendo Penny Lane, sob o azul céu suburbano da letra de Paul McCartney. Afinal, ninguém mais se lembra de James Penny e do comércio de negros africanos, que tanto fizeram por Liverpool. A não ser, talvez, na África.

 

 


Luis Fernando Verissimo

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publicado por ardotempo às 22:28 | Comentar | Adicionar

Lápide de papel

É, jornais também morrem


Ferreira Gullar

A primeira vez que entrei numa redação de jornal foi em São Luís do Maranhão.

 

O jornal era "O Combate", cujo redator-chefe chamava-se Erasmo Dias, famoso por seus editoriais implacáveis. Fui até lá levado pelo poeta Manoel Sobrinho, o primeiro que conheci na vida, quando estava certo de que todos os poetas já haviam morrido, tal como os que lia na "Gramática Expositiva", de Eduardo Carlos Pereira.Erasmo estava sentado numa sala pequena e escura, que mais parecia um buraco, e comia o almoço, ali mesmo, numa marmita, sobre sua mesa de trabalho. Manoel Sobrinho me apresentou a ele e pediu-me que lhe entregasse o soneto que trazia no bolso e que assinalaria minha estreia na literatura universal.

 

De boca cheia, Erasmo garantiu que o publicaria no dia seguinte - e o publicou. Intitulava-se "O Trabalho", se não me engano. Saí um tanto desapontado com o ambiente daquela redação e com o jornalista. As redações que conheci depois causaram-me melhor impressão, mesmo as outras de São Luís.

 

Alguns anos depois, já no Rio, passaria de visitante a empregado. Deixo de lado as redações de "O Cruzeiro" e "Manchete", que eram revistas semanais, para referir-me às do "Diário Carioca", do "Jornal do Brasil", do "Diário de Notícias", porque as redações de jornal eram diferentes das das revistas.

 

Sabem por quê? É que estas funcionavam (e ainda funcionam) de dia, enquanto as dos jornais funcionavam à noite. Pelo menos nos que trabalhei, jornais matutinos que chegavam às bancas de manhã cedo, enquanto os vespertinos eram distribuídos depois do almoço. Mais tarde, viraram todos matutinos, como era inevitável que ocorresse, já que poucas notícias novas traziam em comparação com os concorrentes. Mas, como disse, estes eram feitos basicamente à noite, às vezes entrando pela madrugada. O trabalho para valer iniciava-se por volta das seis da tarde, quando acabava o expediente das repartições públicas e as pessoas se recolhiam às suas casas. A cidade parava e o que acontecia, a partir daí, eram fatos ocasionais, como um crime ou um furo político.Assim que o ambiente dessas redações era excitante e, em alguns casos, divertido, como o da redação do "Diário Carioca", de que já falei em outra ocasião. O espírito brincalhão, que ali imperava, era provavelmente reflexo do bom humor de seu redator-chefe, Pompeu de Souza, que induzia redatores e repórteres a explorar o lado pitoresco ou engraçado das notícias.

 

Desse espírito compartilhava Luiz Paulistano, o chefe de reportagem, que certa vez dedicou uma série de matérias a um gavião que devorava pombos nas torres da Igreja da Candelária, situada perto donde funcionava o jornal. Esse espírito gozador e irreverente afinava comigo e, assim, quando fui para o "Jornal do Brasil", em 1958, ao iniciar-se a sua famosa reforma, levei-o comigo e logo tratei de pô-lo em prática, para desagrado do seu editor-chefe, que queria um jornal sério. Mas outros companheiros, vindos daquela mesma redação brincalhona, terminaram por impô-lo no velho matutino que então renascia: "Moeda de Miss é beijo", "Descoberta a causa da falta de água no Rio: Macacos", "Detectado o vírus da icterícia: é redondo"...

 

Àquela altura, o "Diário Carioca" já fazia água, mal conseguia pagar os salários dos empregados. Levou 30 anos para fechar as portas, mas fechou-as. Jornais custam a morrer. O "Jornal do Brasil", em consequência da reforma que fez dele o mais moderno jornal brasileiro da época, conheceu longo período de prestígio, o que lhe aumentou a tiragem e os anunciantes. No curso das últimas décadas, muitos jornais do Rio - alguns que fizeram história - pararam de circular.

 

O "Jornal do Brasil" entrou em crise já faz tempo, tendo se mantido graças a acordos com políticos e empresários, que dele se valeram para incrementar seus próprios projetos. Ou porque pretendiam apenas se servir dele mais do que salvá-lo, ou porque, quando um jornal começa a morrer, não há quem o salve, a verdade é que sua morte foi recentemente anunciada. Melhor assim do que vê-lo circulando, como vinha, destituído de todas as qualidades que fizeram dele um grande jornal.

 


Ferreira Gullar - publicado na Folha de São Paulo / UOL

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publicado por ardotempo às 22:07 | Comentar | Adicionar

Camisa Brasileira - Uma mostra nacional

Fotografias de Gilberto Perin - 50 imagens 80 cm x 80 cm - Papel Hannemüller 100% algodão

 

 

 

 

 

Veja a exposição

 

http://gilbertoperin.com/?page_id=42&galeria=521

 

publicado por ardotempo às 21:31 | Comentar | Adicionar

Editor: ardotempo / AA

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