Exposição hoje: Camisa Brasileira (Abertura)
Gilberto Perin
A exposição de Gilberto Perin, que se inaugura hoje no Centro Cultural CEEE Erico Verissimo, no Centro Histórico de Porto Alegre é um majestoso ensaio fotográfico sobre um universo pouco conhecido (e muitas vezes oculto) acerca das atividades profissionais e do comportamento dos milhares de trabalhadores do futebol, os que jogam e os que os apoiam. Não é o do espaço dos astros televisivos do super-espetáculo regido pelo rico mercado dos clubes-empresas, dos formidáveis anunciantes, dos empresários negociantes e dos artistas a quem a fortuna sorriu.
É outro espaço, é outro tempo, são grandes as carências, as limitações materiais – mas talvez seja mais genuína a paixão que o esporte, distanciado dos holofotes do negócio-futebol, desperte em torcedores desses times e clubes espalhados pelo Brasil inteiro.
Camisa Brasileira é o título do ensaio fotográfico (com cerca de 3.000 imagens), da mostra (com 50 imagens) e do livro de arte (com cerca de 100 imagens) que será lançado até o final do ano. Livro que contará com a luxuosa colaboração do escritor Aldyr Garcia Schlee.
A mostra revela um espaço de tempo e de atividades em que os aficcionados do esporte, os torcedores, os profissionais de imprensa já não tem mais acesso pelas rígidas regras que se impuseram nas recentes exigências do mercado dirigido pelo estrito controle da imagem. Os bastidores do futebol, os vestiários, a intimidade mais reclusa e secreta desses trabalhadores que dependem dos resultados do dia-a-dia para a própria sobrevivência. É preciso que tudo dê certo, que o indíviduo esteja nas graças da torcida, que os deuses do esporte velem para que ele jogue sempre bem, não se machuque, nunca seja expulso do campo. Que ele, o indivíduo, nunca perca o jogo.
Porém, como os indivíduos são muitos, são vários e diversos os times e os locais das disputas, os deuses e os santos em sincrético conflito não conseguem atender a todos – os adversários e os concorrentes em luta. O jogo sabe à dureza, acontecem todas as probabilidades imaginadas e daí decorrem as glórias e os dramas. Acontecem então o choro, as angústias, o medo, a dor, a exaltação, a alegria, o companheirismo, os conflitos, as vitórias e os fracassos.
É nessa convulsão secreta de ocorrências que a vida é capaz de provocar que o fotógrafo, autorizado e invisível, capturou com rarissima sensibilidade: um conjunto dinâmico e humano de cenas que ninguém mais testemunha há décadas e nos traz à luz numa espécie de depoimento visual, original e único.
Ele atravessou o estado do Rio Grande do Sul, sul do Brasil em longas distâncias, ao longo de quatro meses, sem apoios financeiros ou patrocínios, para acompanhar a equipe do Grêmio Esportivo Brasil, em suas jornadas futebolísticas em pequenos estádios de condições bastante limitadas (ao contrário de sua própria sede, como time de enorme popularidade, de fanática e numerosa torcida, a sede em Pelotas que é grandiosa, confortável e bem equipada).
Produziu assim uma obra de arte de incrível potência na qualidade das imagens colecionadas, que nos revelam um universo inédito, no dias atuais. Mais pungente, mais doloroso, mais humano, mais belo e profundamente original pela sua singularidade.
Este universo do futebol que ninguém mais vê, vale a pena ser descoberto nessa bela exposição, pelo testemunho silencioso dos olhos de um fotógrafo audacioso e de visão estética personalizada.