Domingo, 28.02.10

A poeta entre as árvores

Mariana Ianelli

 

 

 

 

Petrônio Cinque - Retrato de Mariana Ianelli - Fotografia (São Paulo SP Brasil), 2010

publicado por ardotempo às 02:22 | Comentar | Adicionar

Poema de Mariana Ianelli

 
 
Canto do Estrangeiro 
 
 
Mariana Ianelli
 
 
Viria como um rei
Se fosse por vontade tua.
 
Tão remoto no tempo
Da tua vida
Que nem te tocasse.
 
Viria com a alvorada,
Quase miragem debuxada
De uma ave 
Sobrevoando a tua história.
 
Sem te possuir
Nem te pertencer, 
Para o teu prazer um aceno
O mais natural 
Seria o meu sinal no longe,
Isento de paixões
E cheio de glória:
 
Nada semelhante
À paz que sucede as guerras
No regresso de um Ulisses 
Vagabundo,
Exausto de triunfo, como eu
Que penetro o teu mundo
Envolto em sombra
E para sempre me despeço
Ao desfiar a púrpura
Que a espera pôs 
Nas tuas pálpebras.
 
 
 
 
© Mariana Ianelli - Treva Alvorada - Iluminuras, 2010
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Sexta-feira, 26.02.10

Bonecos falam, cantam, agem corporativamente...

Ventríloquo

 

 

 

Veja o vídeo de Tom WaitsBlow Wind Blow

 

 
"...esa formidable mutación fractal de novela-en-cuentos que es Una casa para siempre"
(Rodrigo Fresán, Letras Libres)
 
En el capítulo La fuga en camisa de este libro se incluye un relato con este mismo nombre, La fuga en camisa, que es una leyenda jasídica que al parecer fascinaba a Franz Kafka. La leyenda dice así:
 
      "Se narra que en un poblado jasídico una noche, al final del Shabat, los judíos estaban sentados en una mísera casa. Eran todos del lugar, salvo uno, a quien nadie conocía, hombre particularmente mísero, harapiento, que permanecía acuclillado en un ángulo oscuro.
      La conversación había tratado sobre los más diversos temas. De pronto alguien planteó la pregunta sobre cuál sería el deseo que cada uno habría formulado si hubiese podido satisfacerlo. Uno quería dinero, el otro un yerno, el tercero un nuevo banco de carpintería, y así a lo largo del círculo.
      Después que todos hubieron hablado, quedaba aún el mendigo en su rincón oscuro. De mala gana y vacilando respondió a la pregunta.
      Dijo: “Quisiera ser un rey poderoso y reinar en un vasto país, y hallarme una noche durmiendo en mi palacio y que desde las fronteras irrumpiese el enemigo y que antes del amanecer los caballeros estuviesen frente a mi castillo y que no hubiera resistencia y que yo, despertado por el terror, sin tiempo siquiera para vestirme, hubiese tenido que emprender la fuga en camisa y que, perseguido por montes y valles, por bosques y colinas, sin dormir ni descansar, hubiera llegado sano y salvo hasta este rincón. Eso querría”.
      Los otros se miraron desconcertados. “Y ¿qué hubieras ganado con ese deseo?”, preguntó uno de ellos. “Una camisa”, fue la respuesta."
 
Blow Wind Blow
 
Ya hemos visto antes, hablando de fados, que la música es otro de sus intereses. ¿Podemos decir que tiene una influencia relevante en su escritura?
 
Recuerdo que mientras escribía Una casa para siempre estuve oyendo días y días, obsesiva-mente, una canción de Tom Waits [Blow wind blow] que creía que tenía que ver con un ventrílocuo, porque en el videoclip aparecía uno. Fuera verdad o no, yo quería que el tono de la canción fuera el del libro; la utilicé como fondo permanente para que el libro tuviera unidad...” 
 
Enrique Vila-Matas
Imagem: Boneco marionete de Antônio Carlos Sena

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Quinta-feira, 25.02.10

Um dia alguém olhará para a pintura

Luz

 

 


Luz - Pintura - Óleo sobre tela, 1991

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Quarta-feira, 24.02.10

Artifício

A tristeza é o mundo
 
Caminhos que se bifurcam
levam às perdas e ao acúmulo,
constroem a teia e moem o veneno.
O silêncio é a culpa,
as palavras e as cores, o grito
inútil, sem espelho,
sem cabelos,
a ruína dos dentes, das virtudes,
da elegância.
 
O mundo dos seres é o teatro
dos alaridos,
dos abusos,
desperdícios sem retorno.
O tempo é água.
 
A sede é a nostalgia
da parede verde

na sala de vidro. 

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Terça-feira, 23.02.10

Outros tempos, outra pintura

Pintura

 

 

 

Espelho - Pintura, óleo sobre tela - 1991

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publicado por ardotempo às 23:40 | Comentar | Adicionar
Segunda-feira, 22.02.10

Hully-gully, lembra dele?

Reabilitados
 
Luis Fernando Verissimo
 
 
Os profetas do século XX estão sendo reabilitandos. Pareciam desmoralizados para sempre pelo futuro que não previram, ou previram mal.
 
1984 já passou e o inferno totalitário de Orwell não aconteceu, ou quase aconteceu mas não vingou. O admirável mundo novo de Huxley, é verdade, ainda estaria por vir — está marcado para a metade deste milênio — mas tudo indica que não será como ele imaginou.
 
Nada envelhece tão depressa como os futuros de antigamente. As profecias erradas só serviriam para mostrar o que se temia ontem — a coletivização forçada no caso do antiestalinista Orwell, a automatização da vida e a felicidade artificial na nascente americanização do mundo pelo fordismo e a padronização industrial, no caso de Huxley.
 
Pelas previsões deles se conhecia o passado, não o futuro. Outros especuladores que pareciam visionários não sobreviveram a seus a 15 minutos de notoriedade.
 
Marshall McLuhan, guru de uma nova ciência da comunicação, desapareceu sem deixar vestígios ou seguidores. Herbert Marcuse, supremo sacerdote da contracultura, teve o mesmo destino do hully-gully, lembra dele? Não foi um bom século para profetas.
 
Ou foi? Estão descobrindo que eles não erraram, apenas não foram adequadamente entendidos. A internet recuperou a idéia da Aldeia Global de McLuhan, que só estava esperando a invenção do chip de silício para se tornar realidade.
 
Quando pensavam que Marcuse apenas dava uma bênção filosófica para mais sexo e roquenrol, ele estava falando do mundo unidimensional e das formas veladas de doutrinação ideológica que nos esperavam com o pensamento econômico único, e isto ainda na década de 70.
 
O "Big Brother" pode não controlar nossas vidas totalmente como Orwell previu em "1984" mas só porque não quer, pois hoje tem todos os meios eletrônicos para isto, e nenhum modo de ser resistido.
 
E a padronização da vida e a felicidade em pílulas de Huxley não estão muito longe da monocultura americana e da química onipotente do noticiário atual.
 
Os profetas podem ter errado nos seus roteiros e nos seus exageros mas acertaram no essencial. E espera-se para qualquer momento a volta, também reabilitado, do hully-gully.
 
Felicidade

O que é felicidade?

Felicidade é quando o último canapé da bandeja sobra para você.

É quando você sacode a lata — e ainda tem cerveja!

É encontrar vaga no estacionamento depois de uma volta só.

É o dentista telefonar para desmarcar a hora.

E, ao contrário do que você sempre pensou, felicidade não é viver uma grande paixão, é ter alguém para coçar as suas costas.
 

Luis Fernando Verissimo

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A memória está pintada

As muitas caras de Da Vinci

 
Ferreira Gullar
 
Leonardo daVinci, artista genial e inventor visionário de armas e máquinas de guerra, atravessou os séculos envolto em admiração e mistério, em parte por sua genialidade e em parte por suas idiossincrasias. A última das lendas surgidas em torno dele é a recentíssima hipótese de que a sua obra-prima, a "Mona Lisa", seja um autorretrato.
 
Tudo é possível, se se leva em conta que, no final do século 15, em Florença, quando a Inquisição queimava na fogueira os suspeitos de terem parte com o Diabo, ele, Da Vinci, dissecava cadáveres para descobrir como funcionava o organismo humano. Seccionava parte por parte, órgão por órgão e, quando começavam a apodrecer, metia-os em sacos e, na calada da noite, os jogava no rio que cortava a cidade. Quase ninguém sabia, é claro, mas com o tempo os fatos se transformaram em histórias fantásticas e suspeitas maldosas.
 
Se sua curiosidade não tinha limites, tampouco os tinham sua audácia experimental e sua inventividade: intuiu novas possibilidades na arte de pintar, que os recursos técnicos da época tornavam inviáveis. Por isso, decidiu inovar na execução do afresco "Batalha de Anghiari", pintado no Palazzo Vecchio, de Florença, que se apagou inteiramente. Nem por isso foi menos audacioso ao pintar "A Ceia", no refeitório de Santa Maria della Grazie, em Milão, cujas cores começaram a sumir antes que terminasse de pintá-la. Essa obra intrigava a todos pela gesticulação enigmática dos personagens representados.
 
Como se não bastasse, o best-seller "Código Da Vinci" atribui ao pintor secretas intenções, como a de pôr no rosto de são João Batista, que ali aparece ao lado de Jesus, feições femininas que seriam as de Maria Madalena, dada como mulher do Cristo, fato que a igreja teria ocultado durante séculos.
 
Não obstante todo o mistério que envolve a figura de Da Vinci, até certo ponto inventado por outros, mas também estimulado por ele, a nova lenda acerca da "Mona Lisa" não parece convincente, em face das informações pertinentes acerca do quadro e de Lisa, a retratada, que tinha 15 anos ao casar-se com Bartolomeo del Giocondo, viúvo, 19 anos mais velho que ela. Foi quando lhe morreu a filhinha de quatro anos que o marido, para consolá-la, pediu a Da Vinci que lhe fizesse o retrato. Este, que se negara a retratar os nobres da época, não apenas aceitou o convite como fez desse retrato uma obra-prima. Só que teria dado ao casal uma cópia do quadro, não o original, que guardou consigo.
 
Pois bem, apesar desses dados históricos, uma equipe do Comitê Nacional Italiano para a Herança Cultural pediu a autoridades francesas para abrir o túmulo do artista, em Amboise, na França. Segundo o antropólogo Giorgio Gruppioni, pretendem encontrar o crânio de Da Vinci para reconstituir-lhe o rosto e compará-lo ao de "Mona Lisa". O difícil, quase impossível, a meu ver, é encontrar o crânio do pintor.
 
Pelo seguinte. Da Vinci morreu na França, para onde se mudara a convite de rei Francisco 1º, levando consigo algumas obras-primas, inclusive a "Mona Lisa". Foi sepultado a 12 de agosto de 1519, no claustro da igreja Saint-Florentin d'Amboise, demolida em 1802, por ordem de um tal Roger Ducoc, nomeado senador por Napoleão. Mandou derreter os esquifes de chumbo, para vender o metal, e jogar fora as ossadas. Acredita-se que o jardineiro de Ducoc, por iniciativa própria, tenha sepultado os restos de Leonardo num canto do castelo e que, em 1874, foram transferidos para uma pequena capela do castelo de Amboise. Mas nenhuma certeza há de que os ossos ali sepultados sejam dele. O exame de DNA acabará com a dúvida.
 
Tal iniciativa, partindo de um órgão oficial, causa surpresa e só se explica pela necessidade de alimentar a lenda que envolve esse homem incomum. Todos conhecem um suposto autorretrato de Da Vinci, que se encontra a três por dois estampado em livros e revistas de arte, e que não é, seguramente, um autorretrato dele. Basta compará-lo com o "Retrato de Leonardo", pintado em 1510, por Francesco Melzi, que, ao contrário daquele, mostra-nos um homem de feições sensíveis, olhar inteligente e iluminado. Nada tem que nos lembre a "Mona Lisa", muito menos o sorriso.
 
Há ainda, no afresco "Escola de Atenas", de Rafael, a figura de Platão, que teria as feições de Da Vinci. Francesco, seu discípulo, viveu com ele desde os 15 anos e herdou todas as obras científicas e artísticas do mestre, inclusive a "Mona Lisa", que cedeu a Francisco 1º. Dizem que era seu amante. Não há por que duvidar do retrato pintado por ele.
 
 
 
 
 
Ferreira Gullar - Publicado na Folha de São Paulo / UOL
Imagem: "Retrato de Leonardo", por Francesco Melzi
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Domingo, 21.02.10

Os pássaros

Pauta

 

 

 

Gilberto Perin - Sem Título - Fotografia (Pelotas RS Brasil), 2010

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O que fazemos com o tempo?

El pensamiento de Albert Camus

 

Carlos Fuentes
  
Los hombres y mujeres de mi generación leímos ávidamente a dos autores franceses: Albert Camus y Jean-Paul Sartre. Contemporáneos entre sí, representaban para muchos de nosotros una modernidad conflictiva. Acaso Camus era mejor escritor que Sartre, aunque éste nos diese obras como La náusea, Las palabras, los ensayos críticos de Situaciones y el gran estudio sobre Jean Genet, al lado de obras dramáticas que André Malraux consideraba “Teatro de Bulevar” y de libros filosóficos densos.
 
Camus, en cambio, escribió novelas de estilo diáfano (El extranjero, La peste, La caída), obras de teatro discutibles y ensayos extraordinarios (El mito de Sísifo, El hombre rebelde) que lo llevaron a separarse de Sartre, pues mientras éste denunció la invasión de Hungría y al estalinismo, propuso un marxismo “particular” adaptado a la realidad de cada país. Camus, en cambio, desarrolló un pensamiento opuesto a toda “teología totalitaria”, consciente del absurdo humano y de las formas de la rebelión histórica, conduciendo a una reflexión sobre el terrorismo, de gran actualidad.
 
Sartre y Camus: hermanos en la posguerra, enemigos en la guerra fría. Subrayo que Camus, ante todo, fue un periodista totalmente inmerso en la reconstrucción de los órganos de opinión pública franceses después de la guerra y de la ocupación nazi. Como director del diario Combat (digno de su nombre) Camus se negó a admitir que la prensa fuese refugio de “literatos reprimidos, filósofos amargados o profesores arrepentidos”. El periodismo no era exilio: era reino, y en el reino de la prensa, lo efímero es lo que definía la condición humana.
 
Los peligros del periodismo, según Camus, eran someterse al poder del dinero, halagar, vulgarizar, mutilar la verdad con pretextos ideológicos: el desprecio al lector.
 
En cambio, una prensa libre, inteligente y creativa respeta a las personas a las que se dirige y cuando lo hace, es el oficio más hermoso. Le irritaba que alguien pudiese ser periodista y despreciar el oficio. Claro que ser periodista significa hacerse de enemigos. Mas ¿no es esto inevitable en una sociedad de “la malignidad, la denigración y la mentira sistemáticas”?
 
Camus estaba muy cerca de otro premio Nobel de Literatura, François Mauriac, cuando éste declaraba que el periodismo “es el único género al que le conviene la expresión de literatura comprometida”. Y añadía Mauriac que él no separaba el valor literario del valor del compromiso. Para Camus, periodismo era cultura y lo que degrada a la cultura conduce a la servidumbre. Señalo lo anterior para llegar al tema que obsesionó a Camus y que hoy está en el centro de la preocupación política nacional e internacional: el terror.
 
Aplicado a la política a partir de la Revolución Francesa entre 1793 y 1794, el terror fue visto por Camus como un correlato de la historia. El hombre no nació para la historia, explicó Albert Camus, pero la historia nos impone deberes a los que no podemos negarnos. Uno de ellos es oponernos a quienes creen que poseen, absolutamente, la razón — los dogmáticos — y tratan de imponerla en nombre de la verdad. Pero la verdad, se pregunta Camus, ¿no es “misteriosa, huidiza y debe ser siempre reconquistada”?
 
El pensamiento totalitario dice que no. La verdad ya existe y yoIglesia, Estado, empresa, partidoya la poseo. ¿Y quienes la sufren? Camus toma partido no al servicio de quienes hacen la historia, sino a favor de quienes la sufren.
 
El terrorismo es una forma extrema de dar la muerte y justificarla, conduciendo a las bodas sangrientas del terror y la represión. En nombre de la razón, el terrorismo abdica de la razón, pone la fuerza al servicio del mal hecho a los demás y representa una energía desviada y cruel. El terrorismo mutila a quien comete el acto y también al que lo sufre. Y Camus no obvia la verdad. Puede haber un terrorismo individual, pero también un terrorismo ideológico y religioso y un terrorismo de Estado. Que cada cual se ponga el saco que le convenga.
 
Hay una tensión permanente, nos advierte Camus, entre lo inevitable y lo injustificable. Es posible que el fin justifique los medios, ¿pero quién justifica el fin mismo? Esta gran cuestión política no la resuelve Camus. La plantea. Lo hace, claro, a partir de su condición de escritor-periodista, ensayista, novelista, autor dramático. Capturado —como todos— entre la voluntad de ser moral y todo lo que le impide serlo.
 
Entre las ganas de ser dichoso y la imposibilidad de acceder a una dicha plena. Camus recibió el Premio Nobel de Literatura en 1957, a los 44 años, como si Estocolmo previese, apresurada, la breve vida del escritor. Porque su distancia de lo que entonces pasaba por ortodoxia (de derecha o de izquierda) le valió toda suerte de epítetos. Boy scout, moral de la Cruz Roja, escritor edificante, santo sin Dios, experto en coartadas, traficante de amigo, ahora enemigo, Sartre: “Camus escribe demasiado bien”. Camus respondería que no se gana la justicia condenando a varias generaciones a la injusticia. Que existen la belleza y los humillados: ¿cómo serle fiel a ambos? Que más vale no agradar que doblegarse para quedar bien. Que la fama es un entierro prematuro porque niega el futuro y el derecho que todos tenemos de cambiar. Que no importa el tiempo que nos conceda la vida, sino cómo empleamos el tiempo. Y que no nos podemos separar de la historia, pero la podemos enfrentar críticamente. Muy discutida fue la posición de Camus respecto a su patria natal, Argelia. El autor se ganó severos ataques por recordar que Argelia no era sólo musulmana, que no debía ceder ante los fanáticos y que al cabo era necesario vivir juntos y en paz o morir juntos y en guerra, acentuando la soledad de argelinos y franceses, así como la desgracia de ambos.
 
Superada por la historia tal disyuntiva, cabría hoy hacer la misma pregunta a israelíes y palestinos, pues la oportunidad de convivir, entender y abandonar el odio y la violencia son opciones constantes de la historia y la historia, nos recordó Albert Camus, es la tensión entre lo inevitable y lo insustituible.
 
 
Carlos Fuentes - Publicado em Babelia / El País 
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A caixa de conexões telefônicas

Face

 

 

 

 

Itaci Batista - Pintura - Fotografia (São Paulo SP Brasil), 2009 

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Sem palavras

Literatura 

 

 

 

Esperávamos por

ela na esplanada.

sábados à tarde,

com quem espera 

aquele amigo mais velho,

tão ingrato, que um dia 

deixou de nos falar.

 

 

 

© José Mário Silva - Luz Indecisa, Edições Oceanos / LeYa, 2009

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A carta

Todos têm o direito

 

 

 

 

 

 (Encontrado amassado numa lixeira)

 

 

 

 

© Ignácio de Loyola Brandão - CARTAS, Iluminuras, 2004

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Sexta-feira, 19.02.10

Mar sem fim

A Terra é verde

 


Mario Castello - Mar - Fotografia (Litoral de Santa Catarina SC Brasil), 2010

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Mito

 Crônica

 

 

 

 

Gilberto Perin - Na estrada - Fotografia (Fronteira Sul RS Brasil), 2010

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Iluminar a vida

Aldyr Schlee - Os limites do impossível
 
Luis Antonio de Assis Brasil
 
As provas são inequívocas e devastadoras: Carlos Gardel nasceu em Tacuarembó, no Uruguai, resultado da relação adulterina de um coronel estancieiro. El Morocho silenciava acerca desse fato, o que é compreensível. Mais tarde surgiu a história de que teria nascido em Toulouse, na França. História forte, mas que não impediu Aldyr Garcia Schlee de dar como certo o polêmico nascimento no vizinho país e de escrever um dos mais curiosos e bons livros de nossa ficção literária: Os Limites do Impossível Contos Gardelianos, saído em 2009.
 
Schlee é escritor de longa estrada, com vários livros de contos e inúmeros prêmios nacionais, para além da distinção de haver desenhado o uniforme da seleção canarinho. Esse autor de tão variadas habilidades – também é professor universitário –, transita entre duas pátrias: o Brasil e o Uruguai. Publica no país vizinho e aqui mesmo. Possui tantos amigos uruguaios como brasileiros.
 
Tudo isso pode explicar que se tenha dedicado às raízes orientales de Gardel. A ideia de seu livro é de luxo: são 12 contos em que as protagonistas são 12 mulheres, reais ou imaginárias, que têm algo a ver com o nascimento do menino Carlos. E nessa tarefa Schlee saiu-se muitíssimo bem, compondo um quadro magnífico do Uruguai campestre, com suas contrastantes modalidades existenciais.
 
Clara, Felícia, Juana, Cisa, Blanca, Rosaura, La Niña, Manuela, Mulata-Flor, Cosntantina, Berta, La Madorelli... São mulheres das mais diversas condições e psicologias. Gardel é o Leitmotiv, mas mesmo que não o fosse, os contos sustentam-se em sua literalidade intrínseca, com suas frases de encanto e emoção: “Ela foi só e sempre apenas uma pobre moça desgraçada e desventurada que nossos bisavós conheceram de longe em San Fructuoso como La Niña; uma pobre moça morrendo de padecimentos e atribulações, uma pobre moça que morria de sentimento; aquela pobre moça morrendo-se de mágoa, morrendo de dor...”.
 
Schlee pratica o conto com estrutura que se desenvolve no tempo, e nos quais as personagens sempre terminam diferentes do que começaram. Tem-se a sensação, ao chegar à última linha, de que se leu um romance inteiro, um belo romance, capaz despertar em nós as maiores emoções que a autêntica literatura pode produzir. Estamos de parabéns e agradecidos a Schlee por nos iluminar a vida com esse livro.
 
 
Luis Antonio de Assis Brasil - Publicado no jornal Zero Hora
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Domingo, 14.02.10

Desenho inédito de Siron Franco

Desenho de Siron Franco

 

 

 

 

Siron Franco - Sem Título - Desenho (Aparecida de Goiânia GO Brasil), 2009

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A curiosidade supera o medo

La playa inglesa
 
Enrique Vila-Matas 
  
Salgo al balcón de mi cuarto de hotel en Bournemouth, al sur de Inglaterra. Desde aquí puedo ver el lugar donde un día se levantara la casa de las dos chimeneas de Skerryvore en la que R. L. Stevenson, en estado febril, escribió en 1885 El extraño caso del doctor Jekyll y Mr. Hyde. Sesenta años después de la publicación del libro, volvería literalmente el Mal a aquel lugar cuando una bomba del ejército nazi arrasó por completo Skerryvore. Fue la extraña forma que eligió míster Hyde para regresar a la casa de las dos chimeneas.
 
Se ha hecho ya de noche y no puedo quitarme de la cabeza que hace un rato, en este mismo balcón, cuando atardecía, he visto que la mano de mi vecino era delgada, fibrosa y rugosa, de una palidez verdosa, peluda. Por decirlo de una forma más alarmante, era una mano parecida a la de Hyde.
 
Sospecho que esa mano rugosa, vista en la luz del crepúsculo, es de las que no se olvidan. Y recuerdo que, a causa de ella, a punto he estado de establecer con el vecino un diálogo al estilo de Borges y yo, ese relato tan representativo de la herencia de la casa de Skerryvore.
 
Hace sólo unos minutos, estaba pensando en el vuelco fantástico que le da Borges a esa singular autobiografía de artista cuando me ha extasiado la infinita sucesión de farolas iluminadas del Bournemouth nocturno. Y, en plena ensoñación, he recordado aquel momento de la novela de Stevenson en el que Utterson comienza a darle vueltas a la historia que le ha explicado Enfield y se acuerda de que éste le ha contado que, un día, volviendo a casa desde un lugar casi en el fin del mundo, hacia las tres de una madrugada de invierno, cruzó en diagonal una desierta plaza de Londres, donde literalmente no se veían más que farolas, lo que le aterró, aunque no por eso dejó de seguir caminando y cruzando nuevas plazas solitarias mientras todo el mundo dormía.
 
Olas encrespadas en la playa. El mar me ayuda a pensar en aquella secuencia de la novela de Stevenson en la que empieza a crecer, a resonar, a ampliarse en la mente de Utterson la historia que le ha contado Mr. Enfield y ésta se va desarrollando y amplificando en su cabeza como una sucesión infinita de pasos, y Utterson ve entonces - Stevenson crea imágenes que parecen presentir la invención del cinematógrafo - la figura de un hombre andando deprisa, y poco después, la de una niña que sale corriendo de casa del doctor, y a continuación, el encuentro de las dos figuras, y aquel juggernaut humano -así describe Stevenson la conducta que se ha posesionado de Mr. Hyde-, aquella fuerza del mal irrefrenable que en su avance aplasta o destruye todo lo que se interfiere en su camino, atropellando a la criatura y siguiendo su trayecto sin hacer caso de los gritos que rompen el silencio de la ciudad dormida.
 
Busco una forma de ver El extraño caso del doctor Jekyll y Mr. Hyde desde un ángulo ligeramente distinto al de anteriores lecturas y veo la escena del célebre cambio de rostro del doctor como un símil del recurrente (recurrente, sobre todo para la Guadaña, que monologa desde siempre con el tema) salto de la vida a la tumba. En realidad, Hyde es la Muerte. Y quiero imaginar que Nabokov se refirió también a ese salto, al traspaso eterno, cuando les pidió a sus alumnos de Cornell que no perdieran de vista los últimos momentos de la vida de R. L. Stevenson, su final trágico en Samoa.
 
"Los libros tienen su propio destino", les dijo Nabokov. Y es cierto, los libros han tenido siempre su propia suerte, y a veces ésta consiste en llevar a la vida real lo que antes narró el autor. Pudo ser perfectamente el caso de R. L. Stevenson y su Dr. Jekyll. La escena tuvo lugar en Upolu, Samoa, 1894. El escritor, al que los nativos llamaban Tusitala, bajó a la bodega de su casa a buscar una botella de su borgoña favorito, la descorchó en la cocina, y de repente llamó a gritos a su mujer. "¿Qué me pasa, qué es esto tan extraño, algo me ha cambiado la cara?". Un ataque cerebral. Cayó al suelo. "Riverrun", dijo Tusitala. Y murió dos horas después.
 
Cómo me ha cambiado la cara! Hay una extraña relación temática entre este último episodio de la vida de Stevenson y las fatales transformaciones de su maravilloso libro", comentó Nabokov a sus alumnos de Cornell. El extraño caso del doctor Jekyll y Mr. Hyde se adentra en la más fatal de las transformaciones, la que convierte a un ser vivo en un muerto.
 
El siempre enigmático experimento o tránsito está contado con especial meticulosidad por el propio Jekyll, que en la novela lo deja casi como legado para la humanidad: "Pero la tentación de llevar a cabo un experimento tan singular venció, al fin, todos mis temores". Una frase que parece reaparecer al final del más escueto, elegante y célebre desenlace de los cuentos de Borges: "La curiosidad pudo más que el miedo y no cerré los ojos".
 
La curiosidad lo mueve todo, hasta la lista o relación exhaustiva de lo que jamás se mueve, aunque de esta lista suele decirse que la escribió un muerto. ¿Por qué volvió míster Hyde a Bournemouth? Los libros tienen su propio destino y acaban queriendo ser visitados por las criaturas reales que inventan. Éste sería el caso de Hyde y de esa bomba hitleriana que arrasó el lugar donde fue engendrado. La curiosidad lo mueve todo, muy especialmente si el deseo de vivir es intenso. Porque entonces nunca llegamos a pensar que ya sabemos lo suficiente acerca del mundo y porque entonces cada respuesta nos lleva a otra pregunta. Por eso se suele decir que la curiosidad es lo que nos mantiene vivos. Y muertos. Porque uno de los aspectos notables del libro de Stevenson es que no resuelve la contradicción. Habla tanto de la muerte como de la vida, y también de la muerte en vida. Y habla para ver por qué (que diría José-Miguel Ullán). Inventa un procedimiento, un tipo de ficción, que le permite mantener la tensión. La forma es siempre forma de una relación y Stevenson, que abrió caminos a los mundos de Pessoa y de Borges, profundiza en un tipo de escritura, un estilo y una construcción, que le permite mantener unidos los polos más extremos con sus redes antagónicas y opuestas.
 
"Otros vendrán después, otros que me sobrepasarán en conocimientos, y me atrevo a predecir que al fin el hombre será tenido y reconocido como una reunión de personalidades diversas, discrepantes e independientes", se lee hacia el final de la novela. Del mismo modo que presintió el cine, Stevenson previó aquí en Bournemouth el síndrome moderno, el síndrome Pessoa, que ha convertido a tantos individuos - paradójicamente a los más singulares - en puntos de encuentro de diversas personalidades.
 
Yo mismo, sin ir más lejos, vivo fraccionado en varios personajes discrepantes e independientes. De ahí, ciertos sobresaltos con manos verdosas. Y de ahí también cierta inquietud, porque, por muy calmo que esté ahora todo, la noche parece doble. Aunque siempre tranquiliza ver que sigue ahí metafísica, perfectamente iluminada y única, la playa inglesa.
 
Enrique Vila-Matas - Publicado em Babelia / El País
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Sábado, 13.02.10

Tempo do chumbo

Nem leis, nem justiça
 
José Saramago
 
Em Portugal, na aldeia medieval de Monsaraz, há um fresco alegórico dos finais do século XV que representa o Bom Juiz e o Mau Juiz, o primeiro com uma expressão grave e digna no rosto e segurando na mão a recta vara da justiça, o segundo com duas caras e a vara da justiça quebrada. Por não se sabe que razões, estas pinturas estiveram escondidas por um tabique de tijolos durante séculos e só em 1958 puderam ver a luz do dia e ser apreciadas pelos amantes da arte e da justiça. Da justiça, digo bem, porque a lição cívica que essas antigas figuras nos transmitem é clara e ilustrativa. Há juízes bons e justos a quem se agradece que existam, há outros que, proclamando-se a si mesmos justos, de bons pouco têm, e, finalmente, não são só injustos como, por outras palavras, à luz dos mais simples critérios éticos, não são boa gente. Nunca houve uma idade de ouro para a justiça.
 
Hoje, nem ouro, nem prata, vivemos no tempo do chumbo. Que o diga o juiz Baltasar Garzón que, vítima do despeito de alguns dos seus pares demasiado complacentes com o fascismo sobrevivo ao mando da Falange Espanhola e dos seus apaniguados, vive sob a ameaça de uma inabilitação de entre doze e dezasseis anos que liquidaria definitivamente a sua carreira de magistrado. O mesmo Baltasar Garzón que, não sendo desportista de elite, não sendo ciclista nem jogador de futebol ou tenista, tornou universalmente conhecido e respeitado o nome de Espanha. O mesmo Baltasar Garzón que fez nascer na consciência dos espanhóis a necessidade de uma Lei da Memória Histórica e que, ao abrigo dela, pretendeu investigar não só os crimes do franquismo como os de outras partes do conflito. O mesmo corajoso e honesto Baltasar Garzón que se atreveu a processar Augusto Pinochet, dando à justiça de países como Argentina e Chile um exemplo de dignidade que logo veio a ser seguido.
 
Invoca-se aqui a Lei da Amnistia para justificar a perseguição a Baltasar Garzón, mas, em minha opinião de cidadão comum, a Lei da Amnistia foi uma maneira hipócrita de tentar virar a página, equiparando as vítimas aos seus verdugos, em nome de um igualmente hipócrita perdão geral. Mas a página, ao contrário do que pensam os inimigos de Baltasar Garzón, não se deixará virar.
 
 
Faltando Baltasar Garzón, supondo que se chegará a esse ponto, será a consciência da parte mais sã da sociedade espanhola que exigirá a revogação da Lei da Amnistia e o prosseguimento das investigações que permitirão pôr a verdade no lugar onde ela tem faltado. Não com leis que são viciosamente desprezadas e mal interpretadas, não com uma justiça que é ofendida todos os dias. O destino do juiz Baltasar Garzón é nas mãos do povo espanhol que está, não dos maus juízes que um anónimo pintor português retratou no século XV.
 

©José Saramago - Publicado no blog Caderno de Saramago 

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Retrato do escritor

 Aldyr Garcia Schlee, autor de Os Limites do Impossível - Contos Gardelianos (2009) 

 

 

 

 

Gilberto Perin - Retrato do escritor Aldyr Garcia Schlee - Fotografia (Pelotas RS Brasil) 2009

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Para literatura de verdade, publicada em 2009

Inscrições Abertas

 

Estão abertas as inscrições para a oitava edição do Prémio Telecom de Literatura em Língua Portuguesa, que contempla romance, conto, poesia, crónica, dramaturgia e autobiografia, escritos em língua portuguesa e publicados no Brasil em 2009. Os autores ou editores já podem inscrever os seus livros no site www.premioportugaltelecom.com.br até dia 7 de Março de 2010. Os livros com primeira edição fora do Brasil devem ter sido editados no país de origem entre o dia 1 de Janeiro de 2006 e 31 de Dezembro de 2009.

 

 

O Prémio Portugal Telecom 2010 conta com uma curadoria formada por Benjamin Abdala Jr., Leyla Perrone-Moisés e Manuel da Costa Pinto, com coordenação da consultora literária da Portugal Telecom, Selma Caetano.
 
Publicado por Isabel Coutinho, no blog Ciberescritas

 

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Sexta-feira, 12.02.10

Previsão do tempo

Fotografia

 

 

 

Gilberto Perin - Ambiente - Fotografia (Paris França), 2009

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Muro da Liberdade

Ry Cooder

 

 

 

 

O músico, guitarrista, produtor e compositor Ry Cooder, junto ao muro erguido na fronteira entre os Estados Unidos e o México, que regula a entrada de chicanos, mexicanos, cucarachas, hispânicos, latinos, centro-americanos, sul-americanos e brasileiros na terra prometida da liberdade, do consumo ilimitado e das oportunidades infinitas.

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Segunda-feira, 08.02.10

O lugar comum

Narrando contra la muerte
 
Ariel Dorfman 
 
Fue a fines de diciembre de 1973, en la sala de redacción del diario La Opinión, que me encontré por primera vez con Tomás Eloy Martínez.
 
Eran tiempos nefastos. Yo acababa de llegar de un Chile que le había prometido al mundo la revolución de Allende y nos había dado, en cambio, la asonada de Pinochet, y creo que se me notaba las muchas y recientes muertes, y Tomás lo entendió enseguida y me ofreció también de inmediato su cariño.
 
"Cualquier cosa que necesites", me dijo, y hallé en él una generosidad que nunca cesó hasta el día de su propia muerte. Me armaba reuniones en su casa con corresponsales holandeses y curas revolucionarios y montoneros esquivos y siempre bien regadas con vino y pasta y carnes.
 
Aunque era la urgencia del momento político lo que nos unía en esas conspiraciones -llegaban noticias todos los días de más represión en Chile y cada día también era más inquietante la evolución de una Argentina en que Perón viraba drásticamente hacia la derecha- se nos fue infiltrando la literatura en las conversaciones, en especial la extraña relación que guarda la ficción con la realidad en nuestra América, la fluida tensión entre lo testimonial/periodístico y la forma en que la imaginación está obligada a tejer un escenario paralelo. Me dio a leer en manuscrito La Pasión según Trelew, y me pareció una novela más que reportaje, y él me confidenció que la gran novela argentina tendría que construirse en torno al enigma de Perón. Él tenía un proyecto sobre el General y, claro, Evita, y ahí supe de las memorias que Perón le había dictado a Tomás en Madrid, y como tantas veces cuando contaba algo (y vaya que era narrador empedernido) no sabía yo si era cierto o no, si lo estaba inventando o si en efecto había sucedido.
 
Lo que no era un invento, en cambio, era el peligro que se cernía sobre la Argentina en que tanto Tomás como yo habíamos nacido. Yo estaba desesperado por irme, veía la catástrofe que estaba por caer sobre Tomás y sus congéneres.
 
"Tienes que partir lo antes posible", le dije una noche, antes de que yo mismo huyera. "Los van a matar a todos". Tomás me aseguró que estaba equivocado: Argentina no era como Chile.
 
No lo volvería a ver hasta 1978 cuando visité Caracas, donde él había buscado, finalmente, refugio. Y ahí conversamos acerca de la maldición eterna que parecía rondar a nuestro continente y cómo nuestra literatura tenía que acompañar, desde sus preguntas y dudas y feroz ensueño, cualquier proceso de liberación. Si no podíamos evitar la violencia sobrecogedora, era posible, por lo menos, exorcizarla por medio de palabras que no mintieran, podíamos traer a la literatura a los grandes excluidos de la historia a través de sus mitos.
 
Con eso me quiero quedar.
 
Con su empecinada exigencia de doblegar la realidad y construir delirios y engañar el destino precario, el suyo y el de su país y el de su continente. Contra y adentro del lugar común que es la muerte. Su certeza de que si algo no se cuenta no perdura, no vale la pena que exista.
 
 
 
 

Ariel Dorfman - Publicado em Babelia - El País

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Domingo, 07.02.10

Memória ao Poeta

Carta tardia a um poeta arredio
 
Ferreira Gullar
 
Poeta Carlos Drummond de Andrade, desculpe-me se venho lhe perturbar o sossego, dizendo-lhe coisas que, para você, a esta altura, não têm qualquer importância. Estarei sendo mesmo impertinente, ao manifestar-lhe, deste modo, minha solidariedade em face do vandalismo com que têm agredido sua estátua, ali, no calçadão da avenida Atlântica. Saquear a estátua de um poeta é coisa de gente demasiado ignorante.
 
Falo de impertinência minha porque, pelo que sei de você, estou certo de que não aprovaria essa ideia de materializá-lo em bronze como se estivesse sentado num dos bancos da praia a observar os banhistas e as banhistas sob o sol escaldante. Não que fosse indiferente à beleza das moças exibindo-se nos maiôs sumários que usam. Mas uma coisa é um poeta de carne e osso e outra, muito diferente, um poeta de bronze.
 
Tenho certeza de que jamais imaginou, ao passear por esse mesmo calçadão, que um dia estaria ali, metalicamente moldado, exposto ao sol e à chuva, à contemplação dos turistas como à solidão das noites intermináveis, quando o bairro inteiro dorme e mal se ouve, distante, o quebrar das ondas na areia.
 
Já que você, agora, é de bronze, e não me ouve, aproveito para dizer-lhe o que não disse nas raríssimas vezes em que nos encontramos e nas poucas, também, em que falamos, porque a verdade é que, se não sou tão arredio quanto você, sempre me foi difícil procurar as pessoas, muito mais ainda, poetas célebres, como é o seu caso. Já bastava ser célebre para me assustar; pior ainda se, além de célebre, era esquivo como você.
 
Vi-o, pela primeira vez, ao sair do elevador do "Correio da Manhã", na avenida Gomes Freire, aonde fui com Oliveira Bastos e Décio Victório, certa tarde, em que decidimos escandalizar as pessoas. Meus dois companheiros tinham as respectivas gravatas presas à cintura, enquanto eu trajava calças, paletó e gravata mas, em lugar de sapatos, calçava tamancos. Você não deve ter se dado conta da provocação, pois mal nos olhou, ao sair do elevador. Subimos até o andar da Redação e, numa saleta, nos deparamos com Otto Maria Carpeaux que, míope como era, escrevia à mão com a cara grudada no tampo da escrivaninha. Entramos os três e nos pusemos, ali, imitando-o, também com a cara colada na mesa. Ele se assustou e nos lançou um olhar indignado que nos fez deixar a saleta às gargalhadas.
 
Isso foi em 1955, quando alguns poucos que me conheciam tinham-me por maldito. Eu vagabundava, naquela época, pelas ruas do centro da cidade e às vezes me sentava à porta de um restaurante, ali na esquina de Graça Aranha com Araújo Porto Alegre; para contemplar o edifício do hoje Palácio Gustavo Capanema, que parecia flutuar, onde você trabalhava. E o vi, certa vez, deixar o trabalho, de mãos dadas com uma mocinha, que, soube depois, era sua namorada. A sua cara, porém, nada dizia.
Muitos anos se passaram até que você chegasse aos 70 anos e me convidassem para participar de um programa de televisão em sua homenagem. Escolhi, para dizer, aquele seu poema "Memória", por ser curto e por ser belo:
 
 
"As coisas tangíveis
tornam-se insensíveis
à palma da mão.
Mas as coisas findas,
muito mais que lindas,
essas ficarão."
 
 
Fiquei todo bobo quando, dias depois, recebi um bilhete seu, agradecendo minha participação na homenagem e elogiando o modo como havia dito o poema. Tenho esse bilhete comigo, até hoje, guardado em alguma gaveta.
 
A última vez que o vi foi no velório de Vinicius de Moraes, no cemitério São João Batista. A morte, neste caso, serviu para nos aproximar: fui falar com você e, para minha surpresa, em vez do homem tímido e reservado, deparei-me com um sujeito irritado, reclamando da doença que lhe tinha aberto uma ferida no rosto, como me mostrou. Havia, de fato, uma cicatriz que lhe marcava a face direita.
 
Depois disso, só voltaria a vê-lo naquele mesmo cemitério, desta vez em seu próprio velório. Eu tinha, naquele dia, um compromisso de trabalho em Brasília mas, a caminho do aeroporto, fui, por assim dizer, despedir-me de você. E, desta vez, quem estava revoltado era eu, revoltado com sua morte, com esse fato inevitável e inaceitável, que é a morte das pessoas que amamos ou admiramos. As declarações, que dei aos jornalistas, naquela ocasião, estavam mais perto do insulto que de outra coisa. A quem eu insultava, na verdade, não sei. 
 

Ferreira Gullar - Publicado na Folha de São Paulo / UOL

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Sábado, 06.02.10

Desenho de Siron Franco

Desenho inédito de Siron Franco

 

 

 

 

 Siron Franco - Sem título - Desenho (Aparecida de Goiânia GO Brasil), 2009

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publicado por ardotempo às 13:04 | Comentar | Adicionar
Quinta-feira, 04.02.10

Ciclismo, gangsters e boxe

Janeiro
 
António Lobo Antunes
 
Que mês de janeiro tão comprido, que lentidão nas horas. Dia 7 fazia anos a minha outra avó: já ninguém se lembra dela, morreu completamente. O problema, depois de desaparecermos, será não ser esquecido ou não ser suficientemente esquecido? O que é um nome, a memória de um nome? Às vezes pode ficar-se vivo por uma frase só. Por exemplo a rapariga, na Índia, de quem Camões dizia que chiava como água num pucarinho novo. Dessa recordo-me sem nunca a ter visto. Ou de D. João de Castro a comentar, acerca de um homem de barba branca e cabelo preto
 
- Pensa mais com os queixos do que com a cabeça.
 
As coisas que me ficam na ideia, meu Deus, que armazém os meus miolos. Os vencedores da volta a França quase todos, por exemplo, desde 1930. Gangsters de há mais de 60 anos, Baby Face Nelson, Machine Gun Kelly, Legs Diamond, o grande Dillinger. Pugilistas: Carl Bobo Olsen que tinha Mama no braço tatuado, Ray Sugar Robinson, o imenso Georges Carpentier que se finou antes de eu ter nascido e usava risca ao meio. Tive uma fotografia dele, elegantíssimo, as orelhas um bocado em couve flor, é claro, o nariz um bocado amassado, é evidente, mas elegantíssimo, de boquilha e polainas. No princípio do século 20 houve um combate em 112 assaltos. Gosto de ciclismo, de gangsters, de boxe. De certas respostas. Uma senhora que detestava Churchill a declarar-lhe 
 
- Se eu fosse sua mulher envenenava-lhe o chá.
 
e a resposta de Churchill 
 
- E se eu fosse seu marido, minha senhora, bebia-o.
 
Um primo do meu pai ao apresentarem-lhe o rei Humberto de Itália 
 
- Tem graça, é a primeira vez que vejo um rei fora do baralho e me ficou para sempre porque não concebo reis fora do baralho a menos que Baby Face Nelson fosse imperador de Portugal. E janeiro não acaba. Também porque carga de água havia de acabar?
 
Leio livros maus uns atrás dos outros: a quantidade de tralha que se imprime deixa-me de boca aberta. O que pensarão os autores destas coisas das bodegas que fizeram? Se calhar andam felizes, como eu quando vi Oscar de la Hoya combater. Sabará, Maneca, Vavá, Pinga e Parodi, a linha avançada do Vasco quando tinha 6 anos: tudo se me pega à memória, que maçada. Criaturas a tocarem piano. Cromos de actrizes de cinema que sorriam, em fato de banho, no papel, e eu seguro que era para mim que sorriam. Uma ocasião, no eléctrico para o liceu, uma mulher da idade da minha mãe encostou-se a mim: a primeira grande perturbação, um pânico feliz. O peito a roçar-me na cara, os dedos na pega sobre os meus e eu muito quietinho, extasiado, cheio de durezas inesperadas, porções que cresciam, agarrado a ela num desespero de náufrago. A certa altura desprendeu-se de repente e foi-se embora. Agarrado a ela num desespero de náufrago aprendi nos livros maus. Nunca mais a encontrei e se a achasse de novo, mesmo hoje, agradecia-lhe. Se calhar passa as tardes na pastelaria, viúva, diante de um café vazio, com o guarda-chuva nas costas da cadeira e uma reformazinha aflita, a água do reumático a assobiar nos ossos.
 
As cabeleireiras do Salão Pereira, perto da casa da minha infância, ainda hoje me fazem sonhar. E aquelas que arranjavam as unhas aos homens na barbearia do meu avô. O senhor Melo, que me cortava o cabelo, parecia um arquiduque.
 
- O menino nunca vai ficar careca.
 
anunciava ele com pompa. Enganou-se um bocado, e a toalha cheia de madeixas loiras que às vezes se metiam no colarinho e me faziam cócegas pelas costas abaixo. Torcia-me e o senhor Melo 
 
- Ainda lhe corto uma orelha se continua assim.
 

e que mês de janeiro tão comprido, que lentidão nas horas. Ontem estive no hospital: desgraças e desgraças, os olhos das pessoas. Cá fora sol. A paragem do autocarro cheia de gente séria que nem sabe como a minha outra avó foi. Falava pouco. Tinha olhos azuis. Era feia. Pareço-me com o irmão dela, com a família dela. Nem sonhava quem era Machine Gun Kelly. É horrível confessar isto, avó, mas penso mais em Ray Sugar Robinson do que em si. 


António Lobo Antunes

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publicado por ardotempo às 15:41 | Comentar | Adicionar
Quarta-feira, 03.02.10

Os espiões

Os espiões
 
Autor: Luis Fernando Verissimo
Editora: Dom Quixote (Portugal) / Alfaguara (Brasil)
N.º de páginas: 171
ISBN: 978-972-20-3922-2 (Portugal)
ISBN: 8560281991 (Brasil)
Ano de publicação: 2009
 
O narrador de Os Espiões (primeiro romance escrito de moto próprio por Luis Fernando Verissimo) é um «camaleão» imperfeito que deseja desaparecer «contra o fundo» mas nunca consegue. Responsável, numa pequena editora, pela selecção de originais e pelas cartas de recusa, ele afoga em álcool a sua insatisfação profissional e familiar, até ao dia em que começa a receber às prestações o manuscrito de uma certa Ariadne, candidata a escritora, cujo projecto literário consiste em revelar a sua história de amores proibidos e crimes de sangue numa cidade do interior (Frondosa), suicidando-se no fim.
 
Apesar dos erros ortográficos e da ausência de vírgulas, o texto deslumbra tanto o editor como os amigos com quem costuma discutir no bar do Espanhol. Acreditando na veracidade do relato, o grupo decide montar uma «Operação Teseu» que inverta o mito e salve Ariadne, presa ainda no labirinto (à mercê de um temível Minotauro de apelido italiano) ou já em Naxos, aguardando um Dionísio que a redima.
 
Exímio na caracterização das personagens, Verissimo oferece-nos uma galeria de tipos inesquecíveis, de que fazem parte o Professor Fortuna, especialista em sexo tântrico sem contacto físico e em tiradas definitivas sobre autores que não leu («A literatura terminou com Sófocles. Tudo que veio depois é post-scriptum.»); o «Uruguaio», milionário que ganhou a sua fortuna ao apostar contra o Brasil na célebre e traumática final da Copa do Mundo, em 1950, esbanjando o dinheiro, desde então, para expiar a culpa; e Afonso, director do jornal Folha de Frondosa, estalinista empedernido que procura, à falta de revoluções, criar uma «rosa de um vermelho inédito» – a que chamaria, claro está, Rosa Luxemburgo.
 
Nunca perdendo o fio da narrativa (muito bem arquitectada, com os vários elementos da intriga a encaixarem-se na perfeição), o escritor gaúcho conseguiu urdir uma história sólida mas leve, alucinante e divertidíssima, onde cabem De Chirico e Sylvia Plath, conspirações e plágios, sequestros e resgates, cemitérios e bordéis, exercicíos meta-ficcionais e crónica de costumes, literatura e futsal. Em duas palavras: uma delícia.
 
 

 

José Mário Silva - Publicado no blog Bibliotecário de Babel 

publicado por ardotempo às 13:50 | Comentar | Adicionar

A publicidade

 

A publicidade não é Arte 

 

 

"A publicidade é um negócio, de valores fabulosos e de muito poder. É feita para vender, para alcançar resultados pela redundância e pela repetição exaustiva. Funciona muito bem ao que se propõe. Não pode ser Arte a ausência da surpresa e rarefação absoluta de sua permanência. A sua função é fazer funcionar o comércio ou convencer as pessoas a aderir a algo sobre o que ainda não tinham pensado, nem estavam, de fato, precisando. A publicidade é o anúncio do dia, pisoteado no chão, após cumprir seu objetivo de transmitir uma mensagem, verdadeira ou não. Apenas isso." - Elio Mirrado, 1981

 

 

 

 

 

Itaci Batista - O anúncio na calçada - Fotografia (São Paulo SP Brasil), 2010

publicado por ardotempo às 00:03 | Comentar | Adicionar

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