Esculturas
Christopher Locke - Fósseis Contemporâneos - Techno - Esculturas em resina / pátina arqueológica (Estados Unidos), 2009
(Um dos problemas que infestam e contaminam mortalmente a Arte e a Arte Contemporânea, disseminando o caos, provocando equívocos e a incompreensão generalizada, é que existem milhões de pseudo-manifestações e "obras" atribuídas como artísticas que não o são. Tratam-se essas (que não são a fina metáfora criada acima pelo escultor norte-americano) dos legítimos fósseis secretos, os "produtos-múmias" em formato de telas, gravuras, esculturas e instalações realizados por falsos artistas, por não-artistas, por artesões-picaretas e que não passam de fórmulas decorativas, cópias, plágios, manipulações artesanais, bibelôs, arranjos ardilosos, lixo maquiado e contrafacções que confundem e demonizam o circuito da Arte (em todos os lugares) e destroem a percepção de propostas artísticas verdadeiramente inovadoras e originais, realizadas com talento, sensibilidade, honestidade intelectual e conhecimento profundo de pesquisa, no pensamento e no acabamento de sua elaboração artística - NE: ARdoTEmpo)
Uma pena
Uma pena a saída de João Paulo Sousa do blog Da Literatura. Importante encontrar ali rotineiramente o seu pensamento agudo e sábio sobre o universo da literatura. Escreveu ali criticamente sobre vários autores brasileiros, auxiliou na sua difusão entre tantos e indicou-nos, didático, outros magníficos talentos da lingua portuguesa. Nessas descobertas, aprendemos a selecionar os melhores para ler e agradecemos a João Paulo pelo esforço dedicado e pela honestidade intelectual.Terá seus motivos, que serão respeitáveis, mas o mais desconfortável deles é a sua afirmativa do cansaço, porque significa que não o encontraremos noutro blog. O que será uma lástima porque perderemos o contato com sua letra e seu pensamento. Ao autor de O Mundo Sólido, excelente romance de linguagem e forma singular, a nossa saudação e o desejo de um ótimo 2010 com novas realizações, novos textos e o lançamento de um novo livro.
Da Literatura é um excelente blog e conseguiu sê-lo pelas presenças diárias de Eduardo Pitta e até o dia de hoje, João Paulo Sousa. Uma pena sua ausência para 2010.
Um vento
Gato cinza é um vento
Fala seu dialeto apenas com os pássaros.
Vidro.
Chuva, sol, um vento o gato.
A pose de esfinge
O silêncio que não lembra os dedos partidos.
Solipsista dos olhos negros e canários,
no exercicio branco da memória traída.
Nada sabe do tigre de Borges
nem do último lobo da Inglaterra.
Sabe o medo de quem chega,
o cheiro, as vozes ou o barulho
dos pés arrastados, dilacerados.
Gato cinza é uma ausência
um vento, um vulto. Instante,
a escuridão e um instinto.
Gato cinza é um vento.
Um dia falará,
escolhendo as palavras no dicionário,
seu leito de observação.
Gato cinza é um chamado em volutas
de fumaça azul e seu canto de lamúrias.
Observador de pássaros, argumentativo.
Vidro.
É um vento gris, mistral da poeira
vulcânica do maciço.
Gato cinza, um dia falará
e contará o mistério que ouviu
sobre a memória que não se fez.
Aquarela
© Anelise Scherer - Amor-perfeito / Viola x cornuta - Aquarela, ilustração botânica (AVE, FLOR - Edições ARdoTEmpo - Brasil), 2009
Daniel Foucard
Publicado por Laure Limongi no blog Rougelarsenrose
"Después de Picasso, sólo Dios", exclamó Dora Maar ante Lacan, el psicoanalista que la ayudó soportar el abandono del pintor. La mujer entró en una fase mística, se retiró del mundo, se encerró en su apartamento de París y sobrevivió un cuarto de siglo al propio artista. Murió en 1997, a los 90 años. En el Guernica sus ojos en forma de lágrimas se repiten en el toro, en el guerrero, en la madre que grita de terror con un niño muerto en los brazos, en la mujer que huye desnuda bajo las bombas, tal vez, desde un lavabo con un papel en la mano y en la que saca una lámpara por la ventana e ilumina todas las tragedias de la historia.
Manuel Vicent - Publicado em Babelia - El Pais
Imagem: Dora Maar - Auto-retrato - Fotografia de Dora Maar
"...porqueninguémpensounissoantes?"
Mana Bernardes - Colar - Design (MOMA Nova York / MASP SP / Habitart RS), 2009
Dom Carlos, verdades e mentiras de Gardel
Homem é agredido com taco de beisebol na Livraria Cultura, em São Paulo.
Acrílica sobre tela
Paulo Amaral - Manhattan - Pintura - Acrílica sobre tela (Nova York - Estados Unidos)
Dedo de Moça
Summertime
José Mário Silva
Summertime é o livro com que Coetzee fecha a sua trilogia de memórias ficcionadas, iniciada com Boyhood (1997) – sobre a infância na Cidade do Cabo, no final dos anos 40 e início dos 50 – e Youth (2002), que descreve a sua vida em Londres, no início da década de 60, e as suas primeiras tentativas poéticas. Nessas duas obras, Coetzee fala de si mesmo na terceira pessoa e esse distanciamento reflecte o extremo cuidado com que o escritor sul-africano, conhecido pelo zelo posto na protecção da sua privacidade, aborda os materiais biográficos no processo de os transformar em literatura. Mesmo quando os factos são reais, o protagonista nunca é o verdadeiro Coetzee mas uma personagem em tudo semelhante, o seu reflexo no espelho da ficção.
Em Summertime, esta ambiguidade é levada ao extremo, pelo recurso a uma estrutura narrativa fragmentada e potenciadora das incertezas meta-literárias que Coetzee tanto aprecia. Em vez de uma história linear, o que o livro nos oferece é um conjunto de materiais que o biógrafo de Coetzee, um tal Mr. Vincent, reúne após a sua morte, tentando fixar uma certa época (os anos de 1972 a 1977), quando o escritor, então com trinta e poucos anos, ainda não era o escritor que veio a ser mas para lá caminhava. Vincent transcreve entrevistas com várias pessoas que terão conhecido Coetzee na altura (uma amante, uma prima, a mãe brasileira de uma das suas alunas, colegas do meio académico), além de excertos dos seus cadernos de notas. O retrato que emerge destes depoimentos em bruto – cheios de incongruências, animosidades, contradições – é de uma crueza devastadora.
Coetzee surge-nos como um homem emocionalmente opaco, incapaz de se relacionar com os outros, um corpo estranho fechado sobre si mesmo (a amante acusa-o de autismo sexual), um feixe de ideias confusas à deriva numa África do Sul em pleno apogeu do apartheid. O Coetzee de hoje não doura a pílula ao Coetzee trintão, nunca contemporiza com as suas fragilidades e falhanços. Mas, paradoxalmente, isso só o torna mais humano.
O resto é a arte da linguagem. Ou seja, o esplendor da língua inglesa, elevada aos céus por um dos seus melhores cultores.
José Mário Silva - Publicado no blog Bibliotecário de Babel
Imagem: Edward Hooper - Pintura, Óleo sobre tela - 1960
A régua de Niemeyer
Gilberto Perin - Linhas retas de Oscar Niemeyer / Igreja da Pampulha (BH Minas Gerais Brasil), 2009