Domingo, 29.11.09

Só para lembrar, o Brasil fica na América Latina

El triunfo de la diversidad
 
Alberto Manguel
 
Las definiciones literarias se hacen siempre a posteriori. Para poder definir, con una lista de libros, un continente entero, es necesario primero presuponer una definición de ese continente. Algunos ejemplos: para quien América Latina es un mundo conquistado, sometido y explotado, el Popol Vuh de los mayas, la Brevísima historia de la destrucción de las Indias de Fray Bartolomé de Las Casas y la vasta literatura indigenista de José María Arguedas, Ciro Alegría y sus discípulos serán publicaciones esenciales.
 
Para quienes vean en esa América un crisol en el que la cultura de lengua castellana forjó su segundo renacimiento, libros imprescindibles serán la renovadora Gramática de Andrés Bello, la lírica de Rubén Darío, el barroco cubano de Lezama Lima y de Severo Sarduy, y la novela cuyo autor es el lector: Rayuela, de Julio Cortázar. Para los extranjeros que, como Virginia Woolf, imaginen esas "tierras lejanas" como "una selva mágica llena de mariposas azules", las obras que confirmarán esa visión serán las novelas del mal llamado "realismo mágico" y la ficción metafísica del Río de la Plata. Finalmente, para quienes América Latina es emblema de una mesiánica revolución social, la biblioteca definitiva deberá contener los escritos de Simón Bolívar, del Che Guevara, de Rigoberta Menchú, y el Nunca más, la compilación de testimonios contra la dictadura militar argentina, que se publicó bajo la valiente dirección de Ernesto Sábato. Ninguna de estas obras aparece en la selección final (salvo, como era previsible, Cien años de soledad, obra, por cierto, definitiva en más de un sentido).
 
Es obvio que nadie, razonablemente, puede objetar la presencia de Gabriel García Márquez, Juan Rulfo, Eduardo Galeano, Octavio Paz y Mario Vargas Llosa en este quinteto triunfador. Pero es obvio también que a este Parnaso, declarado summa cum laude para América Latina, le faltan temas esenciales: la poesía, el ensayo político y filosófico, el teatro, el diario de viaje, el texto humorístico, las dictaduras noveladas, el relato policial contemporáneo, el nuevo periodismo y, misteriosamente, las voces de mujeres.
 
Definir América Latina sin Pablo Neruda y sin César Vallejo, sin Ariel de José Enrique Rodó u Otras inquisiciones de Jorge Luis Borges, sin las obras de Florencio Sánchez y Griselda Gambaro, sin los Viajes de Cristóbal Colón y Una excursión a los indios ranqueles de Lucio V. Mansilla, sin las desopilantes personajes de Manuel Puig, y Concolorcorvo, y Quino, sin Yo el Supremo de Augusto Roa Bastos y La muerte de Artemio Cruz de Carlos Fuentes, sin Rosaura a las diez de Marco Denevi y las sangrientas sagas de Paco Ignacio Taibo II, sin las crónicas de Tomás Eloy Martínez, Martín Caparrós y William Ospina, y, sobre todo, sin los escritos de Sor Juana Inés de la Cruz, Gabriela Mistral (¡hélas!, como dijo André Gide de Victor Hugo), las hermanas Victoria y Silvina Ocampo, la o el anónimo redactor de las "memorias" de Evita Perón, sin Elena Garro, Rosario Castellanos, Juana de Ibarbourou e Ida Vitale (con moderación), y Alejandra Pizarnik, me parece una empresa, si no injusta, al menos incompleta.
 
Pero quizá ésa sea su virtud. Los cinco libros elegidos para resumir el vasto continente, en lugar de condensarlo, lo extienden, obligándonos a recordar otras lecturas. Nos ofrecen, por decirlo así, una definición in ausentia de la inconmensurable biblioteca latinoamericana. -
 
Alberto Manguel - Publicado em El País
 
PS: Falar de literatura latino-americana, ser apenas monoglota e deixar de citar Machado de Assis, Guimarães Rosa, Aldyr Garcia Schlee, Erico Verissimo, Jorge Amado, Clarice Lispector, Mariana Ianelli, João Ubaldo Ribeiro, Cristovão Tezza, Adélia Prado, Luiz Ruffato e Ignácio de Loyola Brandão é algo que se possa justificar? (ARdoTEmpo)
publicado por ardotempo às 17:00 | Comentar | Adicionar

Vai no cartão? No crédito ou no débito?

Tema polêmico
 
Ferreira Gullar
 
Ao discutir os problemas que dizem respeito a todos nós, não o faço por arrogância, mas para tentar entendê-los, suscitar a discussão ampla, já que os discuto comigo mesmo.
 
Um desses problemas são as drogas, que, a cada dia, se torna mais agudo, provocando debates e tentativas de solução os mais diversos e polêmica.
 
Vejo com apreensão pessoas e instituições responsáveis defenderem a descriminação dessas drogas, de todas ou das chamadas drogas leves, como a maconha. A experiência que tenho - eu e muita gente - indica que a droga leve é, quase sempre, a etapa inicial que conduz às drogas pesadas.
 
Os defensores da descriminação usam de um argumento que considero sofismático: alegam que defendem o fim da repressão ao tráfico de drogas porque a experiência demonstrou sua inoperância, isto é, a repressão não impediu o crescimento do tráfico e o aumento do consumo de drogas.
 
Veja bem: o aparelho judicial e a polícia foram criados para reprimir o crime e defender a sociedade; não obstante, após séculos de existência, não conseguiram acabar com a criminalidade que, pelo contrário, cresceu. Devemos, por isso, não mais prender e punir os criminosos? Claro que não. Não há como extinguir definitivamente a criminalidade, mas deixar de combatê-la é a pior das opções. Ninguém, em sã consciência, defenderá essa tese.
 
Do mesmo modo, acabar com a repressão ao tráfico e ao consumo de drogas seria render-se aos criminosos e entregar as pessoas (particularmente os jovens) a consequências desastrosas. Basta pensar: que autoridade teria um pai de família para aconselhar o filho a não consumir drogas, se o próprio governo as legalizar e as permitir?
 
Quando, pela primeira vez, ouvi falar da necessidade de descriminar as drogas, lembrei-me de que a cocaína não é produzida aqui, vem de países vizinhos, onde seu uso é proibido. Como vender legalmente uma mercadoria que entrou ilegalmente no país? A opção inevitável será, sem dúvida, o plantio, no Brasil, da coca, em larga escala. Deixaríamos de plantar feijão e arroz para cultivar um produto bem mais lucrativo.
 
Talvez por isso, passou-se a falar na legalização mundial das drogas. Essa gente delira, mesmo sem cheirar cocaína. Alguém acredita que Fernandinho Beira-Mar, que ganha milhões de reais com a venda ilegal de drogas, vai passar a pagar Imposto de Renda e ICMS? Ignoram que alguns dos maiores contrabandos que existem no Brasil são de pedras preciosas e de cigarros, que não têm sua comercialização proibida.
 
Mas há outro ponto também discutível, que é legalizar o consumo de drogas. Acreditam que o consumidor é um doente, que deve ser tratado e não castigado.
 
Será verdade que todo consumidor de drogas é um doente? Aposto que não. Os maiores consumidores de cocaína e drogas sintéticas não são viciados patológicos e, sim, consumidores que utilizam as drogas socialmente.
 
Não há o cara que bebe socialmente e não é alcoólatra? Assim como a maioria dos que consumem bebidas alcoólicas não é constituída de alcoólatras, há muita gente que ganha bem, goza de prestígio social como empresário ou artista, e consome maconha, cocaína, ecstasy, promove festas para, divertidamente, drogar-se, ele e sua patota. Compra drogas de vendedores qualificados, que não precisam subir o morro.
 
Alguém acredita que os milhões de reais que as drogas rendem ao tráfico saem do bolso dos favelados ou do garotão viciado, filhinho de papai, que paga o traficante roubando da família?
 
A legalização do consumo de drogas só servirá para estimular um número maior de pessoas, socialmente bem situadas, a se tornarem alegres consumidores delas. Oferecer tratamento ao viciado está certo, mas como, se a nova política de saúde - a tal "psiquiatria democrática" - não possibilita internações?
 
E pense nisto: o tráfico sobreviveria se, de repente, ninguém mais usasse drogas? Um exemplo hipotético: se as pessoas deixassem de consumir carne, a produção e o comércio de carne sobreviveriam? Todos sabemos que nenhuma mercadoria subsiste sem comprador.
 
É um contra-senso, portanto, pretender acabar com o tráfico de drogas liberando o consumo. Essa liberação, sem dúvida alguma, multiplicaria por milhões o número de consumidores e fortaleceria ainda mais o tráfico.
 
Ferreira Gullar  - Publicado na Folha de S.Paulo / UOL
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publicado por ardotempo às 16:35 | Comentar | Adicionar

A mão quebrada e o labirinto

O labirinto

 

A mão quebrada, na aparência, é normal. Não está normal. Dói e encontra-se completamente enrijecida, os dedos movimentam-se imperfeitamente como os de um robô primitivo. Dedos de lata de uma antiga película em preto e branco, contrastes duros e expressionistas, de produção minguada. Movimentos com estalos internos, dores estendidas pelo tendões marmorizados em negro pela posição forçada e inerte. O arco do movimentos se faz incompleto. A mão está dura, já não é mais a mesma que foi antes. Nada mais funciona como antes. A palavra negada.

 

Mão imperfeita, o farelo dos estilhaços apresenta-se com um puzzle desmanchado e caduco, todas as manhãs. Os movimentos desorientados dão-se em direções anárquicas, birutas, com dores inesperadas e desconhecidas. Mão nova, mão velha. A mão parece um brinquedo que já chega quebrado, a sensação indica que existem peças soltas ali dentro, desencaixadas, sobrantes, excessivas. O que dói denuncia a desarmonia, a falta de lubrificação, ausência do estiramento funcional dos tendões. O dedo curvado e rígido somente responde com dores agudas nas extensões extremas, para dentro e para fora.

 

Minutos depois, a mão tem a forma da mão. As peças aparentemente vão aos lugares, permanece a dor e a rigidez dos dedos , que são outros, esses novos, mais quebrados.

 

Desarmonia, falta, ausência. Como o silêncio denuncia a falta de linguagem, a abolição da comunicação.

 

O silêncio é o labirinto sem a saída. O impasse da mão que já não escreve, não desenha, não pinta. O artista da mão quebrada permanece no centro do labirinto à espera do encontro. Já não leva com ele o fio, a tessitura da linguagem, a saída contida na comunicação, na promessa da luz, na revelação. A restauração do que se rompeu, do que foi quebrado, não se consuma. O que é o escombro da queda, o que se quebra e se torna apenas ruína.  Resta o artista solitário com sua mão congelada. Ele coloca as telas pelas paredes, pelas páginas, da construção trágica e sombria. Suas telas são únicas e originais mas ninguém poderá vê-las agora. Comoverão a criatura monstruosa? Esta conceder-lhe-á algum tempo a mais? O fio de ariadne, ausente pela deliberação da recusa, é a negação da palavra. O encontro com o monstro ocorrerá somente uma vez, sem testemunhas, na escuridão da catacumba. Lá estarão apenas as telas luminosas como lápides refratárias do tempo do convite à palavra.

publicado por ardotempo às 13:33 | Comentar | Adicionar

Editor: ardotempo / AA

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