Sexta-feira, 13.11.09

Crime contra a humanidade

Não ao Desemprego
 
José Saramago
 
A gravíssima crise económica e financeira que está convulsionando o mundo traz-nos a angustiante sensação de que chegámos ao final de uma época sem que se consiga vislumbrar o que e como será o que virá de seguida.
 
Que fazemos nós, que assistimos, impotentes, ao avanço esmagador dos grandes potentados económicos e financeiros, loucos por conquistar mais e mais dinheiro, mais e mais poder, com todos os meios legais ou ilegais ao seu alcance, limpos ou sujos, regulares ou criminais?
 
Podemos deixar a saída da crise nas mãos dos peritos? Não são eles precisamente, os banqueiros, os políticos de máximo nível mundial, os directores das grandes multinacionais, os especuladores, com a cumplicidade dos meios de comunicação social, os que, com a soberba de quem se considera possuidor da última sabedoria, nos mandavam calar quando, nos últimos trinta anos, timidamente protestávamos, dizendo que não sabíamos nada, e por isso nos ridicularizavam? Era o tempo do império absoluto do Mercado, essa entidade presunçosamente auto-reformável e auto-regulável encarregada pelo imutável destino de preparar e defender para sempre e jamais a nossa felicidade pessoal e colectiva, ainda que a realidade se encarregasse de desmenti-lo a cada hora que passava.
 
E agora, quando cada dia aumenta o número de desempregados? Vão acabar por fim os paraísos fiscais e as contas numeradas? Será implacavelmente investigada a origem de gigantescos depósitos bancários, de engenharias financeiras claramente delitivas, de inversões opacas que, em muitos casos, mais não são que massivas lavagens de dinheiro negro, do narcotráfico e outras actividades canalhas? E os expedientes de crise, habilmente preparados para benefício dos conselhos de administração e contra os trabalhadores?
 
Quem resolve o problema dos desempregados, milhões de vítimas da chamada crise, que pela avareza, a maldade ou a estupidez dos poderosos vão continuar desempregados, mal-vivendo temporariamente de míseros subsídios do Estado, enquanto os grandes executivos e administradores de empresas deliberadamente conduzidas à falência gozam de quantias milionárias cobertas por contratos blindados?
 
O que se está a passar é, em todos os aspectos, um crime contra a humanidade e desde esta perspectiva deve ser analisado nos foruns públicos e nas consciências. Não é exagero.
 
Crimes contra a humanidade não são apenas os genocídios, os etnocídios, os campos de morte, as torturas, os assassinatos selectivos, as fomes deliberadamente provocadas, as contaminações massivas, as humilhações como método repressivo da identidade das vítimas. Crime contra a humanidade é também o que os poderes financeiros e económicos, com a cumplicidade efectiva ou tácita de os governos, friamente perpetraram contra milhões de pessoas em todo o mundo, ameaçadas de perder o que lhes resta, a sua casa e as suas poupanças, depois de terem perdido a única e tantas vezes escassa fonte de rendimento, quer dizer, o seu trabalho.
 
Dizer “Não ao Desemprego” é um dever ético, um imperativo moral. Como o é denunciar que esta situação não a geraram os trabalhadores, que não são os empregados os que devem pagar a estultícia e os erros do sistema.
 
Dizer “Não ao Desemprego” é travar o genocídio lento mas implacável a que o sistema condena milhões de pessoas. Sabemos que podemos sair desta crise, sabemos que não pedimos a lua. E sabemos que temos voz para usá-la. Frente à soberba do sistema, invoquemos o nosso direito à crítica e ao nosso protesto. Eles não sabem tudo. Equivocaram-se. Enganaram-nos. Não toleremos ser suas vítimas.
 

José Saramago - Publicado no blog Caderno de Saramago 

publicado por ardotempo às 22:41 | Comentar | Adicionar

Lançamento de livro e Recital

Dia 14 de novembro - Sábado

 

 

Coquetel - 16 horas - Centro Cultural CEEE Erico Verissimo

Recital AVE, FLOR - 17 horas - Centro Cultural CEEE Erico Verissimo

 

Lançamento de livro - 18h30 - Pavilhão de Autógrafos - 55ª Feira do Livro de Porto Alegre RS

 

 

publicado por ardotempo às 16:43 | Comentar | Adicionar

Diálogo das pequenas

As meninas

 

" – Meu avô é muito rico. Ele é industrial... ele faz chocolate lá na Serra. Todos os que visitam a Serra, compram e levam o chocolate que ele faz. E o seu avô, o que ele faz?"


"– Ah... o meu avô é escritor, ... ele também é desenhista, ... mas o mais importante, ele é observador de pássaros, ... ele passa muito tempo observando tudo o que os pássaros fazem, como eles são..."

 

 

 

 

Georges Braque - Pássaro branco e pássaro negro - Pintura - Gouache sobre cartão (Paris França) 1960

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publicado por ardotempo às 15:52 | Comentar | Adicionar

Aldyr G. Schlee na Praça e na TV

Entrevista do escritor

 

 


 

 

Aldyr Garcia Schlee e Tatata Pimentel - entrevista concedida pelo autor à TV Com / RBS TV (Rede Globo), desde a 55ª Feira do Livro de Porto Alegre - Pavilhão de Autógrafos  (Porto Alegre RS Brasil), 2009

Fotografia: Luiz Carlos Vaz

publicado por ardotempo às 15:43 | Comentar | Adicionar

Ilustração inédita de Spacca

"As barbas do Imperador"

 


 

 

Ilustração de Spacca - 55ª Feira do Livro de Porto Alegre 2009 

publicado por ardotempo às 15:39 | Comentar | Ler Comentários (1) | Adicionar

Editor: ardotempo / AA

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