Segunda-feira, 12.10.09

A piscina

Fotografia

 

 

 

 

Gilberto Perin -  Piscina - Fotografia (Rio de Janeiro RJ Brasil), 2009

publicado por ardotempo às 20:53 | Comentar | Adicionar

Poesia


Mapa do náufrago

 
 
Tem uma coisa
 
tem uma coisa que vi
que não quero desver,
uma lembrança 
que não quero esquecer,
um lugar que não quero
deixar, 
alma silenciosa.
 
tem um mar que atravessei
que me atravessou,
um sal entranhado na pele
que não quero raspar,
uma viagem que mingua  
a lua, 
alma inquieta 
 
e por não saber,
a cada manhã acordo
com a mesma imagem,
da noite clara e distante 
no mapa do céu invernal
onde naufraguei, 
alma cansada!
 
 
 
 
© Isolde Bosak
© Fotografia de Gilberto Perin

publicado por ardotempo às 18:59 | Comentar | Adicionar

Bikini

“Bikini” dava medo
 
Luis Fernando Verissimo
 
“Bikini” dava medo. Era o nome de um remoto atol no Pacífico onde os americanos faziam seus testes com bombas nucleares.
 
Especulava-se sobre os efeitos dos testes na atmosfera e da sua irradiação na humanidade. Lembro-me de um filme de ficção científica da época em que um iate desavisado passava muito perto da zona dos testes e seus ocupantes, quando voltavam para casa, começavam a virar monstros.
 
E notícias de Bikini eram lembretes constantes da possibilidade de uma guerra nuclear que nos liquidaria a todos. Mas as notícias constantes também popularizaram o nome, que foi adotado para o maiô de duas peças reduzidas que começava a aparecer nas praias.
 
Não sei de quem foi a ideia de chamar o novo maiô de bikini, nem se havia outro motivo para usar o nome além do fato de ele estar em evidência. Talvez uma alusão ao poder demolidor de um belo corpo exposto de maneira inédita?
 
De qualquer maneira, o nome pegou. Dizem que o atol de Bikini ainda brilha no escuro e peixes mutantes nadam ao seu redor. A ameaça nuclear não terminou. Mas, para o consumo do mundo, a banalidade derrotou o terror.
 
Em 1957, para espanto de todos e embaraço dos Estados Unidos, a União Soviética pulou na frente na corrida espacial, lançando o primeiro satélite artificial da Terra, o Sputnik.
 
Os americanos responderam acelerando o seu próprio programa espacial, que acabou colocando um homem na Lua, mas durante algum tempo tiveram que conviver com aquela prova da superioridade científica dos russos girando sobre suas cabeças.
 
Mesmo se, como diziam os cínicos, a única vantagem dos russos sobre os americanos era que tinham ficado com melhores cientistas alemães no fim da Segunda Guerra Mundial, para todos os efeitos de propaganda e auto-estima a competição era entre dois sistemas, e o comunista estava ganhando.
 
Mas se sentiam-se ameaçados pela coisa, os americanos adoraram o seu nome. Em pouco tempo o sufixo “nik” passou a ser usado para tudo nos Estados Unidos. Membros da geração “beat” ficaram conhecidos como “beatniks”, embora em nada lembrassem uma bola dando voltas na Terra e fazendo “bip, bip”.
 
Ou talvez, às vezes, lembrassem. No caso do Sputnik, também ganhou a banalidade.
 

© Luis Fernando Verissimo 

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publicado por ardotempo às 14:51 | Comentar | Adicionar

Carta

Pintura

 

 

 

Carta - Pintura - Óleo sobre tela

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publicado por ardotempo às 14:20 | Comentar | Adicionar

Um dia bom...

12 de outubro

 

Dia de mão quebrada, menos pesada, dura em tala rígida, também duros e inchados, os dedos. Mais leve a tala. Mais fácil de saber à reconstituição. A vida passa muito depressa, muito depressa.

Escrever um livro, todos os dias.

"Leva-me aos fados..." ; escute a música de Ana Moura.

 

A chuva não para mas os pensamentos também não. 

A ação mesmo que pouca, é muita. É necessário fazer mais, é necessário saber mais. O que sei é que pouco sei. É necessário buscar mais, mais,  mais e mudar tudo. Fazer mais livros, mais pinturas, mais desenhos, mais exposições, mais projetos. E tudo que se fizer será muito pouco, insuficiente. Nada. O caos e a imperfeição trazem mais ordem que a artificial ordenação acadêmica. O dentes tratados pelos dentistas ficam piores que a natureza – no inicio produzem dor e desconforto e no final, perdem-se.

 

A palavra escrita é que importa. Os livros...A arte. A pintura, o desenho, o carinho, a lembrança do paraiso.

É o que resta e perdura.

A mão quebrada é metáfora da vida, quebrada, imperfeita, mas ativa, necessária e talvez ainda capaz de realizar algo consistente e original. Ou seja, diferente do que se fez antes.

 

O tempo passa, a memória guarda os acertos e os erros – o que é a beleza, o que é a feiúra e, como conta o contista num conto no limite, "assim é a vida".

 

 

 

 

publicado por ardotempo às 14:08 | Comentar | Adicionar

Noite Branca

Noite

 

 

 

 

Gilberto Perin - Noite em Porto Alegre - Fotografia (Porto Alegre RS Brasil), 2009

publicado por ardotempo às 05:18 | Comentar | Adicionar

Chuva

Chuva em Paris

 

 

 

 

Eric Tenin - Chuva na Defense - Fotografia (Paris França), 2009

publicado por ardotempo às 05:13 | Comentar | Adicionar
Domingo, 11.10.09

Políticos têm leis próprias, diferentes das leis para todos

Ficha suja
 
Ferreira Gullar
 
O Congresso Nacional, um dos três poderes da República, cuja função é legislar, criar leis que devem reger a vida da sociedade brasileira, legisla com frequência em causa própria.
 
Por exemplo, caso um deputado ou um senador, levado à comissão de ética, for considerado culpado, seu caso será submetido à apreciação do plenário que poderá cassar-lhe o mandato. Se isso ocorrer, ele ficará oito anos sem poder candidatar-se de novo. No entanto, o regimento admite que, se antes da decisão do plenário ele renunciar ao mandato, poderá candidatar-se às próximas eleições. Falando francamente, trata-se de uma farsa, para garantir a impunidade dos parlamentares. Se a intenção fosse de fato punir, ele não poderia voltar a se candidatar, uma vez que traiu a confiança do eleitor e a ética. Quem não é confiável não pode criar leis para reger a cidadania.
 
Os exemplos são muitos. Além de admitir que o parlamentar desonesto escape à punição, criou-se, para os senadores, a figura do suplente, ou seja, o senador não eleito. Se o titular se licencia, torna-se senador da República alguém que não recebeu voto de ninguém. E por que isso? Trata-se de um simples descuido? Claro que não; trata-se, na verdade, de mais uma esperteza para favorecer os próprios senadores que, desse modo, dividem o mandato que o povo lhes concedeu com o financiador de sua campanha ou com um sócio ou com a própria mulher. Como no caso das passagens aéreas -que distribuíam a parentes e amigos-, o mandato lhes pertence como o dinheiro que têm no banco: podem usá-lo ou reparti-lo com quem quiserem. Hoje, dos 81 senadores, quase 30 lá estão sem terem sido eleitos por ninguém.
 
Coerentemente com essa necessidade de manter-se "fora da lei", os parlamentares resistem a impedir a candidatura de quem tem ficha suja. E por várias razões, sendo a primeira delas a possibilidade de que, amanhã, por algum motivo, tenha ele próprio que se defrontar com a Justiça. Por isso que o mandato parlamentar é, para ele, fundamental, já que o torna imune à lei; a ele e à patota de cabos eleitorais, que constituem sua máquina de sustentação e que também aspiram a cargos eletivos. Esses cargos não apenas significam poder e meio de enriquecimento como, sobretudo, garante-lhes a impunidade, razão por que para conquistá-los pisam até no pescoço da mãe.
 
Eles são como uma família, no sentido mafioso do termo, onde ficha limpa mesmo é coisa rara, muito embora a palavra candidato derive de "cândido", que significa limpo, sem mácula. Vá falar isso numa roda de políticos e eles cairão na gargalhada e com toda a razão.
 
Não obstante tudo isso, um grupo de instituições e pessoas que ainda acreditam no país levaram ao Congresso um documento com 1.300.000 assinaturas, exigindo que se proíba, já nas próximas eleições, a candidatura de pessoas condenadas em primeira instância por crimes graves. A esta altura, não sei em que pé as coisas estarão, mas, ao receber o documento, o presidente da Câmara de Deputados já se mostrou contrário ao impedimento de quem foi condenado em primeira instância. Sugere que o seja em segunda instância. Em face da morosidade de nossa Justiça, até que o sujeito condenado em primeira instância seja julgado na segunda, terão se passado anos e ele já se elegeu deputado e ganhou imunidades.
 
A raiz desse problema está, de fato, na interpretação que dá o Supremo Tribunal ao dispositivo constitucional, segundo o qual todo mundo é inocente até prova em contrário. Para o STF, um acusado será tido por inocente até ser julgado em última instância. Ora, se o recurso de uma condenação de primeira instância leva anos para ser apreciado na instância seguinte, imagine o tempo que levará para chegar à última instância.
 
Afora isso, atrevo-me a afirmar que a interpretação do STF, data vênia, é, no mínimo, discutível. Se a Constituição diz que todo mundo é inocente até que seja provada sua culpa, cabe à Justiça decidir se as acusações imputadas a alguém são procedentes, se ele é inocente ou não. Logo, se o acusado for condenado em primeira instância, passará de inocente a culpado. Afirmar que, depois de condenado, continua inocente, equivale a dizer que o julgamento de primeira instância não conta, nem o das instâncias seguintes. É um contrassenso que resulta, de fato, na anulação da Justiça.
 
Na verdade, ao ser condenado em primeira instância, o acusado torna-se culpado perante a Justiça. Pode recorrer da decisão, mas, agora, na condição de sentenciado, não mais de inocente.
 
© Ferreira Gullar
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Sexta-feira, 09.10.09

Luz própria

El lector activo
 
Enrique Vila-Matas
 
 
La lectura es un arte, aunque muchos autores de hoy lo ignoran, ya que andan atareados complaciendo lo que se espera de ellos: intrigas trilladas, personajes que hablen como en las series más mediocres de televisión, estilo de tiralíneas. Claridad se les reclama, y que no embrollen. Que respiren con naturalidad y no ensombrezcan las mañanas.
 
Ostentadora del gusto general, la mayoría lectora, que cuenta con la reveladora complicidad del sufragio de los que no leen, actúa como si hubiera vencido en las urnas y eso le permitiera ahora imponer la figura del lector pasivo y someter cualquier lectura individual a la más burda lectura general, prisión de todos.
 
Tiene este horror su lógica si se piensa que entre los lectores de hoy triunfa aquella comodidad que ya en los años treinta llevó a Cyril Connolly a ironizar sobre los perezosos: "Con independencia del talento que inicialmente posean, se condenan a ideas y amistades de segunda mano".
 
Hasta donde alcanza la memoria, mi icono clásico del lector activo es una lectora, Anna Karenina, viajando de noche en el tren de Moscú a San Petersburgo. Justo en el momento en el que Tolstoi parece haber suspendido ligeramente la intriga, Anna se coloca en las rodillas un almohadón y, envolviéndose las piernas con una manta, se arrellana cómodamente. Después, pide a Aniuska una linterna, que sujeta en el brazo de la butaca, y saca de su bolsita roja un cortapapeles y una novela inglesa.
 
En mi recuerdo, el momento es pura iluminación. Asocio la linterna de Anna con aquella peculiar luz propia, cuya necesaria existencia percibiera Paul Valéry cuando en sus Cuadernos consideró plausibles un tipo de obras que contaran con la iluminación propia del lector, es decir, un tipo de obras escritas sin pensar en darle algo a quien lee, sino, al contrario, pensando en recibir de él: "Ofrecer al lector la oportunidad de un placer -trabajo activo- en lugar de proponerle un disfrute pasivo. Un escrito hecho expresamente para recibir un sentido, y no sólo un sentido, sino tantos sentidos como pueda producir la acción de una mente sobre un texto".
 
Décadas después, Roland Barthes recogería el guante y diría que para devolverle su porvenir a la escritura había que darle la vuelta al mito: "El nacimiento del lector se paga con la muerte del autor". Exageró, pero con su idea dejó entretenidas a dos generaciones de estudiosos y demostró, además, que del acontecer implacable que conduce a la muerte nada nos distrae tanto como la lectura activa. La famosa muerte. La he visto esconderse en los relojes en La vida y las opiniones del caballero Tristram Shandy, esa novela con la que Laurence Sterne llenó de salud la relación del escritor con el lector: "A medida que prosiga usted en mi compañía, el ligero trato que ahora se está iniciando entre nosotros se convertirá en familiaridad, y ésta, a menos que uno de los dos falle, acabará en amistad".
 
Puede que fallarle a tipos como al gran Sterne sea el error de tantos lectores de ahora, consumidores de sucedáneos de la literatura. Pero anima saber que hay indicios del regreso del lector activo. Algo comienza a moverse en medio del barullo de las novelas esotéricas y otros engendros, y se diría que hasta incluso pierde ya fuelle la estúpida exaltación del lector pasivo, que esconde en realidad la exaltación de los que no leen. Reaparece el lector con talento y parece que comienzan a replantearse los términos del contrato moral entre autor y público. Respiran de nuevo los escritores que se desviven por un tipo de lector que sea lo suficientemente abierto como para permitir en su mente el dibujo de una conciencia extraña, incluso radicalmente diferente de la suya propia.
 
La secuencia central de toda lectura activa contiene el gesto más profundamente democrático que conozco. Es el gesto de quien sabe abrirse al mundo y a las verdades relativas del otro, a la sagrada revelación de una conciencia ajena. Si se exige talento a un escritor, debe exigírsele también al lector. Porque el viaje de la lectura pasa muchas veces por terrenos difíciles que reclaman tolerancia, espíritu libre, capacidad de emoción inteligente, deseos de comprender al otro y de acercarse a un lenguaje distinto del que nos tiene secuestrados.
 
Como dice Vilém Vok, no es tan sencillo para un lector sentir el mundo como lo sintió Kafka: un mundo en el que se niega el movimiento y resulta imposible siquiera ir de un poblado a otro.
 
Las relaciones entre lector y escritor remiten tanto a un mundo radicalmente negado para el movimiento como a la escena más opuesta: dos aislados poblados kafkianos, acercándose. Una novela es una calle de dos direcciones, animada por dos talentos; una calle en la que la tarea que se requiere a ambos lados es, al final, la misma.
 
Leer, cuando se lleva a cabo con linterna propia, es tan difícil y apasionante como escribir. Tanto quien escribe como quien lee, aun entreviendo el fracaso, buscan la revelación certera de lo que somos, la revelación exacta de la conciencia personal de uno mismo, y también de la del otro. Y aquellos que sitúan la lectura al nivel de la experiencia pasiva de ver televisión lo único que hacen es vejar a la lectura y a los lectores. De hecho, las mismas destrezas que se necesitan para escribir se precisan también para leer. Los escritores fallan a los lectores, pero también ocurre al revés y los lectores les fallan a los escritores cuando sólo buscan en éstos la confirmación de que el mundo es como lo ven en su pequeña pantalla. Los nuevos tiempos traen esa revisión y renovación del pacto exigente entre escritores y lectores. Cabe esperar, parafraseando a Henry James, que pronto pueda decirse que unos y otros trabajan con lo que tienen, y sus grandes dudas son su pasión, y esa pasión es precisamente su gran tarea.
 
© Enrique Vila-Matas 
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Quinta-feira, 08.10.09

Linha em luz

A fotografia do desenho em linha de neon

 

 

 

 

Mário Castello - Fotografia - A linha em luz de Oscar Niemeyer, na Oca, em São Paulo (São Paulo SP Brasil) , 2009

publicado por ardotempo às 23:11 | Comentar | Adicionar

Um blogueiro

Un 'bloguero' llamado Saramago
 
Umberto Eco
 
 
Curioso personaje este Saramago.
 
Tiene 87 años y (según dice) algunos achaques, ha ganado el premio Nobel, distinción que le permitiría no volver a producir nada porque, total, en el Panteón va a entrar en cualquier caso (el muy tacaño Harold Bloom lo ha definido como "el novelista más dotado de talento de los que siguen con vida... uno de los últimos titanes de un género en vías de extinción"), y le vemos escribiendo un blog en el que la toma con todo el mundo en general, atrayéndose polémicas y excomuniones de muchos sitios - a menudo no porque diga cosas que no deba decir, sino porque no pierde el tiempo en medir sus términos - y tal vez lo haga a propósito.
 
Pero ¿precisamente él?
 
¿Él, que cuida la puntuación hasta el extremo de hacer que desaparezca, que en su crítica moral y social no afronta jamás los problemas de frente sino que los rodea poéticamente bajo las formas de lo fantástico y lo alegórico, de modo que su lector debe poner algo de su parte para entender adónde quiere ir a parar; él, que -como en su Ceguera- hace que el lector viaje en una niebla láctea en la que ni siquiera los nombres propios, en los que tan parco es, dan una señal claramente reconocible; él, que en Ensayo sobre la lucidez efectúa una decidida elección política basándose en enigmáticas papeletas blancas?
 
¿Y este escritor fantasioso y metafórico viene a decirnos que Bush es de "una ignorancia abismal, de una expresión verbal confusa perennemente atraída por la irresistible tentación del puro despropósito", un cowboy que ha confundido el mundo con una manada de bueyes, un robot mal programado que confunde constantemente los mensajes que ha grabado en su interior, un mentiroso compulsivo, corifeo de todos los demás mentirosos que le han aplaudido y servido en los últimos años?
 
¿Y es este delicado tejedor de parábolas el que emplea palabras que no dejan lugar a la duda cuando define al propietario de la editorial que lo publica en Italia? ¿Y es ese ateo manifiesto, para quien Dios es "el silencio del universo y el hombre el grito que da sentido a ese silencio", el que saca otra vez a escena a Dios con tal de preguntarse qué pensará de Ratzinger?
 
¿Y quien, militante comunista (tenazmente aún), no duda en gritar que "la izquierda no tiene ni la más mísera idea del mundo en el que vive"? ¿Y quien se arriesga a una acusación de antisemitismo por haber criticado la política del Gobierno de Israel, olvidándose sin más, al sentirse tan airadamente partícipe en las desventuras palestinas, de recordar que no falta quien niegue el derecho a la existencia de Israel? Nadie tiene en cuenta, sin embargo, que cuando habla de Israel Saramago está pensando en Yahvé, "dios rencoroso y feroz", y en tal sentido no resulta más antisemita que anticristiano, dado que para cada religión intenta arreglar sus propias cuentas con Dios - que se llame como se llame en los distintos idiomas, le cae rematadamente mal -. Y que a uno le caiga mal Dios es sin duda motivo de ira furibunda contra todos aquellos que de él se sirven como escudo.
 
Si tuviera siempre en cuenta los pros y los contras, Saramago sabría también que hay maneras y maneras incluso en la invectiva. Cito (de memoria) a Borges que citaba (de memoria tal vez) al doctor Johnson que citaba el caso de un fulano que insultaba de esta manera a su adversario: "Señor, vuestra esposa, con el pretexto de que regenta un burdel, vende telas de contrabando". Saramago, por el contrario, no se anda con tantos cumplidos, es decir, dejándose de rodeos, en su actividad de comentarista cotidiano de la realidad que le circunda se toma la revancha de toda la vaguedad oblicua de sus fabulaciones.
 
Se ha hablado del ateísmo militante de Saramago. En efecto, sus polémicas no se dirigen contra Dios: una vez admitido que su "eternidad es sólo la de un eterno no ser", Saramago podría haberse quedado tranquilo. Su hastío se dirige contra las religiones (y por esa razón le atacan desde distintos frentes: negar a Dios es algo que se le concede a todo el mundo, polemizar con las religiones pone en discusión las estructuras sociales). En una ocasión, estimulado por una de las intervenciones antirreligiosas de Saramago, reflexioné sobre la célebre definición marxista según la cual la religión es el opio del pueblo.
 
¿Sería verdad que todas las religiones poseen esa virtus adormecedora? Saramago ha azotado a las religiones como germen de conflictos: "Las religiones, todas sin excepción, no servirán nunca para acercar y reconciliar a los hombres; todo lo contrario, han sido y siguen siendo causa de sufrimientos inenarrables, de matanzas, de una monstruosa violencia física y espiritual que constituyen uno de los más tenebrosos capítulos de la mísera historia humana" (La Repubblica, 20 de septiembre de 2001).
 
Saramago concluía en otra parte que "si todos fuéramos ateos, viviríamos en una sociedad más pacífica". No estoy seguro de que tenga razón, y parece como si indirectamente le hubiera contestado el papa Ratzinger en su encíclica Spe salvi, donde decía que es el ateísmo de los siglos XIX y XX el que ha provocado que "de tales premisas se hayan derivado las mayores crueldades y violaciones de la justicia".
 
Tal vez estuviera pensando Ratzinger en gente descreída como Lenin y Stalin, pero se olvidaba de que en las banderas nazis aparecía escrito Gott mit uns (que significa "Dios está con nosotros"), que falanges de capellanes militares bendecían los gallardetes fascistas, que se inspiraba en principios religiosísimos y se apoyaba en los Guerrilleros de Cristo Rey un culpable de tantas masacres como Francisco Franco, que religiosísimos eran los vendeanos en su lucha contra los republicanos, que católicos y protestantes se han masacrado alegremente durante años y años, que tanto los cruzados como sus enemigos estaban impulsados por motivos religiosos, que por razones religiosas se han encendido muchas hogueras, que religiosísimos son los fundamentalistas musulmanes, los terroristas de las Torres Gemelas, Osama y los talibanes, que son razones religiosas las que oponen a la India y Pakistán, y, para terminar, que fue al grito de God bless America como Bush invadió Irak.
 
Por todo ello se me ocurre la reflexión de que si tal vez la religión en ocasiones es o ha sido el opio del pueblo, más a menudo ha sido su cocaína. Creo que ésa es también la opinión de Saramago.
 
Escribo este prólogo porque creo tener una experiencia en común con el amigo Saramago, que es la de escribir libros (por un lado) y tener a mi cargo (por otro) una columna de crítica de costumbres en un semanario. Al ser este segundo tipo de escritura más claro y divulgativo que el primero, son muchos quienes me preguntan si lo que hago es trasvasar a esas breves piezas periodísticas reflexiones más ampliamente desarrolladas en los libros mayores.
 
Qué va, contesto, es la reacción irritada, el impulso que lleva a la sátira, la estocada crítica escrita al hilo de la actualidad lo que proporciona más adelante el material para una reflexión ensayística o narrativa más extensa. Es la escritura cotidiana la que inspira las obras de mayor empeño, y no al contrario.
 
Y por eso yo diría que en sus breves escritos Saramago sigue alimentando su experiencia del mundo tal como desgraciadamente es, para revisarlo posteriormente con más serena distancia sub specie de moralidad poética. Y además, ¿realmente se muestra siempre tan airado este maestro de la filípica y de la catilinaria?
 
Me da la impresión de que junto a la gente a la que odia está también la gente a la que ama, y así hallamos piezas afectuosas dedicadas a Pessoa (no es uno portugués en vano), o a Amado, a Fuentes, a Federico Mayor, a Chico Buarque de Hollanda, que nos demuestran lo poco envidioso que es este escritor y cómo sabe trazar de todos ellos delicadas y tiernas miniaturas.
 
Por no hablar de cuando el análisis de la actualidad roza temas (y aquí estamos de vuelta a los mayores asuntos de su narrativa) como los grandes problemas metafísicos, la realidad y la apariencia, la naturaleza de la esperanza, cómo son las cosas cuando no las estamos mirando. Y vuelve a escena el Saramago filósofo-narrador, ya no irritado sino meditabundo, e inseguro. Con todo, no nos disgusta tampoco cuando se enfurece. Resulta de lo más simpático.
 
© Umberto Eco - Publicado em El País 
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Quarta-feira, 07.10.09

Retratos Notáveis - 36

O romancista, o contista, o fronteiriço

 

 

 

 

"Eh, Aldyr: cuénteme un cuento. Pero que sea lindo y feo “como la vida”. – Washington Benavides (Uruguay)

 

Fotografia: Aldyr Garcia Schlee (Jaguarão RS Brasil)

Fotógrafo: Salomão Scliar 

publicado por ardotempo às 21:45 | Comentar | Adicionar

Tolerância

 A cidade da tolerância

 

 

 

Gilberto Perin - Tolerância - Fotografia (Lisboa Portugal), 2009

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"O que sonha por aqueles que já não sonham..."

Entrevista de Mariana Ianelli - TV Cultura São Paulo

 

 

 

Veja o vídeo:

 

 http://www.tvcultura.com.br/nossalingua/player.php?id=4446

 

Veja o site da TV Cultura - Programa Nossa Língua

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Terça-feira, 06.10.09

Moulages de Paris

Rostos colados nas esquinas

 

 

 

 

Moulages de resina, policromados, colados pelas ruas e esquinas de Paris – Marais, Montmartre, Montparnasse, Bastille - Gregos; fotografia de Eric Tenin, Paris, 2009

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Segunda-feira, 05.10.09

Pétrea

Mosaico 

 

 

Carolina Chiesi - Mosaico (Jundiaí SP Brasil), 2009 

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O rio, a cidade, o fio

 
 
 
 
Visão
 
Do mar calmo ao Tejo longe
- mais além as sete colinas-
Evoco  o sonho e a alma 
e o corpo abarca o desejo onde
tão intensamente enjeitado parto.
 
Nada prego, senão o paraíso.
 
Temo pelos gestos bruscos
e pelo momento que calo,
mesmo que o cais monte
doloridamente velas mínimas
 
Estrangeiro quando falo
nas tormentas e pontes,
naufrago em colo farto.
 
Senão pátria, que outro rio?
 
O cesto arde em fogo divino,
vime à deriva urdido,
cala outro ciclo de sal.
Desmancha-se o rito.
 
Ao olhar atrás o passado, o fio
precário que sustenta os hinos
nos ventos e marés tardias,
cantam feitos demais.
 
No cal e nos ditos canônicos
para sempre aquém do espírito,
para nunca além do cais.
 
E ainda assim volto
E ainda acinte quero
E ainda pátria, terra.
 
 
© Isolde Bosak
Imagem: Lisboa - © Gilberto Perin, 2009

 

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Conto Visual

Rougelarsenrose desde Paris - Alva Noto

 

 

 

Veja o vídeo:     Unitxt - Alva Noto

 

Som: Alva Noto

Texto e voz: Anne-James Chaton

Ator: Kyusaku Shimada 

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Domingo, 04.10.09

Bem protegido, o sem-garagem

Na rua, em São Paulo

 

 

 

Mário Castello - Sem-garagem - Fotografia (São Paulo SP Brasil), 2009

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"Deitado em berço esplêndido"

Monumento à desigualdade
 
Ivan Lessa
 
De vez em quando, vindo para o trabalho ou voltando para casa, nos arredores do metrô, eu vejo um pobre. Os pobres são fáceis de se reconhecer. Vestem-se mal, quando se vestem, suas roupas são uns trapos, e muitos deles se aproximam de nós, remediados, e pedem uma ajudinha para comer qualquer coisa.
 
Estou me referindo aos pobres mesmo. Aqueles pobres de doer. Há os outros pobres, aqueles que moram mal, falam um inglês esfarrapado e fazem questão de ter pregados na parede, em pleno voo, aqueles três patinhos de cerâmica, cada um deles em um plano diferente.
 
Esses são motivos de chalaça entre nós, remediados, ricos ou muito ricos. São eles protagonistas de várias “comediotas” de meia hora na televisão e de várias piadas de mau gosto mas muito engraçadas. Esse tipo de pobre não leva muita noção de sua pobreza, se orgulha de sua condição e, tendo filhos, querem uma vida melhorzinha para eles. Essas manias todas que os pobres têm.
 
Vejo muita televisão. Tenho, pois, um contato platônico com os pobres de outros países. Pelo que depreendo desses documentários, há pobre que não acaba mais neste mundo de Deus, que, por falar Nele, parece que se esqueceu deles. Prometeu o Reino dos Céus, mas isso é muito vago para quem lê tabloide só para saber detalhes de crimes hediondos e entrevistas com violentos jogadores de futebol.
 
Os pobres na televisão primam por sua sem-graceza. Por sua feiura, também. Volta e meia, lá estão os indianos, que os britânicos são saudosistas do império que se foi. Os africanos e suas tribos também vivem batendo ponto. Em suma, a miséria dá um tremendo Ibope em telonas de plasma e alta definição. As contribuições para as entidades beneficentes, a cada exibição de um filme sobre pobre – sejamos francos: sobre a miséria humana – aumentam em mais de 25% da caridade habitual. Eles, os destituídos (sejamos docemente eufemísticos), merecem de nós uma solidariedade mais concreta do que um simples mal-estar à noitinha, depois do lauto jantar.
 
Aqui em Londres, onde volta e meia dou com um pobre, ou miserável, há estátua que não acaba mais. São os britânicos chegados a uma estátua. De preferência não-equestre, pois têm bom gosto, além de um dinheirinho guardado para as férias no Continente e uma eventualidade qualquer.
 
No Brasil, os pobres, os miseráveis, eram – e ao que parece continuam a ser – de altíssima visibilidade. Lembro-me particularmente de um, sempre sentado no chão, perto da bilheteria do cine Copacabana, ali perto da Constante Ramos, exibindo sua perna esquerda muito rubra e coberta de chagas, um caso típico de elefantíase, com um jornal do lado e empregando o bordão clássico, “Uma esmolinha, pelo amor de Deus”. Tinha gente que dava, incentivando assim o descaso das devidas autoridades encarregadas da distribuição de nossas riquezas.
 
Aí chego à notícia que eu queria chegar. Deu semana passada num jornal brasileiro e eu pesquei na internet. Os ricos brasileiros – que correspondem a 1% da população do país – gastam em três dias o mesmo que os pobres em um ano. Informação fidedigna: o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) com base numa Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), do IBGE. Isso é relativo ao ano passado. Não creio que as benesses do pré-sal tenham melhorado ou venham a melhorar a situação. Segundo um pesquisador do Ipea, Sergei Soares, “o Brasil ainda é um monumento à desigualdade”. O instituto constatou ainda que a renda obtida por meio do trabalho voltou a ser a principal responsável pela queda na diferença social.
 
Tudo isso me deixa meio zonzo. Em que é que ricos gastam em três dias e os pobres em um ano? E que história é essa de pobre trabalhando ser motivo de diferença social? Os pobres que se me ocorrem estão todos desempregados. A não ser que passaram a contar aquele cara com elefantíase perto do cinema.
 
De qualquer forma, há boa notícia embutida aí: temos aí mais um monumento, a se juntar aos do Zózimo, Drummond, Ibrahim Sued e tantos, tantos outros na Cidade Maravilhosa, que é o Rio.
 

© Ivan Lessa - Publicado no blog BBC Brasil 

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publicado por ardotempo às 13:29 | Comentar | Adicionar

Falso,cruel e belo...

Me senté y lloré
 
Enrique Vila-Matas
 
Me preguntaron si era fácil distinguir entre una buena novela y una que no lo era, y dije que bastaba con examinar cuáles eran sus relaciones con las altas ventanas de la  poesía.
 
Precisé que hablaba de sutiles conexiones con la poesía y en ningún caso de lo antagónico: novelas escritas por poetas a base de prosa poética, algo absolutamente a evitar cuando se trata de una novela.
 
Querido Friedrich, el mundo todavía es falso, cruel y bello...”, escribe Charles Simic, escritor yugoslavo de Nueva York que enlaza con originalidad el surrealismo, la metafísica y los mitos primitivos. Para él, la imaginación no es un alejamiento de la realidad, sino la llave idónea para acceder al mapa de estrellas de nuestras paredes interiores.
 
Hablé ese día de la filosofía poética de Simic y de la necesidad de que la novela no pierda las sutiles conexiones con la alta poesía. Y, muy poco después, sentí deseos de convertirme allí mismo en el título de una novela de Elizabeth Smart, En Grand Central Station me senté y lloré. Siempre quise ser o escenificar ese título, y aquella era toda una oportunidad para hacerlo, pues a fin de cuentas me encontraba en Nueva York y estaba justo en aquel momento en Park Avenue, a dos pasos de  Grand Central Station.
 
Me dije que, aparte del título, aquel libro de Elizabeth Smart (novela autobiográfica que narra la pasión de la autora por el poeta George Barker, un hombre casado del que se enamoró incluso antes de conocerlo: libro de una bella intensidad, extrema y rara)  fue siempre una obra maestra gracias a su capacidad de diálogo con la tradición poética y a su elegante inspiración surrealista. De hecho, aquel mismo libro era un perfecto ejemplo de novela en comunicación con el gran espectro poético. Y es más, tenía el encanto de haber sido pionero en un  procedimiento que aprecio y que consiste en convertir el texto en una máquina de citas literarias que ayudan a crear sentidos diferentes.
 
Me acuerdo muy bien de cómo era, aquel día, la novela de mi vida. Parecía que el surrealismo de Simic estuviera por todas partes, porque vi en el pasillo de entrada al gran vestíbulo de la estación a un negro con la cabeza rapada, sin zapatos, poniendo a un limpiabotas y a Dios por testigos. ¿Por testigos de qué? Tras contestar a cómo se distinguía entre una buena novela y una que no lo era, empezó a cumplirse uno de mis más antiguos deseos cuando, al adentrarme en el gran vestíbulo, avancé hipnotizado hacia el célebre reloj de cuatro caras, y fui pasando repentina revista a lo que habían sido las ventanas ciegas de mi vida: iba como hechizado y como si tuviera luz para descifrar el mapa de las estrellas en los futuros interiores de las novelas. Y así fui avanzando y buscando un lugar solitario, hasta que lo hallé y, contemplando en una de las ventanas altas los movimientos del sol como quien mira el de las hormigas, pensé en un poema de Simic que habla de una azotea y de un agujero en unas medias negras y de una  bella muchacha de Nueva York de la que estaban todos enamorados, y entonces sí, entonces, tal como venía previendo, como si uno pudiera ser el título de una novela dentro de una poesía secreta, casi desmoronándome, dando bandazos con mi suerte más ciega, en Grand Central Station me senté y lloré.
 
 

 

© Enrique Vila-Matas

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publicado por ardotempo às 03:01 | Comentar | Adicionar
Sábado, 03.10.09

A mão direita quebrada

 

 

Mão direita

 

 

Couraça de gesso

Fragmentos da granada interna

As estrelas de Man Ray

Cirurgia de urgência

Anestesia geral

Três pinos cruzados

Seis semanas em fermata

Livro em cinco sinistros mais um destro

Abraços ao terrorista

Série dos desenhos da mão quebrada

Tinta china, canivete, dedos negros

O anel de ouro de Gardel

O controle remoto da TV

Lírios brancos 

Borboleta de aço polido

Saudades do paraíso

 

publicado por ardotempo às 22:16 | Comentar | Adicionar

Traduções

O que se perde na tradução
 
José Mário Silva
 
 
"Poesia é o que se perde na tradução", escreveu Robert Frost. E perde-se sempre muito, mesmo nos casos em que o tradutor domina bem as duas línguas (a de partida e a de chegada), mesmo nos casos em que o tradutor é, ele próprio, um poeta. Impunha-se, por isso, instituir uma lei: todos os livros de poesia traduzidos devem ser bilingues. Isto para que o leitor possa em qualquer momento recorrer ao original e reencontrar a tal matéria perdida de que falava Frost.
 
Vem isto a propósito do livro de John Updike que a Civilização acaba de publicar, Ponto Último e outros poemas, bem traduzido por Ana Luísa Amaral (especialista em literatura norte-americana e autora de poesia), mas que tem a pecha de não ser bilingue e por isso não permitir o confronto com os textos originais. Embora o trabalho de Ana Luísa Amaral seja meritório, é evidente que há particularidades e subtilezas da escrita de Updike que desaparecem completamente na versão portuguesa. Era o acesso imediato a essas particularidades e subtilezas que não devia ser negado ao leitor.
 
Veja-se, por exemplo, como traduziu Amaral os dois primeiros versos
do poema A Lightened Life:
 
Uma vida mais leve:
as últimas provas do romance
expedidas – a revisão final,
para trás, para a frente,
 
No original, os mesmos versos são assim:
 
A lightened life:
last novel proofs FedExed —
the final go-through,
back and forthing,
 
Para começar, parece-me que «last novel proofs» não são «as últimas provas do romance», mas sim as provas do último romance, do romance final, daquele a que não se seguirá nenhum outro (este poema, como quase todos os outros, é marcado pelo sentido do fim, da morte que se aproxima). E depois, como traduzir «FedExed»? Difícil. As provas foram expedidas, de facto, mas não apenas expedidas.
 
Foram expedidas pela FedEx, uma empresa americana que os leitores americanos conhecem bem. «Expedidas» faz pensar em estação dos correios; «FedExed» faz pensar num funcionário a bater à porta de casa do Sr. Updike e a levar o pacote das provas numa carrinha branca com letras roxas e cor-de-laranja.
 
Talvez não houvesse forma de passar decentemente aquele «FedExed» para português, mas se o livro fosse bilingue podíamos pelo menos intuir a urgência do verbo usado por Updike (a FedEx é uma empresa de entregas rápidas) e que o verbo português escolhido claramente não evoca.
 

© José Mário Silva – Publicado no blog Bibliotecário de Babel 

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publicado por ardotempo às 21:21 | Comentar | Adicionar

Fronteira Sul - Imagens e Texto

FRONTEIRA SUL
 
Aldyr Garcia Schlee
 
 
Nasci no lado brasileiro do Jaguarão, mais precisamente no lado de cá do rio, na cidade de Jaguarão, diante da cidade uruguaia de Rio Branco, que fica do lado de lá.
 
Isso me fez definitivamente fronteiriço; e me impôs a necessidade, desde pequeno, de alimentar muitas dúvidas e de enfrentar grandes perplexidades. Por que haveria de ser assim?
 
Por que aqueles dois mundos tão próximos e tão separados, apesar da majestosa ponte que os unia e das falas diferentes que os distinguiam? Como explicar tudo aquilo, que poderia ser tão simples e tão igual, sendo tudo a mesma gente, sem a linha divisória, numa terra só?
 
Aprendi, então, a olhar para o outro como quem se vê num espelho. E descobri que, na fronteira, nós não somos nós, apenas; somos nosotros, nós outros, nos outros. E percebo que  essa é a grande lição da fronteira, justificando todos os seus mistérios e toda a sua magia.
 
Na fronteira há permanentemente o outro lado. Que é também, por consequência, o outro lado de tudo, de todos, de todas as coisas, sempre a nos desafiar — porque nada se explica sem ele: o outro lado oferece-nos o balanço dialético do que é e do que não é, do que pode ser e do que não pode ser, alimentando pelo avesso nossos sonhos, nossas ilusões e nossas esperanças, sem que deixemos de encarar a contra-pelo a realidade, e sem que precisemos dispensar nela o mágico e o misterioso, que são sua imponderável graça, sua atração irresistível e sua reafirmada diferença em relação aos outros espaços do mundo (afinal, a fronteira não é fronteira se não for um espaço fronteiro, um espaço que ao mesmo tempo é a soma de dois que se confrontam sobre uma linha que os divide e separa).
 
Que magia, que mistério, na fronteira.
Que tipos, que figuras, que lugares!

Que paisagens!
Que paisagens, as da Fronteira Sul.
 
É o que me ocorre dizer (e escrever, entusiasmado) diante das extraordinárias imagens fronteiriças captadas pela lente privilegiada de Leopoldo Plentz, em que ele nos coloca muito emblemática e sugestivamente do outro lado do que retrata, impondo-nos mágica e misteriosamente, com o domínio de sua técnica e de sua arte, o verdadeiro sentido misterioso e mágico da fronteira.
 

© Aldyr Garcia Schlee 

 

FRONTEIRA SUL 

Fotografias de Leopoldo Plentz

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

© Fotografias de Leopoldo Plentz

publicado por ardotempo às 20:51 | Comentar | Adicionar
Quinta-feira, 01.10.09

Ruffato de Lisboa, Ruffato em Porto Alegre

Livro Recomendado

 

 

Lançamento do livro de Luiz Ruffato -  Estive em Lisboa e lembrei de você / Companhia das Letras - Dia 15 de outubro / 19 horas - Livraria Cultura (Shopping Bourbon Country - Porto Alegre), Porto Alegre RS Brasil

publicado por ardotempo às 14:50 | Comentar | Adicionar

Design em Lisboa

Design

 

 

 

 

Bienal Experimenta Design 09 - Lisboa / Portugal - Sofá U87-G Stuka - Designer Katharina Wahl (Lisboa 2009)

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publicado por ardotempo às 14:48 | Comentar | Adicionar

Herói

Alan Turing

 

 

 

"Nunca tantos deveram tanto a um só" 

publicado por ardotempo às 14:32 | Comentar | Adicionar

O Hipnotizador de Taquara

Lançamento de livro de Sergius Gonzaga - Dia 01º de outubro - 18h30 

 

 

 

 

O Hipnotizador de Taquara

Sergius Gonzaga

Contos / Crônicas

Editora Leitura XXI

Livraria Nobel - Shopping Total

Porto Alegre RS Brasil

publicado por ardotempo às 14:20 | Comentar | Adicionar

Editor: ardotempo / AA

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